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Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT, uma nave hermana ao gosto dos reparadores brasileiros


Produzido na Argentina, edição 2017 do hatch e sedan médios prima pela dirigibilidade e motorização moderna sem abrir mão da potência. Mas continua derrapando no alto preço das peças de reposição

Por: Antônio Edson - 11 de maio de 2017


Titânio: mineral com o qual se produz um metal leve, forte, lustroso e resistente à corrosão, à tração e ao impacto e que por, até certo ponto, não se deformar quando exposto a altas temperaturas tem ampla aplicação na produção de mísseis, aeronaves comerciais, militares e naves espaciais. Logo, não por acaso a Ford Motor Company se refere ao elemento em seus carros top de linha, como é caso do Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT (abreviação de Alta Tecnologia), montado na planta de General Pacheco, município da região metropolitana de Buenos Aires (Argentina) e que é exportado para o Brasil. Provando o acerto em denominar assim o veículo ele é, curiosamente, apontado como “nave” ou “avião” por alguns brasileiros mais atentos ao tráfego das ruas. A menção popular é justificável, pois o Focus é, comercialmente, um sucesso: foi o segundo hatch médio mais vendido do País em 2016 (6.766 unidades) e, até o final do primeiro semestre do mesmo ano, conservava o quarto lugar geral entre os mais comercializados do planeta (367.479 unidades) segundo a consultoria Focus2Move, que apurou a circulação de 2.700 modelos em 140 países.

A boa performance de vendas – em especial na Europa – do veículo lançado globalmente em 1998, mas que só chegou ao Brasil dois anos depois para suceder o Escort e bater de frente com modelos já estabelecidos como o Opel Astra (aqui, Chevrolet Astra) e o Volkswagen Golf, é, ao lado das grandes picapes da série Ford F – as preferidas nos Estados Unidos –, responsável por garantir a montadora norte-americana do oval azul na quarta posição entre as maiores do mundo, mesmo posto ocupado entre as fábricas instaladas aqui. E é essa a missão que, pela frente, a geração 2017 do Ford Focus terá a manter e, se possível, superar. Seu trunfo: o carro, que sempre se distinguiu pela excelência do acabamento interno, dirigibilidade agradável, segura e precisa, agora quer conquistar corações e mentes com um extenso pacote de itens de série e de opcionais tecnológicos e eletrônicos. O veículo pode dispor, entre outros itens, de chave programável (My Key) com sensor de presença, um sistema multimídia que permite ao condutor controlar diversas funcionalidades do veículo por comando de voz em português (SYNC®), e um módulo de estacionamento automático de 2ª geração que auxilia a estacionar em vagas paralelas e perpendiculares.

Para pôr a proFoto 1va ao menos algumas dessas pretensões e qualidades, a reportagem do jornal Oficina Brasil, em março, conduziu um Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT, em uma versão fast-back, avaliado então em R$110.840 mil, não a qualquer lugar, mas a uma equipe sênior de reparadores independentes que pudesse avaliar, com base na experiência e no extenso conhecimento técnico acumulado, o que, de fato, a tecnologia de ponta pode fazer pela indústria automobilística e por quem consome seus produtos. E os escolhidos não poderiam ser outros:

Walter Arada (D) e José Estanislau Germano (E) (foto 1). O reparador e administrador de empresas Walter Arada, 70 anos e 59 de profissão, é proprietário da RTR Autocenter, cujo movimento chega a 150 carros por mês e está instalada há 15 anos no bairro da Saúde, em São Paulo (SP). Walter conhece como poucos os veículos Ford, pois trabalhou na montadora por 13 anos justamente na fase pioneira da instalação da indústria automobilística na região do ABC paulista. “Ali comecei como trainee, ainda como estagiário, e passei por várias áreas, inclusive o departamento técnico. Mas desde criança já trabalhava na loja de autopeças da família. Embora sempre gostasse de mecânica e muitos pensassem que eu fosse cursar Engenharia, a graduação em Administração me ajudou a organizar o controle de eFoto 2stoque da empresa familiar que antes, como todas as outras, era feito na base do ‘olhômetro’”, lembra Walter que, atualmente, conta com 10 colaboradores em sua oficina, entre eles o “inconfidente” Germano, natural de Ouro Preto (MG). Com 49 anos, o reparador é outro que tem graxa nas veias: mexe com carros desde os 11 anos.

Guglielmo Martino (foto 2), 62 anos, proprietário da Karbello Serviços Automotivos, localizada no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP).

Italiano da Província de Salerno, no sul da Itália, Martino está há 35 anos no Brasil,  aonde veio trabalhar na oficina da empresa de táxi de um tio. Ele chegou aqui credenciado com a graduação de perito mecânico industrial obtida no Instituto Técnico de Salerno e com uma experiência familiar que incluía, aos 5 anos, desmontar e montar o motor de um velho Fiat Balilla do avô, que lhe serviu como primeiro mestre. No Brasil, conheceu dona Lourdes, com quem teve duas filhas, e que o fez voltar à “Bota” apenas para passear. Antes de, em 1996, fundar a própria oficina – que hoje só atende mediante agendamento – Martino foi consultor técnico de concessionárias da bandeira Fiat. Mas é bom não se deixar levar pelo forte sotaque do reparador: a julgar pela fila de clientes que aguarda atendimento, Guglielmo trabalha, e bem, com qualquer coisa, nacional e importada, que se desloque sobre quatro rodas.

Foto 3Pedro Demeter (D) e Dirceu Júnior (E) (foto 3). Graduado na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) e pós-graduado em Administração de Empresas na FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo (SP), o engenheiro mecânico Pedro, de 62 anos, dirige sua própria oficina de reparação localizada na Vila Mariana, na capital paulista, desde 1999. A Nikolaus – uma homenagem a seu pai – Serviços Automotivos conta com uma equipe enxuta de quatro colaboradores, além de um membro associado, o técnico automotivo formado pelo Senai (Serviço Nacional da Indústria) Dirceu Júnior, 41 anos, titular da Mobile Car Service, empresa que presta serviços de reparação automotiva a domicílio. “Quando não é possível resolver o problema na garagem do cliente trazemos o veículo até a Nikolaus, onde dispomos de infraestrutura apropriada. É uma parceria que tem dado certo”, afirma Júnior, que já acumula 26 anos de experiência no ramo da reparação.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Apesar de não trazer novidades significativas no design em relação à versão do ano anterior, a edição 2017 do Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT agradou unanimemente os reparadores. De modo particular, a cor Azul Aurora do veículo distinguiu-se na paisagem monótona dos pretos e pratas. Mas não faltou quem, antes de se sentar ao volante, apresentasse uma pontinha de receio em face de lembranças nem sempre boas de modelos Ford que, no passado distante ou recente, arranharam a imagem da montadora. Walter Arada, da RTR, recordou que, lá atrás, o Corcel teve um probleminha na trizeta do semieixo e os primeiros Escorts, nos anos 1980, trouxeram pequenas falhas na injeção. Também lamentou, mais recentemente, quando o câmbio PowerShift comprometeu os modelos EcoSport, New Fiesta e até o Focus. “Obviamente este aqui é outro veículo e terá sua própria história. De início, ele causa boa impressão, é bonito. O acesso fácil aos comandos e ao sistema de leitura dos instrumentos, no computador de bordo, é fácil e bem visível”, pondera Walter. “O carro é confortável, embora os bancos da parte de trás parecem não terem sido projetados para pessoas muito altas”, observa Germano.

Foto 4

Foto 5“Sua aparência e acabamento sugerem que teremos coisa boa. Destaco a tela multifuncional de LCD touch screen de alta resolução com 8 polegadas do sistema de multimídia (foto 4)”, avalia Guglielmo Martino, da Karbello. “O painel revestido em borracha (foto 5) ou espuma injetada, o Soft Touch, satisfaz e sua textura é agradável aos olhos e ao tato, a exemplo dos melhores carros japoneses. Passa a sensação de durabilidade e que não rangerá com o passar do tempo, ao contrário daqueles painéis de plástico”, compara Pedro Demeter, da Nikolaus Serviços Automotivos.

“O carro é invocado e não tem ar de sedan de tiozão. É difícil eu entrar num veículo e me sentir bem logo na primeira vez, como agora. Tudo parece ajustado: altura do banco, tamanho do volante e posição de dirigir. O banco e volante multifuncional parecem vestir o condutor e têm apelo esportivo (foto 7)”, confere Dirceu Júnior, da Mobile Car Service. Um dos slogans promocionais do veículo, aliás, esforça-se para convencer que o Focus “não é um sedan, é um fastback”. “Para mim, com essa traseira (foto 8), não deixa de ser sedan. Mas ok, vá lá... Vamos conferir se, na prática, ele entrega o prometido, pois a eficiência de sua tecnologia de injeção direta é promissora, ao menos no papel”, desafia Dirceu.

Foto 7

Foto 6
TEST DRIVE
E não é que ele entrega?! O carro impressionou os reparadores pela dirigibilidade, conforto e performance. Walter Arada e José Germano, que tiveram a oportunidade de experimentá-lo em um longo trecho de planalto da Rodovia dos Imigrantes, que liga a capital paulista ao litoral do estado, e testar a elasticidade do propulsor 2.0 Direct Flex, inclusive utilizando o módulo S (de Sport) da caixa de transmissão automático de 6 velocidades, rasgaram elogios. “A arrancada é forte e conforme você pisa no acelerador eletrônico o carro obedece plenamente ao comando. Nada se perde do enchimento e giro do motor, que é esperto, sem falar que, nas curvas, o carro mostra estabilidade e gruda na pista. A gente nota que os 175 cavalos, quando o motor é abastecido com gasolina, como é este o caso, estão sob o capô”, aponta Germano. “Não há aquele gap entre o comando do acelerador e a aceleração propriamente dita. O carro não exige muito giro para atingir uma velocidade alta e retoma as acelerações de forma ligeira. Muitas dessas qualidades são, sem dúvida, resultado desse sistema de injeção direta desenvolvida pela Ford. Parabéns aos engenheiros”, cumprimenta Walter Arada.

Se Walter e Germano testaram o carro em uma pista de alto rendimento, Dirceu Júnior, da Mobile Car Service, experimentou o veículo parado e, depois, em marcha ré, ou seja: o park assist (foto 9). “O sistema de estacionamento automático de 2ª geração passou com louvor e sem susto no teste de baliza”, aprovou o reparador. Pelas ruas do bairro da Vila Mariana, Dirceu chamou a atenção para o prazer de dirigir proporcionado pelo novo Focus. “A impressão é que poderíamos dirigir mil quilômetros como se dirigíssemos apenas 100, como se pilotássemos um avião”, compara Dirceu, que só não deu nota máxima para a dirigibilidade devido a um pecadilho: a falta de um led nos espelhos retrovisores que poderiam avisar quando da aproximação de alguém ou outro veículo nas laterais. De resto, qualquer aproximação ao Focus é percebida por sensores em suas partes dianteira, traseira e laterais, e anunciada no painel.

Foto 9

Ao experimentar o Ford Focus pela Avenida Nazaré, nas proximidades do Museu do Ipiranga, Guglielmo Martino, da Karbello, não resistiu e recorreu a um termo da velha “Bota”: “Belíssimo!” Segundo ele, a dirigibilidade do veículo faz um condutor que cultiva o prazer de dirigir esquecer da vida. “É uma pena que o trânsito das nossas cidades, o combustível brasileiro e as condições das ruas e estradas do País não ajudem”, lamenta. Mostrando-se antenado, o reparador chamou a atenção para o GPS integrado ao sistema de multimídia, “que não deixa ninguém se perder” e às marchas bem sincronizadas do câmbio de transmissão automática. “Posso ser um reparador da velha guarda, mas não sou saudosista e tenho tudo a favor dos avanços tecnológicos, até porque eles aumentam o prazer em estar ao volante. Temos que ir em frente, não para atrás”, aponta.

MOTOR 2.0 DIRECT FLEX 

Logo ao aFoto 10brir o capô, José Germano, da RTR, torceu o nariz para um detalhe: “Poderemos ter um probleminha aqui”. Menos mal, para os engenheiros da Ford, que não se trata de nada muito importante, embora potencialmente incômodo: o sistema de abertura do capô (foto 10). Acionado por um fino cabo, ele  aparentemente não possibilita outra alternativa de abertura em caso de avaria, o que é comum ocorrer em pequenas colisões dianteiras. “Se esse cabo quebrar fora da oficina neguinho vai sofrer para abrir”, alerta Germano. Mas uma vez exposto o cofre, os reparadores têm uma visão promissora: o propulsor 2.0 Diretct Flex (foto 11) que, segundo a montadora, rende até 6,7 km/l na cidade e 9,2 km/l na estrada quando abastecido com etanol. Já com gasolina, a rentabilidade se estende, respectivamente, para 9,7 e 13 km/l. Testado em um circuito misto, cidade-estrada, o consumo apurado no veículo foi de 8,4 km/l. Com 22,5 kgfm, o motor garante fôlego constante em subidas – mesmo o com ar-condicionado ligado – até com o câmbio no módulo Sport.

Claro que o sistema de injeção direta tem tudo a ver com a performance. “As respostas rápidas e fortes que o motor apresenta devem-se ao sistema de injeção direta. Seus bicos injetores estão dentro das câmaras de combustão e trabalham sob alta pressão, não mais expostos no coletor. É uma tecnologia bem parecida com a dos motores diesel”, analisa Dirceu Júnior, da Car Foto 11Mobile Service, que indica outro recurso inteligente do motor que melhora desempenho e economia: a bomba de alta pressão (foto 12). “Trabalhando com uma pressão de 30 a 170 bar, o combustível entra na câmara de combustão com uma altíssima pressão, como um jato de spray, o que pode gerar, em certas situações, até 20% de economia.” Walter Arada, da RTR, não pestanejou em garantir a ótima qualidade da bomba ao constatar sua procedência: “Fabricada no Japão, né!” O serviço de injeção do combustível ainda conta com duas válvulas solenoides (foto 13), que controlam os comandos variáveis de válvula.

Pedro Demeter, da Nikolaus, observou que, pelo valor cobrado pela montadora, o Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT, em sua edição 2017, poderia vir com um turbocompressor, como ocorre com alguns concorrentes. “Ainda que, como tudo indica, esse sistema de injeção direta seja excelente, um turbo justificaria melhor essa extensão AT no nome do carro”, diz o reparador que, devido à sofisticação do sistema do motor no novo Focus, não acredita que ele seja para curiosos. “Trata-se de um carro moderno e agradável de se trabalhar. Há um bom espaço de respiro na área das mangueiras do ar quente (foto 14), por exemplo, e que emprega corrente metálica (foto 15) e não mais correia dentada, e muito menos utiliza aquele tanquinho de combustível para partido a frio. Carros assim têm uma tecnologia que não admite profissionais sem formação adequada, o que beneficia os reparadores atualizados. Fazer um reparo aqui exige conhecimento, experiência e equipamento eletrônico apropriado”, observa o engenheiro.

“A disposição do motor e de seus elementos foi bem distribuída pelo cofre. O motor pode ter ficado meio apertadinho, mas nada que seja difícil de ser trabalhado. Ao contrário, tudo foi bem resolvido. O corpo de borboleta (foto 16) está em local acessível, facilitando sua manutenção”, apura Guglielmo Martino, da Karbello, que atentou para o grande número de sensores eletrônicos no veículo e arriscou uma previsão. “Em um futuro breve, os automóveis terão 70% de recursos eletrônicos e 30% de mecânica. Quem não tiver formação em mecatrônica estará fora do mercado da reparação”.

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TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA

A transmissFoto 17ão sequencial automática de 6 velocidades do Focus 2017 (foto 17), que a Ford prudentemente não chama mais de PowerShift por ter dado tanta dor de cabeça e prejuízo – a fábrica precisou estender a garantia do componente de 3 para 10 anos ou 240 mil km rodados –, sugere que seus engenheiros aprenderam algo. “Parece um câmbio CVT, que oferece relações de marcha continuamente variáveis, só que mais nervosinho. As mudanças de marchas são imperceptíveis e precisas, sem vibrações. É uma evolução”, define Walter Arada.

Dirceu Júnior destacou a sensível diferença entre os módulos Drive e Sport. “O primeiro é suave, não estica demais as marchas nem aproveita o giro alto do motor. Trabalha com uma rotação mais baixa e é apropriado para o uso urbano, além de proporcionar um consumo menor de combustível. Aliás, deve ter sido pensado para esse fim. Já no módulo Sport se percebe que o carro ganha potência, as marchas são trocadas com mais de 6 mil rpm e, portanto, são mais longas. Há um melhor aproveitamento do torque”, analisa. Utilizando esse módulo, José Germano, na Rodovia dos Imigrantes, lançou mão, literalmente, do recurso Paddle Shift, as borboletas que ficam atrás do volante que possibilitam trocar as marchas. “Com as respostas rápidas do motor, a sensação é de guiar um Fórmula 1”, comparou. Martino, da Karbello, apontou para a posição bem protegida da caixa de transmissão automática (foto 18) no interior do cofre e realçou em uma palavra o equilíbrio entre câmbio e motor: “Sincronicidade”.

Foto 18

 

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO 

ConfortávFoto 19el e macio, sim, mas não necessariamente mole. É como pode ser descrita a direção com assistência elétrica (foto 19) do Focus 2017. “Exato, é leve e de resistência progressiva, além de o volante multifuncional ter uma boa pegada. Não é nem um pouco cansativa. A 100 quilômetros por hora ela apresenta mais firmeza do que com o veículo parado, em manobra. Isso transmite segurança”, comenta Dirceu Júnior. Já Guglielmo Martino reparou que o motor de assistência elétrica da direção (foto 20) não fica na coluna de direção, mas bem posicionado no interior do cofre, facilitando o trabalho do reparador.

O Focus 2017 tem freio a disco nas quatro rodas (foto 21): ventilados na frente, para melhor dissipar o calor provocado pelo atrito entre disco e pastilha e onde o recurso é mais exigido, e sólidos atrás. Para testá-los, Dirceu Júnior quis conferir o sistema ABS, a assistência de frenagem autônoma, o controle eletrônico de tração e sua estabilidade preventiva: dentro dos limites da segurança, freou bruscamente o veículo em uma curva e deu-se por satisfeito. “Seus pneus não arrastaram um milímetro e o carro não saiu da linha. Aprovei!”, avaliou.

Uma aparente inovação no sistema de freios está nas rodas traseiras (foto 22), nas pinças de estacionamento. “Agora a própria pinça que faz a frenagem trabalha no sistema de estacionamento. Isso proporciona mais segurança e economia, pois se evita a manutenção de um sistema convencional de frenagem, pois as lonas foram eliminadas”, afirma Pedro Demeter, da Nikolaus.

Muito do conforto e da maciez do Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT é mérito do acerto de sua suspensão. Na frente, a tradicional McPherson independente e, atrás, a também independente Multilink ou multibraço (foto 23). Mas o segredo desse conforto está em pequenos detalhes que, somados, fazem grande diferença. Walter Arada, da RTR, notou que as bandejas são afixadas no quadro do agregado da suspensão e contam com coxins reforçados (foto 24), e que as bieletas, varetas que ligam barra estabilizadora e amortecedores, têm, nas rodas dianteiras, sensores (foto 25) que ajudam a fazer uma leitura detalhada da estabilidade do veículo. “Para mim é uma boa novidade, pois deve proporcionar mais segurança nas curvas”, admite. Na suspensão traseira, o acerto é feito por um duplo sistema de alinhamento (foto 26). “Ainda que aumente o trabalho de manutenção, com maior troca de embuchamento, o que acontece menos com um sistema fixo, esse sistema Multilink oferece mais suavidade e conforto”, define Walter.

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ARREFECIMENTO, ELÉTRICA E EXAUSTÃO 

Dirceu Foto 27Júnior reparou que o sistema de arrefecimento dispõe de um diferencial em relação a alguns Fords: a ventoinha ou o eletroventilador (foto 27) conta com um módulo de controle de velocidade variável que a mantém sempre funcionando e não mais com aquele sistema do stop and go, ou liga e desliga. “Os vários sensores do motor vão colhendo informações, como a velocidade, temperaturas da água e do ar, e regulam a velocidade do eletroventilador sem nunca desligá-lo, garantindo controle constante sobre a temperatura do motor”, descreve o reparador. Isso é bom, claro, mas poderia ser melhor se o conjunto de arrefecimento tivesse o sistema de água pilotada ao invés do sistema mecânico tradicional (foto 28), tocado por correia. “Esse trabalharia como o mecanismo do compressor do ar-condicionado. Uma bomba é ligada e desligada de acordo com a temperatura do motor. É uma tecnologia mais inteligente e, obviamente, cara. Mas pelo preço que pagamos pelos carros no Brasil seria mais justo”, completa Dirceu.

Quanto ao conjunto elétrico do Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT, os reparadores não viram nada de extraordinário nem de comprometedor, a não ser que terão dificuldades quando da reposição de lâmpadas no conjunto ótico dianteiro (foto 29). “Não vai ser fácil, será preciso tirar todo o farol quando da necessidade de trocar uma simFoto 28ples lâmpada, pois não há acesso por dentro. Isso demanda mais tempo de mão de obra para o reparador e mais custo para o cliente”, prevê Guglielmo Martino. Walter Arada, em compensação, enxergou algumas facilidades em outras partes do carro. “Veja como o filtro de combustível (foto 30) ficou visível e de fácil remoção. Em outros modelos fica escondido. Os tubos de combustível (foto 31) também ficaram bem à mostra”, aponta. 

O sistema de exaustão não passou despercebido por contribuir indiretamente para o conforto do habitáculo. Sobre o cano de escapamento, uma longa manta defletora (foto 32), bem maior do que em outros modelos, garante que o mínimo ou nenhum calor vindo da parte de baixo do veículo incomode os ocupantes. E se em alguns veículos a vibração do sistema de exaustão pode ser ouvida ou sentida, um duplo coxim de suporte do escapamento (foto 33) procura impedir pequenos ruídos e oscilações. Nessa parte de baixo do veículo a lamentar apenas um protetor de cárter em fibra (foto 34) que pouco protege. “Pode servir para a Europa ou Estados Unidos, mas nunca para as nossas condições que exigem protetores em chapa de aço”, comenta Pedro Demeter.

Foto 29

 INFORMAÇÕES TÉCNICAS 

Os reparadores iFoto 30ndependentes brasileiros não têm vida fácil na obtenção de informações técnicas sobre o novo Ford Focus junto à montadora. Para driblar a dificuldade, uma ferramenta comum a todos eles é a internet, ainda mais quando, como é caso do Focus, eles têm à frente um dos veículos mais vendidos no mundo – e a web, afinal, é uma rede mundial. “Ajuda também o fato de veículos que, como esse, aproveitam peças, sistemas e elementos de outros da mesma montadora, como câmbio, motor e suspensão”, afirma Walter Arada, que garante conseguir a maior parte das informações técnicas junto às concessionárias, mas de modo informal, na base do “jeitinho brasileiro”. “Como já estive do outro lado do balcão, ou trabalhei em concessionárias, sei que é importante cultivar conhecimentos dentro delas. Consigo muitas informações assim”, reforça Martino. Para ele e para Walter, no entanto, falta, por parte das montadoras, uma política oficial de comunicação com o reparador, embora a Ford, em particular, tenha melhorado seus canais de marketing depois do fiasco do câmbio PowerShift.

“Recorrer às concessionárias é um problema crônico no Brasil, independente da montadora. No exterior, não, encontramos tudo, a começar pelos sites. É bem mais fácil. Como, no entanto, estamos no ramo há muito tempo superamos a dificuldade através das amizades e dos contatos”, ratifica Dirceu Júnior. Pedro Demeter, no entanto, lembra que o Sindirepa é um parceiro importante nas horas de sufoco. “Conseguimos sempre alguma informação através dele”, avisa.

 PEÇAS DE REPOSIÇÃO 

Foto 31Tudo pode ir relativamente bem com o Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT até a hora de conferir o valor das peças de reposição: os preços são irremediavelmente altos. “É o calcanhar de Aquiles da marca, não tem jeito nem explicação. Ainda que a Ford tenha feito campanhas nos últimos anos a verdade é que ela precisa mesmo é baratear o valor das peças originais que, em alguns casos, custam o dobro de peças similares originais de outras montadoras”, explica Walter Arada. Dirceu Júnior e Pedro Demeter lembram que, felizmente, algumas peças do freio e da suspensão podem ser encontradas em fabricantes homologados e de qualidade, como a Monroe e a Cofap. “Mas não há alternativas para peças específicas como componentes do motor e do câmbio”, reconhecem. “O que recomendamos aos proprietários é que caprichem na manutenção preventiva, que sempre fica mais em conta e, no fundo, é a mais prudente”, complementa Guglielmo Martino.

Como resultado de tal situação, e baseado no movimento de suas oficinas, na maioria das vezes os reparadores recorrem às concessionárias. Guglielmo Martino, em 80% das situações, deixando os 20% restante para distribuidores autorizados. A mesma proporção se repete com Pedro Demeter e Dirceu Júnior. Walter, na RTR, trabalha em 70% das vezes com peças de concessionárias e os outros 30% com distribuidores autorizados e autopeças.

RECOMENDAÇÕES 

Todos os repFoto 32aradores entrevistados reconheceram que o Ford Focus Titanium Plus 2.0 AT, com o preço superior a R$ 110 mil, não é para qualquer bolso e, por isso mesmo, é uma compra a ser feita com critério. “O carro é aparentemente bom, mas por esse valor eu, antes, faria um bom test drive e uma pesquisa rigorosa em todos os outros concorrentes, principalmente os japoneses. Um fator que precisamos levar em conta hoje, ao desembolsar esse valor em um carro, é a depreciação, que pode ser grande e, na ponta do lápis, não compensar, a não ser que você goste muito de um carro e seja fiel a uma marca”, avisa Pedro Demeter. Walter Arada não foge do discurso. “A Ford se superou em conforto, dirigibilidade e tecnologia. Não prevejo, no momento, grandes problemas na sua manutenção nem duvido que seria uma boa aquisição, mas sem esquecer de outras opções no mercado. O consumidor precisa valorizar a diversidade”, completa. “É um carro luxuoso, mas que no fundo é simples e fácil de se trabalhar. Sinceramente, pensei que fosse mais complicado. Se ele vale o que custa? Bem, claro que lá fora, por motivos que todos sabemos, esse carro custaria bem menos da metade, mas se o brasileiro aceita pagar fazer o quê...”, conclui Guglielmo Martino.


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