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Iluminação externa de LED e laser: um mercado a conquistar no Brasil


Ricardo Leptich, diretor de vendas da Osram na América Latina, fala sobre os lançamentos, planos da empresa e mostra o quão longe estamos do futuro

Por: Vinícius Montoia - 11 de maio de 2015

Ricardo Leptich, diretor de vendas da Osram na América LatinaA Osram, um dos principais fabricantes de lâmpadas e artigos de iluminação no mundo, apresentou muitas novidades, como a linha de luzes ambiente, de bicicletas e de lâmpadas LED.

Nesta entrevista, o diretor de vendas e marketing para América Latina da empresa, Ricardo Leptich, desenha um cenário do mercado brasileiro e afirma que há muito a ser feito. Longe de ser popular aqui, o uso do LED na iluminação externa dos veículos já começa a sofrer a concorrência do laser na Europa.

Confira a entrevista que fizemos com o executivo durante encontro da empresa com seus distribuidores:

Jornal Oficina Brasil: Todas as novidades apresentadas pela Osram foram de fato lançadas?

Ricardo Leptich: Sim, a única que não tem no portfólio ainda é a linha de lâmpadas de LED, que chegará até o fim do ano. A linha de soleiras e de iluminação interna, que chamamos de ambient light, já foi lançada. Claro que, por ser lançamento, não há a pulverização na proporção de uma lâmpada convencional; o mercado está começando a aderir a um negócio que é novidade para o consumidor.

JOB: Qual é a participação de vocês no mercado de OEM e no de reposição?

RL: Referindo-me só ao automotivo, aqui no Brasil 40% seria OEM, 60% de reposição. Mais de 50% dos carros feitos no Brasil levam lâmpadas originais Osram.

JOB: Onde são fabricados os produtos vendidos no Brasil?

RL: Nós não produzimos aqui, importamos da nossa matriz na Alemanha 90% do que a gente comercializa no Brasil. O restante importamos de nossas fábricas da Itália, Eslováquia, Estados Unidos e China.

Aliás, todo o maquinário de produção é feito pela Osram, é mecânica da empresa, e não comprada de terceiros. Não compramos uma linha de uma empresa qualquer e saímos produzindo lâmpadas; o projeto é desenvolvido dentro da companhia mesmo.

JOB: Há projeção para que esses outros países, como a China, tenha maior participação na exportação para o Brasil?

RL: Criamos uma fábrica na China com o objetivo de atender a produção OEM de lá, pois o volume e o crescimento da produção de carros cresceu absurdamente nos últimos anos. Criamos a fábrica porque, logisticamente, é mais fácil para atender toda a demanda. Ela tem características e qualidade para atender à indústria automotiva mundial e atende uma parte da reposição. O que a gente traz hoje de lá é a linha de lâmpadas para faróis de motocicletas; a linha de lâmpadas de faróis de veículos leves e pesados vem da Alemanha.

“Existem discussões com os fabricantes de lanternas e faróis para que a gente crie produtos para reposição com a tecnologia LED e de carros que já estejam no mercado, para que o consumidor tenha condições de trocar uma lanterna tradicional por uma de LED”, disse Ricardo Leptich

JOB: Como vocês convencem o consumidor de que o LED é melhor do que uma lâmpada comum, apesar de ser mais caro? 

RL: Aqui no Brasil ainda existem tecnologias que não utilizamos; o brasileiro não provou ainda o xênon, que tem o kit de adaptação proibido, embora a gente encontre em fartura nas revendas. O xênon original de fábrica, desenvolvido com um projeto específico para aquele carro, não fornecemos aqui, e essa ainda seria uma etapa para ser trabalhada antes da chegada do LED para faróis dianteiros, uma tecnologia nova e ainda utilizada praticamente em carros top de linha. O Brasil ainda vai passar por uma transição e a gente acredita que o xênon ainda tem a oportunidade de ser desenvolvido no País.

Em relação ao LED, o que o mercado está criando para reposição são adaptações de produtos tradicionais na tecnologia, então você troca o filamento de uma lâmpada incandescente que faz a luz de lanterna e freio para uma lâmpada LED. A adaptação não é das melhores, não existe padronização e normas técnicas para LED. Cada fabricante chinês trabalha com emissão de luzes nas posições mais variadas possível. Isso cria problemas de segurança para o condutor, então ainda acho que não é um produto para ser explorado no país.

Estamos criando produtos que emitam luz em todas as direções para aproveitar a reflexão da lanterna. Se você comparar com produtos existentes no mercado, a luz de freio é direcionada; ela joga luz no olho do motorista que está atrás. O risco de acidentes de trânsito ainda é muito alto. A Osram atrasou o lançamento nessa área para, justamente, ter o produto que não afete a segurança, algo que a empresa tanto preza.

Para deixar claro, o LED que vai para reposição não tem nada a ver com aquele que originalmente equipamos os carros. Quando faço uma lanterna de LED para a Audi, BMW, um Corola, é um projeto customizado. Desenvolvo uma placa com os LEDs nas posições que a montadora pede e faço uma customização de lanterna. Se queimar, queima tudo, não troca, não tem reposição. O que criamos para reposição, em que os chineses entraram, é você pegar uma lâmpada tradicional que você tem no seu carro e colocar uma de LED - na teoria, ela tem que emitir a mesma quantidade de luz para você não perder em segurança, então esse é o grande desafio.

JOB: Carros como os Audi e BMW de hoje, em dez anos, serão muito mais populares aqui, e vão exigir peças de reposição. Vocês pensam em como adequar isso para o mecânico no futuro – uma lanterna de LED em um Audi A3, por exemplo?

RL: Aí muda um pouco o conceito, porque você vende a lanterna completa ou o farol completo devido a uma norma europeia. Para evitar problemas de segurança, se você tem 10 LEDs na lanterna traseira para o freio, se queimar uma, queimam todas para evitar que, em países emergentes, principalmente, o consumidor deixe de trocar enquanto tiver pelo menos um LED aceso. Então eles padronizaram para que a quantidade de luz seja sempre a mesma, para evitar problemas com segurança e, assim, ter que trocar o farol por completo. Não existe dificuldade em termos de manutenção, mas sim de valor agregado extremamente alto para fazer a reposição do produto.

JOB: Vocês planejam fornecer LEDs para que fabricantes independentes de lanternas, que trabalham com carros mais antigos, também possam montá-las com LEDs?

RL: Existem projetos, mas ainda muito embrionários, nada concreto. Existem discussões com os fabricantes de lanternas e faróis para que a gente crie produtos para reposição com a tecnologia LED e de carros que já estejam no mercado, para que o consumidor tenha condições de trocar uma lanterna tradicional por uma de LED. Mas o valor agregado é muito alto e seria um mercado muito específico de acessórios, voltado para consumidores que investem muito dinheiro em personalização de veículo.

JOB: Você acredita que falta treinamento nessa área, já que poucos reparadores entendem desse sistema de iluminação?

RL: Sim, com certeza, falta capacitação, treinamento para esse mundo da iluminação, que vai ficar cada vez mais complexo. Se você pegar uns carros autônomos de que todos falam, é um show de iluminações; criam-se muito mais opções de iluminação dentro do veículo do que temos hoje, porque você tem que deixar a condução muito mais confortável. Na verdade, não é o condutor, mas o computador que vai conduzir o carro e, então, você pode criar com o LED o que nós mostramos: painéis de interação, permitir que o consumidor jogue videogame dentro do carro enquanto está indo para o trabalho, sem colocar a mão no volante, e toda a parte de iluminação para tornar isso ficar mais aconchegante, para criar o cenário. A parte de iluminação interna vai passar por uma transformação grande. A complexidade vai fazer com que os profissionais tenham que se capacitar para essas novas tecnologias que estão chegando e que vão demandar um pouco mais de conhecimento técnico.

JOB: A Osram oferece algum tipo de treinamento?

RL: Considerando-se as tecnologias utilizadas aqui no Brasil, a Osram faz treinamento para os aplicadores e, claro, para a equipe de vendas dos distribuidores também.

JOB: Fale, por favor, sobre a iluminação interna para leitura, lançamento de vocês. 

RL: É uma tecnologia de LED orgânico; no futuro, você pode definir, por exemplo, o formato dele. Imagine, por exemplo, se eu tenho na traseira do carro uma lanterna com uma parte de plástico enorme atrás, para suportar toda a parte de iluminação, soquetes e cabos. Com o LED, consigo fazer uma lanterna com uma espessura mínima, seguindo o design do carro, sem nenhuma interferência, em uma superfície muito menor do que a necessária para fazer a mesma lanterna hoje. A flexibilidade é muito maior, e as possibilidades para o mercado automotivo são absurdas em termos de economia de material. É possível trabalhar mais o design do veículo e deixar a lanterna cada vez menor, conseguindo fornecer a mesma quantidade de luz do que uma lanterna que a gente tem hoje. 

JOB: Qual a diferença do LED orgânico para o comum?

RL: A diferença está na composição: o orgânico é feito de um material orgânico, mais fino, que você consegue trabalhar e tem uma distribuição de luz melhor.

Porém, hoje a eficiência luminosa dele é muito mais baixa do que a do LED comum.

Já o LED comum é feito por um substrato e um fio de ouro que fazem a ligação entre um ponto e outro, que fazem essa luminosidade. 

Por conta da insuficiência luminosa, hoje não é possível aplicar um LED orgânico em um farol, por exemplo, mas dá em uma lanterna e em iluminação interna.

JOB: O LED orgânico é sustentável?

RL: Sim! Ele tem mais durabilidade, usa materiais mais verdes, tem uma composição um pouco diferente do LED tradicional. Ele consome menos e substitui por completo em algumas aplicações o LED convencional. Por exemplo, a iluminação do espelhinho interno. Existem diversas possibilidades, ele abre muitas opções e aplicações muito diferentes do que a gente tem hoje. Dependemos muito dos projetistas, das pessoas envolvidas.

“O LED orgânico (OLED) tem mais durabilidade, usa materiais verdes e tem composição diferende do LED tradicional, além de consumir menos. Ele pode ser usado, por exemplo, em iluminação interna dos veículos”, explicou o diretor de vendas da Osram

JOB: Indo a um mundo mais distante, o que você tem a falar sobre o laser?

RL: O Audi R8 e o BMW i8 são projetos feitos com a Osram – ela é a única que tem tecnologia laser para faróis, luz alta e luz baixa; nenhum outro fabricante tem e a parceria com as duas montadoras alemãs nos possibilita desenvolver carros-conceito.

JOB: Qual a diferença do laser para o LED?

RL: O laser emite uma luz azul, passa por uma camada de fósforo e transforma a luz azul em branca e a distribuição dele é feita com base nas lentes que são instaladas no farol, porque a luz é extremamente concentrada. Assim, consigo concentrar a luz em um único ponto e, dele, faço a explosão, a distribuição dos feixes de luz para a projeção do farol.

O LED é diferente: tenho várias posições dele dentro do farol com lentes, e consigo direcionar a luz, mas usando vários LED. O laser consegue ter um consumo menor do que o LED e com uma eficiência muito maior.

JOB: Você estima que, como o LED, o laser vai demorar alguns anos para se popularizar aqui?

RL: O LED quase ainda não chegou. Veio apenas para iluminação interna, o break light é feito com LED, o painel do carro, mas para iluminação externa a gente tem poucos carros que utilizam a tecnologia. Lançamos com a GM a S10 com lanterna e freio a LED, mas só para versão top; o Fiat Idea tem versão com lanterna e freio com LED, também um projeto nosso; mas são poucos veículos. O próprio Toyota Corolla novo tem LED agora no top de linha, então a gama de produtos que são oferecidos ao mercado nacional de produção local é muito pequena ainda.

Como funciona o farol de laser: “o laser emite uma luz azul, passa por uma camada de fósforo e transforma a luz azul em branca e a distribuição dele é feita com base nas lentes que são instaladas no farol, porque a luz é extremamente concentrada. Assim, consigo concentrar a luz em um único ponto e, dele, faço a explosão, a distribuição dos feixes de luz para a projeção do farol”