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Pesquisa exclusiva indica como e onde o mecânico se abastece; mostra ainda as dificuldades para encontrar determinadas peças e as consequências disso para a oficina
No cotidiano da oficina, o reparador já tem em mente quais canais de abastecimento ele deve procurar quando precisa de peças específicas. Estudo inédito da CINAU (Central de Inteligência Automotiva), unidade de negócios de pesquisas do Grupo Germinal, mapeou o comportamento de compra do mecânico e descobriu alguns eventos interessantes.
Já era conhecido o fato de que o preço para o reparador é apenas o quarto item mais importante em um universo de cinco variáveis: agilidade de entrega, diversidade de estoque, garantia, preço e assistência técnica.
Em outras palavras, não adianta ser o canal mais barato, se não há disponibilidade da peça, diversidade de estoque (para eventuais trocas) ou se não pode contar com um mínimo de garantia.
Hábito de Compra
A pesquisa CINAU Hábito de Compra revelou quais peças o reparador compra nos principais canais de abastecimento disponíveis – Varejo, Distribuidor e Concessionário (veja tabela), em quatro estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Além disso, mostrou também que no interior de São Paulo e nos demais estados (Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul), 58,3% das oficinas enfrentam dificuldade de encontrar peças.
Já na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), a CINAU realiza medições mensais para determinar o IGD (Índice Gerador de Demanda), com a apuração do índice de dificuldade de encontrar peças, que em julho e agosto apresentou o mesmo resultado: 44% dos entrevistados afirmaram não encontrar peças com facilidade.
Este foi, inclusive, o motivo da pesquisa: conhecer quais canais tem apresentado pior índice de atendimento ao reparador e as conseqüências disso. Outro fator motivador foi o depoimento do proprietário da oficina Engin Engenharia Automotiva e Conselheiro Editorial do jornal Oficina Brasil, Paulo Aguiar, que afirma estar cada vez mais difícil encontrar tudo em um único lugar.
“Se precisamos de três tipos de peças diferentes para fazer um serviço, não conseguimos comprar tudo em um único lugar: o distribuidor tem uma peça, o varejo outra e o concessionário a terceira, e isso faz como que um serviço que ficaria pronto em algumas horas demore o dia inteiro”, diz Aguiar.
Em outras palavras, os canais de fornecimento de peças não têm conseguido atender o reparador com eficiência e quem sai prejudicado nesta história é a oficina.
Cenário
A dificuldade em encontrar peças no mercado de reposição não é uma unanimidade. Se por um lado 58,3% dos reparadores têm dificuldade, outros 41,7% não. Assim, o primeiro passo é identificar quais peças estão em falta e para quais veículos.
Mas antes, é preciso saber qual é o perfil de compra dos reparadores. A pesquisa indicou que a maioria se abastece do varejo (42,4%), seguido do distribuidor (29,7%) e da concessionária (18,6%). Há uma parcela de 9,3% que se abastece de outros canais (recebem do cliente, importadoras etc.).
É interessante notar que os resultados deste estudo da CINAU estão bem alinhados com o perfil de compra do reparador levantado pelo IGD, cuja pesquisa reúne universo de reparadores da Região Metropolitana de São Paulo (veja matéria na página 6). Em outras palavras, o perfil é muito similar, o que valida o IGD como base para estes quatro estados brasileiro.
Veículos
Conhecendo o perfil de compra, o passo seguinte é identificar quais veículos apresentam maior dificuldade em peças no mercado de reposição. De acordo com o estudo, as francesas Peugeot e Citroën são as campeãs neste quesito, com 22,6% e 22,1% de representatividade respectivamente (números percentuais ponderados pelo share de emplacamento, referente ao mês de julho da Fenabrave).
Em terceiro lugar a marca mais difícil de encontrar peças é a Toyota, com 7,9%. Em quarto, a Renault, com 6,9%, em quinto, a Honda, com 6,1%, em sexto, a Ford, com 5,8%, em sétimo a Hyundai, com 5%, e a GM, em oitavo, com 1,5%. Fiat e Volkswagen empatam com 1,3% cada.
Assim, é possível afirmar que as oficinas que atendem veículos franceses e Toyota têm maiores chances de ficar com carros parados à espera de peças, do que aqueles que atendem somente as marcas com maiores volumes de vendas (GM, Fiat e Volkswagen).
Entre os modelos com maior incidência de dificuldade de peças, o Peugeot 206 e o Citroën C3 foram os mais citados pelos reparadores, seguido do Renault Clio, Peugeot 106 e Toyota Corolla. Também entraram na lista os Ford Fiesta, Escort e Ka, GM Omega, Fiat Palio e Honda Fit.
Peças
E quais as peças são mais problemáticas? O estudo identificou as 15 peças que o reparador encontra mais dificuldade para adquirir. Em primeiro lugar aparecem os componentes de injeção eletrônica (9,6%), seguidos de embreagem (8,4%), peças importadas em geral (8,4%), sensores (6,6%), suspensão (4,8%), amortecedor (4,2%), câmbio (3,0%), pastilhas (3,0%), bico injetor (2,4%), bobinas (2,4%), rolamento (2,4%), correias (1,8%), mangueiras (1,8%) e módulo (1,8%).
Das 15 peças mais difíceis de encontrar, cinco pertencem à categoria eletroeletrônica (componentes de injeção eletrônica, sensores, bico injetor, bobinas e módulo), quatro do sistema de powertrain (embreagem, retentores, correias e mangueiras), quatro do sistema undercar (suspensão, amortecedor, pastilhas de freio e rolamentos) e uma geral (peças importadas).
Esta diversidade aponta para uma generalização na falta de peças no aftermarket, e corrobora com a percepção do proprietário da oficina Engin Engenharia Automotiva e Conselheiro Editorial do jornal Oficina Brasil, Paulo Aguiar, de que é difícil encontrar tudo em um único lugar e, portanto, o reparador tem de garimpar as peças que precisa nos diversos canais.
A pesquisa CINAU comprova isso. Metade dos entrevistados afirmou que tem dificuldade para encontrar embreagem (uma peça comum na reparação automotiva) no varejo, e outros 50%, no distribuidor. Porém, o canal concessionária, que responde por 7% da preferência de compra para este componente, não foi citado, o que possibilita interpretar que quando ele procura por embreagem na concessionária, o faz porque precisa de uma embreagem específica (como a do Peugeot 206 ou Citroën C3), que ele sabe que somente lá ele consegue encontrar. Para outras, ele nem cogita este canal.
Outros exemplos, indicam que se o carro em manutenção for, por exemplo, um Fiat Palio ou um Volkswagen Gol G4 e o serviço troca de pastilhas e discos de freios (produtos de alta liquidez e grande oferta de marcas), a compra das peças será feita no distribuidor, local de preço mais em conta e disponibilidade imediata, e o tempo para realizar o serviço será de até 24 horas.
Dificuldade em encontrar peças é um alerta ao mercado, pois sempre vem acompanhado de preços mais elevados. O IGD (Índice Gerador de Demanda), medido mensalmente pela CINAU já mostrou isso (veja matéria da página 80, na edição de Julho 2010).
Canais
A pesquisa mostra claramente onde o reparador compra o que, e também que ele tem encontrado dificuldades nos canais tradicionais de abastecimento.
O item que ele considera mais difícil de achar são os componentes de injeção eletrônica, e o primeiro local que ele procura este produto é na Concessionária, seguido do Varejo e do Distribuidor. Porém, o estudo indicou que o canal Concessionária não tem conseguido suprir a necessidade, e o canal alternativo, o Varejo, também tem apresentado dificuldades.
Outro exemplo são os sensores, que o reparador também tem como primeira opção de compra a Concessionária e, depois, o Varejo. Segundo a pesquisa CINAU, 100% dos entrevistados afirmaram não conseguir encontrar o item no canal Concessionária.
Já autopeças como amortecedor e suspensão, que o reparador busca primeiramente no Varejo, apresentam dificuldade de compra neste canal na ordem de 20% (suspensão) e 38% (amortecedor), segundo a pesquisa.
O canal alternativo para amortecedor e suspensão é a Concessionária e depois o Distribuidor. Porém, neles, o reparador encontra dificuldades na ordem de 38% e 25%, respectivamente, para amortecedor, e de 40% em ambos canais, para suspensão.
Um item que o reparador busca primeiramente no Distribuidor são pastilhas de freios, porém segundo o estudo, a dificuldade de encontrar o produto neste canal chega a 50%. Assim, ele se sujeita a pagar mais caro no Varejo, canal indicado como alternativo, e que não apresenta dificuldade de fornecimento.
Este estudo, portanto, joga uma luz no que ocorre atualmente no mercado de autopeças de reposição, em que o reparador tem driblado as dificuldades de abastecimento dos canais para atender o cliente.
Efeitos
Como consequências, quando o reparador não encontra a peça necessária para realizar o serviço, 35% dos veículos ficam parados nas oficinas entre 6 a 10 dias. Outros 34%, ficam até 5 dias,e 14%, esperam entre 11 a 20 dias. Esta demora provoca atrasos no trabalho das oficinas, e reduz a rentabilidade do negócio, uma vez que o carro fica parado, ocupando espaço que poderia ser utilizado para atender outro cliente.
Em outras palavras, a consequência da dificuldade de encontrar peças representa para o reparador ficar com o carro do cliente parado na oficina por um prazo médio de 10 dias.