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Dia do Reparador: Estudo, dedicação e amor pela profissão


Muitas conquistas são relembradas nesta data especial

Por: Vivian Martins Rodrigues - 21 de dezembro de 2011

Na memória, alguns acontecimentos que revolucionaram a reparação automotiva, entre eles, a criação da eletrônica embarcada. Este profissional, que precisava entender de mecânica, passou a ser também eletricista e a eletrônica fez com que voltasse aos estudos, pois estava presente no dia a dia das oficinas. As novas tecnologias, com o tamanho e a variedade da frota atual, mudaram o conceito da profissão, que hoje valoriza e reconhece o reparador que tem conhecimento técnico e qualificação profissional.

A importância e abrangência do termo “reparador”

Significado de reparar
Pôr em bom estado de funcionamento o que se havia estragado; restaurar, consertar, recondicionar: reparar um motor.

Restaurar: reparar as forças.

O reparador automotivo brasileiro é um profissional completo, que reúne diariamente forças para batalhar, estudar e buscar informações técnicas e tecnológicas para desempenhar um bom trabalho. Este profissional é comprometido com a excelência na gestão e no atendimento aos seus clientes e, portanto, precisa de uma denominação à sua altura. Gostamos de chamá-los de “reparador”, pois é assim que nós, do Grupo Oficina Brasil, os vemos.

Momentos especiais
Neste ano de 2011, compartilhamos com vocês nossos melhores momentos. Pesquisamos, entrevistamos e encontramos a melhor formar de auxiliá-los nesta jornada diária, com informações relevantes para que, juntos, pudéssemos fazer edições técnicas de qualidade. Chegou a hora de comemorarmos juntos todas as conquistas de 2011 e prometemos para 2012 uma parceria de sucesso.

A força da reparação depende da capacitação profissional da mão de obra

“O Sindirepa-SP tem como prioridade, em seu plano de ações, incentivar o aprimoramento do reparador. A forma de consertar carros mudou nas últimas décadas e o profissional precisou se atualizar e mudar desde o layout da oficina até adquirir e saber operar equipamentos modernos para conseguir fazer o diagnóstico. Em pouco tempo, o reparador se tornou um técnico, abandonou as ferramentas e mergulhou no mundo tecnológico. Em comemoração ao Dia do Reparador, a entidade que representa as 15 mil oficinas estabelecidas no Estado de São Paulo faz questão de destacar a importância deste profissional que mostra a sua força e garra diante das dificuldades e faz com que o setor de reparação de veículos se fortaleça e evolua.

A frota de veículos aumentou, trazendo novas oportunidades de negócio para a reparação, mas os desafios também cresceram na mesma proporção. Por isso, a dedicação e o aprendizado têm sido as principais ferramentas utilizadas pelos reparadores, que merecem todo o reconhecimento do setor de reparação.

Nesta área de capacitação, o Sindirepa-SP tem firmado convênio com o Senai Ipiranga, Escola Conde José Vicente de Azevedo, que permite o aperfeiçoamento dos cursos para atender às necessidades do mercado e bolsas de estudo gratuitas. O Senai Ipiranga também vai iniciar o curso superior em Tecnologia em Sistemas Automotivos em 2012.

Recentemente, o Sindirepa-SP também firmou parceria com a escola ETC METAL, Centro Educação Profissional do Sindicato dos Metalúrgicos Eleno José Bezerra, para oferecer condições especiais aos funcionários das empresas associadas à entidade.

Para valorizar a profissão, o Sindirepa-SP, juntamente com o GMA – Grupo de Manutenção Automotiva e responsável pelo Programa Carro 100%/Caminhão 100%/Moto 100%, fechou convênio com o Senai Nacional para a criação da certificação profissional, de acordo com a norma ABNT 15681, que trata da qualificação do mecânico.

O processo, que deve ser implantado em breve, é um importante instrumento de avaliação e aprimoramento do reparador e destacará, no mercado, os profissionais mais capacitados.

Essas ações citadas mostram que o Sindirepa-SP está preocupado em dar condições para o permanente aperfeiçoamento técnico da profissão que os novos tempos exigem. Tudo para que o setor de reparação de veículos continue a ser responsável por 80% da manutenção da frota circulante, estimada em 40 milhões de veículos (dados do Sindipeças). O setor de reparação de veículos possui 92.194 oficinas e emprega mais de 711 mil profissionais”, Antonio Fiola, presidente do Sindirepa-SP.

Selecionamos três experientes reparadores, que estiveram conosco em 2011, para dividir experiências e dar dicas para a nova geração de profissionais.

Carlos Napoletano Neto: 44 anos de experiência na reparação automotiva

Jornal Oficina Brasil: Conte a história do começo da sua carreira.

Carlos Napoletano Neto: Trabalho com mecânica desde os 14 anos. Meu interesse por mecânica automotiva começou ao observar o reparador de confiança da família consertar os carros dos parentes quando algum serviço era necessário. Passava muito tempo na oficina mecânica. A mecânica está no sangue da gente, e não podemos viver sem um cheirinho de graxa e gasolina! Decidi estudar mecânica automobilística, cursando primeiro o Senai, que sempre serviu de padrão para mim, e depois a faculdade, que complementou a minha formação, visto que passei a fazer meus próprios reparos e montei uma oficina em São Caetano do Sul, onde estou até hoje. Ingressei na montadora GM, a convite de um colega, onde trabalhei primeiro na oficina técnica, como engenheiro supervisor, acompanhando de perto os reparos dos veículos da frota, depois como engenheiro de serviço, atendendo eventuais problemas da rede de Concessionários da marca, especializando-me na área de transmissões e injeção eletrônica e, finalmente, como instrutor técnico, treinando o pessoal dos Concessionários. Enquanto trabalhava na área de treinamento da GM, conheci o Ernesto (do Jornal Oficina Brasil), que era o jornalista responsável naquela época pelo jornal. Ele ia buscar informações técnicas para publicar (naquele tempo o Jornal se chamava Motor 100%) e passei a colaborar regularmente com o Jornal na elaboração de matérias para os reparadores, os assuntos mais diversos.

Após ter saído da montadora, foi que comecei a perceber a dificuldade de se obter informações técnicas, pois, enquanto lá dentro, você possui relativa facilidade de se informar, porém fora do âmbito das empresas, a coisa fica mais difícil. Resolvi trabalhar no sentido de abrir uma empresa capaz de suprir esta necessidade aos reparadores independentes, visto que descobri minha verdadeira vocação, quando trabalhei na área de treinamento da GM. Uma das coisas que dá mais alegria na profissão de instrutor é quando você percebe que o técnico entendeu e assimilou o assunto ensinado pelo ar de satisfação em seu rosto, e te liga agradecendo alguns dias depois, quando consegue realizar um serviço com qualidade.

Em 2003 ingressei na montadora Mitsubishi, também na área de treinamento técnico, auxiliando o pessoal da rede de Concessionários em cursos técnicos. Paralelamente, visto que percebi o número cada vez maior de veículos equipados com transmissão automática nas ruas do Brasil, montei uma firma de treinamento especializado neste item do automóvel, procurando sempre manter um alto padrão de instrução e conceitual, visto ser um item que não tolera discrepâncias em sua montagem. Saí da Mitsubishi em 2008 para me dedicar exclusivamente à minha firma de treinamento.

JOB: Por que escolheu esta profissão?

Carlos Napoletano Neto: Hoje sou instrutor técnico, e escolhi isso baseado na alegria de ver o técnico evoluir e adotar novas técnicas de trabalho. Alguém já resumiu que o aprendizado é basicamente mudança de atitude, e a pessoa só pode afirmar que aprendeu quando muda a maneira de encarar e fazer as coisas. Aprecio ver isto nos meus alunos! Consegui uma porção de filhos em todas as regiões do Brasil, que de vez em quando ainda me ligam. Hoje, tendo fundado a Associação (APTTA Brasil), me sinto orgulhoso de informar que possuímos dez consultores técnicos que já trabalham na área e possuem oficina própria há mais de dez anos, e dão suporte técnico ao reparador que está ingressando nesta área promissora, através da Associação. Sete destes consultores especializados foram formados com a ajuda do meu trabalho.

JOB: Qual a sua especialização?

Carlos Napoletano Neto: A minha especialização é mecânica automotiva e me formei também em eletrônica, gerando o que hoje se chama engenheiro mecatrônico. É lógico que, em 1982, ano em que me formei, não existia tal coisa ainda. Conforme já mencionei, quando a mecânica entra no sangue da gente, não sai mais.

JOB: O que mais gosta na profissão?

Carlos Napoletano Neto: Além de amar a mecânica em geral e o funcionamento das coisas, gosto de sentir que realizei algo ensinando alguém a melhorar de vida e se realizar profissionalmente. A Associação desenvolve aulas de transmissão automática, desde os fundamentos da mecânica de transmissão de torque, até as transmissões mais sofisticadas presentes no mercado atual. Nossa equipe também desenvolve manuais técnicos em português, para facilitar o dia a dia do técnico, sendo que possuímos hoje mais de 80 manuais das principais transmissões em nossa própria língua, disponíveis para o reparador.

JOB: O que é necessário hoje para que o técnico seja bem-sucedido em seu trabalho?

Carlos Napoletano Neto: Assim como tudo o mais, o automóvel também evoluiu, e muito. Hoje temos carros que até estacionam sozinhos! O técnico precisa evoluir também para poder entender como o veículo atual funciona e não somente isto, para poder repará-lo também. Seu local de trabalho e sua aparência devem ser impecáveis, com o ferramental necessário e informações sempre à mão, ecologicamente correto, com o descarte correto dos resíduos da oficina, atualizar-se utilizando a internet, entender de computação até mesmo para manusear um scanner automotivo, adotar procedimentos padronizados de diagnóstico, ter um programa de treinamento regular, e isto para o técnico que quer progredir na área de reparo de transmissões automáticas é ainda mais necessário.

JOB: Como vê os novos reparadores?

Carlos Napoletano Neto: Falando-se especificamente dos reparadores de transmissão automática, hoje está nascendo uma nova geração de mente mais aberta ao intercâmbio de informações e novas técnicas de trabalho. O técnico que gosta de dar “um jeitinho” para que o dispositivo funcione está virando peça de museu. O popular “jeitinho”, que faz parte da cultura brasileira desde há muito, não tem vez no reparo de um item tão preciso quanto uma câmbio automático moderno, com controle eletrônico e 5, 6 ou mais marchas. É preciso que se entenda o contexto brasileiro hoje e há 40 ou mesmo 50 anos, quando os primeiros veículos automáticos ganharam nossas ruas. A dificuldade de informação era muito grande, quase não existiam manuais técnicos, e os que existiam eram em outra língua. Não havia curso de transmissão nem no exterior, imagine aqui! Portanto, os primeiros reparadores, alguns no mercado até hoje, guardam seus “segredos” a sete chaves, não ensinam ninguém e muitos nem exercem mais a profissão, em decorrência da idade avançada. Este perfil de técnico está acabando, e hoje o proprietário de um veículo automático já conta com mais opções de reparo. Porém, a carga de informações e trabalho de um reparador moderno aumentou enormemente. Eu mesmo, que comecei na área dos automáticos há 28 anos, sinto que, se parar por um só momento de ler e estudar, ficarei desatualizado.

JOB: Fale da falta de mão de obra qualificada.

Carlos Napoletano Neto: Temos hoje aproximadamente 3.000.000 de veículos automáticos circulando em nossas estradas, e tendo participado do treinamento de uma parte dos técnicos nestes dez anos em que trabalho com treinamento especializado, posso afirmar que, dentro de mais alguns anos, quando estes veículos começarem a procurar as oficinas independentes, não haverá mão de obra para atendê-los, gerando uma falta muito grande de reparadores. Hoje está difícil de encontrar até mesmo ajudantes com perfil correto, dispostos a trabalhar e aprender. Quando se leva em conta que o técnico de transmissão automática deve possuir o perfil correto para este trabalho (organizado, limpo, criterioso, estudioso, atualizado), já vemos o que o mercado desta especialização vai encarar nos anos à frente.

JOB: Qual a principal vantagem da profissão?

Carlos Napoletano Neto: Em primeiro lugar, o senso de realização profissional, uma vez que o reparo bem-sucedido de uma transmissão automática é altamente recompensador em termos de satisfação pessoal. Em segundo lugar, se ganha muito bem por este trabalho. Um reparo benfeito não sai por menos de R$ 3.000 ou R$ 4.000, e pelo menos 50% deste valor é mão de obra. Outra vantagem é a constante atualização que o técnico se obriga a buscar, tornando-o um “expert” no setor.

JOB: Quais os conselhos aos técnicos que pretendem ingressar na área?

Carlos Napoletano Neto: Procurem estudar e desenvolver as técnicas ensinadas com o máximo de empenho possível, não se desviando da linha principal de trabalho, com o popular “jeitinho”, ele não se aplica ao cambio automático. Não procure tornar as coisas mais baratas para o cliente, pois isto é uma armadilha que se voltará para o técnico mais cedo ou mais tarde.

Procure uma boa escola de treinamento e siga de perto o conceito do tripé para um bom trabalho: Treinamento, Informação e Ferramental adequado. Qualquer um destes que faltar prejudicará o progresso do técnico mais adiante.

Luiz Cláudio Cobeio: 50 anos de experiência na reparação automotiva

Jornal Oficina Brasil: Como foi o começo?

Luiz Cláudio Cobeio: O meu pai era taxista e ele próprio arrumava o carro porque não tinha condições financeiras para pagar o reparador e eu gostava de ajudá-lo. Quando completei 10 anos, entrei na primeira oficina e, com 14 anos, já entendia muito de automóvel. Com 15 anos eu era encarregado de uma equipe de 40 homens em uma autorizada. Era prodígio e com 16 anos montei a minha primeira oficina e fui emancipado para poder abrir conta em banco.

JOB: O que mais gosta na profissão?

Luiz Cláudio Cobeio: Eu tenho muito amor pela profissão e há quase 50 anos faço o que gosto e agradeço a Deus por isso.

JOB: Quais as principais mudanças do começo da sua jornada até hoje?

Luiz Cláudio Cobeio: Eletrônica embarcada é a principal. A segunda mudança significativa é o espaço interno do carro, que foi reduzido e requer uma série de ferramentas especiais. Adaptei-me a isso fazendo cursos.

JOB: Qual sua especialização?

Luiz Cláudio Cobeio: Faço de tudo, mas, de seis anos para cá, cuido de eletrônica embarcada.

JOB: Além do conhecimento técnico, o bom mecânico precisa ter noções de quê?

Luiz Cláudio Cobeio: Principalmente de eletrônica. Tem que ter, no mínimo, conhecimento básico de eletricista.

JOB: Quais dicas você daria para jovens que pensam em ingressar na profissão?

Luiz Cláudio Cobeio: Estudar e tirar proveito da internet. Na minha época não havia essa possibilidade. O reparador digita, por exemplo, especificações de motor para Honda Accord 95 e vem um material explicativo: aperto, folgas, desmontagem, entre outros. Há também o Jornal Oficina Brasil, que ele pode encadernar, e o Sindirepa (para os associados), que tem uma biblioteca completa.

Mario Meier Ishiguro da empresa Ishi Ar-condicionado

Jornal oficina Brasil: Como foi o começo?

Mario Meier Ishiguro: A vocação já começou na infância, sempre querendo desmontar e montar brinquedos, depois as bicicletas, motos, carros, máquinas etc. Sempre gostei da área de reparação de equipamentos, em especial a linha automotiva.

JOB: Qual a sua especialização?

Mario Meier Ishiguro: Em 1984, com 17 anos, me formei como técnico em mecânica e fui empregado pela indústria de autopeças no setor de manutenção industrial. Em seguida, em 1985, comecei a cursar engenharia mecânica na PUC-RS. Após 15 anos na indústria, sempre ligado à manutenção industrial, focado em produtividade, ganho de produção, minimizar horas de máquina parada, confiabilidade no equipamento, seguindo normas, procedimentos, auditorias, em um ritmo sempre de muita “cobrança”, a motivação começou a faltar.

O próprio mercado me chamou para a área de manutenção de ar-condicionado automotivo. Por volta de 1996, ao mandar os meus carros para conserto do sistema de ar-condicionado, decepcionado com os serviços, valores e justificativas praticadas, comecei a estudar o mercado e vi neste segmento uma boa oportunidade técnica e comercial.

Focado neste mercado de trabalho, pedi o desligamento da indústria e me dediquei a buscar mais informações, cursos, literatura, experiência. Minha “criação na indústria”, sempre com o exemplo e influência de profissionais exemplares, me deu muita bagagem para traçar os objetivos, enfrentar os desafios, vencê-los e seguir com o crescimento pessoal e profissional.

JOB: Como você vê os novos reparadores?

Mario Meier Ishiguro: Creio que a nova geração tem uma grande ferramenta, a internet. Porém, quem se destaca são os profissionais que não se acomodam e buscam a informação. Estes, sim, terão muito mais chance de sucesso. O profissional também tem que ter uma boa noção de marketing pessoal e comercial. Mostrar e praticar a educação, com humildade, 5 S, prezar pelo meio ambiente, ser proativo e somar para a sociedade.

JOB: E quanto à mão de obra?

Mario Meier Ishiguro: Concordo com o “apagão” na mão de obra qualificada em todas as áreas da linha automotiva, o que inclui a distribuição destes profissionais pelo Brasil. Há um grande acumulo de mão de obra em grandes centros urbanos, há muita demanda fora desses centros.

JOB: Quais dicas você daria para jovens que pensam em ingressar na profissão?

Mario Meier Ishiguro: Vá em frente, mas busque informação, não se acomode, questione o que aprende, busque a raiz do problema, pratique o “por que do porquê”. Exija qualidade dos seus fornecedores.

JOB: Se você estivesse começando a carreira hoje na reparação automotiva, como faria?

Mario Meier Ishiguro: Em minha opinião, a equação deste comércio se faz com: Cliente, Fornecedor e Oficina. Também podemos impor qualidade e procedimentos aos clientes. Sempre haverá clientes para a sua oficina e para o seu tipo de serviço. Não podemos nos esquecer de também cobrar qualidade e atendimento (não somente preço) de nossos fornecedores e não aceitar qualquer peça importada “barata” no lugar de uma peça original.