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Regulagem da rotação de marcha lenta em motocicletas de 250 cc de deslocamento


A rotação de marcha lenta é um bom indicador do estado do motor da motocicleta. Se ela não é estável, é sinal de que há algum problema no motor

Por: Paulo José de Sousa - 11 de dezembro de 2014

Em matérias anteriores já abordamos os assuntos: marcha lenta e dispositivos de ajuste de rotação, mas vale a pena rever o tema e aprofundar um pouco na teoria, propondo outra ótica para os  diagnósticos e soluções dos problemas relacionados.  A marcha lenta é um indicador do bom funcionamento do motor, a regulagem bem feita resulta na redução nas emissões de poluentes, economia de combustível, prolonga a vida útil da bateria, evita os transtornos quando a motocicleta para de funcionar repentinamente e o cliente, por mais leigo que seja, acaba percebendo que a “batida do motor” está “quadrada”.

Nas Yamahas 250cc ao acionarmos a partida, a motocicleta deverá pegar com facilidade, manter a estabilidade da marcha lenta e não falhar, mesmo em baixas temperaturas, mas se houver algum descuido na manutenção periódica o funcionamento pode ficar irregular.

Por este motivo vamos detalhar como funcionam os dispositivos relacionados ao controle da marcha lenta e também algumas estratégias da ECU.

PARTIDA A FRIO
Quando damos partida em um motor que está frio, parte do combustível atomizado que flui para o seu interior é perdido ao entrar em contato com as paredes dos coletores, pois ocorre a condensação (o combustível volta a ser líquido) e a mistura acaba ficando pobre. Por este motivo é necessário alimentar o motor com um percentual a mais de combustível para compensar a perda, este enriquecimento deve ser temporário e durar o tempo necessário até o motor aquecer e atingir a temperatura normal de uso.

O fenômeno ocorre nas motocicletas equipadas com carburador e também nas motocicletas equipadas com injeção eletrônica, e esta é a razão da necessidade de um afogador nas motocicletas carburadas.

Enriquecimento da mistura ar/combustível e alteração na rotação do motor - Esse processo está relacionado ao prolongamento do tempo da injeção feito pela ECU quando combinado ao suprimento extra de ar proveniente da FID, a válvula fornece um complemento no volume de ar que é necessário para que o motor funcione ligeiramente acelerado. 

Paralelamente o sensor de temperatura fornece para o módulo do motor (ECU) o dado relativo à temperatura do motor, e quando este está frio, a central eletrônica conclui que o tempo de injeção deve ser prolongado, para assegurar um volume maior no fornecimento de combustível durante o tempo necessário.FID - Motocilcletas Yamaha 250ccFID (“FAST IDLE’)
As motocicletas Fazer 150/250 e Lander possuem uma válvula de controle de ar conhecida como FID (“Fast Idle’), que proporciona um rápido fluxo de marcha lenta nas baixas temperaturas do motor. Nesta condição será necessário uma rotação ligeiramente superior à rotação normal de marcha lenta devido ao maior atrito interno do motor causado pela baixa temperatura.

A rotação em marcha lenta não aumenta devido ao aumento do volume de combustível, e sim ao maior volume de ar que é o fundamental para sua elevação.

A FID está localizada no corpo de borboleta de aceleração próximo ao bico injetor. Basicamente a válvula é composta por um solenoide (atuador) que recebe uma tensão proveniente da ECU, e é utilizada em motocicletas arrefecidas a ar. Quando o motor está frio, a válvula está aberta permitindo maior entrada de ar para o motor.

Este mecanismo também é conhecido como circuito do “by pass”, para maior quantidade de ar, maior rotação em marcha lenta do motor. O dispositivo mencionado está baseado no deslocamento do êmbolo para fornecimento ou interrupção de ar, lembrando que não há nenhuma relação com o motor de passo.

Funcionamento da válvula FID - O sensor de temperatura do motor fornece para a ECU o valor da temperatura, e quando está frio, a estratégia de trabalho determinada para o atuador que controla o fluxo de ar é: primeiramente manter-se aberto e, ao atingir algo em torno dos 70 graus, inicia a pulsação, para depois fechar a passagem de ar assim que a temperatura correta de funcionamento do motor for atingida. Os dados de fábrica servem como parâmetros para diagnósticos do funcionamento e tempo de abertura do mecanismo, em função da temperatura. Falhas no funcionamento do sensor de temperatura podem tornar imprecisa a atuação da FID. Falhas na FID não estão previstas por meio de códigos de piscadas.

VISTA EM CORTE DO CORPO DE BORBOLETA DE ACELERAÇÃO
1. Esquema da unidade marcha lenta rápida FID - válvula solenoide aberta, nesta condição há fluxo extra de ar para o motor, motocicleta em marcha lenta.

Fluxo de ar - motor aquecido2. Esquema da unidade marcha lenta rápida Fid - válvula solenoide fechada, nesta condição não há fluxo extra de ar para o motor, motocicleta em marcha lenta.Fluxo de ar - motor frioDIAGNÓSTICOS DA VÁLVULA FID

Diagnósticos por meio de um multímetro

• Verifique se há tensão (V) no conector da FID, o valor padrão para diagnóstico é igual o da bateria, o componente deverá estar ligado;
• Efetue também o teste de resistência conforme a tabela abaixo, o componente deverá estar desligado.
Nota: se o valor de resistência estiver fora da especificação substitua a FID
Exemplo de diagnóstico: o teste deve ser aplicado a diversos modelos equipados com a válvula FID, considerar a cor da fiação, ano e modelo de motocicleta

Diagnóstico por meio de um scanner

É possível impor o funcionamento da FID por meio da ferramenta de diagnósticos, que possui alguns comandos como o código “54” diagnóstico recomendado  para as motocicletas Fazer e Lander 250.

A ECU envia um sinal para que o atuador pulse 5 vezes, sendo possível até, ouvir seu ruído de funcionamento ou removê-lo e observar o trabalho do êmbolo, e assim concluir que o circuito elétrico, a ECU e o atuador estão em boas condições.

Ao pressionar o botão “MODE” da ferramenta de diagnósticos a luz “Warning” irá piscar na mesma frequência de funcionamento da FID.Código "D54" correspondente ao diagnóstico

Nota: a motocicleta FAZER 250 Bicombustível possui a função diagnósticos dos atuadores da injeção eletrônica incorporada diretamente no painel de instrumentos, portanto não necessita da ferramenta de diagnósticos (scanner). Na Fazer 150 o diagnóstico do atuador deverá ser feito por meio de um computador conectado a motocicleta.

Sintormas de mau funcionamento da motocicleta ocasionados por falhas nas vedações da FID

Pode haver entrada de ar para o motor ocasionando os seguintes sintomas:

• Mistura pobre;
• Dificuldade de manter a marcha lenta;
• Dificuldade na partida a frio.

Ação corretiva para os problemas relacionados à vedação

Após remover a FID, limpe o corpo de borboleta de aceleração e substitua todas as guarnições de borracha. De acordo com o manual de peças do fabricante o kit de reparos da FID não está disponível, a boa notícia é que no mercado há peças de reposição.Kit reposição - reparos da FID

Outros elementos causadores de falhas no funcionamento da FID

• Panes no sensor de temperatura do motor;
• Falha na comunicação entre a ECU e a FID;
• Falha de contato no conector do sensor;
• Falha na ECU;
• Falhas nas conexões elétricas;
• Baixa tensão na bateria;
• Válvula FID travada.

Sequência - FID e corpo de borboleta de aceleração

1. FID
2. Reparos de borracha
3. Corpo de borboleta de aceleração

AJUSTE DA ROTAÇÃO DO MOTOR – MARCHA LENTA
Após efetuar o reparo na FID e montar todos os componentes, instale o corpo de borboleta na motocicleta e faça o ajuste da rotação do motor por meio do parafuso “Phillips” que fica na lateral do corpo. Quanto mais aberto mais ar irá passar e, consequentemente, a rotação será elevada. O trabalho deve ser realizado com o motor aquecido em temperatura normal de uso.

Nas motocicletas 250cc ajuste deverá ser efetuado com a motocicleta em temperatura normal de uso – (Rotação de marcha lenta: 1300 a 1500 RPM)

O resultado alcançado deverá ser um funcionamento uniforme, marcha lenta do motor ocorrendo de maneira estabilizada

Remoção da válvula FIDOutras causas de Marcha lenta incorreta – motocicletas 250cc

Não tente compensar no parafuso de lenta uma falha na marcha lenta ocasionada por algum defeito no motor.

• Falhas na compressão do motor;
• Problemas elétricos;
• Filtro de ar obstruído;
• Ausência de filtro de ar;
• Coletor do motor danificado;
• Entrada de ar extra no motor;
• Combustível velho;
• Combustível não especificado;
• Falha nas vedações das válvulas do motor;
• Motor gasto;
• Danos no escapamento.
Corpo de borboleta - Motocicletas Fazer/ Landert 250cc
Nas motocicletas Fazer e Lander 250 nunca utilize o parafuso batente da borboleta para elevar ou baixar a rotação do motor.

Por uma razão bem simples, toda alteração feita no batente implicará na leitura efetuada no sensor de ângulo da borboleta (TPS), podendo até alterar o funcionamento da motocicleta.