Notícias
Vídeos

Reparadores avaliam o Chevrolet Vectra, um veterano de muito prestígio nas oficinas


Veículo deixou de ser produzido no Brasil em 2011, mas é muito procurado pelos consumidores. Confira suas características, condições de trabalho, problemas mais frequentes na reparação e a facilidade para encontrar peças de reposição no mercado

Por: Paulo Handa - 16 de fevereiro de 2015

Vectra motor 2.4 16V - Aprovado pelos reparadores - mas possui reparação e diagnóstico complexos Produzido na Europa de 1988 a 2008 e no Brasil de 1993 a 2011, o Vectra continua sendo um dos grandes produtos da Chevrolet/GM. Ele entrou em cena para substituir o Monza e, já no início, surpreendeu pela tecnologia que empregava. Em 1994 e 1997, foi eleito o carro do ano pela Revista Autoesporte, e deixaria de ser fabricado em junho de 2011 para dar lugar ao Cruze.

Em São Paulo, a Mecânica Cedram é uma oficina que trabalha bastante com a GM: “Do total de clientes atendidos mensalmente, 40% são da montadora”, comentou Alexandro Cedram (à esq.), 41, com 18 anos dedicados à reparação automotiva. Ele iniciou a carreira com o apoio de seu pai, Edson Cedram, 62, fundador da empresa que fica no bairro de Pirituba. Edson fez parte do quadro de funcionários de concessionárias Chrysler e VW. Atualmente aposentado da Polícia Militar, trabalha com seu filho neste empreendimento, aberto há mais de 45 anos. 

Alexandro Cedram, 41 anos, e Edson Cedram, 62, fundador da empresa

A empresa recebeu um modelo de 2007, motor 4cc, 2.4 de 16 válvulas com problema no sistema de arrefecimento e forneceu, para o OficinaBrasil, seu parecer.

Aproveitamos para consultar outros reparadores independentes sobre o modelo, o defeito levantado e outras de suas características.

Arrefecimento
“O veículo, com mais de 101 mil quilômetros rodados, está em nossa oficina por um problema no sistema de arrefecimento sendo que o eletroventilador, às vezes, não liga, caracterizando um defeito intermitente. Este veículo já passou por algumas oficinas e, após um diagnóstico complicado, chegamos à conclusão de que, devido a sucessivas panes no sistema de arrefecimento, que causou vários superaquecimentos de curto período, os colegas que atuaram no problema se esqueceram de sua consequência, que foi a queima da junta do cabeçote”, explica Alexandro Cedram.

Ainda segundo ele, por causa desses sucessivos aquecimentos, a junta do cabeçote sofreu um pequeno dano interno, comprometendo a sua vedação.

“A forma de diagnosticar este defeito é verificando a vazão dos cilindros como o manômetro apropriado. Outra forma de percebê-lo é com o motor em funcionamento, mesmo quando frio: a circulação do líquido de arrefecimento se torna ineficiente, pois verificamos que, no retorno do reservatório de expansão, o líquido não sai com uma vazão constante e a pressão dentro do reservatório se eleva com muita rapidez. Isso afeta a eficiência na circulação do líquido do sistema de arrefecimento; o líquido tem dificuldade de circular com a velocidade e vazão necessária, comprometendo, assim, a troca de calor efetuado pela válvula termostática e pelo radiador”, completa. Observar o volume de água que sai pelo retorno auxilia no diagnóstico / Outro passo é verificar a temperatura de entrada e saída da válvula termostáticaEle acredita que isso tenha passado despercebido por outros profissionais porque, na maioria das vezes, quando ocorre, o motor falha, e uma quantidade de água vaza pelo tubo de escape, o que não ocorreu neste caso.

Para fazer esse diagnóstico, mediu-se a eficiência da vazão dos cilindros com o manômetro específico. Este acusou uma vazão fora dos padrões nos cilindros 2 e 3 e, para solucionar o problema, foi necessário trocar a junta e plainar o cabeçote.    

Consultamos, também, dois profissionais que atuam em parceria em Piracaia, região de Bragança Paulista: Reinaldo Donizete Braga, 35, 14 anos de profissão, trabalhando na oficina São Sebastião e Josemar Martim Costa, 35, 18 anos na área, sucessor de seu pai e proprietário da Auto Elétrica Recife, que está há mais de 30 anos no mercado (foto acima, à esq.). Eles também identificam as questões do arrefecimento como uma das principais causas de intervenções no modelo: “Nossa região é muito quente, então o Vectra frequenta nossa oficina por problemas de superaquecimentos provocados por mau funcionamento no sistema de arrefecimento, principalmente na válvula termostática”.

Josemar Martim Costa, da auto elétrica Recife

Reinaldo Donizete Braga, da oficina São Sebastião

Fábio Trevisan, da auto mecânica Trevisan

Problemas comuns
“Como todo veículo, o que mais nos provoca tensão no momento do reparo é a troca de peças, principalmente na região do motor propulsor. Elas são de polipropileno ou plástico, e sob temperaturas elevadas e com a ação do tempo, no momento da manutenção, se quebram com facilidade. O cliente nem sempre entende que se trata de uma consequência da manutenção, principalmente porque o valor encarece; as peças têm que ser substituídas, principalmente as que têm contato direto com o sistema de arrefecimento”, explica Alexandro.Peças de plástico  com o tempo de uso e  troca de calor ficam sujeitas a quebras no momento da reparaçãoEle identifica ainda como outra complexidade os reparos no sistema de transmissão, que começam quando ele é retirado: “É um serviço trabalhoso, pois temos que retirar muitas peças, inclusive o quadro de suspensão dianteira (Foto 1) que acaba ficando pendurado, e a caixa de direção”, completa.

Buscamos, ainda, a opinião do reparador Fábio Trevisan, 30, há sete anos na reparação automotiva. Ele é sucessor de seu pai, que, há mais de 30 anos, fundou a Auto Mecânica Trevisan, na Vila Carrão, em São Paulo. 

Fábio concorda com os seus colegas: “No momento de um reparo em que há a necessidade de se remover a transmissão (Foto 2), ele se torna trabalhoso, o cliente geralmente não entende e torce o nariz na hora de pagar a conta”. Reinaldo e Josemar explicam que é comum receberem esse modelo com mais de 70 mil quilômetros rodados e que também percebem, no geral, uma necessidade de manutenção nos sistemas de suspensão e embreagem: “Novamente, por ser uma característica de nossa região, que é muito irregular, e por esses veículos trafegarem muito em pista de terra batida, comprometendo a vida útil dos componentes”, ressaltam.

Para Edson Cedram, é importante que o profissional se atente aos modelos que possuem air bag, pois o sistema de direção possui uma peça chamada cable reel atrás do volante de direção (Foto 3). “No momento de qualquer intervenção na área, haverá a necessidade de um procedimento de alinhamento antes e depois da colocação do componente removido. Se não o fizer, o reparador terá um prejuízo grande, pois, ao girar o volante, vai danificar de forma irreversível a peça”, orienta.

Os reparos que a oficina Cedram mais tem efetuado neste modelo são a troca do sistema de embreagem, os freios dianteiros e vazamentos de óleo (Foto 5), principalmente na região do motor. “Na parte da transmissão, efetuamos alguns reparos internos, como troca de rolamentos e de anéis sincronizadores das marchas, devido à falta de manutenção preventiva do condutor. Aconselho a troca do fluido da transmissão a cada 40 mil quilômetros rodados. Já no motor, temos muitas intervenções em relação a vazamentos de óleo, principalmente na região do cárter”, completa. 

Fábio enfatiza: “Em minha oficina, os serviços para o Vectra são mais de revisões preventivas; recebo carros que geralmente têm mais de 45 mil quilômetros. De alguns anos para cá (Foto 4), tenho percebido um aumento considerável dos que vêm por problemas com a embreagem e vazamentos de óleo na região do motor”. Os profissionais da Cedram explicam ainda que, no sistema de ignição, é preciso substituir os cabos de velas e as velas a partir dos 30 mil quilômetros, assim como  na grande maioria dos veículos GM. Segundo eles, os clientes reclamam muito de falhas em retomadas de aceleração, principalmente quando o motor está sob uma carga maior.

Já os sistemas de freios do Vectra são classificados por eles como os mais bem dimensionados, pois apresentam boa eficiência no momento da frenagem e o desgaste fica em um nível aceitável, em torno dos 30 mil quilômetros. “Nos veículos equipados com transmissão automática, a troca cai para uns 20 mil quilômetros (Foto 6), principalmente em situações de trânsito urbano e em regiões montanhosas, como no caso da área de nosso colega Reinaldo”, afirma Fábio.

Para os reparadores de Piracaia, no entanto, esse limite é bem menor: as ruas em região montanhosa exigem mais dos freios, que não chegam a durar 22 mil quilômetros.Os profissionais enfatizam, ainda, a questão do sistema elétrico: “Em questão de chicotes, ao contrário de seus concorrentes mais diretos, o Vectra um dimensionamento muito bom entre bitolas de fios e construção do sistema elétrico. Em nossa opinião, existem sistemas mais frágeis e as intervenções que efetuamos são as corriqueiras trocas de lâmpadas. Já sobre o sistema de carga, não podemos dizer o mesmo; temos efetuado muitos reparos, principalmente nas peças como reguladores de tensão e estatores do alternador”, sinalizam.

Informações técnicas
Para o modelo Vectra Alexandro Cedram confessa se sentir confortável nesse quesito, pelo fato de sua empresa ser reconhecida e já estar no mercado há um bom tempo – panorama diferente de seu sucessor, o Cruze. Ele explica que, para o Cruze e outros modelos como Captiva e Ômega, nem a própria concessionária, por meio de seus técnicos,  possui determinadas informações de reparo dos produtos que comercializam. “Conhecemos o site reparador Chevrolet que, quando funciona, tem boas informações, mas ainda está muito aquém do que precisamos e, para os modelos citados, não há nada”, afirma Alexandro.

Em Piracaia, os reparadores consideram esta uma questão ainda pior: “A concessionária geralmente não tem a informação, mas não admite isso. Se tem, esconde a sete chaves. Graças à Internet e aos amigos, não ficamos reféns da montadora, e temos a facilidade de fazer treinamentos em redes como SENAI, SENAC e associações comerciais”.

Peças de reposição
Na Cedram, a proporção de compra de peças para veículos GM é de 70% no mercado independente e 30% de peças originais. Para Alexandro, o mercado independente consegue supri-lo de forma eficiente com peças de qualidade e bons preços. Isso acaba por reduzir o custo de manutenção, aumentando sua rentabilidade e oferecendo ao cliente um custo mais compatível ao seu orçamento.

Para Reinaldo e Josemar, os números são ainda mais desproporcionais: 85% de peças do mercado independente contra 15% de genuínas. “Concentramos nossas compras nos fornecedores independentes, entretanto os itens de menor disponibilidade compramos na concessionária, porém na concessionária local observamos preços que chegam a 800% acima do mercado independente”, alertam.

Já Trevisan questiona a origem das peças: “Tenho notado que tanto peças originais como as do mercado independente apresentam a marca na embalagem mas, ao abrir, todas são ‘made in China’, e isso assusta um pouco. Afinal, qual a diferença?”.

Conclusão
No geral, todos os profissionais entrevistados não apresentam ressalvas quanto à reparação desse modelo, apesar de estar fora de linha. Todos recomendariam o veículo ao cliente se estivesse em comercialização, o que é um bom sinal. Não houve nenhum quesito impeditivo, o que é um ponto positivo para a montadora.