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Como identificar se o problema é mecânico ou eletroeletrônico, o que devemos fazer? - Parte 2


Vamos apresentar de forma simples e didática quais os equipamentos podem ser utilizados, os testes e procedimentos realizados, a fim de identificar se a falha é mecânica ou eletroeletrônica

Por: Laerte Rabelo - 02 de janeiro de 2019

Olá, caros leitores! Nesta matéria daremos continuidade ao tema referente à identificação de falhas de origem mecânica manifestadas no motor do automóvel.  

Apresentaremos, em detalhes, a utilização do scanner automotivo, exibindo e interpretando os diferentes sinais emitidos pelos sensores, assim como o uso do osciloscópio em conjunto com os transdutores a fim de analisar as variações de pressão do motor, com o objetivo de capacitar o amigo reparador a diferenciar de forma definitiva anomalias de origem mecânica das de origem eletroeletrônica.     

Transdutor de pressão com o motor em marcha lenta 

Antes de iniciar o estudo dos casos, iremos entender como interpretar o sinal emitido pelo transdutor de pressão instalado no coletor de admissão como o motor no regime de marcha lenta. 

Como já foi dito na matéria do mês de novembro, o transdutor de pressão, consiste, basicamente, de uma pastilha piezoelétrica que transforma variações de pressão em sinais elétricos instalado no coletor de admissão, podemos, facilmente, verificar o vácuo que cada cilindro está gerando no momento da admissão. Este teste pode ser realizado em dois regimes de funcionamento do motor: na partida ou em marcha lenta. Para esta matéria vamos iniciar mostrando o teste na marcha lenta. 

A figura 1 apresenta o gráfico emitido pelo transdutor de pressão instalado no coletor de admissão com o motor em marcha lenta. Os principais pontos de análise do sinal estão destacados por siglas que têm seu significado explicados logo abaixo da figura.

Observando atentamente o gráfico fica fácil constatar que podemos diagnosticar falhas tanto nas válvulas de admissão quanto nas válvulas de escape, pois podemos identificar seus momentos de abertura e fechamento, isso de forma individual, ou seja, cilindro por cilindro.  

Um outro ponto a ser observado no gráfico da figura 1 é que os pontos inferiores do gráfico representam o vácuo gerado por cada cilindro no momento do tempo de admissão, esses pontos servem de referência para comparação do vácuo gerado por cada cilindro, se houver uma diferença considerável é sinal que algum cilindro está com problema.  

De forma similar ao teste de compressão relativa, este tipo de sinal também serve para identificar problemas na vedação da junta do cabeçote. Em resumo este tipo de análise pode identificar falhas nos seguintes componentes: 

  • Válvulas de admissão ou escape quanto a trincas, desgaste; 

  • Válvulas de admissão ou escape quanto a folgas excessivas ou estranguladas caso ainda necessitem de regulagem de suas folgas; 

  • Cabeçote quanto a desgaste da sede de válvulas; 

  • Comando de válvulas quanto a quebra, aplicação errada, empeno ou deslocamento dos cames caso sejam montados por interferência; 

  • Junta do cabeçote quanto a desgaste ou ruptura, dentre outros. 

A figura 2 exibe mais um gráfico para ajudar na compreensão deste sinal que exige do técnico bastante estudo e treino constante. Sinal este que se analisado de forma correta pode identificar problemas em componentes mecânicos que sem essa ferramenta ficam “invisíveis”, caso se utilizem outros métodos ou equipamentos de diagnóstico.

Como exemplo de aplicação desta ferramenta, apresento um caso cedido, gentilmente, pelo técnico automotivo Osair dos Santos Xavier, proprietário da Auto Mecânica Xavier, que recebeu em sua oficina um cliente relatando que o veículo consumia muita agua, sem, entretanto, apresentar vazamento externo que, por certo, explicaria a reclamação do cliente. 

 

 

O técnico, já experiente neste tipo de anomalia, pegou seu osciloscópio junto com o transdutor de pressão e capturou o sinal resultante da variação de pressão do coletor de admissão com o motor em marcha lenta.

 

Ao ver o sinal na tela do osciloscópio, Osair identificou, facilmente, que havia um cilindro que apresentava um baixo vácuo em comparação aos demais, através da análise da parte inferior do gráfico, o que evidenciava que existia ali um problema de origem mecânica. O reparador informou ao cliente que de pronto autorizou a execução do reparo e, sem perder tempo, Osair removeu todas as velas de ignição para garantir a assertividade de sua análise.  

Observando o aspecto das velas de ignição, ficou confirmando que havia passagem de água para dentro do cilindro do motor.

Como já suspeitava, havia uma pequena passagem de água para dentro do motor, entretanto faltava apenas identificar o causador desta anomalia, finalizando assim, seu diagnóstico.  

Assim, partiu para a desmontagem do cabeçote e, por fim, elucidou o caso ao identificar o causador do consumo excessivo de água, que foi o desgaste da junta do cabeçote permitindo a passagem da água para o interior do motor. 

A aplicação do osciloscópio junto com o transdutor de vácuo não se limita apenas a verificação da parte superior do motor (cabeçote), pode ser utilizado para analisar a parte de força do motor, onde se encontram os pistões, bielas e arvore de manivelas. Neste setor do motor poderemos identificar, por exemplo, desgaste dos anéis de segmento, bielas empenadas, desgaste excessivo das paredes do cilindro, etc.  

Para exemplificar a aplicação do transdutor de pressão, agora instalado no local da vareta de verificação do nível de óleo do motor, a fim de analisar as variações de pressão no cárter para identificar possíveis desgastes nos componentes que são elementos da parte de força do motor, vamos acompanhar mais um caso cedido pelo amigo reparador Osair dos Santos Xavier.  

Um proprietário de um veículo Astra Elite 2.0, ano 2005, chegou em sua oficina relatando que o veículo estava falhando, principalmente, em marcha lenta. Osair verificou os parâmetros de funcionamento do veículo utilizando um scanner. 

Ao observar os valores exibidos pelo equipamento o técnico não identificou inicialmente nenhuma anomalia em seus componentes eletroeletrônicos, entretanto, ele sabia que o scanner não mostrava o foco real do problema. 

Decidido em resolver este mistério, partiu para verificação com o osciloscópio e transdutor de pressão. Inicialmente instalou no coletor de admissão e com o motor em marcha lenta capturou o sinal. 

Ao ver o resultado da análise, Osair constatou que não havia fortes indícios de desgaste do cabeçote para ocasionar falhas no motor como as que se manifestavam no veículo em questão.  

O próximo passo seria a verificação da parte de força, o que o reparador fez sem perda de tempo. Instalou o transdutor de pressão no local da vareta de óleo e obteve o sinal. 

O sinal exibe as ondas de pressão no cárter resultante do movimento de subida e descida dos pistões dentro do cilindro. Em sua análise o técnico deve se atentar à regularidade do sinal, ou seja, os pontos superiores e inferiores devem estar praticamente alinhados, significando que todos os cilindros estão trabalhando de forma equilibrada.  

Neste caso Osair percebeu que havia desgaste em um dos cilindros do motor, o que causava a falha do veículo, assim, além de remover o cabeçote o técnico teve que realizar uma verificação na parte de força do mesmo, verificando possíveis desgastes em diversos componentes, tais como: anéis de segmento, pistões, bielas ou desgaste excessivo nas paredes do cilindro.  

Diagnóstico dos componentes mecânicos utilizando o Scanner Automotivo

Uma das principais funções do scanner automotivos é disponibilizar para o reparador os valores exibidos pelos sensores do veículo. Porém, este tipo de análise não serve apenas para diagnosticar falhas nos sensores, mas também serve para identificar possíveis falhas mecânicas do motor do veículo.  

Por exemplo, o sensor de pressão do coletor (MAP), bastante conhecido pelos técnicos especializados em injeção eletrônica, tem a função de informar a unidade de controle do motor (UCE), a variação de pressão do coletor de admissão. É um sinal muito importante, pois é através dele que a central decide sobre aumentar ou diminuir o tempo de injeção e avanço de ignição, dentre outras decisões.  

É importante salientar que vários fatores originados por desgastes em componentes mecânicos podem influenciar no valor de pressão do coletor de admissão, tais como: 

  • Entrada de ar através de trincas do coletor de admissão ou desgaste de sua junta ou anéis o’rings; 

  • Desgaste dos o’rings de vedação dos bicos injetores; 

  • Regulagem fora da especificação das folgas de válvulas de admissão e escape se aplicável; 

  • Obstrução do sistema de escapamento, causado por diversos componentes, como catalisador, ou outros componentes deste sistema; 

  • Motor fora de sincronismo. 

Com o uso de um scanner automotivo, observou na tela de visualização dos parâmetros de funcionamento do motor, em especial o valor do sensor de pressão do coletor (MAP).

Neste exemplo, o valor do sensor MAP (pressão do coletor) está com 39Kpa, em média, este valor deve estar entre 32 a 53 Kpa, valores elevados emitidos por esse sensor evidenciam a grande maioria dos problemas listado anteriormente. Por isso o técnico deve ao procurar problemas de origem mecânica observar atentamente os valores deste sensor.  

Amigos reparadores, procurei mostrá-los através desta matéria como identificar problemas mecânicos através da utilização de diversas ferramentas a fim de auxiliá-los no dia a dia da oficina, tornando a realização do diagnóstico de falhas mais simples, rápido e assertivo. 

 

Até a próxima!