Notícias
Vídeos
Fórum
Assine
A oficina Akikar Auto Mecânica de São Bernardo do Campo – SP, recebeu um Fiat Stilo que estava com 40.333km rodados. O proprietário informou que havia um problema na marcha ré que, quando engatada, produzia um barulho anormal e muito alto
Quem nos recebeu na oficina e fez o reparo no veículo foi o proprietário Antônio Aparecido Ariza Castilho (Foto 2), que trabalha com manutenção automotiva há 35 anos. “Isso fora alguns anos que eu ficava com meu avô na oficina dele, perguntando sobre tudo e querendo aprender”, brinca o reparador que é especialista em transmissões. Ele conta que se atualiza lendo livros e manuais técnicos e fazendo cursos no SENAI.
Segundo Castilho, o dono deste Stilo já é seu cliente e o procura para realizar manutenções preventivas. “Desta vez, o defeito ocorrido foi causado devido ao descuido do proprietário. Este veículo precisa de um determinado tempo de espera para engate e desengate de marchas, principalmente entre primeira e ré, onde se o condutor não se atentar e deixar o veículo andar durante esta etapa, acaba ocorrendo um engate forçado da marcha, aumentando a incidência do desgaste das engrenagens. E foi justamente o que aconteceu”, explica. Ele conta que já consertou outros carros com este defeito e que geralmente quando quebra a embreagem, a quilometragem não está envolvida.
Castilho também explica que muitos usuários confundem carro automatizado com carro automático e que o veículo em questão funciona de maneira semelhante ao carro manual. “Ele possui disco de embreagem e caixa de marchas. O sistema se encarrega de fazer esse trabalho entre o câmbio e a embreagem. Para aqueles condutores que gostam de fazer uso de controle de embreagem em subidas, engarrafamentos ou outras situações parecidas, nós reparadores devemos recomendar a não fazer o mesmo procedimento nos veículos com câmbio Dualógic, pois na verdade o cliente estará queimando sua embreagem. Se o trânsito está lento ou se o sinal fechou: pé no freio. Nada de ficar controlando o carro no acelerador. Do contrário, a vida útil do disco de embreagem, será comprometida e reduzida”, finaliza.
Já sobre outros carros deste modelo, o reparador conta que é comum consertar vazamentos e que recebe em sua oficina algo em torno de três veículos por mês com esta falha. “Problemas na engrenagem da ré também são recorrentes. Porém, no motor, só faço manutenções preventivas”, esclarece. “Eu gosto de consertar veículos desta montadora, tem boa acessibilidade e encontro informações técnicas e peças, sendo que compro 90% delas em autopeças e 10% em concessionária. Este último canal de compra, procuro somente quando o cliente pede ou quando não encontro a peça em nenhuma loja de autopeças”, finaliza Castilho.
A seguir, acompanhe o passo a passo da manutenção realizada. Separamos entre um procedimento e outro, dicas valiosas! O câmbio Dualógic equipa além do Stilo 1.8 Dualogic Flex outros veículos da Fiat, como o Bravo 1.8 16V Etorq Dualogic e o Idea Adventure Locker Dualogic, por exemplo.
Antes de tudo, deve-se realizar a despressurização da bomba hidráulica (Foto 3), pois se não efetuada, poderá causar vazamento do fluido (que é corrosivo) sobre pressão. “Prefiro realizar o procedimento em bancada, pois a probabilidade de vazamento se torna menor, além de ser mais fácil”.
Para tal, prossiga com:
1) Solte a conexão do tubo da bomba com o auxilio de um pano, para assim evitar contato direto com o fluido; (Foto 4)
2) Remova o corpo hidráulico (reservatório e bomba) que é fixado por três parafusos de 8mm. Deve-se atentar neste caso para que o fluido restante no reservatório não vaze; (Foto 5)
3) Solte os dois parafusos do rolamento com acionamento hidráulico da embreagem e em seguida, desloque o rolamento para fora da carcaça; (Foto 6)
4) Remova o sensor de velocidade com cuidado, pois em algumas ocasiões este pode estar com otorque muito alto e a chave pode escapar danificando o mesmo; (Foto 7)
Em seguida partimos para o conjunto corpo de válvulas:
1) Remova os três parafusos da parte superior que fixa o corpo; (Foto 8)
2) Retire o parafuso de 6mm da tampinha da parte superior do conjunto que dá acesso a haste de trambulação do câmbio e após remova a tampinha; (Foto 9)
3) Com o auxílio de uma chave de fenda, gire a haste para deslocar o seletor de marchas das hastes internas que acoplam os seletores de engate. Dessa forma, se torna possível puxar o corpo de válvulas para cima removendo-o; (Foto 10)
CUIDADO: No conjunto existe uma chaveta que tem a função de travar a haste de engate e seleção, e somente é vendida no conjunto. (Foto 11)
4) Na placa abaixo do conjunto do corpo de válvulas, remova o pino elástico do eixo e solte os parafusos de fixação da placa. Não esqueça que na parte inferior da placa também existem parafusos a serem removidos; (Foto 12)
5) Remova o seletor de marchas e em seguida, retire a placa puxando-a para cima; (Foto 13)
6) Solte os parafusos internos da caixa seca; (Foto 14)
7) Remova a tampa da 5ª marcha e os componentes internos a ela. A montadora recomenda sempre substituir as porcas de fixação dos carretéis primário e secundário; (Foto 15)
8) Remova a flange da engrenagem 5ª marcha; (Foto 16)
9) Remova o interruptor de indicação de marcha ré; (Foto 17)
10) Remova os três parafusos do retém das hastes de engate (não tem posição de montagem e são iguais), o parafuso da haste da ré e a arruela; (Foto 18)
11) Remova os anéis elásticos de trava dos rolamentos dos carretéis e os parafusos em volta da caixa. Em seguida, desloque a caixa com cuidado para não deformar o assentamento, pois não vai junta, só uma cola. Remova-a com uma espátula fina e puxe a carcaça para cima; (Foto 19)
12) Remova a engrenagem da ré puxando o eixo da engrenagem para cima e, em seguida, puxe os carretéis simultaneamente; (Foto 20)
IMPORTANTE: a partir deste momento se trata de uma transmissão mecânica Fiat igual as que estamos habituados.
• Neste caso, o barulho gerado foi causado por danos na engrenagem de engate da ré;
• Em alguns câmbios da Fiat antigamente existia o chamado “Perfil HCR” que consistia em marcações nos pares de engrenagens que coincidiam com as do carretel. Neste novo modelo isso não existe mais.
Para efetuarmos a montagem dos componentes do câmbio, basta prosseguirmos com o processo inverso ao de desmontagem, porém, o reparador Castilho aconselha: “É bom usar na montagem a cola Loctite 518 para ajudar na vedação do câmbio”.
Em alguns modelos equipados com esta transmissão, como por exemplo o Stilo avaliado, existe o botão TC no console onde pode ser acionado o controle de tração (Foto 21).
Com relação ao controle de tração, este sistema controla o acionamento do ASR (Anti Schlupf Regelung) onde esta sigla é mostrada no painel do veículo, sendo que sua principal função é controlar o torque e rotação do motor, evitando que ocorra patinação das rodas em solos escorregadios, como óleo e areia, por exemplo, ou em arrancadas abruptas. Esta estratégia em veículos que possuem acelerador a cabo ocorre na ECU, empobrecendo a mistura e baixando a rotação do motor. Em aceleradores eletrônicos, a borboleta se fecha, executando assim a mesma função. Neste, o sistema que o complementa é o EDS (Eletronic Differential System). (Foto 22)
Quando pressionamos o botão com a denominação “S” aparecerá a indicação no painel que, nesta modalidade, o câmbio assume uma condição mais esportiva onde a troca de marchas ocorre com mais ou menos 4.000 RPM. Sem esta função ativa, a troca de marchas ocorre em torno de 3.000 RPM.
O reparador Castilho deu algumas dicas para os reparadores orientarem seus clientes. “Existem algumas particularidades neste sistema que é conveniente todos reparadores conhecerem” são:
1) Para mudar de “D” (Drive) Para “M” (Manual) deve-se manter a alavanca de marchas por aproximadamente 3 segundos pressionada totalmente para esquerda e no painel aparecerá a denominação AUTO na parte inferior, abaixo da nomenclatura das marchas R,N,1,2,3. Esta pode ser mudada com o veículo em movimento, prática que não é recomendada pelo fabricante.(Foto 23)
2) Para ligar o veículo: pisar no freio, mantê-lo pressionado e colocar a alavanca do câmbio no modo “N” (Neutro), acionar a chave do veículo no estágio de partida. Para desligar, manter sempre na 1ª marcha
3) Quando paramos em semáforos demorados, estando no modo automático, estamos, na verdade, queimando a embreagem. O Suplemento (vem junto com o manual do proprietário) nos adverte, então, que posicionemos a alavanca de câmbio em “N” – Neutro, e continuemos com o pé no freio; após sinal verde do semáforo, volte o câmbio para o modo automático ou manual em 1ª marcha e acelere.
4) Nos casos de parada do veículo em aclives (subidas), para preservar a integridade da embreagem, não se deve “segurar” o veículo por meio da aceleração do motor, mas sim utilizar o freio e só acelerar no momento de arrancar.
Os descumprimentos das dicas anteriores poderão provocar aquecimento da embreagem, o que será mostrado no painel.
5) Nos semáforos em descidas, embora seja desaconselhável (pois o carro fica “solto”), deve-se colocar em “N” - Neutro. (Foto 24 e 25). Por se tratar de uma transmissão automatizada, ao sairmos com o carro para frente, o sistema automaticamente selecionará a marcha adequada. Se for da
preferência do usuário, pode-se colocar em modo manual e selecionar a 1ª marcha ou ré, dependendo da manobra. Sempre se lembrando de estar com o freio acionado e somente acelerar quando for sair e soltar o pedal de freio.
6) É possível desligar o veículo no modo “N”. No entanto, o sistema soará alguns bips e tal sinal alertará de que, por questão de segurança, devemos desligar o veículo sempre em primeira marcha, pois isso faz com que não fiquei dependente apenas do freio de mão, mas sim também da marcha engatada.
7) Nas ultrapassagens onde há a possibilidade de riscos, ou seja, você dispõe de pouco tempo para concluir a ultrapassagem, o procedimento correto é reduzir uma marcha no manual, dando um leve toque pra cima (para frente (-) ) e fazer a ultrapassagem. Caso contrário, se deixar no automático e acelerar pra obter o melhor desempenho do motor, o sistema faz uma redução de marcha sem você esperar. Assim, tempo para concluir a ultrapassagem será insuficiente.
8) Em caso do carro “desligar” por questões adversas como bateria fraca, por exemplo, chamar socorro. Nunca tente dar partida no tranco, pode danificar o sistema, uma vez que o mesmo depende da energia da bateria para poder funcionar perfeitamente.
9) Uma vez que o veículo esteja com o motor ligado e em 1ª marcha, ao abrirmos a porta do motorista, a central Dualógic automaticamente colocará o câmbio no modo “N”. Tal procedimento evita que o veículo engate as marchas com a porta aberta, evitando a ação de uma criança, por exemplo, enquanto o motorista está fora do veículo.
10) É possível tirar o carro de inércia em 1ª ou 2ª marcha, bastando o câmbio estar no modo manual. Com a alavanca, escolha a marcha que se deseja sair.
11) Ao desligar o veículo, a central Dualógic automaticamente memoriza a ultima marcha antes de o carro ser desligado. Por exemplo: se você desligar o carro em 1ª marcha e em seguida colocar o câmbio no modo N, quando executar uma nova partida, o sistema vai mostrar 1ª marcha no painel. Portanto, desligue sempre o veículo em 1ª marcha, isso evita problemas e aumenta a segurança.
“Consultor OB” é uma editoria em que as matérias são realizadas na oficina independente, sendo que os procedimentos técnicos efetuados na manutenção são de responsabilidade do profissional fonte da matéria.
Nossa intenção com esta editoria é reproduzir o dia a dia destes “guerreiros” profissionais e as dificuldades que enfrentam por conta da pouca informação técnica disponível.
Caso queira participar desta matéria, entre em contato conosco.
Mais informações: [email protected]