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Inicialmente, será apresentado o conceito sobre os tipos e os componentes que fazem parte do sistema de distribuição motora.
Em seguida, demonstraremos de forma didática, a aplicação dos diferentes métodos e ferramentas de análise do sincronismo do motor através de um caso real, cedido gentilmente, por um colega reparador.
O motor de combustão interna pode ser considerado o coração do automóvel, pois é dele que sai a força que promove o deslocamento do automóvel.
E nessa arquitetura podem ser encontrados os cilindros, pistões, bielas e árvore de manivelas que fazem parte do bloco, e válvulas e comandos que fazem parte do cabeçote.
Seu funcionamento só é possível graças ao sincronismo desses componentes, que controlam, simultaneamente, a entrada da mistura e a saída dos gases para o escapamento. Este controle faz com que o motor de combustão interna produza movimentos de rotação por meio de combustões dentro do cilindro fechados.
Em geral são encontrados no mercado três tipos de ligação entre o comando de válvulas e a árvore de manivelas: Por engrenagens, corrente de comando e correia dentada. A figura 1 demonstra um exemplo de distribuição por engrenagens.
Neste tipo de distribuição, a posição exata de cada engrenagem é marcada na fábrica no momento da montagem. Essa marcação corresponde geralmente à posição do primeiro pistão em ponto morto superior (PMS). No momento da montagem do motor é fundamental verificar esta marcação.
Já figura 2 mostra um motor que utiliza o sincronismo por corrente de comando.
Quando a distribuição é acionada por corrente, as marcações das engrenagens são realizadas por meio de traços ou pontos em relação a um ponto específico do motor que também terá algum tipo de marcação.
E, por fim, a figura 3 exibe o sincronismo que utiliza a correia dentada como meio de ligação entre a árvore de manivelas e o eixo comando de válvulas.
Da forma análoga ao utilizado pelo sistema que utiliza corrente, o sistema por correia traz em suas polias marcações específicas que, quando alinhadas entre si ou com algum ponto também marcado no motor, garantem o seu perfeito sincronismo.
Este caso foi cedido, gentilmente, pelo técnico automotivo Márcio José Alves de Oliveira, proprietário da oficina Multicar, sediada na Cidade de Viçosa no estado do Ceará.
O proprietário de um veículo Chevrolet Agile 1.4 ano 2010 chegou na oficina relatando que o carro “não tinha força nem para entrar na garagem”.
A partir dessa informação, Márcio iniciou a entrevista consultiva perguntando ao cliente se o veículo tinha passado por alguma manutenção recentemente, ao que o mesmo respondeu, prontamente, que sim, um serviço de substituição da correia dentada.
Complementado a informação, o proprietário relatou que retornou à oficina que realizou o serviço, cinco vezes.
Foram substituídos outros componentes, tais como: velas de ignição, cabos e bobina, bomba de combustível e kit de embreagem sem contudo, resolverem o inconveniente.
Após estas tentativas resolveu procurar outra oficina, para solucionar o problema.
Diante destas valiosas informações, o técnico iniciou seu planejamento dos testes que seriam realizados.
Decidiu, como ponto de partida, verificar a presença de algum código de falhas na memória da central eletrônica do motor a fim de auxiliá-lo no diagnóstico. Ao inserir o scanner deparou-se com o código de falhas P0016.
Ao realizar uma pesquisa sobre quais problemas que poderiam disparar este código de falhas, o reparador conseguiu as seguintes informações:
P0016- Posição da árvore de manivelas - posição do eixo-comando de válvulas não plausível
O módulo de controle do motor (ECM) compara os sinais do sensor de posição da árvore de manivelas e o sensor de posição do eixo do comando de válvulas para detectar se os sinais estão fora de sincronismo.
Condição para definição do Código de Falhas (DTC)
O desvio da posição relativa do eixo-comando é maior que −8° em uma direção ou maior que 9° em outra direção (medido em graus do eixo da manivela).
Para reforçar seu diagnóstico, visualizou os parâmetros de funcionamento do motor através do menu leitura do scanner.
Confirmando sua suspeita, o valor de pressão absoluta do ar no coletor, lida por meio do sensor MAP, estava acima do especificado, esta alta pressão tem como uma das possíveis causas a falta de sincronismo do motor.
Baseado nessas informações, decidiu analisar os sinais emitidos pelos sensores de fase e rotação a fim de identificar alguma falha e ao mesmo tempo o sincronismo do motor.
Após a captura do sinais, o técnico tirou duas conclusões fundamentais: a primeira que os sensores estavam funcionando perfeitamente, e a segunda foi a confirmação da falta de sincronismo do motor. Isso só foi possível porque o reparador, ao ter acesso a literatura técnica, sabia que o início do dente pequeno (sensor de fase) deve estar alinhado com o início do 3º dente após a falha na roda fônica (sensor de rotação), como está destacado pela seta azul.
Com estas evidências, partiu para uma nova inspeção, com o intuito de confirmar os resultados do teste anterior e procurar por falhas mecânicas que poderiam estar causando esta falha de sincronismo.
Para tanto, utilizou novamente o osciloscópio, mas desta vez em conjunto com o transdutor de pressão, inserido no local da vela de ignição instalada no primeiro cilindro e um software específico para essa aplicação, Gabaritop, cedido gratuitamente pelo nosso amigo Mauro Cervo.
Analisando o sinal do transdutor (sinal verde) em conjunto com o software, Gabaritop, Márcio sabia que a régua de 380º (seta vermelha) deveria estar no meio da rampa de fim de escape e início de admissão e não no fim da rampa.
Isso poderia ser indício que além de estar fora de sincronismo o motor poderia ter desgaste em algum componente relacionado ao sincronismo, como engrenagem, polias etc.
Após a realização de todos os testes, o técnico executou a verificação do sincronismo através da confirmação das marcações nas engrenagens do comando de válvulas e da árvore de manivelas.
Após a inspeção, Márcio encontrou duas irregularidades. A primeira era referente à engrenagem do comando de válvulas, pois a letra “A” estava para cima, característica de motores 1.8, nos motores 1.4 a letra que deve estar voltada para cima é a letra “B”. (Fig.10)
E a segunda era o desgaste presente na chaveta da engrenagem da árvore de manivelas, o que explicava o desvio do gráfico do transdutor de pressão, especificamente, na régua de 380º.
O técnico, com o diagnóstico concluído, iniciou o procedimento de manutenção modificando a posição da engrenagem do comando de válvula e substituindo a engrenagem da árvore de manivelas e, finalmente posicionando a correia dentada de forma correta, conforme preconiza o manual técnico.
Após todas as intervenções, realizou a verificação com todos as ferramentas e equipamentos utilizados anteriormente.
Com o scanner apagou o código de falhas e visualizou os valores emitidos pelos sensores, principalmente a pressão absoluta do coletor.
Com a pressão absoluta do coletor em 430mbar, indicava que o motor voltava ao seu funcionamento normal.
Dando continuidade, o reparador capturou novamente o sinal do transdutor de pressão junto com o software Gabaritop assim como dos sensores de fase e rotação. A figura 12 destaca os sinais e o seu perfeito sincronismo.
Confirmando definitivamente a eficiência do serviço, Márcio concluiu que os sensores de fase e rotação estavam alinhados na posição correta e que a régua de 380º do Gabaritop estava na posição correta em relação ao sinal do sensor de pressão.
Caros leitores, nesta matéria procuramos mostrar a diversidade de métodos e equipamentos para a verificação do sincronismo do motor, evidenciando a relação entre eles, a fim de garantir a eficiência do serviço, promovendo a otimização do tempo e aumento da produtividade.
Até a próxima.