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Reparador ainda tem dificuldade em encontrar informações técnicas para o GM Captiva


Com mecânica simples, mas eletrônica embarcada complexa, há a necessidade do reparador utilizar material de apoio técnico para que possa realizar reparos no veículo com a segurança necessária

Por: Fernando Naccari e Paulo Handa - 10 de novembro de 2014

GM Captiva - Estrutura robusta, diversos itens de conforto e segurança e um preço acessível a tornaram popularPesquisando em suas origens, descobrimos que a GM Captiva não é um puro veículo da ‘marca da gravata’, mas sim um modelo desenvolvido pela Daewoo, fabricante sul-coreana pertencente à General Motors. Trata-se de um projeto de 2006, baseado no carro conceito S3X, mostrado em salões ao redor do mundo em 2004.

O carro é o que se costuma chamar de utilitário esportivo (SUV), embora possa ser considerado também um crossover.

No Brasil, o carro começou a ser vendido em 2008 e permanece em catálogo até hoje. É importado do México, e por conta de acordos comerciais entre os dois países tem direito a impostos menores se comparado aos concorrentes asiáticos e europeus, o que torna seu preço bastante competitivo.

No que tange às características técnicas, a Captiva é um carro moderno, com destaque para as boas notas em testes de colisão. Estruturalmente se assemelha bastante ao Vectra e seus derivados, a suspensão conta com o robusto quadro dianteiro característico da GM e a traseira é independente, do tipo multilink, com quatro braços. O motor é o conhecido Ecotec 2.4, da mesma família do utilizado no Cruze, embora versões anteriores pudessem vir também com motores V-6 em duas versões, uma 3.0 e outra 3.6, esta última também utilizada no Omega. Estas versões com motor seis cilindros podem ser 4x2 ou 4x4 de acionamento automático. Já a transmissão pode ser de quatro ou seis velocidades, ambas automáticas, fabricadas pela própria Chevrolet.

Foto 1DEFEITOS RECORRENTES
Para sabermos como se comporta a reparação da GM Captiva no dia-a-dia das oficinas de reparação independentes, visitamos a Mecânica Jozi e lá, conversamos com o reparador e proprietário Michel Batista Iaras de 33 anos de idade (FOTO 1). Michel é reparador automotivo desde 1995 e herdou a profissão de seu pai, assim como a parceria na oficina. Curiosamente, Michel formou-se em Publicidade e Propaganda e chegou a trabalhar com gestão de frotas por um tempo.

O reparador comentou que atende veículos de todas as marcas e tem uma média de 75 carros por mês visitando sua oficina para a realização de serviços diversos. “Atendo muitos, inclusive de algumas frotas, portanto acho importante me especializar. Com isso já realizei diversos cursos no SENAI e já estou lá há quatro anos consecutivos estudando para não ficar para trás no mercado de reparação”, disse Michel.

Em sua oficina estava uma GM Captiva V6 AWD apresentando problemas para dar partida. “Eu recebi a ligação da seguradora informando que o proprietário do veículo havia ido para o interior da cidade em um dia e, na manhã seguinte, o motor não deu partida. A seguradora avaliou que não era problema de bateria, mas sim na ignição e resolveu rebocar o carro até minha oficina para realizar o serviço. Quando o veículo chegou aqui, detectamos que as bobinas estavam avariadas (FOTO 2) e foi necessária a troca destas para solucionarmos o problema”.

Michel disse que já atendeu algumas Captiva e o modelo costuma apresentar defeitos diversos. “Atendo destes carros já há algum tempo. Peguei alguns casos em que o coxim direito do motor estava quebrado e outros de revisão simples. Lembro-me também de em que o veículo estava apresentando um problema aparentemente grave, pois o proprietário veio reclamando que, quando o carro estava em uma ladeira, ao soltar o freio de estacionamento e colocar o câmbio em “Drive” para sair, este apresentava um tranco forte. Assim, ele acreditou que o problema estivesse no câmbio, mas nós avaliando descobrimos uma falha no sistema de freio estacionamento eletrônico (FOTO 3) que demorava a desacionar. Efetuamos o reparo neste, reprogramamos com scanner e conseguimos resolver o caso por um custo muito inferior ao que seria se o problema fosse realmente no câmbio”.

Foto 2 e Foto 3Michel disse que a partir dos 40.000km estes veículos já começam a visitar as oficinas independentes, mas aconselha os proprietários a fazer manutenções preventivas a cada 10.000km. “Aconselho a sempre realizar manutenções preventivas. Neste tipo de veículo, principalmente, pois é nelas que detectamos pequenos problemas que podem se tornar grandes, trazendo uma enorme ‘dor de cabeça’ e alto custo de reparação”.

Michel considera a parte eletrônica da Captiva bastante complexa, mas a mecânica não carrega segredos. “É um carro que não dá para encostar na parte eletroeletrônica, principalmente no painel (FOTO 4) sem um esquema elétrico, no entanto, possui uma mecânica bem simples que é bastante prazerosa de trabalhar”.

No fórum do jornal Oficina Brasil, também observamos que a parte eletrônica ainda é segredo para muitos profissionais. “Estava com uma Captiva V6 em minha oficina com várias luzes de avaria ligadas, como a do 4x4, stablishtrack, airbag e motor, mas não consegui ajuda na montadora para resolver o caso”, disse Lorram.

Já Rafael Cássio Aguiar, também através do Fórum, comentou que esteve com uma Captiva em sua oficina que apresentou falha após pegar uma chuva. “Quando o controle de estabilidade estava ligado, acusava no painel para realizar manutenção no Stablishtrack”. Prontamente recebeu a primeira dica do reparador Scopino. “é muito comum apresentar mau contato na ECU do ABS/ESP, portanto confira o conector”, aconselhou. Já o reparador Fabio Fell comentou que já teve problema semelhante, mas a causa era ‘inacreditável’. “Pode duvidar, mas já esteve em minha oficina duas Captiva que acusaram o mesmo problema. Sabe qual era a causa? Pneu traseiro esquerdo descalibrado ou rodando com estepe de diâmetro diferente na posição. Nem eu quis acreditar quando solucionei a falha dessa forma”, contou o reparador.

Michel comentou que, embora a Captiva tenha mecânica simples, tem acesso complicado às peças. “Por exemplo, para retirar o motor de arranque, é necessário remover catalisador, sensor dentre outros, pois o espaço no cofre do motor é reduzido (FOTO 5)”.

Foto 4 e Foto 5Se o motor não dá dor de cabeças, a transmissão é o calcanhar de Aquiles deste veículo. “Conheci alguns reparadores que pegaram defeitos nesta transmissão (FOTO 6). Normalmente ela costuma dar estalos fortes, sendo necessários reparos no conversor dentre outras peças, sem contar que, para tirar este câmbio só removendo a suspensão completa”, explicou Michel.

Ainda falando em transmissão, buscamos um reparador especializado para entender melhor o que acontecia com o veículo. Assim, pedimos ajuda a César Sanches, sócio na oficina Automatik, fundada em 1991, situada no Jardim Anália Franco, em São Paulo-SP.

César conta que a maior incidência de problema ocorre no câmbio de seis marchas 6T70, utilizado nas versões 4x4 e 4x2 das Captiva V6 fabricadas até 2010. Segundo ele, os sintomas começam a se manifestar entre 30.000 e 60.000km. “A princípio pode-se notar alguns trancos nas mudanças, dificuldade na progressão e na redução das marchas, e logo em seguida o câmbio entra em modo emergencial ou simplesmente deixa de funcionar”, disse.

O problema, segundo César, é um anel-mola de aço que quebra, e os fragmentos se espalham pelo interior da transmissão, danificando diversos componentes, principalmente o eixo de entrada, feito em alumínio. “Estes fragmentos podem, inclusive, romper a rede de proteção do módulo eletrônico e causar um curto-circuito que obriga a substituição desta peça, de custo bastante elevado”, explicou o reparador.

Foto 6De acordo com César, a Chevrolet revisou este componente (anel-mola) e o disponibiliza ao mercado de reposição, contudo, nem sempre a substituição - no caso de uma reforma – é feita pelo novo componente, às vezes é utilizado um anel-mola da primeira versão, o que fatalmente fará o problema se repetir. O reparador conta, inclusive, que costuma fazer a substituição preventiva deste componente, em transmissões que sequer apresentaram problemas ainda. “Apesar da incidência maior de problemas no câmbio de seis marchas 6T70, o de quatro marchas também costuma apresentar falhas com pouca quilometragem percorrida. Porém, no caso da transmissão de quatro velocidades, o defeito está no conjunto de engrenagens planetárias, um componente bastante robusto na sua concepção, que não costuma apresentar problemas em uma transmissão automática, exceto depois de muito tempo de uso. Mas especificamente nesta transmissão pode ocorrer a quebra prematura do conjunto devido a uma provável falha no tratamento térmico dessas engrenagens”, cogita César.

Quando falamos em sistema de freios (FOTOS 7 E 7A), Michel disse não ter tido dor de cabeça. “Só fiz manutenções devido ao desgaste comum”.

Foto 7 e Foto 7AJá a suspensão dianteira da Captiva é bem semelhante ao de outro veículo da marca. “É bem parecida com a do Vectra com aquele quadro mais “quadradão” (FOTO 8), bandejas e buchas bem parecidas (FOTOS 8A E 8B), o suporte do câmbio, a caixa de direção em cima do quadro, enfim, parece um Vectra crescido”, observou Michel.

Foto 8

Foto 8A e 8BAR-CONDICIONADO
A Chevrolet Captiva é dotada de um sistema de ar condicionado com uma caixa evaporadora e sistema com válvula de expansão e filtro secador. Possui compressores de cilindrada fixa nas duas versões de motor a gasolina (2.4 e 3.6) e na versão diesel (Argentina) (FOTO 9 E 9A).

Foto 9 e Foto 9AA capacidade de fluido refrigerante R134a é de cerca de 520g e cerca de 150 ml de óleo PAG 46 (FOTO 10).

Foto 10O filtro antipólen tem o seu acesso atrás do porta-luvas e recomenda-se sua substituição a cada 6 meses, dependendo do uso.

O sistema de reciclo pode vir a travar devido a desgaste do mecanismo e isso pode acarretar pane no sistema de ar-condicionado, detectado com um scanner como tensão muito alta no servomotor da recirculação (FOTOS 11, 11A E 11B).

Foto 11 e 11A

Foto 11BPara acessar com o Scanner, eventualmente pode ser necessário entrar com o modelo ANTARA da OPEL e não como CAPTIVA da GM (FOTO 12).

O sensor de temperatura de anticongelamento do evaporador eventualmente pode apresentar problemas e possibilitar o congelamento do evaporador em viagens (FOTO 13), prejudicando a eficiência e pode também em casos extremos possibilitar o retorno de fluido refrigerante no estado liquido para o compressor e comprometer a sua durabilidade. Este problema não é detectado como “ERRO” no scanner, é necessário acessar os valores reais para verificar e comparar os valores.

Foto 12 e Foto 13O painel de comando é simples (FOTO 14), com mostrador analógico, apesar de ter atuadores das portinholas com motores elétricos. E função “AUTOMÁTICO” para direcionador de ar e velocidade do vento.

O ventilador interno é de fácil acesso e seu controle é feito por um módulo de velocidades (FOTO 15).

Foto 14 e Foto 15O sensor de temperatura externa fica na frente do condensador atrás do para choques (FOTO 16).

Foto 16

O sensor de pressão, transdutor de pressão de 3 pinos, fica na linha de alta que sai do compressor,  ele monitora as pressões da linha de alta e comunica –se diretamente com o módulo de injeção (FOTOS 17 E 17A).

Foto 17 e Foto 17A

As conexões de serviço de alta e baixa pressão são de fácil acesso, na lateral direita do motor (FOTO 18).

Foto 18O filtro secador fica dentro da lateral do condensador na forma de cartucho.  Para sacar o condensador não é necessário retirar o para choques. Em viagens o condensador fica um tanto vulnerável e pode vir a furar com pequenos objetos soltos na pista (FOTOS 19 E 19A).

Foto 19 e Foto 19AA válvula termostática de expansão é de fácil acesso atrás do motor e ela pode apresentar problemas de travar seu pistão e bloquear a passagem do fluido refrigerante. Na leitura dos manômetros a pressão de baixa fica tendendo a “pressão zero” (FOTOS 20 E 20A).

Foto 20 e Foto 20AColaborou:
Mario Meier Ishiguro “ISHI”
ISHI AR-CONDICIONADO AUTOMOTIVO
TREINAMENTO E SERVIÇOS
+55 (47) 3264 9677
www.ishi.com.br 

PEÇAS E INFORMAÇÕES
Sobre o tema de maior importância e influência à rotina do reparador independente, Michel comentou que gosta do veículo por diversos motivos, mas ele apresentar alto consumo e ter pouca disponibilidade de peças na concessionária são complicadores. “É um carro muito confortável, com motor forte, mas muito ‘beberrão’, pois faz no máximo 4km/l de gasolina na cidade. É resistente, gosto de trabalhar, mas se depender da concessionária para alguma peça, chego a ficar de cinco a sete dias com o carro parado esperando o item chegar da fábrica”.

No entanto, o mercado de reposição tem boas peças para o veículo. “Se for comprar amortecedores para ela, você encontrará de três ou quatro diferentes fabricantes no mercado independente. Todos de fabricantes renomados”, explicou Michel.

Mas, mesmo assim, a rotina de compra do reparador ainda é focada na montadora. “Só adquiro peças em autopeças quando não encontramos nas concessionárias. Com elas (concessionárias) temos um bom desconto e a segurança de um item de qualidade, portanto, compro cerca de 80% com eles e as demais, divididos entre autopeças e distribuidores”, disse Michel.

Quanto às informações técnicas para os veículos GM, o reparador disse não ter dificuldades e consegue praticamente tudo o que precisa no site Reparador Chevrolet, exceto a Captiva. “Lá tem bastante coisa para o reparador independente, embora para Captiva ainda não tenham informações. Assim, quando preciso de algo para a manutenção dela ou de outro veículo que não tenha no site, verifico com o Sindirepa, no Fórum do jornal Oficina Brasil ou então com reparadores amigos para ajudar com o que estou precisando. Com a Captiva mesmo já precisei recorrer a vários e nunca tive grande dificuldade no reparo”.

INDICA O VEÍCULO? 
Questionado se recomenda ou não o modelo, César ressalta algumas qualidades do carro, como o conforto, a segurança e o preço competitivo, porém, tendo em vista os problemas apresentados no sistema de transmissão, sobretudo nas caixas de seis velocidades empregadas nas Captiva V6 fabricadas até 2010, ele considera que o comprador deve analisar outras opções disponíveis no mercado antes de se decidir. 

Michel também seguiu a mesma linha de raciocínio e disse que a Captiva é um veículo que ele indica, mas que sempre faz ressalvas quanto aos recorrentes problemas de transmissão nos modelos fabricados até 2010. “Sempre digo que é um bom carro e de mecânica simples, no entanto, aconselho a fazerem um test-drive nos modelos usados dessa época antes de fechar negócio e, se perceberem algo estranho, partirem para outra opção a fim de evitar maiores sofrimentos lá na frente”, finalizou.