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Segurança e tecnologia - conheça o sensor de ângulo de inclinação do chassi das motocicletas


A evolução da tecnologia proporciona benefícios que tornam as motocicletas mais seguras e por conta disso os principais fabricantes desenvolveram um sensor que desliga o motor em caso de queda

Por: Paulo José de Sousa - 20 de setembro de 2017

O objetivo do sensor de ângulo é de proteger o motociclista e sua máquina, evitando maiores danos ou até um possível incêndio.

Nesta edição vamos apresentar o sensor de ângulo de inclinação do chassi, como é o seu funcionamento e também alguns diagnósticos básicos.

Publiquei essa matéria no Jornal Oficina Brasil há muito tempo, mas diante de muitas dúvidas e solicitações que tenho recebido resolvi dar uma repaginada no texto para atender os leitores.

Desligar a motocicleta em caso de queda é atribuição do sensor de ângulo de inclinação do chassi, o componente também é conhecido como sensor de queda e está presente na maioria das motocicletas equipadas de injeção eletrônica.
O sensor tem a função de monitorar o ângulo de inclinação da motocicleta, dependendo da condição se houver uma inclinação superior ao  limite de segurança a ECU efetua o corte do funcionamento do motor, mas a ação só ocorre em caso de queda.

Sensor de ângulo de inclinação do chassi ou Interruptor de ângulo?
A dúvida existe porque a função de desligar um componente é atribuição de um interruptor e também em alguns manuais de serviços o sensor aparece como interruptor de ângulo de inclinação ou interruptor de ângulo agudo. Um exemplo de motocicleta que utiliza interruptor como dispositivo de corte em caso de queda é a Kasinski Comet 250, mas não é o nosso objeto de estudo.

Nem sempre o ato de desligar a moto caracteriza o dispositivo como um interruptor, porém o que determina se a peça é ou não um sensor é o processo de comunicação com a ECU da motocicleta, assim como os demais sensores são alimentados e também geram sinal de entrada para o módulo do motor, o sensor também recebe uma tensão e posteriormente devolve para que a ECU possa concluir qual é a posição  da motocicleta e assim permitir ou interromper o funcionamento do motor.

E se a moto cair o que acontece?
Em nosso estudo tomamos como base as motocicletas Yamaha Fazer e Lander 250cc. O funcionamento é basicamente assim:  o sensor de ângulo de inclinação é alimentado por uma tensão vinda do módulo do motor, o valor médio é de 5V, se a motocicleta estiver na posição vertical (em pé) o sensor envia para a ECU uma tensão que pode variar de 0,4V ~ 1,4V e com estes parâmetros o motor funciona, caso a motocicleta esteja com um a inclinação superior ao seu limite a tensão de retorno será na faixa de 3,7V ~ 4,3 V e com a informação recebida a ECU irá fazer o corte do motor.

A inclinação do chassi proporciona a variação do fluxo magnético gerado pelo pêndulo (Figura 1) em contato com o circuito elétrico interno do sensor, a ECU identifica a posição da moto e adota a estratégia programada.

Fig. 1 – Circuito interno do sensor de ângulo de inclinação do chassi

No geral cada modelo de motocicleta tem um ângulo definido pelo fabricante em função de sua geometria e também de seu uso, em média podem variar de 45° a 65°.

Durante a pilotagem da motocicleta o ângulo definido pelo pêndulo localizado dentro do sensor não pode sofrer grandes alterações para que o motor não desligue, em uma curva a força centrífuga mantém o pêndulo no mesmo ângulo da posição da motocicleta. Assim, o movimento de oscilação do componente interno do sensor de ângulo será reduzido, mesmo quando a moto ficar muito inclinada durante a sua trajetória.

Corte do funcionamento do motor e o código de defeito 
Na maioria das motocicletas o processo de interrupção da injeção de combustível pode se  dar de duas maneiras:

No processo mais comum que equipa as motos de médio e grande porte, a ECU desliga um relé de corte da bomba de combustível em função do ângulo de inclinação da motocicleta, conseqüentemente interrompendo o fornecimento de combustível para o motor, já o segundo caso, que é o mais simples e não utiliza o relé, é utilizado nas motocicletas de 250cc, assim o que faz o corte da bomba de combustível é o módulo do motor.

Para os dois métodos em caso de queda um código de falha correspondente ao sensor será gerado e armazenado no histórico da motocicleta.

Após a queda ou em caso de falhas no sistema eletrônico das motocicletas Fazer e Lander, enquanto a chave da ignição não for desligada a luz de anomalia irá emitir “3” piscadas longas (equivalente a 30) (Figura 2) indicando uma pane no sensor de ângulo de inclinação e a moto não irá funcionar mesmo que esteja na posição vertical, essa estratégia funciona nas motocicletas mais antigas.

Fig.2 - Luz “FI” alerta de defeitos na injeção eletrônica, Fazer versão antiga (gasolina)

Já a partir das versões Blue Flex a pane no sensor é observada no painel de cristal líquido, ocorre a indicação de falhas em forma de código numérico “30”, nessa versão de motocicleta, a cada pane ocorrida, e a luz de injeção não irá piscar, ficará acesa apenas indicando uma falha.

Para todas as versões das 250 o funcionamento voltará ao normal assim que o condutor desligar a chave de ignição e ligar posteriormente após alguns segundos, portanto o módulo do motor irá efetuar uma nova leitura dos parâmetros do ângulo de inclinação do chassi e permitir que a motocicleta seja ligada normalmente.

DIAGNOSE DE DEFEITOS - SENSOR DE ÂNGULO DE INCLINAÇÃO

Os manuais de serviços sempre apresentam mais de um procedimento de testes a fim de facilitar a detecção de panes e elaborar diagnósticos precisos e rápidos para cada componente do sistema eletrônico, por isso o uso de um multímetro é indispensável.

Concluindo, se  o sensor é alimentado por uma tensão(V)  procedente  da ECU  e em função do  ângulo de inclinação da motocicleta ele retorna à tensão (V) modificada para o módulo,  portanto esses dados servem de parâmetros para diagnósticos, então  é  importante  checar os valores medindo as tensões em todas as condições de entrada e saída da ECU nos respectivos fios do sensor,  inclinando – se a peça  para ambos os lados sem desconectá-lo da fiação e sempre com  a chave de ignição ligada, caso algum valor de tensão seja diferente do tabelado no manual de serviços haverá indícios de defeitos que necessariamente podem não estar no sensor.

OUTRAS CAUSAS DE DEFEITOS RELACIONADOS AO CÍRCULO DO SENSOR:

• Fiação com circuito aberto;
• Falha de contato nas conexões;
• Falha no sinal de entrada ou saída da ECU;
• Defeito na ECU;
• Oxidação ou falha de contato na pinagem da ECU;
• Tensão da bateria abaixo da especificação.

É importante lembrar a condição da bateria segundo informa o manual de serviços, a tensão mínima deve ser próxima dos 12,8 V, que equivale a 75 % da carga para as baterias seladas, só assim será assegurado um diagnóstico preciso para um bom funcionamento do sistema elétrico (Figura 3).

Fig. 3 - Diagnóstico de tensão (V) da bateria – motocicleta Lander 250

USO DE SCANNER PARA A DIAGNOSE DE DEFEITOS NO SENSOR

Os scanners são ferramentas importantes, mas não são confiáveis 100% na realização de diagnósticos, especialmente para as versões antigas das motocicletas 250 cc o uso da ferramenta de diagnósticos é necessária, mas não assegura um diagnóstico totalmente seguro, e o pior pode até sugerir ao reparador a substituição de uma peça que não está necessariamente com defeito (Figura 4).

Fig. 4 – Localização do sensor e ferramenta de diagnóstico do fabricante, Fazer 250

O scanner sempre irá apresentar um código de defeito relacionado ao componente, mas como comentamos anteriormente a causa pode estar em algum outro elemento ou circuito, por isso o manual do fabricante traz uma variedade diagnósticos, assim ao realizar o trabalho o profissional deve ter cautela antes de emitir um parecer técnico e fechar o orçamento.

Ao efetuar alguma verificação desligue o conector da bomba de combustível para evitar a queima do fusível. Não troque uma peça sem ter a absoluta certeza da sua real necessidade.

Nunca remova ou instale um componente do sistema eletrônico com a chave de ignição ligada.

LIMPEZA DE DEFEITOS MEMORIZADOS NAS VERSÕES GASOLINA E FLEX

Conforme informamos, sempre que a motocicleta cair será gravado na ECU um código correspondente à queda, da mesma forma se ocorrer um defeito no sensor ou em seu circuito o registro também será feito, o histórico de falhas da motocicleta grava apenas uma ocorrência para o mesmo componente.

Após efetuar o reparo é necessário acessar o histórico de falhas no módulo da motocicleta e eliminar o código de defeito registrado.

Nas versões antigas das 250cc  a realização do processo de verificação e limpeza de defeitos registrados só pode ser realizada com o auxílio da ferramenta de diagnósticos do fabricante ou uma similar encontrada no mercado de ferramentas.
Assim como na maioria das motocicletas grandes da marca, nas versões mais atuais das 250 o procedimento de limpeza da memória dispensa qualquer tipo de scanner, o diagnóstico do sensor e demais elementos da injeção eletrônica são feitos direto nos botões “reset” e “ select” localizados no painel da motocicleta (Figura 5 e figura 6).

Nas versões antigas das 250 a ferramenta de diagnósticos original do fabricante  possibilita ao reparador  acessar e limpar a memória que contém o histórico de falhas, após instalação e  alguns procedimentos o display de LCD da ferramenta exibirá  no menu de diagnósticos uma sequência numérica em ordem crescente correspondente aos códigos  de  avarias que  ocorreram até o momento e foram reparadas, o código “61”  é a porta de entrada para a esta memória, a opção “62” indica as panes em forma de quantidade e permite a limpeza do defeito registrado(Figura 7).

Fig. 7 - Ferramenta de diagnóstico, menu opção “62” acesso à limpeza da memória, indicação de “02” há registro de dois defeitos

DICAS

A localização do sensor pode facilitar o contato com a água e outros produtos que comprometem a vida útil da peça, normalmente o sensor fica embaixo do assento ou na rabeta da moto, mas também existem casos nos quais o sensor fica instalado em locais que o tornam muito exposto a água da chuva.

A vedação do sensor normalmente é boa, mas não é perfeita, devemos concentrar nossa atenção nas motocicletas de uso misto que podem simplesmente atravessar um rio e permitir a entrada d’água no sensor ou nos seus terminais, ocasionado falhas de contato ou informações equivocadas para a ECU.

Nesse caso é normal que a moto não funcione até que o sensor fique seco, mas a sua vida útil será comprometida pela oxidação interna que irá surgir devido ao contato com a umidade.
Caso ocorra a entrada de água deve-se remover a peça, desmontá-la, e com um jato de ar comprimido de baixa pressão remover a umidade.

Alguns cuidados são recomendados durante a lavagem das motocicletas que possuem o componente, proteja os sensores com um plástico e não direcione o jato d’água nas peças.
Há casos que a motocicleta funciona com sensor encharcado durante um tempo, mas quando ocorre a oxidação a recuperação da peça é irreversível.

A motocicleta não funciona sem o sensor e nem tão pouco eliminando a peça e jampeando a fiação.
Não tente limpar a memória da ECU se o defeito ainda estiver presente, o procedimento deve ser aplicado somente aos registros de defeitos passados (casos resolvidos)

Todo sensor de ângulo de inclinação tem uma posição de montagem por isso é importante seguir a referência “UP” do fabricante, sempre montada para cima e assim para assegurar o funcionamento do motor (Figura 8).

Fig. 8 - Sensor de inclinação do chassi