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O carro avaliado este mês é o Pajero TR4, SUV da Mitsubishi que caiu no gosto do brasileiro


Com estrutura robusta e mecânica descomplicada, o pequeno utilitário esportivo fabricado no interior de Goiás agrada proprietários e reparadores.

Por: Paulo Handa e André Silva - 11 de dezembro de 2014

Pajero TR4, beleza e robustez conquistaram os consumidores e os reparadores brasileirosPajero TR4 é derivado do Pajero IO, lançado em 1998 e vendido mundialmente até 2007. Fabricado no Brasil desde 2002, é considerado uma referência no mercado pela sua robustez. E devido ao tamanho compacto e à bela forma acabou se tornando um carro urbano, sendo comum vê-lo circulando pelas grandes cidades brasileiras, muitas vezes com uma mulher ao volante, embora não possua o estigma de carro feminino, como ocorre com outros SUV compactos.

E apesar de ser utilizado principalmente em ambiente urbano, na versão com tração integral ele é um legítimo “fora-de-estrada”, pronto para enfrentar as trilhas mais complicadas, porém é raro alguém utilizá-lo nestes ambientes, o que colabora para fortalecer sua reputação de carro resistente.

Com o objetivo de conhecê-lo melhor, fomos buscar a opinião de dois reparadores com ampla experiência na manutenção de veículos Mitsubishi:

Robson Silva, 28 - Consultor Técnico na oficina Navega Veículos, em Moema, São Paulo-SP – considera o TR4 um carro resistente, confiável e de manutenção descomplicada. De acordo com ele, cerca de dez por cento dos veículos atendidos na oficina mensalmente são da marca Mitsubishi, a maioria deles Pajero TR4.

Erley Ayala, 43 – Proprietário da oficina Diamantes, localizada no centro de São Caetano do Sul-SP – é especialista em veículos Mitsubishi. Com ampla experiência na profissão, resolveu em 2000 atuar exclusivamente com veículos off-road, e a partir de 2009 apenas com os da marca Mitsubishi, o que, segundo ele, permite oferecer serviços com maior assertividade e prazos menores de entrega. Erley conta que a especialização também propiciou a participação constante da Diamantes no Rally dos Sertões, inclusive com a conquista de um título de campeão em 2004.

Robson Silva, Consultor Técnico junto a um TR4 em processo de revisãoErley Ayala, ampla experiência na manutenção de veículos Mitsubishi

                                                                         REPAROS COMUNS
Bieletas, um dos poucos compo­nentes comumente substi­tuídos no veículoQuestionados sobre quais as intervenções realizadas no modelo com mais frequência, Robson diz que, em geral, são serviços de freio e suspensão, já que apesar de rodarem principalmente na cidade, também percorrem estradas de terra e até mesmo trilhas, que acabam desgastando os componentes da suspensão, todavia não há um componente crítico, que sempre estraga, o que há é o desgaste natural acelerado pelo uso intenso. Portanto, bieletas, buchas, pivôs e terminais com folga são os itens normalmente substituídos nos veículos que chegam à oficina, além de pastilhas, discos e fluido de freio, diz.

Robson também menciona que já atenderam alguns casos de TR4 com mau funcionamento da alavanca de acionamento da tração 4x4 provocado pelo desgaste da bucha de apoio, que precisa ser substituída para resolver o problema.

Sobre o TR4, Erley também diz ser um carro extremamente robusto e confiável, sem defeitos recorrentes e de manutenção simplificada. Ele diz que aproximadamente 90% dos que chegam à oficina são para fazer revisões periódicas.Luz da tração 4x4 (ao centro), sujeira causa acendimento intermitente

O reparador também ressalta que o TR4 é utilizado quase que exclusivamente em ambiente urbano, e como possui uma estrutura desenvolvida para uso extremo, a ocorrência de problemas é mínima. Um deles, como mencionado por Robson, é o desgaste da bucha de nylon da alavanca de acionamento da tração 4x4, que só é solucionado com a substituição do acionamento completo. Outro problema que às vezes ocorre é o acendimento intermitente da luz indicadora do modo de tração, que ocorre devido ao acúmulo de sujeira nos contatos elétricos, este problema, em geral, é solucionado com uma limpeza cuidadosa.

Na parte da suspensão, embora não seja frequente, dependendo do trajeto e da forma de dirigir, pode ocorrer o desgaste das buchas dos braços tensores da suspensão traseira, diz Erley. Acrescentando que a princípio a Mitsubishi não disponibilizava estas buchas para venda, portanto era necessário o cliente adquirir os braços tensores novos, a um custo relativamente elevado. Porém, hoje, a montadora fornece apenas a bucha, o que diminui muito o custo do reparo. Também é importante ressaltar que neste carro não existem pontos para colocação de graxa na suspensão, lembra Erley.

Buchas do braço tensor agora são vendidas separadamenteNo que se refere à transmissão, Erley diz que tanto a automática quanto a manual são excelentes, o que ocorre raramente é um pequeno vazamento no retentor do eixo piloto das caixas automáticas, que, obviamente, só pode ser solucionado após a remoção da transmissão, um procedimento que exige cuidados, especialmente com o sensor de posição da borboleta, que pode quebrar durante o processo por estar muito próximo a algumas tubulações fixadas na parede de fogo. Portanto, para evitar contratempos, é recomendável removê-lo antes de inclinar o motor para a retirada da transmissão.

Sensor de posição da borboleta requer cuidado durante a remoção do câmbioINFORMAçÕES TÉCNICAS
Sobre disponibilidade de peças, Robson diz que não encontra problemas e que em muitos casos o valor das peças originais Mitsubishi é inferior ao praticado no mercado paralelo, com isso, as compras da Navega Veículos são feitas principalmente nas concessionárias da marca. Quanto às informações técnicas, Robson diz consegui-las também nas próprias revendas autorizadas, além do SINDIREPA-SP e da Internet, uma ferramenta fundamental para o reparador automotivo hoje em dia, diz.

Para Erley, a disponibilidade de peças também é muito boa, talvez a única exceção fique por conta dos coxins do motor, hidráulicos, que estão chegando ao final da vida útil nas primeiras unidades fabricadas. Sobre este item, Erley ressalta ser imprescindível a utilização do componente original (que mesmo quando não disponível na concessionária pode ser encomendado com prazo de entrega de três a cinco dias), caso contrário, o serviço terá de ser refeito, pois a qualidade deste componente, quando não original, costuma ser péssima.

Chapas das pastilhas originais devem ser reaproveitadas

O fato de ter escolhido se enveredar pelo mundo off-road e depois ter se especializado em Mitsubishi proporcionou a Erley obter conhecimentos e materiais técnicos junto à montadora, isso, de acordo com ele, permite oferecer rapidez  na realização dos reparos, e também torna possível a manutenção de um estoque consistente de peças de reposição, algo inviável numa oficina que atende diversas marcas. Estas peças, segundo Erley, são adquiridas principalmente em concessionárias, aproximadamente 80%. Os 20% restantes são referentes a insumos adquiridos em distribuidores independentes, como lubrificantes e filtros, de alta qualidade, porém mais acessíveis que os originais. Sobre peças não originais, Erley faz um adendo: as pastilhas de freio originais possuem duas chapas de aço inox na parte que fica em contato com a pinça, porém as pastilhas paralelas não vêm com estas chapas, e se forem instaladas assim, fatalmente produzirão ruído durante a frenagem. Para evitar isso, ele recomenda reaproveitar as chapas usadas nas pastilhas novas.

Sobre a questão da documentação técnica, Erley ressalta que, de fato, em uma oficina monomarca é mais fácil reunir o material necessário para a correta realização dos reparos, porém ele diz que, em geral, há certa “preguiça” por parte dos reparadores em buscar informação, que hoje, graças à Internet, é muito mais fácil de ser obtida. Esta preguiça, diz Erley, é responsável por uma grande quantidade de ligações na sua oficina, feitas em busca de informações que muitas vezes são fáceis de encontrar no próprio Google.

Embora Erley nunca tenha negado ajuda a outros reparadores, agora ele não fornece mais a informação como fazia antes, pois acha isso injusto (e prejudicial ao próprio reparador), o que ele faz é oferecer desconto nos serviços realizados para outras oficinas, exceto em casos específicos, quando o reparador busca com ele o “conhecimento, não a informação”.

MOTOR
Sobre o motor, Erley diz ser praticamente “indestrutível”. Quanto à manutenção, é importante dizer que é um motor que requer a regulagem de folga entre válvulas e balancins, contudo esta regulagem só precisa ser feita a cada oitenta mil quilômetros, o mesmo período de troca das velas, desde que sejam de irídio, utilizadas nas primeiras versões do veículo. Já as versões mais modernas utilizam velas convencionais, estas precisam ser substituídas a cada quarenta mil quilômetros. Quanto à correia dentada, Erley recomenda a troca a cada cinquenta mil quilômetros.

Ainda sobre o motor, Erley diz que, às vezes, talvez por conta da fama de inquebrável do carro, os proprietários deixam até mesmo de efetuar a troca do lubrificante do motor no período correto, o que acaba levando à formação de borra nas galerias internas, todavia ele diz nunca ter visto caso em que essa formação causasse danos mais sérios, como a fundição de componentes. Portanto, nestes casos, uma desmontagem e limpeza na maioria absoluta das vezes resolvem o problema. Aliás, pelo fato do respiro do cárter estar antes do corpo de borboleta, também ocorre formação de borra neste componente, o que pode causar instabilidade no funcionamento do motor, em geral neste caso também basta uma limpeza cuidadosa para tudo voltar a funcionar normalmente, diz.

Motor de concepção robusta e manutenção simplificada raramente precisa de reparosRECOMENDAÇÃO
Dito isso, Robson recomenda o TR4 sem ressalvas, e acrescenta que o porte compacto, o bom torque e a altura elevada o tornam um veículo ideal para a pavimentação problemática das nossas ruas. 
Por fim, Erley ratifica as considerações positivas feitas sobre o Pajero TR4: “por ser desenvolvido para a terra e ser herdeiro de toda a tecnologia e tradição da marca, sobra carro para enfrentar a cidade. Há quem diga que as peças para Mitsubishi são caras, mas não são caras, são peças de alta qualidade, com vida útil longa, coisa que você usa por dez anos ou mais, então não é caro, é justo o preço, pelo que é oferecido em troca. Eu recomendo o TR4, seja para uso urbano, para o campo ou para as competições”.