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Strada 1.8 Adventure Locker – Sistema de controle de tração é inovador e funcional, porém, limitado e frágil


Motor 1.8 Flexpower é velho conhecido dos reparadores, mas o sistema Locker ainda é um mistério para muitos. Veja nesta matéria as dicas sobre a manutenção geral, como funciona o sistema Locker e os principais defeitos

Por: Tenório Júnior - 17 de agosto de 2016

Foto 1Em meados de 2008 a Fiat lançou um sistema inédito de controle de tração dianteira, o sistema foi desenvolvido pela Eaton em conjunto com a FTP (Fiat Powertrain Tecnologies) denominado C510 Locker. Trata-se de um mecanismo eletromagnético que bloqueia o diferencial, permitindo que a tração seja semelhante entre as duas rodas dianteiras para auxiliar nas saídas quando o piso estiver escorregadio. O sistema inovador foi lançado no Palio Weekend Adventure Locker 1.8 Flex (foto 1), depois foi disponibilizado aos demais veículos da linha “Adventure”.

Ficha técnica - Strada 1.8 Adventure Locker

Potência a 5.500 rpm

114 / 112 cv (E/G)

Torque 2.800 rpm

18,5 / 17,8 Kgmf (E/G)

Taxa de compressão

10,5:1

Suspensão dianteira

Independente Mc Pherson com barra estabilizadora

Suspensão traseira

Eixo rígido com mola tipo Parabólica

Freio dianteiro

Disco ventilado

Freio traseiro

Tambor e sapatas com válvula reguladora de pressão sensível à carga.

Direção

Assistência hidráulica

 

A ativação do sistema é feita manualmente por meio de um botão no painel “ELD” (Electronic Locker Differential), que significa bloqueio eletrônico do diferencial. Para acioná-lo, o veículo deve estar parado, e o pedal de freio acionado. O Locker é desativado automaticamente quando o veículo atingir 20 km/h - Isso pode ser um problema, quando em alguns terrenos, for necessário ter velocidade e tração. Por isso, quando o veículo atinge 15 km/h (verificado pelas rodas traseiras), o motorista será avisado por um sinal sonoro “bip” que a velocidade de segurança (20 km/h), para desativação automática do sistema, está se aproximando. Esse aviso é importante para o motorista não deixar ultrapassar o limite de velocidade antes de sair da situação de pouca aderência. 

Foto 2

Ao se deparar com uma situação difícil, como um atoleiro, o motorista deve se antecipar. Ou seja, parar antes, apertar o botão “ELD” e só seguir após ouvir um bip longo e ver a luz “ELD” piscando de forma intermitente. A mensagem “ELD on” aparece no painel. 

O motor (foto 2) utilizado para dar força a esse moderno sistema de tração é o 1.8 8v Flexpower (fruto de uma associação entre Fiat e GM para produção conjunta de motores). 

Como o próprio título da sessão diz “Avaliação do Reparador”, entrevistamos três reparadores que estão habituados a executar reparos nesse tipo de veículo para sabermos o que ocorre por trás dos bastidores, ou seja, nas oficinas mecânicas independentes.

Na Auto Técnica Lincon, entrevistamos o reparador Edilson José da Silva, 47 (foto 3). Localizada na Zona Sul da cidade de São Paulo - bairro Chácara Santana, a oficina conta com quatro reparadores que, juntos, atendem cerca de 90 veículos por mês.  Edilson, que é um leitor assíduo do jornal Oficina Brasil e muito participativo no nosso Fórum, faz um breve relato de sua trajetória: “aos 11 anos de idade, meu pai me colocou na oficina pra eu não ficar na rua;  trabalhei em oficinas independentes onde adquiri muita experiência praticando e fazendo cursos de especializações; nos fins de semana fazia alguns “bicos” em casa mesmo, até que, em determinado momento eu já pude abrir a minha própria oficina, que hoje já tem 25 anos”.

Foto 3 e 4
Na cidade de Belo Horizonte em Minas Gerais, no bairro Serrano, entrevistamos mais um reparador que é assíduo leitor do jornal Oficina Brasil e atuante no nosso Fórum, é o Claudinei dos Santos Rodrigues ( foto 4), ele tem 40 anos de idade e 23 anos de profissão. Quando tinha 11 anos de idade, e morava em Peçanha, uma cidade do interior de Minas Gerais, já frequentava oficinas e foi crescendo aprendendo os primeiros passos do ofício. Depois foi para a capital, onde se profissionalizou fazendo cursos em escolas como Senai e outras. “Hoje, já faz 14 anos que tenho a minha própria oficina, a Gamorra Serviços Automotivos”, conta Claudinei.

Foto 5

Para completar o time, devido ao sistema Locker que é o grande diferencial do modelo avaliado, fomos até a oficina “Câmbio Certo”, que fica localizada em Santo Amaro - Zona Sul da cidade de São Paulo, para entrevistar um especialista em câmbios mecânicos, José Divino de Almeida, 53 (foto 5). No alto dos seus 30 anos de experiência no segmento, ele nos dá detalhes sobre a manutenção do câmbio com sistema Locker.

Suspensão dianteira e traseira

A suspensão dianteira é do tipo Mc Pherson (foto 6) com barra estabilizadora, que promove boa estabilidade em diferentes tipos de terrenos. De acordo com os técnicos consultados, desgaste dos batentes dos amortecedores, pivôs (foto 7), terminais, bucha e coxim da bandeja ( foto 8), molas e amortecedores são defeitos comuns pelo desgaste natural, não são considerados crônicos. 

Foto 6 , 7 e 8
A suspensão traseira possui molas do tipo parabólicas longitudinais. Esse tipo de mola, além de ser muito resistente, se diferencia pela flexibilidade, que garante o mínimo de conforto desejado. Os reparadores relatam que é comum apresentar estalos nas buchas das molas traseiras (foto 9), mas, consideram um sistema simples e fácil para reparar. 

Freios

O sistema de freio é tradicional e muito conhecido pelos reparadores. Na dianteira, discos ventilados e pastilhas (foto 10). Na traseira, tambores e sapatas (foto 11) contam com o auxílio do corretor de frenagem (foto 12), que é uma válvula equalizadora de pressão sensível à carga*. Segundo o reparador Claudinei, o sistema de freio traseiro apresenta, com frequência, barulhos nas sapatas e na válvula equalizadora. Ainda sobre os freios traseiros, o técnico dá uma dica: “apesar de possuir um sistema de regulagem automática nas sapatas de freio, há a necessidade de efetuar um ajuste manual”, alerta o reparador.

Foto 10, 11 e 12

*Saiba mais sobre a válvula equalizadora de pressão sensível à carga na matéria publicada em julho de 2016 “Avaliação do Reparador”.

Fique por dentro – Durante a frenagem, o cilindro mestre envia pressão hidráulica para as quatro rodas simultaneamente, porém, a pressão se diferencia entre os eixos. Isso porque, na maioria dos veículos, o conjunto motriz fica na parte dianteira do veículo, logo, o peso maior fica localizado na dianteira; além disso, no momento da frenagem, a força da inércia projeta mais peso para a dianteira, o que deixa a traseira ainda mais leve e propensa à perda da aderência. Para evitar isso, a pressão hidráulica no momento da frenagem é distribuída (na maioria dos carros de passeio) da seguinte forma: dianteira 70% e traseira 30%. Observando que essa proporção pode variar de acordo com o veículo, no entanto, essa distinção entre os veículos não é muito relevante para esse entendimento, o importante é saber que existe essa diferença para saber como proceder no momento da manutenção. 

Sendo assim, conclui-se que: se o freio traseiro estiver desregulado, a sua participação no momento da frenagem será ainda menor, o que irá sobrecarregar as pastilhas e discos, reduzindo a eficiência de frenagem e aumentando o desgaste das pastilhas. 

Dica do consultor OB – Ao efetuar a troca das pastilhas, verifique sempre o estado dos freios traseiros, se estiverem em boas condições de operação, desregule o cabo de freio de mão e efetue o ajuste manual nas sapatas. Esse simples procedimento melhorará a eficiência do freio, irá evitar acidentes e tornará o serviço muito mais perceptível. 


Foto 13

Motor

O motor utilizado no modelo avaliado é o 1.8 Flexpower produzido pela General Motors Powertrain, velho conhecido dos reparadores. O motor em si não apresenta problemas recorrentes ou graves, pelo contrário, o problema que havia nos modelos anteriores, que era o desgaste dos balancins e comando de válvulas, nesse modelo já não ocorre com a mesma frequência, porque os balancins são roletados (foto 13)

Arrefecimento

Segundo o reparador Edilson, os defeitos mais comuns são vazamentos no cano d’água, na  bomba d’água e o mau funcionamento da válvula termostática (fotos 14A e 14B). “Aqui nós trocamos a válvula termostática juntamente com a correia dentada a cada 50.000 km”, diz o reparador.            

Foto 14A e 14B

Dica do consultor OB – o uso do aditivo para sistema de arrefecimento é de suma importância para prolongar a vida útil do motor e de suas peças. Contudo, vale salientar que a qualidade do aditivo e a proporção de água desmineralizada devem seguir as especificações técnicas constantes no manual do proprietário. Não se esqueça dessa informação: o motor do veículo não consome água, se o nível estiver baixando, significa que há vazamento.


Sistema de injeção / ignição 

Nenhum dos reparadores que colaboraram com essa matéria relatou falhas graves recorrentes no sistema de injeção eletrônica. O reparador Claudinei relata que já pegou alguns casos em que o sistema de gerenciamento eletrônico não reconheceu o combustível. Já o reparador Edilson destaca as velas e os cabos de velas, “recomendo a troca a cada 30 mil km tanto das velas quanto dos cabos”, diz o técnico.

Câmbio

De acordo com o experiente reparador Edilson, defeito no câmbio do Fiat Strada 1.8 Adventure Locker é comum. “Eu já peguei pelo menos quatro desses, com o pino das satélites quebrado, alguns chegaram a quebrar a carcaça”, diz o reparador. Diante desse surpreendente relato, fomos em busca de informações mais detalhadas sobre o defeito. 

Na oficina Câmbio Certo, o especialista em câmbios endossa o relato do colega Edilson: “Há dois defeitos recorrentes nos câmbios dos veículos da Fiat com sistema Locker, o rompimento do fio de acionamento do Locker (fotos 15A e 15B) e a quebra ou desgaste do pino da satélite (foto 16). É comum chegar esse tipo de carro com defeito no sistema Locker, alguns clientes reclamam que o sistema não está funcionando, na maioria desses casos, o defeito é o fio quebrado dentro do câmbio”, conta José Divino.

Foto 15A,15B e 16

Outro problema relatado pelo especialista é o desgaste do pino das satélites, que, por consequência, provoca desgaste na caixa de satélite (foto 17). 

Segundo José Divino, para reparar qualquer um dos defeitos citados, há a necessidade de comprar o “kit Locker” (foto 18), porque a Fiat não comercializa as peças separadas. De acordo com o especialista, para fazer um reparo no sistema o proprietário do veículo vai ter que desembolsar, considerando mão de obra, óleo, retentores e o “kit Locker” original, algo em torno de R$ 3.500,00 a R$ 4.000,00.

“Nos veículos Strada Adventure que possuem o sistema Locker, os defeitos relacionados ocorrem com menos de 70 mil km. Já nos outros veículos do mesmo modelo que não possuem o sistema Locker, o desgaste no pino das satélites também é uma realidade, porém, com a quilometragem acima dos 70 mil km”, afirma o especialista. 

José Divino diz: “o sistema Locker só encontra na concessionária e precisa fazer a encomenda que demora de três a cinco dias úteis para chegar, a um custo de aproximadamente R$ 2.800,00”.

O especialista José Divino dá uma dica: “ao perceber estalos quando o veículo estiver em curvas e não for constatado defeito nas homocinéticas, certamente o defeito estará na caixa de satélites. Se não for reparado no começo do problema, o risco de quebra da carcaça do câmbio é grande”.

Reparabilidade 

Os reparadores consultados consideram um excelente carro no quesito “reparabilidade”. “fácil para reparar, há bom espaço para executar as manutenções e não necessita de ferramentas que fogem dos padrões”, dizem eles, em coro. 

Peças

Esse é outro ponto que merece destaque. De acordo com os reparadores, as peças de reposição (com exceção do sistema Locker) são fáceis de serem encontradas, tanto nas autopeças e distribuidores quanto nas concessionárias. Edilson e Claudinei compram a maior parte das peças originais, ou seja, peças produzidas pelos fabricantes reconhecidos e homologados pelas principais montadoras, nas autopeças independentes. Segundo eles, quando precisam recorrer às concessionárias da marca, encontram com facilidade e a política de comercialização é boa para os reparadores. 

Informação técnica

“Eu não tenho dificuldade para reparar esse carro porque tem muita frequência aqui na minha oficina, quando preciso de alguma informação técnica, recorro a uma empresa que sou associado que me dá todas as informações técnicas, além do fórum do jornal Oficina Brasil”, diz Edilson.

“Quando preciso de informação técnica recorro aos parceiros de profissão e aos manuais produzidos por empresas especializadas na área”, relata Claudinei.



Conclusão

Considerando os depoimentos dos reparadores, destacamos alguns pontos positivos: reparabilidade; disponibilidade de peças originais tanto no mercado independente quanto nas redes de concessionárias e, não menos importante, a ausência de problemas graves ou crônicos relacionados ao motor, freios e suspensão. Não é para menos, pois, a mecânica do modelo em questão é velha conhecida dos reparadores, isso facilita muito na hora de efetuar reparos.

Outro ponto importante é a questão da informação técnica. De acordo com os reparadores, a necessidade de obter informação técnica específica de algum dos sistemas é facilmente suprida pelas suas redes de contatos e/ou pelos manuais técnicos. 

Mas, como nem tudo é perfeito, constatou-se que há um problema grave e recorrente justamente naquilo que diferencia o modelo avaliado, dando-lhe ligeira vantagem sobre os concorrentes do mesmo porte, o sistema “Locker”. A fragilidade do sistema e a forma de comercialização das peças (vendidas em conjunto único), torna elevado o custo do reparo, tiram todo o brilho da inovação, do diferencial competitivo e do semblante do proprietário do veículo quando este se depara com o problema.