Notícias
Vídeos

Honda New Fit é bem avaliado pelo reparador, mas política de pós-vendas da marca é mal vista


Apesar do veículo praticamente não possuir defeitos recorrentes, a montadora não divulga as informações técnicas para o mercado, prejudicando assim o reparador independente

Por: Fernando Naccari e Paulo Handa - 10 de fevereiro de 2014

No ano de 2008 a Honda lançou em nosso país, um ano após ter sido lançado no Japão, a segunda geração do Honda Fit. Chamado de New Fit, o carro foi completamente renovado. Seu design mais curvilíneo ganhou largura (de 1,68m para 1,70m) e comprimento (de 3,83m para 3,90m), além de acréscimo de altura (de 1,53m para 1,54m).

Visualmente, o veículo ficou mais encorpado, mas com um visual ‘gordinho’ que logo agradou o público feminino. O capô, que na versão anterior já era curto, ficou menor ainda. A área envidraçada da carroceria aumentou, embora o vidro traseiro tenha sido reduzido.

Mas o grande ‘up’ foi em seu interior. Com toque mais futurista e refinado, onde antes o que era retangular ficou arredondado, e com instrumentos e difusores de ar centrais voltados para o motorista.

Com esse ganho de tamanho, todos os ocupantes foram beneficiados nos acessos ao seu interior. O sistema ULT (Utility, Tall, Long – algo como: útil, alto e longo) oferece diversas combinações dos bancos, permitindo inclusive a possibilidade de deixar os bancos traseiros rentes ao chão, deixando a região plana, foi melhorado, possibilitando a manutenção dos encostos de cabeça e a inclusão de um vão abaixo do banco traseiro esquerdo.

Os antigos motores 1.4 e 1.5 ganharam aprimoramentos, como a nova geração do sistema variável das válvulas i-VTEC, que permite o desligamento de uma das válvulas de admissão, tornando o motor mais econômico. Com essa e outras alterações, a Honda fez com que o motor 1.4 pulasse de 80/83cv (gasolina/etanol) para 100/101cv (gasolina/etanol). O 1.5 que anteriormente já era flex, subiu de 105cv para 115cv com gasolina e 116cv com etanol.

Para diferenciar quais eram as motorizações que equipavam o modelo, a plaqueta localizada no tampão traseiro para identificar o modelo vinha com os ‘pingos nos is’ do nome Fit em cores diferentes, onde o vermelho indicava motor 1.4 e o azul motor 1.5. Mas isso não se manteve no New Fit, onde essa diferenciação passou a ser feita no retrovisor (com repetidor do pisca no 1.5) e nas rodas (aro 15 para as LX 1.4 e 16 para as EX 1.5).

Já a transmissão foi totalmente alterada. O modelo que anteriormente contava com uma transmissão CVT agora passou a ter uma transmissão automática simples de cinco marchas, o que demonstra uma ‘involução’ na tecnologia, indicando ainda que o antigo CVT deu muito trabalho aos proprietários, reparadores e à própria Honda

Em 2011, o Fit recebeu algumas alterações no formato da grade e detalhes nos faróis, porém, a única de caráter técnico foi no tanque de combustível, que passou de 42 para 47 litros.

Há rumores de que esse ano virá ao nosso país a terceira geração do modelo. Basta aguardarmos para ver o que ele trará de novidades em relação a essa versão atual.

NAS OFICINAS
Com 12 anos em nosso país, e desde 2008 sob essa nova versão, como se comporta o New Fit nas oficinas independentes? Para sabermos estes detalhes, conversamos com o reparador Rodrigo de Souza Masso de 31 anos de idade. Sua caminhada na profissão se deu em grande parte em concessionárias da marca, em um total de 15 anos, onde adquiriu conhecimento e experiência na marca. Por este motivo, ao decidir ter sua oficina própria, escolheu a marca como carro chefe.

Foto 1Dessa forma, em sua oficina realizamos a avaliação de um New Fit 2010 1.5 16V Flex (FOTO 1) que estava com 41.630km rodados, onde foi levado a oficina para realizar a revisão dos 40.000km, prescrita para o veículo, o que demonstra que os proprietários, apesar de seguirem fielmente o que é prescrito pela marca para as revisões do modelo, optam por realizá-las em oficinas independentes, onde levam em consideração uma melhor qualidade no trabalho efetuado, além da segurança que sentem em deixar o seu veículo ‘nas mãos’ do seu reparador de confiança, pois nas concessionárias, muitas vezes saem insatisfeitos com o serviço prestado e se sentem pressionados a realizar mais serviços ‘empurrados’ por estas os quais acreditam que não são necessários, o que em grande maioria dos casos, não o são.

Sobre as manutenções mais corriqueiras com o modelo, Rodrigo comentou: “Em geral os veículos da Honda, dependendo do condutor, efetuam somente as manutenções preventivas nos intervalos de 10.000 em 10.000km, onde seguimos o cronograma da montadora”.

Foto 2

É muito comum vermos que alguns reparadores e, em casos mais frequentes em postos de gasolina, substituírem o óleo por outro fora da especificação recomendada para o modelo. Sobre este item, Rodrigo orientou: “A recomendação é substituir o óleo do motor por 0W20 sintético, onde o utilizado anteriormente era o 10W30 mineral a cada 10.000km. Devemos trocar também o filtro de óleo. Recomendo neste caso a utilização do original (FOTO 2), pois alguns filtros de marcas paralelas quando colocados, apresentaram vazamentos e desprendimento da rosca interna de fixação”.

Outra revisão que merece atenção é a 40.000km. É o que comentou Rodrigo: “A cada 40.000km deve-se regular as válvulas de admissão com 0,15~0,19mm e a de escapamento com 0,26~0,30mm, lembrando que o motor deve estar em temperatura ambiente, além de substituir a correia poly-V e as velas de ignição”.

Rodrigo ainda acrescentou: “Nas velas de ignição há uma particularidade (FOTO 3). Se o condutor não efetuar a manutenção preventiva, principalmente nas revisões de 40.000km, há uma grande possibilidade de no momento da retirada das velas, as roscas apresentarem resistência muito grande e, se forçarmos muito, há o risco delas espanarem, sendo necessária a remoção do cabeçote para refazer esta”.

Foto 3

Rodrigo ainda deu uma dica sobre o aperto da tampa de válvulas: “Nos parafusos da tampa de válvulas devemos aplicar um torque de 10Nm apenas. Se for feito com mais do que isso, devido o cabeçote ser de alumínio, há o risco da rosca espanar”.

Segundo Rodrigo, a durabilidade da corrente de comando é elevada: “A recomendação da Honda é trocá-la somente aos 180.000km”.

Mas esse período pode ser reduzido significativamente se não forem tomadas precauções: “Já efetuei algumas trocas desta corrente com quilometragem muito inferior, devido ao desgaste no componente provocado por troca de óleo em período incorreto. Isso também pode se estender ou prolongar de acordo com as condições de uso do veículo, seja em estrada, ou em uso severo na cidade”, relatou Rodrigo.

Foto 4

No sistema de injeção (FOTO 4), segundo Rodrigo, são poucas as intervenções, porém não nulas: “O sistema funciona muito bem e os sensores e atuadores são bem resistentes. A montadora ressalta que não há a necessidade de se limpar os bicos injetores, mas aqui na prática, tive que efetuar a limpeza destes principalmente nos veículos flex, pois o Álcool produz uma espécie de resina que entope o bico”.

Já com relação à transmissão do New Fit, Rodrigo fez os seguintes comentários: “Neste componente recomendo a troca do fluido a cada 40.000km. Tenho efetuado manutenções principalmente nas transmissões CVT do modelo anterior que, quando não efetuada a troca de óleo no período correto, o conjunto apresenta vibrações nas arrancadas, principalmente em 1ª e ré. Esse problema ocorre também em aclives acentuados”.

Sobre o motivo da troca do fluido da transmissão neste período, Rodrigo explicou: “Aconselho a troca neste intervalo, pois no decorrer do uso os componentes internos sofrem atritos e soltam materiais que, ao longo dos 40.000km, causam ineficiência na transferência de força. Quando explicamos ao cliente o que deve ser feito, geralmente estes não entendem bem e acreditam que isto é um argumento de venda. Aqueles que não optam pela manutenção, com o passar do tempo pagam caro por isto. Um pacote de embreagem não é muito caro, mas os componentes do CVT, como polia e correia, custam mais de R$ 9.000,00 e o câmbio completo em torno de R$ 18.000,00. Quando chega a esse ponto ele entende que gastar R$ 400,00 com fluido não é nada”.

Foto 5

Uma particularidade da transmissão manual do New Fit é no momento da troca da embreagem. Neste caso, é necessária a remoção do quadro de suspensão, nem todos querem ter esse trabalho, mas no final, poderá dar dor de cabeça ao reparador. É o que explica Rodrigo: “Alguns reparadores não retiram o quadro (FOTO 5) e no momento de se colocar a transmissão, pois há a necessidade de duas pessoas, acabam optando por colocá-lo ‘meio torto’, desviando do quadro, mas isso pode causar danos ao disco de embreagem, causando trepidações com o veículo andando”.

Foto 6

Foto 6A

Quando falamos dos freios do New Fit, sabemos que há diferenças de desgaste entre o veículo de transmissão automática e o de transmissão manual, assim como ocorre com a grande maioria dos veículos. Mas quando falamos especificamente do freio traseiro, a durabilidade surpreende: “Os freios dianteiros (FOTO 6) do veículo de transmissão automática duram geralmente 20.000km. Quando as pastilhas de freios estão com menos de 4mm de espessura, indico ao cliente a troca, pois estas não suportarão até a próxima revisão. Nos veículos de transmissão mecânica a durabilidade é um pouco maior, chegando até os 30.000km. Já os freios traseiros (FOTO 6A) possuem uma resistência muito maior. Houve casos em que efetuei revisões de 150.000km em veículos em que o conjunto ainda estava em ótimas condições, onde nem os cilindros de rodas estavam vazando, mas optamos pela troca de forma preventiva”, disse Rodrigo.

Segundo Rodrigo, a suspensão do New Fit foi melhorada quando comparada à versão antiga do modelo: “Mesmo com vias ruins que observamos nas grandes cidades, vejo que neste carro a durabilidade dos componentes é muito boa. Nos modelos antigos deste carro era muito comum trocar as buchas inferiores da bandeja, pois ela rachavam com relativa frequência. Já neste modelo, tenho efetuado menos trocas e percebo que esse conjunto é bem mais resistente” (FOTOS 7 E 7A).
Fotos 7 e 7A

“A caixa de direção neste modelo é eletroassistida e até o momento não apresentou falhas também”, acrescentou Rodrigo.

AR CONDICIONADO
Sobre este sistema, o reparador Ishi comentou: “Ainda não realizei nenhum reparo no sistema deste veículo. Curiosamente, até onde sei, este não apresentou nenhuma falha”.

Porém, para não deixar a avaliação pobre, Ishi fez os comentários sobre o sistema de ar condicionado dos Honda Fit fabricados até o ano de 2008. É o que veremos a seguir.

Foto 8
O painel de comando (FOTO 8) é simples e o sistema de recirculação de ar é com acionamento por cabo, que é mais durável.

O sistema de ar condicionado é equipado com um compressor “SCROLL” SANDEN TRS 070, de 70cm³, com baixo consumo de potência e alto desempenho.

Foto 9
Este compressor pode eventualmente apresentar desgaste do alojamento do rolamento da polia e queima da bobina (FOTO 9), além de vazamentos do lip seal. 

Foto 10
A bobina do compressor (FOTO 10) possui um disjuntor térmico de proteção, se a carcaça do compressor passar dos 120°C ele corta o sinal para a bobina do compressor e ao esfriar a carcaça, este disjuntor fecha o contato novamente.

Foto 11
O sistema utiliza cerca de 470 g de fluido refrigerante R134a e cerca de 150ml de óleo PAG 46. As conexões de serviço (FOTO 11) são de fácil acesso na lateral do motor.

Foto 12
A válvula de expansão fica junto ao evaporador dentro do painel. O condensador fica ao lado do radiador (FOTO 12), com eletroventilador exclusivo para o ar condicionado. Ao ligar o ar condicionado as ventoinhas já entram em funcionamento.

Foto 13
O filtro secador é do tipo cartucho (FOTO 13) e fica dentro do condensador na sua lateral, com acesso por baixo. Em caso de manutenção com troca de compressor ou contaminação do óleo e fluido refrigerante, o recomendado é trocar o condensador completo com o filtro secador e não fazer limpeza nele.

Foto 14
A polia do virabrequim do motor (FOTO 14) pode apresentar desgaste no elastômero antivibração e, ao acionar o ar condicionado, pode aparecer um barulho de correia “patinando”, dando a falsa impressão de pouco tensionamento da correia.

Foto 15
O pressostato de 4 pinos fica na linha de alta (FOTO 15), próximo ao compressor, após o condensador.

Por ter um compressor de fluxo fixo, na saída do evaporador há um sensor anticongelamento que é responsável por mandar desligar o compressor caso o ar que passa pelo evaporador fique com uma temperatura próxima de zero grau.

Foto 16
Nos modelos que possuem o filtro antipólen, ele fica localizado atrás do porta-luvas (FOTO 16), de fácil aceso e sua troca é recomendada a cada 15000km, dependendo do uso. Nos modelos anteriores a 2007 a caixa de ventilação não era equipada com o filtro antipólen.

O resistor da ventilação interna fica após o ventilador interno, por baixo do painel, do lado do passageiro.

O Fit é um modelo que pouco visita as oficinas de ar condicionado automotivo.

Colaborou:
Mario Meier Ishiguro
ISHI Ar Condicionado Automotivo - Treinamento e Serviços
Tel.: (47) 3264 9677
www.ishi.com.br

INFORMAÇÕES TÉCNICAS
Sobre o tema de essencial importância a rotina de reparação nas oficinas independentes, o reparador Rodrigo comentou: “Os veículos da Honda, como qualquer produto, têm as suas particularidades. Os manuais técnicos originais são muito bons e costumam ‘falar a nossa língua’, mas consegui-los é extremamente trabalhoso. Se o reparador tiver colegas na rede e este disponibilizar a informação muito bem, mas isto poderá causar sérios problemas a ele, pois todos os funcionários assinam um compromisso por escrito de não divulgar qualquer informação, estando sujeitos a penalidades. Portanto, até para mim que trabalhei muitos anos na rede, informação técnica direta da fonte é quase nula”.

Rodrigo completou: “Temos alternativas como o mercado internacional, onde recentemente fui aos EUA e comprei algumas informações que eles divulgam por lá. Acho que não podemos ficar esperando que as informações técnicas ‘batam à nossa porta’, mas a política nacional voltada ao setor é precária. Enquanto isso não melhorar, temos que correr atrás pois, o quanto antes tivermos esta consciência de buscar o que precisamos, melhor será para todos, mas lembre-se que isso não é de graça”.

PEÇAS
Segundo o reparador Rodrigo, o mercado de peças para a marca ainda é bem restrito, apesar dos mais de 12 anos do veículo em nosso país: “O mercado de peças alternativas para os modelos Honda não são bons! Não entendo o motivo, mas como trabalhei muito tempo com peças originais, percebo que a diferença entre elas é gritante quando comparamos a qualidade do componente, portanto, somente em casos muito raros é que utilizo peças do mercado independente. Existem fabricantes de renome que fornecem peças à montadora, mas não entendo o porquê que estes não colocam no mercado de reposição. Acredito que deva haver algum contrato de exclusividade com a montadora, só pode ser isso. Dessa forma, afirmo que 90% das peças que utilizo são originais e não arrisco colocar outra que não seja original, pois quando o fiz me arrependi muito, pois isso gerou retrabalho e prejuízo na certa”.