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VW Fox 1.0 VHT : muitas virtudes, mas alguns problemas evidenciam a importância da manutenção preventiva


Reparadores apontam os aspectos positivos, e dão dicas importantes sobre a manutenção do Fox, que podem evitar a ocorrência de problemas recorrentes no motor

Por: Tenório Júnior - 18 de outubro de 2016

Em outubro de 2003 a VW lançou no Brasil o primeiro carro produzido no País com o teto alto (high roof), que privilegia o conforto e a visibilidade devido à altura elevada dos bancos em relação aos outros veículos, proporcionando também, maior espaço interno. Sucesso de vendas, o modelo Fox é motivo de orgulho para a montadora, e também para nós, brasileiros, porque foi inteiramente desenvolvido pelas equipes de Engenharia da Volkswagen do Brasil e é vendido para a América Latina e Europa. 

 

Atualmente o Fox é comercializado no mercado brasileiro com três opções de motores: 1.0 8v Total Flex (76 cv etanol e 72 cv gasolina), 1.6 8v Total Flex (104 cv etanol e 101 gasolina) e 1.0 três cilindros (82 cv etanol e 75 cv gasolina).

O motor de três cilindros é feito em alumínio, tem 24 Kg a menos (comparado ao equivalente de quatro cilindros), possui comando que varia o tempo de abertura das válvulas e duplo circuito de arrefecimento, que diferencia a temperatura do bloco em relação ao cabeçote para melhor eficiência - É realmente um motor revolucionário!

Agora vamos conhecer um pouco mais sobre o Fox ano 2010 com motor EA 111 1.0 VHT Total Flex de quatro cilindros, sob a ótica dos reparadores independentes, fundamentada em suas experiências.

No site Guia de Oficinas Brasil encontramos no bairro de Perdizes - Zona Oeste da cidade de São Paulo, a oficina, Motor.Com Assistência Técnica Automotiva. Quem administra a oficina é o reparador Wilson Lino, 51 anos de idade e 26 de profissão (fig. 01).  Wilson começou como consultor técnico em um centro automotivo, depois, em 1992 abriu uma oficina em sociedade com um amigo. “A partir daí eu comecei a trabalhar na mecânica e a fazer cursos técnicos. Gosto muito de ler e sempre acompanhei o jornal Oficina Brasil, tanto que sou um dos primeiros a me cadastrar no site de busca de oficinas do jornal”, conta com orgulho o reparador Wilson.

 

Ainda na Zona Oeste da cidade de São Paulo, bairro Água Branca, entrevistamos o reparador Adervandro Joel da Silva, 40 (fig. 02). Ele começou aos 12 anos de idade limpando peças e ajudando seu pai. Depois, trabalhou em outras oficinas e, por ser muito curioso, foi aprendendo até se tornar um profissional. Após fazer um curso de alinhamento na Volkswagen, tornou-se alinhador. Hoje ele atua como Mecânico e Alinhador, no Centro Automotivo Michigan, que também está no Guia de Oficinas Brasil. “Estou sempre me atualizando através dos sites da internet e do jornal Oficina Brasil”, diz o reparador.

Outro reparador que colaborou com essa matéria foi o Severino dos Santos, 47 – mais conhecido como “Sales” (fig. 03), proprietário da oficina MJS Centro Automotivo, localizada na Vila Santa Lúcia, Zona Sul da cidade de São Paulo, onde atende em média 60 carros por mês. Sales nos conta como foi sua trajetória: “entrei na oficina aos 9 anos de idade e saí de lá com 18 anos. Entrei em outra oficina em 1987 e só saí em 2012 quando pude montar a minha própria oficina em sede própria”.

Devido a um problema recorrente no cabeçote, relatado pelos reparadores entrevistados, fomos até a Retífica Ponçano, que fica localizada na Zona Sul da cidade de São Paulo – Vila das Belezas, para saber detalhes sobre esse grave problema.

Quem nos concedeu a entrevista foi o Clarivaldo Rocha, 43 - conhecido como “Valdo” (fig. 04). Ele começou como ajudante em uma retífica na parte de usinagem, passou para retificador de bielas, retificador de cilindros, trabalhou como vendedor de autopeças e mecânico de trator de esteira, mas acabou voltando para a área de usinagem e retífica de motores. “Só na Retífica Ponçano, estou há dez anos”, diz Valdo.

Suspensão dianteira

 

 

 

  

Equipado com a tradicional suspensão do tipo Mc Pherson e barra estabilizadora, o modelo avaliado apresenta apenas um defeito que ocorre de forma prematura e recorrente, a quebra da bucha traseira da bandeja (fig. 5 e 6). De acordo com os reparadores consultados, esse defeito ocorre porque a bucha original é frágil, só possui dois pontos de apoio conforme ilustrado na (fig. 07). Para minimizar esse problema basta substituir a bucha original por outra também original mas, do Cross fox, que possui quatro pontos de apoio (fig. 08). Segundo os reparadores as demais, que compõem a suspensão dianteira, são substituídas por desgaste natural.

   

   

Suspensão traseira

 

Na traseira a suspensão é simples e robusta. Possui apenas duas buchas grandes (uma de cada lado do carro) que ligam o eixo de torção à carroceria (fig. 09), amortecedores e molas helicoidais (fig.10), batente e guarda-pó (fig. 11). Segundo relato dos reparadores, não há defeitos crônicos ou recorrentes neste conjunto. As manutenções limitam-se à substituição das peças por desgaste normal, conforme o uso.

 

 

 

 

 

   Freios

    

O Fox vem equipado com uma válvula que regula a pressão do freio traseiro de acordo com a carga que o carro transporta (fig. 12). A válvula reguladora de pressão sensível à carga reduz a pressão hidráulica durante a frenagem, quando o veículo está leve, e aumenta a pressão conforme o peso, garantindo assim, eficiência em diferentes condições de uso do veículo. O defeito comum nesse tipo de válvula é vazamento. Porém, nenhum caso foi relatado pelos reparadores. No caso de vazamento, há a necessidade de substituir a peça por uma original.

De acordo com os reparadores, não há defeitos fora do normal no sistema de freio. Mas, o reparador Sales aponta um problema: “encontro grande dificuldade na hora de comprar ou de fazer orçamento das pastilhas e discos, porque para o mesmo modelo e ano há no mínimo dois tipos de pastilhas e discos que se aplicam. Às vezes, preciso levar as pastilhas e discos como amostra”, se queixa.

Consultor OB - O sistema de freio traseiro, apesar de possuir sistema de regulagem automática (que considero um dos melhores sistemas), em inúmeros casos (cerca de 90%) constatei que havia a necessidade de intervenção manual para efetuar a regulagem. Muitos reparadores confiam na regulagem automática e só efetuam a regulagem pelo cabo de freio de mão. Minha dica é: quando o freio de mão estiver alto, verifique o sistema de freio, visualmente, removendo o tambor. Se estiver tudo ok, monte novamente, coloque a roda e, pelo furo do parafuso da roda, introduza uma chave pontiaguda (faça uma ponta numa chave de fenda velha) no furo do regulador cônico (onde pega a mola - Fig. 13), peça para alguém pisar no freio e force para baixo. Depois de regular os dois lados, verifique o freio de mão, na maioria das vezes já estará regulado.

 

  

Dica do consultor OB: troque o fluido de freio nas revisões, a cada 12 meses, independentemente da quilometragem. Isso porque, o fluido de freio é higroscópico, ou seja, ele absorve a água da atmosfera e, ao longo do tempo, o acúmulo dessa água, além de prejudicar as peças por oxidação, irá diminuir drasticamente o ponto de ebulição a níveis perigosos. Com o ponto de ebulição baixo, durante uma descida de serra, por exemplo, o fluido pode ferver dentro das tubulações, formando bolhas de ar que deixarão o freio inoperante - o pedal desce até encostar no assoalho, sem pressão alguma para frear as rodas.

 

Sistema de injeção e ignição

 

As falhas mais frequentes relatadas por todos os reparadores consultados foram no sistema de ignição, velas, cabos e bobina.

Sales afirma que recebe veículos com certa frequência com falha na bobina e cabos de velas (fig. 14), com apenas 30 mil km rodados. “aqui, dependendo da quilometragem eu já troco o conjunto: velas, cabos e bobina”, diz o reparador.

Dica do consultor OB – É muito comum o rompimento do chicote da injeção eletrônica que passa abaixo da bateria, na maioria dos casos, por corrosão do ácido da bateria que fica caindo sobre ele.

Dica do Sales – Para trocar o retentor do volante do motor (fig. 15), é imprescindível o uso de uma ferramenta especial (fig. 16), porque o retentor e a roda fônica do sensor de rotação do motor estão montados juntos e se ficar fora da posição exata, certamente haverá problemas no funcionamento do motor, isso é, se o motor funcionar.

 

        

Sistema de arrefecimento

 

Conforme relato dos reparadores consultados, a válvula termostática costuma emperrar ao ponto de furar a carcaça, que é de plástico.

Segundo o técnico Wilson, vazamento na carcaça da válvula termostática e no cano d’água são frequentes (fig. 17). “Quando chega um carro desses com vazamento, eu já troco o conjunto completo: cano, carcaça e válvula termostática”, diz o reparador.

Para Sales esse problema é tão frequente que ele já possui esse conjunto completo, genuíno, em seu estoque (fig. 18)

Dica do consultor OB – Quando for trocar a correia dentada, troque também a bomba d’água. Porque se houver vazamento por ela, o líquido de arrefecimento cairá sobre o tensionador da correia dentada podendo comprometer sua eficiência e durabilidade.

  

Motor

 

Aqui nós encontramos alguns pontos críticos que devem receber atenção especial.

Segundo o técnico Adervandro, “é muito comum, nesse tipo de motor (EA 111), barulho nos tuchos, como se estivessem descarregados. No entanto, nem sempre é por falta de lubrificação ou defeito nos tuchos, muitas vezes o problema é causado por folga no alojamento dos tuchos no cabeçote. Se isso ocorrer, a solução é a substituição do cabeçote”, diz o reparador.

 

Já o reparador Sales, que estava com um motor do Fox desmontado em sua oficina no dia da entrevista, relata que o problema crônico no motor desse carro é desgaste no alojamento do comando de válvulas no cabeçote (fig. 19a e 19b) e, consequentemente no próprio comando de válvulas (fig. 20a e 20b). “No caso desse Fox que está aqui, já é a segunda vez que apresenta esse problema, como o motor também já estava com desgaste acentuado, foi mais viável comprar um motor novo genuíno que já vem com o cabeçote”, relata o reparador. (fig. 21a e 21b).

 

 

Valdo, que é o profissional da área de retífica de motores, endossa essa informação: “aqui na Retífica Ponçano, nós recebemos em média cinco cabeçotes por semana, do motor EA 111 com problema de desgaste no comando e alojamento”, diz ele.  “Na maioria dos casos dá para solucionar retificando o alojamento do comando de válvulas e substituindo o comando por um novo original. Mas, em alguns casos, o desgaste é tão grande que há a necessidade de substituir o cabeçote por completo”, arremata Valdo.

Para se ter ideia da frequência desse problema, segundo Valdo, para cada dez cabeçotes que chegam com esse problema na retífica, pelo menos oito são do tipo EA 111.

Questionados sobre os motivos que levam ao problema relatado, Sales e Valdo concordam que o problema é ocasionado por insuficiência de lubrificação, que normalmente é provocada por entupimento do pescador da bomba de óleo e dutos de passagem de óleo lubrificante. Veja o estado do pescador da bomba de óleo (fig. 22) e do anti-chamas (fig. 23).

 

De acordo com os experientes profissionais consultados, o maior problema é a falta de manutenção ou manutenção inadequada no tocante à troca de óleo. Os casos mais comuns são: utilizar óleo que não atende às especificações técnicas determinadas pelo fabricante do veículo; misturar marcas e tipos de óleo (sintético e mineral) e exceder o prazo para a troca do óleo.

Ainda falando sobre lubrificação, Valdo faz um alerta: “a falta de lubrificação também prejudica as partes móveis do motor, como bielas, virabrequim, pino de pistão. Aliás, nós já pegamos alguns casos de desgaste prematuro dos pinos de pistão (fig. 24) dos motores de 5ª geração da família EA 111”, completa Valdo.

As recomendações para evitar esse tipo de problema são: utilizar o óleo especificado pelo fabricante do veículo (consulte o manual do proprietário); trocar o filtro de óleo a cada troca de óleo; verificar o filtro de ar e substituir quando necessário; não exceder o prazo para a troca do óleo e se possível, trocar um pouco antes.

Dica do Valdo para o motorista - Quando a luz do óleo começar a piscar em marcha lenta, procure imediatamente uma oficina para verificar a causa. Se a luz ficar acesa de vez, pare o carro imediatamente e leve-o no guincho para uma oficina especializada de sua confiança.

Dica do Valdo para o reparador – Luz do óleo acesa ou piscando, verifique a pressão de óleo, constatou a pressão baixa, retire a tampa do cabeçote e o comando, se estiver gasto, fazer a retífica do cabeçote, trocar a bomba de óleo e efetuar a limpeza no sistema.

Dica do Consultor OB – Se a pressão do óleo estiver boa, interruptor da luz do óleo for novo e a luz do óleo estiver acesa, o defeito estará no painel. Há um componente que queima impedindo a luz de apagar. É possível trocar apenas o componente, o reparo é rápido, mas o custo é elevado.

 

Reparabilidade

 

Neste quesito, todos os reparadores consultados concordam que a reparabilidade é ótima. Bom espaço para trabalhar, simples para realizar as manutenções e não exigem muitas ferramentas específicas; estas foram as justificativas.

 

Peças

 

Na oficina Motor.Com, segundo Wilson, cerca de 95% das peças utilizadas nos reparos do Fox são originais adquiridas em autopeças e distribuidores independentes. Apenas em alguns casos, é necessário recorrer à concessionária que, no geral, sempre tem a peça. 

De acordo com o Adervandro, cerca de 50% das peças utilizadas são originais compradas em autopeças independentes e os outros 50% ficam divididos entre peças genuínas e, paralelas, quando o cliente opta.

Sales utiliza 70% de peças originais, “na maioria das vezes encontro na loja de autopeças independente, mas quando preciso das peças genuínas sempre encontro na concessionária”, diz o reparador.

 

Informação técnica

 

Wilson, quando precisa de informação técnica procura primeiro na Internet e fórum do jornal Oficina Brasil. “Quando preciso de informação técnica, vou pessoalmente à concessionária que estou acostumado a comprar e falo com o chefe da oficina ou com os mecânicos. Eles são muito experientes com a linha e não negam informações.”

Adervandro e Sales, quando precisam de informação, recorrem aos amigos e à internet. Segundo eles, nunca precisaram recorrer à concessionária para obter informações técnicas. 

 

Nota: A Volkswagen possui um site exclusivo para o reparador, é o Clube do Reparador Volkswagen - www.reparadorvw.com.br. Neste site o reparador encontra dicas técnicas, treinamentos, catálogo de peças e participa de promoções.

 

Indica ou não indica?

 

Valdo – Sim! “Mesmo com esse problema crônico no cabeçote, eu recomendo porque isso não é problema do carro, mas da falta ou má manutenção. Qualquer carro que não faz a manutenção adequada, corre o risco de problemas semelhantes. O Fox é um excelente carro!”

Wilson – Sim! “É um carro urbano, fácil para dirigir, fácil manutenção, nada que seja muito caro, custo- benefício é ótimo!”

Adervandro – Sim! “Porque é um carro bom para o dia a dia, peças fáceis para encontrar, manutenção fácil, é um carro que não dá dor de cabeça!”

Sales - Sim! “Manutenção simples, peças fáceis de encontrar originais, custo relativamente baixo.”

 

Conclusão

 

No dia a dia das oficinas mecânicas independentes, os reparadores se deparam com os mais diversos problemas em veículos de diferentes marcas, uns com mais, outros com menos frequência.

Numa oficina multimarca, os carros que têm maior passagem não são necessariamente aqueles que mais “quebram”, mas aqueles que possuem market share expressivo no mercado, como o Fox da Volkswagen, por exemplo. Assim, os problemas recorrentes nesses veículos se tornam comuns para os reparadores que, ao longo do tempo, adquirem experiência que lhes permite relatar com propriedade os defeitos encontrados, comentar sobre suas causas, dar dicas de reparos corretivos, preventivos e, quando solicitados pelos seus clientes, opinam e exercem forte influência na decisão de compra de um veículo.

Nesta matéria ficaram evidenciados os pontos positivos: reparabilidade, peças de reposição e informação técnica são requisitos básicos de suma importância no momento da escolha de um veículo para comprar.

Considerando os relatos dos reparadores entrevistados, percebemos que existem defeitos que ocorrem pela fragilidade das peças do sistema de arrefecimento, que são de plástico e com o tempo, inevitavelmente sofrerão danos que podem trazer consequências gravíssimas ao motor. Entretanto, se detectados a tempo, são fáceis de serem resolvidos.

Por outro lado, o defeito de maior gravidade relatado pelos técnicos (desgaste no alojamento do comando de válvulas), não pode ser atribuído ao carro, nem à marca, mas, à falta de manutenção do veículo. Sob essa ótica, percebemos a importância da manutenção preventiva, do acesso à informação acerca da correta manutenção e, sobretudo, da mudança de cultura.

 

Afinal, os problemas oriundos e relativos à falta ou má manutenção, deverão ser atribuídos a quem? Ao fabricante do veículo e reparador que não passam as informações acerca da correta manutenção preventiva ou ao proprietário do veículo que não dá a devida importância? Faça seu comentário, dê a sua opinião.