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A manutenção preventiva é o futuro da reparação


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Por: Alexandre Akashi - 20 de maio de 2009

 

Em entrevista exclusiva ao jornal Oficina Brasil, o coordenador do GMA (Grupo de Manutenção Automotiva), Antonio Carlos Bento, faz um balanço de um ano do projeto Carro 100% Caminhão 100%, que conquistou a simpatia de todos os elos da cadeia produtiva do aftermarket automotivo. Com experiência de mais de 25 anos de indústria automotiva, Bento avalia ainda a participação das empresas na Automec, realizada no mês passado, explica os próximos passos do projeto Carro 100% Caminhão 100% e opina sobre a ASE BRASIL, entre outros assuntos


Mineiro de Monte Santo de Minas, o coordenador do GMA, Antonio Carlos Bento, é hoje uma das principais figuras do aftermarket automotivo. Tendo passado por diversas empresas do setor, sempre lidando com itens de segurança, Bento diz que ainda tem muito trabalho a fazer, principalmente na mudança de cultura da prevenção. “A prevenção é algo muito importante, e todo esse discurso só fará sentido se a ponta do nosso negócio, que é a reparação, estiver muito afinada”, diz.
Com base em diversas pesquisas, Bento acredita que o futuro da reparação é muito promissor. “Os números mostram que as oficinas vão receber mais clientes em busca de serviços mais eficientes, mais limpos, ágeis, competitivos, com bons preços, boas peças. Esse grupo precisa estar muito antenado, e o sucesso vai depender do quanto o reparador enxergar isso.”
Confira abaixo os principais pontos da entrevista em que Bento comenta ainda sobre a Automec, realizada no mês passado, os próximos passos do projeto Carro 100% Caminhão 100%, a ASE BRASIL, entre outros.

Jornal Oficina Brasil – Qual o balanço deste primeiro ano do Carro 100% Caminhão 100%?
Antonio Carlos Bento – É o mais positivo. Sempre confiamos que tínhamos em mãos um projeto importante para o Brasil. A gente sonhou e ainda sonha alto para este projeto. Penso que tivemos uma boa dose de competência, trabalho de time e sorte. A mídia nos deu muita atenção e espaço, o que nos permitiu amplificar a mensagem da importância da manutenção preventiva.
Percebo ainda que os players do mercado de reposição estão muito animados e motivados com o projeto. O discurso está afinado e pela primeira vez a reposição se preocupou em trabalhar todo mundo junto, todos os elos da cadeia. E esse trabalho tem se mostrado muito acertado e bem alicerçado em pesquisas. Isso permitiu angariarmos inclusive a simpatia de alguns órgãos do governo e outros segmentos da sociedade.

JOB – Quais?
ACB – São diversos. Temos a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), o Ministério das Cidades, o Senai, entre outros. O Ministério das Cidades, inclusive, é o órgão responsável pelo trânsito no Brasil. Antigamente era o Ministério da Justiça, mas não é mais. Tive a oportunidade de mostrar o projeto ao ministro das Cidades, Marcio Fortes de Almeida, e temos o apoio deles. Tanto que divulgamos o nome deles junto ao nosso.
Recebemos uma manifestação de simpatia por parte do Ministério da Indústria e Comércio, não temos nada fechado ainda, mas é o resultado de algumas ações que iniciamos recentemente, com o apoio do Sindipeças, na figura do Paulo Butori, presidente do sindicato.

JOB – Que ações?
ACB – Enviamos cartas para todas as autoridades brasileiras diretamente relacionadas com o tema, e uma carta para cada governador do País. E isso começa a surtir efeito agora. Além disso, encontramos com todos os sindicatos na Automec, e eles estão se organizando para levar o projeto para os respectivos estados.

JOB – Qual o segredo para o sucesso?
ACB – Penso que todo mundo percebeu que a manutenção preventiva faz muito sentido. E tem outro fator importante: o tempo todo trabalhamos com a premimssa da responsabilidade social. Em nenhum momento quisemos falar de empresa A ou da peça X, ou do varejo ou do atacado. Não trafegamos nesta esfera. Desde o princípio deixamos claro que queríamos fazer um trabalho de responsabilidade social, mas um trabalho que também fomentasse negócios de uma forma responsável. Dessa forma, temos um balanço o mais positivo possível.

JOB – E quais são os próximos passos da campanha?
ACB – Algumas ações já estão em andamento. Mas, primeiro tenho trabalhado muito para tirar essa idéia de campanha, porque campanha é algo que pode ter uma duração muito efêmera e a idéia do Carro 100% Caminhão 100% é de trabalhar com prevenção de forma permanente. Vamos trabalhar sempre com isso e, na verdade, temos um grande projeto na mão. A campanha institucional é só um pedaço da idéia do Carro 100% Caminhão 100%. A nossa expectativa com o projeto é falar da prevenção e dos benefícios para o meio ambiente, a segurança, a preservação do valor de venda, o trânsito etc. Sabemos que todas as vezes que a gente melhora a prevenção melhoramos qualquer indicador relacionado com esses fatores que acabei de falar.
Mas temos uma segunda perna do programa que é falar de educação. É o segundo passo, que chamamos de capacitação, e é destinada a proprietários ou gerentes de redes de varejo e oficinas mecânicas. Desenvolvemos um trabalho em parceria – GMA, IQA e Grupo Germinal – que vai atingir este público com informações mais técnicas, sem ser pedante nem sofisticado, mas num nível para ajudar esse público a fazer negócio de uma maneira um pouco melhor. Eles já receberam um encarte, o primeiro fascículo, que falou sobre a filosofia do projeto Carro 100% Caminhão 100%. Depois receberam um segundo encarte que falou sobre marketing e vendas. Ainda vamos falar sobre recursos humanos e a operação em si, e também de finanças. Com esse pacotinho de informações queremos levar para a cadeia informações melhores para a gestão.

JOB – Por que o tema gestão?
ACB – Quando utilizamos a pesquisa da Gipa, identificamos oportunidades que estão ligadas à gestão. É a gestão que irá fazer a mudança, é a definidora dos próximos passos. Esse é um passo que está em andamento. O pessoal vai fazer uma provinha, para mostrar que leu, entendeu e que vai aplicar isso. Estamos muito confiantes de que vai dar certo. O check list que utilizamos no pit stop, é parte integrante do caderno de marketing e vendas, que é para ajudar o mecânico, ao receber o cliente na oficina, poder fazer uma avaliação mais ampla e responsável, sempre pensando em oferecer um melhor serviço.

JOB – Mas e a parte técnica?
ACB – Esse é o terceiro critério desse grande projeto: a capacitação técnica. E, aí, vai ser para o mecânico mesmo. Aprendemos através da pesquisa que os investimentos em treinamento por parte do varejo e da oficina precisam de uma boa sacolejada.

JOB – Como assim? As indústrias sempre oferecem treinamentos e palestras técnicas...
ACB – Sim, mas o profissional precisa mais do que isso. Precisa de um treinamento sistêmico para olhar o veículo do cliente. E para isso estamos muito próximos de fechar um convênio com Senai.

JOB – E isso será em todo o Brasil?
ACB – Em um primeiro momento será com os estados que começamos. Mas em breve o projeto vai para ser em nível nacional. Os Sincopeças e Sindirepas estão muito animados e querem nos ajudar. Isso era tudo o que a gente precisava e com certeza vai ser mais fácil agora.
Vale lembrar que o projeto começou nos estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco, além do Distrito Federal. O próprio trabalho de educação já foi para todos os lugares. Está se amplificando e outros estados já estão nos procurando. No dia 19 eu vou para Minas Gerais para uma grande reunião com autoridades sobre o assunto. Fui procurado pelo governo do Rio Grande do Sul, Rondônia, Maranhão.

JOB – Mês passado teve Automec. Que balanço você faz da feira?
ACB – Foi muito boa. Falei com empresas expositoras e uma única me disse que não estava muito bom. A maioria estava muito satisfeita. Por outro lado, foi uma grande pena que algumas das grandes empresas não puderam ir. E é claro que elas levam brilho, estatura para o evento, isso é inquestionável.
Do ponto de vista do Carro100% Caminhão 100% e para o GMA, esta foi a primeira vez que as entidades da reposição independente compareceram juntas em um evento da magnitude da Automec. Esse foi um grande sinalizador de que as entidades deram para o mercado, mostrando ao vivo e em cores, de uma maneira concreta, o quanto a reposição é um mercado importante para esse pessoal. E para o GMA e o Carro 100% Caminhão 100%, que não vende nenhuma peça mas vende idéias, foi um negócio maravilhoso. Recebemos muitas visitas e o público podia entrar no estande para ver os dois carros que colocamos lá, propositalmente para as pessoas verem o quanto a manutenção é importante
Tenho certeza de que o nosso estande chamava atenção porque o logo da nossa campanha é muito feliz, muito bonito. A cara dele é muito bacana e quem desconhecia procurou saber o que era e tivemos a oportunidade de mostrar o benefício da prevenção para as pessoas.

JOB – Por falar em logo, um reparador de Minas Gerais me questionou o que ele precisa fazer para usar o logo, pois gostou muito do Carro 100% Caminhão 100% e quer aplicar os conceitos na oficina dele.
ACB – Existem alguns requisitos que devem ser observados. Já existem oficinas que utilizam o logo do Carro 100% Caminhão 100% e o pré-requisito é que sejam oficinas certificadas. No site do Carro 100% Caminhão 100% (www.carro100.com.br) há algumas oficinas indicadas. Tomamos este cuidado porque queremos dar para o proprietário do veiculo pelo menos uma segurança de que quando a gente indica uma oficina, ela passou por um processo de avaliação padronizada. Pelo menos eu posso dizer: a oficina que estou indicando para você segue preceitos de organização, controle, educação e atualização dos profissionais, procedência de compra de peças etc. Se não fizermos assim, o Carro 100% Caminhão 100% pode virar um carro 70% ou 60% e nós não vamos fazer isso.

JOB – Já que entramos no tema certificação, a ASE BRASIL está de volta. Qual sua opinião a respeito?
ACB – No Carro 100% Caminhão 100%, na medida em que enxergamos que é importante a empresa ser certificada, também enxergamos que é importante o mecânico ser certificado. Isso é claro, não há dúvida. E sabemos também que a ASE americana é um órgão propagador de boas praticas de manutenção mecânica. O que eu não sei nesse momento é se a ASE BRASIL está fazendo essa divulgação porque ela tem algum convênio firmado com a ASE americana, o que não me parece que é. Sendo assim, não consigo olhar com bons olhos alguém que divulga um nome igual ao de um órgão dessa magnitude, sem ter um acordo fechado, um aval, um convênio. Então não dá para responder de uma maneira muito política. Tem de ser mais direto: não podemos apoiar um negócio desses.
Apoiamos a idéia de termos certificação de mecânico. Se quisermos mudar a cadeia de negócios, atualizá-la, para prestar um bom serviço à população, temos de olhar para isso com muito bons olhos, mas o outro lado de bons olhos é muita seriedade. Porque não dá para você começar um negócio desses, motivar um contingente de pessoas a passar por um processo que é desconhecido. Como é que vai capacitar o mecânico, como serão as provas, como será a avaliação, quem é o órgão certificador que está por trás disso? Esse órgão é acreditado? Essas perguntas precisam ser respondidas e até onde eu vi, não tem respostas ainda. Da boca do Bento ninguém vai ouvir um apoio para um negócio que começa assim.

JOB – Voltando a Automec, percebi um número muito grande de empresas estrangeiras, principalmente da China. Existem motivos para preocupação?
ACB – Em termos de negócios, não pode haver razão para nenhum receio. Importar e exportar faz parte do mundo dos negócios e é importante para crescimento e desenvolvimento. Transacionar com o mercado externo é algo que faz com que a empresa mude de patamar. Todo mundo cresce todo mundo aprende. Não há o temer por essa razão. O que precisa tomar cuidado é com a questão relacionada à qualidade das peças que estão entrando no Brasil.

JOB – Falsificação e pirataria?
ACB – Isso. Nem a Automec está livre disso, tanto que foi feita uma apreensão lá e fechamos um estande de uma empresa da China que copiou todo o catálogo de uma empresa brasileira, assim como as peças e a logomarca (veja detalhes na matéria de Capa, na página 61). Esse é um cuidado que temos e vamos demonstrar o tempo todo, para mostrar ao mercado (distribuidor, varejista e reparador) que comprar, vender e aplicar produto de qualidade também é responsabilidade de cada um. São todos elos importantes desse negócio e se não fizerem a sua parte vai entrar um monte de porcariada no Brasil.
Então, primeiro, do ponto de vista de negócio, nada a temer, porque nós também queremos ir para lá. O mundo global é esse. Agora, queremos fazer isso de maneira responsável. No mercado entra todo mundo.

JOB – E por falar em globalização, qual o posicionamento do Brasil em relação à China, EUA e Europa na manutenção preventiva?
ACB – Com relação à China, seguramente estamos na frente. O europeu é bastante disciplinado. Lá existe uma integração quase que perfeita entre homem, estrada, ambiente e carro. A estrada é um tapete, não tem buraco, os guard rails não estão amassados, não tem mato na rodovia, ninguém joga papel para fora, o carro está em ordem, e há uma razão. Na Europa, a maior parte das viagens, mesmo internacionais se faz de carro. As distâncias não são tão longas e se gasta tanto tempo para chegar ao aeroporto, fazer check in, esperar, pegar o vôo, desembarcar etc. que acaba compensando ir de carro. Não há limite de velocidade em boa parte das estradas (a não ser em períodos dela), e isso significa que o pessoal dirige utilizando todos os recursos do carro, que são bem cuidados.
Os Estados Unidos têm uma campanha chamada Be Car Care Aware que é muito similar ao Carro 100% Caminhão 100%. Eles tem problemas de manutenção, tanto que trabalham para fazer com que o motorista também cuide disso. O México tem um problema similar ao Brasil, mas é potencializado, é pior, e eles começaram um trabalho também arvorado nas bases do Carro 100% Caminhão 100%.

JOB – O que fazer com as velharias que andam por aí?
ACB – O Brasil, por ser um país pouco regulado, tem um contingente de veículos que ninguém conhece. Há estimativas de evasão fiscal de IPVA que passa de 2 bilhões de reais por ano. É uma estimativa, mas o fato é que tem muito carro por aí que não tem nome nem endereço, ninguém sabe onde está. Mas na hora que você anda por algumas estradas, você vê esses carros. Daí esse carro, que é meio clandestino, não tem manutenção nenhuma. É um rolo. São carros que estão por poluindo, causando problemas. São veículos que, quando o dono se enche, larga em qualquer lugar ou joga em local indevido, como uma represa, um manancial. Então temos um problema grave. Nos EUA e Europa não há esse problema.

JOB – Não está na hora de montar um projeto de reciclagem?
ACB – Não se fala muito disso, mas tem muita empresa se mexendo nesse sentido. O que vai acontecer quando uma lei de inspeção técnica veicular for aprovada e as inspeções começarem a reprovar veículos? Vão ter de sair de circulação. Mas como fazer isso? Não pode sair do jeito que saem hoje. E isso, as autoridades vão ter de ficar mais espertas no sentido de perceber que tem um trabalho bacana para ser feito, que vai gerar emprego. Porque essa tem de ser uma indústria responsável, esse carro tem de ser desmontado, as peças separadas. Não pode jogar o óleo, o combustível, tem de reciclar pneu, bateria, lataria, enfim, isso tem de ser estruturado. Então vai nascer um novo negócio. A Itália tem uma indústria muito bem estruturada nesse sentido e muita gente já foi lá ver como é que se organiza esse negócio. Isso vai ter de acontecer. Não dá simplesmente para começar a fazer a inspeção e depois falar legal e agora o que eu faço com isso?

JOB – Acabar com a isenção de impostos para carro velho é uma solução?
ACB – Por que a gente não provoca logo a inspeção e ela cria as condições para que os carros muito velhos, sem manutenção, saiam de circulação? Eu iria direto ao ponto para estimular o mercado a se posicionar de maneira diferente.

JOB – Oferecer mais crédito, facilidades de compra...
ACB – Sim. Veja o que está ocorrendo com o incentivo do imposto para veículos. O primeiro trimestre deste ano foi superior em 3.8% do que o primeiro trimestre do ano passado. Daqui a pouco alguém vai ter de explicar como é que estamos em crise em venda de carro, porque não está.