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Pioneiro no estilo ‘retrô’, PT Cruiser têm defeitos recorrentes no sistema de injeção e suspensão


Falhas no sensor de fase e nas buchas das bandejas da suspensão dianteira são exemplos de defeitos recorrentes. Peças e informações técnicas ainda são raras em nosso país

Por: Fernando Naccari e Paulo Handa - 09 de dezembro de 2013

O principal trunfo da Chrysler foi disponibilizar um modelo requintado e espaçoso em seu interior, mas com visual saudosista que remetia a veículos dos anos 30 a 50. Isso fez com que a procura pelo veículo fosse alta e a fila de espera por este em seu primeiro ano chegasse a um ano.

O PT Cruiser foi lançado no ano de 2000 nos Estados Unidos e teve sua produção encerrada na fábrica de Toluca, no México, em julho de 2010. Embora tivesse várias versões, incluindo uma conversível de duas portas, o PT Cruiser na prática, só teve uma alteração significativa ao longo dos anos: a adoção do motor 2.4 16V em substituição ao 2.0 16V.

Até hoje é um veículo que deixa saudades, pois se recebesse um ‘facelift’, poderia com muita tranquilidade manter-se na gama de veículos comercializados pela Chrysler, principalmente agora após a união do grupo com a Fiat, poderia ganhar uma cara nova e sobrevida digna no mercado mundial.

NAS OFICINAS

Ao longo de sua produção, o PT Cruiser foi um veículo que gerou discórdias, pois uns o amavam e o achavam lindo, já outros consideravam o carro feio e ‘desengonçado’. Mas e onde realmente interessa, qual a avaliação dos reparadores sobre este carro?

Para sabermos essas respostas, conversamos com o reparador e proprietário da Dr. Chrysler, oficina especializada na marca na capital paulista, Sandro dos Santos, que ao longo dos seus 27 anos de profissão, escolheu a Chrysler como seu carro chefe.

Foto 1

“Atendo o PT Cruiser há dez anos. Da marca, atendo outros modelos fabricados entre 1983 e 2013. Como somos especializados, dos 100 veículos que atendemos no mês, pelo menos 30 são o PT Cruiser. Por exemplo, só hoje temos cinco unidades desse modelo aqui conosco em reparo”, disse Sandro.

Dessa forma, avaliamos um exemplar do PT Cruiser ano 2009 com motor 2.4 16V de 143cv, o qual estava com 33.256km rodados. (Foto 1)

Foto 2

“O cliente queixou-se que a luz de avaria acendia aos 3.000rpm e que o motor apresentava falha nas retomadas. Assim, conectamos o scanner no sistema para buscar a causa da falha, e este acusou que o sensor de fase apresentava um defeito interno. Este é um dos defeitos recorrentes que este carro apresenta”, disse Sandro.

Defeito este que, para comprovar e reforçar o relato do colega Sandro, o reparador Fábio Alves Pereira da Binho’s Car Service (Foto 2), empresa situada em São Bernardo do Campo-SP, estava com outro PT Cruiser apresentando o mesmo problema.

Foto 3

“Este é o sensor de fase avariado (Foto 3). Ele perde a referência e, neste caso, o motor nem pega. Observei se existia alguma sujeira ou borra presente que justificasse a falha, mas não havia, era um defeito interno dele mesmo. Acredito que isso seja causado devido às condições de temperatura e vibração em que este é submetido”, relatou Fábio.

“Sua localização é fácil e bem visível na parte de traz do motor. É fixada abaixo da tampa de válvulas por dois parafusos sextavados”, completou Fábio. (Fotos 4 e 5)

Foto 4
Foto 5

“Outro defeito característico que este carro apresenta é na suspensão. Este veículo não suporta trafegar em ruas esburacadas que temos” relatou Sandro.

Foto 6

“Em consequência deste ‘off-road’ temos uma troca frequente de bandejas (Foto 6) da suspenção onde as buchas estouram. Também são necessárias constantes substituições dos coxins do motor (superior e o inferior)”, acrescentou Sandro.

“Curiosamente, fica mais barato para o cliente a troca da bandeja completa, pois uma bucha com boa qualidade somente é vendida em concessionárias e tem custo muito elevado. Dessa forma, tenho importado bandejas com preço bem mais acessível. É bom para o cliente final e bom para o reparador que ganha tempo trocando o componente inteiro e sem risco de retrabalhos, pois se colocar uma bucha de qualidade duvidosa, com certeza haverão ruídos e baixa vida útil do componente”, completou Sandro.

Foto 7

Os reparadores Adilson Silva Oliveira e João Ribeiro de Lima da Injecar de São Paulo-SP (Foto 7), também tinham um exemplar do modelo na oficina e opinaram sobre o veículo.

“Fizemos algumas manutenções recorrentes na caixa de direção, onde geralmente apresentam vazamentos e ruídos”, disse Adilson. “Tudo isso causado pelo excesso de trepidação gerada pelas ruas esburacadas de nossas cidades”, completou João.

Foto 8

Sandro também disse que estes problemas com a caixa de direção ocorrem com certa frequência e acrescentou: “Existe um pressostato (Foto 8) que fica conectado sem função, como se fosse um tampão, e é por aí que ocorrem os vazamentos. Assim quando o defeito surgir, este tem que ser substituído”.

“Devido ao veículo ter a frente baixa, é comum pegarmos estes com a parte inferior do parachoque bem danificada (Foto 9) e, por consequência disso, o coxim superior de fixação do radiador comumente se quebra (Foto 10). Muitas vezes, esses impactos recebidos acabam quebrando a parte superior do radiador, causando vazamentos diminutos. Como muitas vezes o proprietário não nota, isto vai se intensificando e acaba causando superaquecimento do motor, gerando assim uma retífica precoce do cabeçote”, comentou Sandro.

Foto 9
Foto 10

“Dessa forma, já é uma norma nossa verificar as condições deste coxim. Caso este esteja quebrado o substituímos e conferimos as condições do radiador. Havendo vazamento, checamos todos os componentes envolvidos e aplicamos os reparos necessários”, completou Sandro.

Ainda falando em radiador, Sandro comentou sobre a sua tampa que também merece conferências: “Esta tem que trabalhar com pressão de 16psi, mas no mercado existem outras de desenho idêntico que trabalham com 17psi e 21psi, que servem em todos os modelos Chrysler, mas é importante utilizar somente a correta, pois utilizando a de nomenclatura errada poderá causar danos diretos ao motor deste veículo. Esse é um dos grandes vilões dos modelos Chrysler, não só do PT Cruiser, e que fazem os clientes ficarem ‘na rua’ por superaquecimento”. (Fotos 11 e 12)

Foto 11
Foto 12

Foto 13

Com relação ao sensor lambda (Foto 13), Sandro deu uma dica: “Nos modelos anteriores a 2000, se colocarmos sondas genéricas estas funcionarão corretamente, sem qualquer problema. Porém, em modelos acima de 2000, somente utilize sondas originais. Se colocarmos outra, mesmo que de marcas renomadas no mercado, o sistema não efetua as leituras corretamente, causando acendimento das luzes de avaria e alto consumo de combustível. Assim, nos modelos fabricados antes de 2000 recomendo usar sondas da NTK, mas devemos conferir sempre a pinagem se são compatíveis ou não com nossos modelos”.

Foto 14

“Não é comum efetuarmos qualquer intervenção no módulo de injeção e transmissão (Foto 14), nem mesmo na própria transmissão do veículo”, comentou Sandro.

Já Adilson da Injecar, comentou ter efetuado reparos neste módulo: “Já peguei alguns casos em que devido à indução de carga na bateria feita incorretamente, houveram danos ao módulo do powertrain e este deixou de funcionar. Isso ocorre porque durante a carga, a tensão é muito baixa, mas a corrente se eleva bastante, aquecendo em demasia os terminais e os componentes ligados a eles. Estes costumam não suportar tal temperatura e se danificam. Portanto, quando a carga da bateria estiver muito baixa, recomendo retirar a mesma e providenciar uma carga lenta por 12 horas e, somente após recarregada, recolocá-la no veículo”.

Com relação ao conjunto de suspensão, Sandro comentou: “A suspensão traseira é um item de constante reclamação dos clientes, devido a ruídos provocados pelas buchas de fixação da barra estabilizadora (Foto 15), ou então pela fixação das extremidades da mesma barra”.

Foto 15
Foto 16

Com referência as manutenções periódicas da transmissão, Sandro comentou: “Recomendamos ao cliente substituir o óleo da transmissão (Foto 16) a cada 40.000km, onde  colocamos o Dexrom III. O fabricante recomenda o ATF+4 que tem alto custo. Isso faz com que o cliente fique mais resistente a troca. O Dexrom atende todas as especificações desta transmissão, portanto, pode usá-lo sem medo”.

Foto 17

“O filtro de cabine (Foto 17) é outro componente que tem que ser constantemente verificado neste modelo, pois contamina com muita facilidade. Fica localizado abaixo da parede corta fogo do lado direito e é fixado por três parafusos, onde o reparador deve tomar cuidado para não colocar muita carga de aperto, pois as roscas são de plástico e espanam com muita facilidade”, orientou Sandro.

AR CONDICIONADO

O sistema de ar condicionado do PT Cruiser tem boa eficiência, mas eventualmente pode apresentar problemas.

Foto 18

O compressor é de 10 pistões opostos de capacidade volumétrica fixa, modelo 10S15C da DENSO, com embreagem eletromagnética, fixado á frente na parte inferior do motor transversal. (Foto 18)

O sistema trabalha com cerca de 510g (a partir de 2003) de fluido refrigerante e cerca de 170 a 200ml de óleo.

Foto 19

O filtro acumulador (Foto 19) fica na linha retorno de fluido refrigerante (linha de baixa) onde o fluido retorna para o compressor cerca de 2bar ou 30PSI (cerca de 0ºC). Este filtro acumulador evita o retorno do fluido no estado líquido para o compressor.

A conexão (Foto 20) de serviço da linha de alta pressão fica próxima ao compressor, de acesso muito difícil, nem pense em chegar nela com o motor quente.

Foto 20
Foto 21

Já a conexão de serviço da linha de baixa (Foto 21) fica próxima á fixação superior do amortecedor direito e ao piloto automático, de fácil acesso.

O PT não possui termostato ou sensor de temperatura no evaporador, ele trabalha com pressostato na linha de retorno (linha de baixa), que fica localizado em cima do filtro acumulador.

Este pressostato monitora a pressão na linha de baixa. Se esta pressão cair para menos de cerca de 1,7bar (23 PSI), o pressostato de baixa desliga o compressor, só tornando a ligá-lo quando a pressão de baixa subir acima de cerca de 2bar (30psi), desta forma evita o congelamento do evaporador e não permite que o compressor ligue na ausência de fluido refrigerante no sistema (muitos carros da Ford trabalham assim).

O tubo de orifício calibrado fica na saída do condensador, bem distante do evaporador.

No caso de uma troca do compressor é necessário trocar também este tubo de expansão, além do filtro acumulador e realizar uma limpeza interna nas tubulações para remover o óleo contaminado (Flush).

Foto 22Um dos maiores problemas deste modelo está relacionado ao acionamento do eletroventilador. Há um módulo para este acionamento, ele fica ao lado da bateria. Em caso de problemas deste acionamento, a ventoinha não funciona e a pressão do fluido refrigerante no condensador e na linha de alta sobe demasiadamente, fazendo o sistema perder a eficiência e comprometendo a durabilidade do compressor (Foto 22).

Muitas oficinas acabam fazendo ligações alternativas para ligar o eletroventilador para o ar condicionado.

Foto 23

O sistema de ventilação possui filtro antipólen atrás do reservatório de água do limpador de para-brisas (Foto 23). É necessário remover a carenagem externa do lado do passageiro. Este filtro deve ser substituído anualmente ou a cada seis meses, dependendo do uso.

O comando do ar condicionado é com botões de girar. O primeiro botão do lado esquerdo, ao ser girado no sentido anti-horário, liga e gradua a ventilação e solicita ao módulo de injeção que ligue o compressor. Se for girado no sentido horário liga e gradua apenas a ventilação, sem ligar o compressor.

O segundo botão direciona o fluxo para os pés, peito e para-brisas. O terceiro botão mistura o ar quente da calefação, utilizando a água quente do motor. E o quarto botão, o da direita, seleciona a coleta de ar, da rua ou recirculação interna (Foto 24). Já a portinhola do reciclo é pneumática (Foto 25).

Foto 24
Foto 25

REPARABILIDADE

Conversamos com ambos os reparadores e questionamos quanto à facilidade de efetuar as manutenções no PT Cruiser e Sandro respondeu: “Não acredito que podem oferecer problemas para o reparador, pois a parte mecânica é bem básica, mas como toda a linha Chrysler, tem seus macetes e estratégias de funcionamento. Portanto, se estiver bem preparado, não traz dificuldades”.

Adilson também fez comentário semelhante: “É um carro de manutenção simples, mas com alguns macetes que aprendemos com o tempo. Por exemplo, é comum problemas de oxidação nos chicotes, principalmente nos conectores, onde no início ‘apanhávamos’ muito para descobrir o motivo de algumas falhas, e essa oxidação era o motivo para a grande maioria delas. Outra é no sensor de rotação que fica roçando no suporte e acaba entrando em curto com o massa, constando no scanner que o sensor esta avariado, mas mesmo quando o substituíamos, o defeito persistia. Assim, só de remover a interferência e isolá-lo corretamente, o defeito cessava, mas até descobrir tudo isso, perdíamos muito tempo”.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Com relação a este item de vital importância às rotinas das oficinas, o reparador Sandro fez suas considerações: “Quem se habilitar a efetuar reparos nestes modelos, na verdade não somente nesses, mas em toda a linha de importados, deve ter conhecimento na língua inglesa, pois os manuais, sites técnicos e catálogos de peças são todos em inglês. No nosso mercado essas informações praticamente não existem, portanto, temos que recorrer ao que vem de fora do nosso país. Quando não consigo nada dessa forma, recorro a ajuda de outros colegas reparadores e a contatos dentro das concessionárias da marca. Aconselho ao reparador que não possuir muita habilidade com esta marca não desmontar nada antes de estudar direitinho cada componente, verificar a presença da falha com um scanner e só após efetuar o reparo necessário”.

PEÇAS DE REPOSIÇÃO

Sobre este tema, o cenário não é dos melhores para o reparador. É o que comentou Sandro: “Infelizmente para este modelo a grande maioria das peças é encontrada apenas em concessionárias, o que torna o custo disso inviável, além de não atender os prazos do mercado de reposição independente. Assim, a alternativa que encontrei foi recorrer às importadoras e até me tornar um importador, pois isso facilita muito o nosso dia a dia. Como possuo um histórico das peças de manutenção mais corriqueiras, mantenho estoque dessas, pois algumas importadoras pedem até 60 dias para enviarem as peças, isso quando a alfândega ainda não entra no jogo, atrasando ainda mais os prazos. Com tudo isso, meu mercado de peças resume-se a 5% as autopeças e distribuidores, 80% a importadores e 15% a concessionárias”.