Menos de um mês depois do senador Benedito de Lira (Partido Progressista/Alagoas) propor um projeto de lei que anularia as restrições para a venda de carros movidos a diesel no Brasil, o Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT) alerta que aproximadamente 150 mil pessoas poderiam morrer em decorrência da poluição até 2050.
Pesquisadores fizeram uma projeção baseada em um estudo de 2013 para estabelecer o impacto do aumento da poluição na nossa saúde até 2050.Dois cenários foram previstos: no mais moderado os carros a diesel seriam 15% da frota nacional e 32 mil mortes seriam causadas apenas por conta de danos gerados pelo contato com mais material particulado no ar. No mais grave, com 45% da frota nacional a diesel, até 150 mil pessoas poderiam morrer por conta dos poluentes.
“O Brasil ainda não está em uma posição em que pode suspender a proibição dos carros a diesel sem correr riscos de importantes impactos ambientais e na saúde da população. As autoridades brasileiras devem manter as restrições aos carros a diesel até que pelo menos o país adote normas de emissões de nível mundial e até que esteja claro que os veículos a diesel da Europa consigam atender aos limites de emissões em condições normais de trânsito”, afirma o estudo que constatou a informação.
De acordo com o projeto do Senador, “ao longo dos últimos anos, os motores movidos a óleo diesel passaram por profundos avanços que os tornaram mais econômicos, menos poluentes, mais silenciosos, e com maior potência. Em outras palavras, os modernos motores movidos a esse combustível em quase nada lembram seus congêneres de vinte anos atrás”, mas esta não é a mesma opinião de Tim Dallmann e Cristiano Façanha, pesquisadores do ICCT.
Para eles, os padrões de emissões de combustíveis no Brasil não são rigorosos o suficiente e o uso do filtro de partículas de diesel, responsável por diminuir a quantidade de material particulado que os motores a diesel emitem, não é obrigatório.
“O atual limite de emissão de material particulado para os veículos de passageiros no Brasil é de 0,025 g/km, o equivalente ao padrão Euro 4, implementado na União Europeia uma década atrás, e cinco vezes superior ao limite atual, que é de 0,005 g/km”, explicam os pesquisadores. Sem mudar as regras atuais de emissões de poluentes, as montadoras poderiam vender no Brasil carros tão poluentes quanto os que foram banidos do mercado europeu há dez anos.
Os pesquisadores ainda alertam que o número de mortes poderia ser maior, pois o o estudo não considera os danos causados por outros poluentes que não os materiais particulados.
“As conclusões são claras. O Brasil deve manter suas restrições aos carros de passageiros movidos a diesel pelo menos até que esteja claro que estes carros vendidos na Europa são capazes de atender aos níveis de emissões em condições normais de direção”, conclui.