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Desafios e superações! Uma família de reparadores mostra como a dedicação pode levar ao topo


O empreendedorismo e a paixão pelas máquinas: o profissional independente mostra que é “através da luta é que se chega à vitória”, como afirma Luiz Geraldo Mercuri, reparador de 85 anos transformou uma oficina numa empresa vencedora

Por: Vinicius Montoia - 03 de dezembro de 2015

As três gerações: o avô Luiz Geraldo Mercuri, a filha Liselote e o neto Márcio

O mês de dezembro se caracteriza por diversas datas comemorativas, porém, para nós, uma das mais relevantes é o dia 20 de dezembro, no qual se comemora e homenageia umas das profissões mais desafiadoras e responsável por manter mais de 80% da frota circulante em atividade neste país continental: a reparação independente! Graças aos profissionais desse setor é possível movimentar a economia, transportar cargas e salvar vidas, mantendo em condições de tráfego os veículos com os quais nossa sociedade se locomove.

Por isso, resolvemos, nesta edição, homenagear todos os reparadores do Brasil, sendo empresários ou funcionários, mas que estão ligados por um sentimento: a paixão pela mecânica e prestação dos serviços de reparação.  Para tanto, daremos voz a uma família que, como tantas outras, marcou a história de uma determinada região pelos serviços prestados à comunidade. Entrevistamos a família Mercuri, que se formou pleo patriarca que conquistou tudo o que tem através de sua profissão: reparador independente! Depois disto, vieram os filhos, netos e hoje a Mercuri Diesel Center é uma das melhores oficinas desse segmento no planeta (não é exagero, confira adiante!). 

Fundada no dia primeiro de janeiro de 1956, a empresa teve início com o senhor Luiz Geraldo Mercuri, hoje com 85 anos. Ou seja, logo no início do ano que vem, a empresa completará 60 anos e os preparativos para a festa já começaram, como garante Márcio Mercuri Barriviera, de 29 anos, neto de Luiz: “a prefeitura vai nos homenagear por todos esses anos de serviços prestados à cidade e também virão o prefeito, alguns vereadores, além de diretores de algumas empresas importantes do setor na região, incluindo toda a diretoria da parceira Bosch”.

INÍCIO SE DEU COM O CULTIVO DE CAFÉ

A saga da família Mercuri no Brasil começou com o imigrante italiano e avô de Luiz Geraldo Mercuri, que chegou ao país carregando uma criança de dez anos no final do século retrasado. Por ser engenheiro agrônomo trabalhou com a plantação e venda de mudas de café. E foi em uma dessas fazendas do avô de Luiz Mercuri que ele e seus irmãos foram criados. O pai de Luiz Geraldo Mercuri deu continuidade ao trabalho realizado pelo avô italiano e, a partir disto, o começo da vida de Luiz se deu em áreas rurais: “eu era caipira, morava no sítio em Cordeirópolis (próximo à Limeira, no interior de São Paulo). Meu pai vendia mudas de café para todo o estado de São Paulo”, conta Luiz. 

Naquele tempo, o próprio pai de Mercuri consertava as carroças da fazenda, cuidando das rodas e dos rolamentos: “meu pai adorava a mecânica, tanto que ele mesmo consertava carros, caminhões e até carroças que usávamos na fazenda”, garante Luiz Geraldo. E foi a maior movimentação de caminhões e carros que despertou no garoto a curiosidade pelas máquinas que via atolar na lama das precárias estradas do interior de São Paulo. “Eu tinha um primo da mesma idade e, quando crianças, nós ficávamos brincando de adivinhar qual seria a marca do próximo caminhão que atolaria, e eu sempre acertava”, comenta. E, como diz o experiente reparador, “naquela época era mecânica pesada no sentido de bater marreta, bater bico de arado, fazer roda de carroça... um serviço bem diferente do que se tornou a reparação independente hoje em dia. Foi assim que eu comecei”, explica Luiz.

Aos poucos os irmãos de Luiz deixaram a fazenda e ficou impossível cuidar da propriedade com pouca mão-de-obra. Com essa situação, surgiu a ideia de vender as terras para uma grande companhia da época. “Meu pai vendeu a fazenda e nós viemos para a cidade de Limeira. Aí ele me disse: ‘você não vai ficar na rua, não moleque. Você vai ser mecânico!’, afirma Luiz Mercuri, com expressão saudosa.

Entre avô e neto, Carlos Roberto Barriviera, genro de Luiz MercuriCom muita determinação e espírito empreendedor, Luiz Mercuri começou a prestar serviços para os caminhoneiros que transportavam laranja do interior para o litoral, e foi fazendo economias. Obviamente, todo início tem uma história engraçada, resultante da falta de experiência, mas da extrema dedicação: “ainda iniciante eu montei um diferencial de um caminhão Chevrolet de 1936. Aí quando o cliente foi experimentar e me disse que não estava bom. Quando eu quis saber o motivo, ele disse: ‘está com três marchas à ré e só uma para frente’. Quando fui verificar, havia montado o diferencial ao contrário”, recorda o senhor Mercuri aos risos, que aos 85 anos, contagia a todos com as histórias de luta e superação.

Finalmente chegou o momento de provar que estava pronto para maiores desafios e Luiz  Mercuri mudou-se para o litoral do estado para trabalhar na “Casa do Automóvel”, em Santos (São Paulo). Uma das razões que o fez migrar foi o valor da mão de obra, pois em Limeira se pagava 2,50 cruzeiros por hora, enquanto que em Santos o valor era de 20 cruzeiros pelo mesmo período. As importações de veículos americanos estava tão aquecida que no terceiro mês o valor saltou para 25 cruzeiros e ele trabalhava com Impala, Cadillac, etc. Por ter de fazer a adaptação dos veículos para as péssimas estradas brasileiras, era necessário substituir os quatro amortecedores, molas espirais e as borrachas que eram consumidas pela maresia durante o transporte por navios e também no armazenamento próximo ao porto: “o sal corroía as borrachas, então, para dar garantia para as concessionárias, a Casa do Automóvel tinha que revisar os veículos. Trabalhei muito tempo lá. Mas depois de um tempo começou a sair sangue do meu nariz, por conta do calor tremendo que fazia em Santos e o médico falou que tinha que ir embora”, relembra.

Depois deste episódio, Luiz Mercuri voltou para Piracicaba para consertar os caminhões de uma transportadora, e foi neste momento que ele deu o passo mais importante de sua vida: se tornou um empresário no setor da reparação independente. Com o dinheiro que conseguiu economizar em Santos, comprou a oficina do amigo Tejeda: “era uma oficina bem montada, limpinha, mas ele não teve condições para contratar um mecânico e também não trabalhava na área. Se aborreceu e disse ‘Luiz, quer comprar essa oficina?’. Aí eu aceitei”, disse Mercuri. A luta e experiência começavam a somar a favor de Luiz: deixou de ser funcionário e se tornou empreendedor. Mas isso não o livrou do trabalho pesado, pelo contrário: “naquela época eu tirava o câmbio do caminhão Volvo no braço, desmontava, consertava e depois colocava tudo no lugar novamente. Sem equipamentos que auxiliassem, era com a força dos braços mesmo!”, garante Luiz.

Sr. Luiz mostra o dínamo Bosch que iluminou seus caminhos e que mais tarde seria o símbolo de uma parceria de sucesso com a marca alemã

“Eu ganhei dinheiro na época das exportações de laranja na cidade de Limeira, pois tinha muitas empresas desse ramo por lá e, por consequência, muitos caminhões”, conta. Toda semana tinha um caminhão quebrado na estrada para socorrer, muitas vezes à noite. “E eu ia, passava diversas noites na oficina, nas boleias e tinha de entregar o veículo para o cliente às sete horas da manhã”, lembra o empresário.

Por volta do início dos anos 1960, o senhor Mercuri leu a seguinte notícia no jornal O Estado de São Paulo: “Empresa alemã vai montar fábrica no Brasil” e descobriu que se tratava da Bosch. “Bosch era o nome da bicicleta que eu tinha, presente dado pelo meu pai”, conta.

NASCE UMA GRANDE PARCERIA

A bike de Luiz tinha o nome de Bosch por conta do dínamo que a equipava, para gerar luz para a “magrela” através do equipamento da marca alemã. Na mesma reportagem citada, “vi que a empresa de Robert Bosch estava nomeando alguns representantes para prestarem serviço em nome de sua marca no Brasil. Gustavo Borghoff era o representante da Bosch aqui no país. Como a empresa estava montando uma fábrica em Campinas, fui lá para marcar uma reunião”, diz Mercuri. Ao chegar à fábrica, falou que queria ser um representante dos serviços da Bosch. A resposta da fabricante foi: “Limeira é uma cidade muito pequena, nós queremos nomear nas capitais e não no interior”, relembra Luiz, com um sorriso. “Está bem, então vou oferecer meus serviços para uma fabricante italiana”, afirmou ele antes de deixar a reunião.

Depois de oito dias os dirigentes da Bosch pediram para que Mercuri voltasse à fábrica para uma nova reunião: “‘achamos você interessado e queremos nomeá-lo como serviço Bosch. Mas somente como experiência no início, ainda não vamos dar um título definitivo. A placa vai ser amarela e você vai trabalhando até se adaptar’”, registra Luiz como se tivesse acabado de ouvir a frase que lhe foi dita em 1959. Pronto, estava formada uma parceria de longa data, que traria muitos frutos e sucesso para a família Mercuri.

Cinco anos depois a Mercuri Diesel Center recebeu a bandeira azul, ratificando a sua posição entre as Bosch Service no Brasil.

A primeira viagem para a Alemanha, em 1971

UM SONHO: CONHECER A ALEMANHA

No início da juventude, ao começar suas experiências com os consertos de carroças e caminhões, Luiz Mercuri dizia para os pais, subindo uma pequena escada de quatro degraus que tinha na despensa da fazenda, fazendo alusão às escadas que até hoje são utilizadas para entrar em aviões e navios, que um dia iria para a Alemanha “aprender mecânica”. A imagem do menino que sobe no avião e deixa sua terra de origem em busca de maiores conhecimentos técnicos, procurando especialização em outro país, foi impressa em preto e branco em 1971. O sonho do reparador se tornou realidade ao ser convidado pela Bosch para ir ao país germânico. “Sim, voei de Lufthansa. Consegui realizar o sonho de menino”, recorda feliz. Luiz Geraldo Mercuri já viajou sete vezes para Alemanha, convidado pela fabricante que sua empresa representa. Luiz Geraldo Mercuri é a prova real que o reparador independente tem competência e disposição suficientes para chegar aonde desejar.

A RESPONSABILIDADE DOS SUCESSORES

A terceira geração da família Mercuri, Márcio (neto)

Anos mais tarde, depois de muito esforço, Liselote Adriana Mercuri Barriviera, filha de Luiz, começou a trabalhar na oficina do pai na área administrativa. “Comecei com uns 15 anos, mas praticamente nasci na oficina”, diz ela. Liselote não fez trabalhos pesados, mas a mãe sim: “a mãe dela lavava as peças para mim (risos)”, afirma o patriarca.

“Nosso nome é trabalho” diz Liselote e seu filho completa: “e o sobrenome é ‘hora extra’” e todos riem. Após se casar com Carlos Roberto Barriviera, Liselote levou o parceiro de vida para a oficina da família. O sogro, senhor Luiz, garante: “O Carlos é o filho que não tive, logo que casou eu já o puxei para a oficina e graças a Deus ele sempre foi esforçado, honesto, trabalhador, competente e lutou pela oficina e pela família toda”.

Em 2003 Marcio Mercuri Barriviera, neto de Luiz Geraldo Mercuri, iniciou as atividades na oficina. Mas não foi na área administrativa, foi também lavando peças e consertando veículos: “eu vivi toda a minha infância aqui. Meu avô sempre foi muito técnico, sempre gostou que todo mundo seguisse essa parte, colocando a ‘mão na massa’ para poder chegar à chefia. Ele acredita que a gente tem que conhecer todo o processo para poder administrar”. 

O avô argumenta orgulhoso: “a Bosch sempre quis que eu tivesse um engenheiro aqui na oficina, aí eu consegui ‘formar’ o meu neto. Hoje ele é o carro-chefe da empresa”. 

A oficina conta com espaço de mais de 4.000m²

Márcio reconhece que teve mais condições de estudar e, consequentemente, chegou à chefia com experiência suficiente para administrar todos os processos da oficina que, desde 1998, se mudou para nova instalação (ainda na cidade de Limeira) com mais de 4.000m²: “me formei e fiquei bastante tempo na área técnica. Depois de um tempo comecei a migrar para o administrativo, mas nunca deixando a parte técnica de lado, pois eu acho que se o dono abandonar e deixar de acompanhar essa área, certamente vai falir! Eu já vi vários exemplos de oficinas nas quais o pai era bastante técnico e dava certo, aí quando entrou o filho, que era só da parte administrativa, acabou não funcionando mais”.

Troféu da Q-CUP, Copa Mundial de Qualidade realizada pela Bosch em 2002

PRÊMIO MUNDIAL

A Bosch realizou uma competição para descobrir qual seria a melhor reparadora na Q-CUP, Copa Mundial de Qualidade, na qual foram avaliados os atendimentos por telefone e presencial, serviços realizados, tempo de espera, diagnósticos, processos, auditorias e muito mais. A Mercuri Diesel Center foi a primeira colocada entre as mais de 1.600 oficinas da marca no planeta.

E O CICLO SE COMPLETA

Hoje, aos 85 anos, Luiz Geraldo Mercuri vai à oficina todos os dias na parte da tarde para verificar o andamento dos trabalhos. A Mercuri Diesel Center tem 38 funcionários, sendo 22 dedicados exclusivamente ao pátio onde ocorrem os trabalhos pesados.

Depois de muitos anos trabalhando arduamente, Luiz não se esqueceu da origem da família, que se deu em plantações de café. A batalha obteve tanto êxito que ele conseguiu comprar terras e hoje tem uma fazenda, assim como nos tempos de menino quando trabalhava com o pai. O empresário reconhece que tudo o que conquistou se deve à reparação independente: o sonho de viajar para a Alemanha, a satisfação dos clientes com seu trabalho de reparador, a vida de empresário e a realização de ter criado uma família exemplar. Esta é apenas uma história entre tantas espalhadas por este país que depende dos serviços do reparador. Luiz Mercuri afirma realizado: “quantas e quantas vezes eu dormi na oficina, embaixo de caminhão, na estrada, dentro das cabines... acho que toda luta vitoriosa no final teve um início que demandou muito esforço e trabalho”, finaliza.