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Logan recebe roupa nova e maquiagem de dar inveja, mas sua mecânica continua a mesma


Com motor, câmbio e suspensão iguais, modelo ganha carinha bonita, mas no dia a dia mostrará que é o velho conhecido das oficinas independentes

Por: FERNANDO NACCARI E PAULO HANDA - 10 de abril de 2014

O Logan, desde sua chegada ao nosso país, em meados de 2007, foi um veículo que causou contestação. Esta devido à sua aparência que agradava praticamente a ninguém, pois, nele não havia nada de linhas de cintura alta, faróis alongados com olhar felino, ou traseira com detalhes agressivos, muito pelo contrário, o Logan era basicamente um veículo de cantos retos, com chapas de construção com quase nenhum vinco, faróis dianteiros pequenos para o tamanho do veículo e lanternas traseiras também simples.

Foto 1

Em seu interior, também nada de luxos, o modelo era rico em ‘plásticos duros’ e design era ainda mais simples que o do Clio. Seu maior trunfo, no entanto, era o ótimo espaço interno, tanto para os ocupantes da dianteira, quanto para os passageiros traseiros.

O porta-malas também era grande, com 510 litros, era um dos maiores da categoria e, carregar as compras do mês não era tarefa difícil.

Mas por quê tamanha simplicidade? Bem, na verdade o Logan não foi um veículo pensado exclusivamente para o nosso país (embora sua falta de atributos seja característico dos veículos que rodam por aqui), mas é um projeto da subsidiária da Renault na Romênia, a Dacia, que fez o veículo para que fosse útil, espaçoso, confortável, mas acima de tudo simples, para rodar em mercados considerados ‘emergentes’, como leste europeu, Ásia e América do Sul.

Com todos esses atributos, como era de se esperar, o Logan foi sucesso de vendas em todos esses mercados, incluindo o Brasil, pois atingia uma fatia de mercado daqueles que desejavam ter um veículo maior, mas não queria pagar muito por isso.

E, nesse quesito, o Logan sempre foi um carro justo. Com mecânica simples e conhecida, herdada dos coirmãos Clio (1.0 16V) e Sandero (1.6 8V e 1.6 16V), manter um Logan não era difícil. Até em questões que envolviam peças de funilaria, quando comparado a outros veículos de categoria similar como Fiat Siena e Volkswagen Voyage, um para-lamas, farol, para-choque ou portas, por ter custo de produção inferior, justamente por não serem componentes que contivessem muitos vincos, tinham preço final inferiores aos da concorrência.

Bom, mas o carro continuava feio. Foi então que o Logan, no segundo semestre de 2010, passou por um facelift, onde seus principais atributos (ou a falta deles), foram mantidos, mas ganharam visual um pouco mais moderno.

Foto 2

Os faróis dianteiros cresceram bastante e tinham detalhes mais arredondados. Junto a eles, a grade dianteira também aumentou, e chamava mais atenção para o conjunto. A lateral pouco mudou e as lanternas traseiras ganharam material de melhor qualidade e aparência mais moderna, mas mantendo ainda suas características de simplicidade.

Seu interior foi renovado, ganhando painel de instrumentos semelhante ao do Sandero e entradas de ar com detalhe cromado. Novos materiais foram empregados nos estofamentos, painel e painéis de porta. O espaço interno continuou excelente.

Mas mesmo com todas essas melhorias, o Logan ainda não era nenhum mister universo, e ainda tinha suas restrições para o público que prefere o carro mais bonito, ao invés de ver aquele que mais lhe oferece benefícios.

TUDO MUDOU

Mas enfim essa história de patinho feio acabou para o Logan. No fim de 2013 o modelo foi totalmente renovado pela marca, e tivemos o prazer de avaliá-lo.

Externamente, o modelo está totalmente diferente e nem de longe lembra as versões anteriores. Com dianteira de faróis alongados (mais ainda preservando detalhes mais retos) e grade que inicia afunilada, mas vai alongando próximo ao grande símbolo da Renault, são a nova identidade visual do veículo .

Foto 3

A traseira ganhou lanternas menores com detalhes cromados e com visual futurista, casam perfeitamente com o restante do veículo (FOTO 4).

O modelo que nos foi cedido para testes era de versão 2013/2014 com motor 1.0 16V Hi-Flex, o mesmo que equipa o Renault Clio, alvo de nossa avaliação na edição passada de nosso jornal.

Este pequeno propulsor  faz o Logan andar bem na cidade, com torque agradável e dirigibilidade segura, mas é claro que é necessário elevar um pouco sua rotação para as ultrapassagens.

Foto 4 e Foto 5

Isso na cidade, na estrada a coisa muda de figura. Em ultrapassagens, é necessário reduzir (em várias oportunidades) até a terceira, para alcançar o torque necessário para vencer os lentos e extensos caminhões. A tarefa, nesse caso, fica bem cansativa quando o tráfego está intenso.

Em subidas de serra o trabalho é ainda maior. Colocar em “segundinha” e jogar a rotação do motor aos 5.000rpm é algo que impressiona aos ouvidos mais desavisados. Dependendo de quem seja o passageiro, você irá ouvir comentários como: “Você vai explodir o motor”.

Brincadeiras à parte, mesmo submetido a esses esforços, o motor do Logan é bem valente e, como estamos acostumados a ouvir, “aguentou bem o tranco”.

O consumo de combustível também agradou. Considerando que o Logan é mais pesado que o Clio (1.070kg contra 871kg) suas medições se mostraram proporcionais as do hatch. Nossos testes apresentaram 8,7km/l (ciclo urbano) e 9,2km/l (estrada), quando abastecido com etanol, já o Clio apresentou 9,1km/l na cidade e 9,6km/l na estrada. Com gasolina, o Logan atingiu 12,6km/l (cidade) e 13,8km/l (estrada), enquanto o Clio atingiu a marca de 13,1km/l na cidade e 14,3km/l na estrada.

Dinamicamente, o Logan deu uma ‘encorpada’. Ficou aparentemente maior e com conforto acima do esperado, exceto pelos bancos dianteiros possuírem acento mais curtos que os do Clio. Consequentemente, em uma viagem longa, não proporcionaram o conforto que o pequeno hatch oferece. Isso senti na pele, pois após duas horas de viagem, notei um leve adormecimento na região posterior da coxa e panturrilha.

Fora isso, o Logan roda suave em vários tipos de terreno. A suspensão absorve bem os impactos e imperfeições da pista, transferindo pouco à cabine e aos ocupantes.

A ergonomia ao volante é excelente. O banco do motorista com regulagem de altura oferece ao motorista a melhor posição de dirigir. Os comandos do rádio ficam logo atrás do volante ao lado direito, com fácil acesso com a ponta dos dedos.

Foto 6 e Foto 7

Por falar em rádio, a versão que testamos contava com central multimídia de última geração, com recurso de GPS, câmera de ré, rádio AM-FM, leitor de mídia USB-Bluetooth, acesso à agenda telefônica, dentre outros.

O painel de instrumentos conta com três círculos de informações: à esquerda, marcador de rpm analógico e o indicador de troca de marchas GSI (Gear Shift Indicator); centralizado, marcador de velocidade também analógico; à direita, computador de bordo e mostrador de nível de combustível digital.

Completando a lista de facilitadores do dia a dia, o Logan conta com comandos internos de abertura do reservatório de combustível e do porta-malas .

Foto 8, Foto 9 e Foto 10

 NAS OFICINAS

Para uma melhor e mais qualificada avaliação do Novo Logan, levamos o veículo à oficina Hobby Car, localizada no bairro de Vila Vera, em São Paulo-SP, onde colaborou conosco o reparador Marcos Paulichi.

Em seu primeiro contato com o veículo, Marcos observou bastante, atentou-se aos detalhes e comentou: “Mecanicamente o carro continua o mesmo! Mudança mesmo só na ‘roupagem’ do veículo, com uma carroceria mais robusta, faróis maiores, tampa de abastecimento maior. Enfim o carro ficou mais encorpado. Na parte de reparação, continua como no modelo anterior, mecânica simples e nada que um mecânico experiente não possa fazer”.

Foto 11 e Foto 11A

Segundo Marcos, assim como observamos em nossos testes, o motor 1.0 16V do Logan tem desempenho prejudicado, principalmente em condições em que todo o torque é necessário: “Este motor não mudou muito do antigo para cá e quando estamos com o carro carregado ou com o ar condicionado ligado, fica difícil fazer esse carro subir ladeira. Se o cliente reclamar deste inconveniente, infelizmente teremos que explicar que é uma característica do carro”.

Foto 12

Sabemos que após vários problemas serem associados a motores com 16V na linha Volkswagen, Fiat e Peugeot, este tipo de motor caiu no desgosto do brasileiro e muitos têm restrição à sua aquisição e manutenção. Mas sabemos também que isso virou um folclore que não tem base técnica e, não é só porque um motor tem 16V que ele irá apresentar problemas. Referente à manutenção neste motor do Logan, Marcos comentou: “Um motor 16V merece uma manutenção mais criteriosa, principalmente com relação à lubrificação, mas neste aqui não vejo qualquer dificuldade no reparo ou em problemas relacionados a ele. Costumo utilizar óleo semissintético 10W40 e, quando trocamos o filtro do óleo, deve-se trocar também o anel de aço que faz a vedação, pois do contrário, podem ocorrer vazamentos pela região”.

No sistema de injeção, há algumas alterações importantes que visaram a facilidade de reparação e, principalmente, a economia de combustível: “No sistema de injeção de combustível notei que ele perdeu em tecnologia, voltando a ter bobina dupla e cabos de vela. As velas utilizadas são as NGK BKR6EK e possuem folga de 0,9mm”.

Dentro das mudanças que o Logan sofreu, Marcos acredita que o sistema de injeção não tenha sofrido alterações: “Este parece ser ainda o sistema Siemens que, aproximadamente aos 25.000km, o motor costumava começar a falhar e a dar trancos. Quando verificávamos a causa da falha, o sistema de ignição estava todo em ordem, exceto pelos cabos de vela, que costumavam apresentar o defeito. Como este sistema é bem parecido acredito que este inconveniente permaneça”.

Foto 13 e Foto 14

Outra falha de alta recorrência no Logan está no coxim inferior do câmbio: “Este, também conhecido como biela , costuma quebrar com frequência. Como continua igual, com certeza irá continuar quebrando, principalmente por esta carroceria ser mais pesada que a da versão anterior”.

No sistema de transmissão (FOTO 16), também há ocorrência de falhas: “Um problema que a Renault poderia ter corrigido está nos semieixos. As coifas do lado do câmbio (FOTO 16A) ressecam e trincam, chegando a romper. Neste momento, vaza-se o óleo da transmissão quase que totalmente e o pior que é o condutor não se atenta ao problema. Sem óleo do câmbio e conduzindo o veículo por muito tempo, há desgaste prematuro nas partes internas da transmissão, danificando o conjunto e chegando até a fundir”.

Foto 15, Foto 16 e Foto 16A

O sistema de embreagem do Logan também é simples, e não trará surpresas ao reparador: “O acionamento da embreagem é feito à cabo e possui regulagem. No câmbio, a troca e aferição do nível do óleo está bem simples, pois utiliza uma borboleta com fácil acesso e remoção”, disse Marcos.

O conjunto de suspensão do Logan é outro sistema que não surpreenderá. Mas isso é positivo por um lado, mas por outro os problemas continuarão: “Vejo que a suspenção é bem parecida com a do modelo anterior (FOTOS 17 E 17A) e, provavelmente os problemas que encontrávamos neste, como folgas e desgastes dos coxins superiores do amortecedor dianteiro e desgaste nas buchas de bandeja dianteira, continuarão aparecendo em nossas oficinas”.

O Logan avaliado, assim como os comercializados em nosso país, já atende às normas prescritas para o ano vigente. Dotado com ABS (FOTO 18) e airbag de série, é o que mais se destaca em comparação à versão anterior. Com relação aos componentes dos freios, nenhuma  novidade: “O sistema de freios dianteiros com discos ventilados e freios traseiros a tambor não foram modificados”, afirmou Marcos.

Foto 17, Foto 17A e Foto 18

 TEST DRIVE

O reparador Marcos, após toda a análise técnica do veículo, decidiu dar uma voltinha com o Logan e notou uma característica incômoda do modelo: “Quando o veículo está a mais de 80km/h, se abrirmos os vidros traseiros juntamente com o dianteiros, nota-se uma distorção no ar ambiente do habitáculo. Este, ao entrar na cabine, causa uma turbulência que causa mal estar aos ocupantes que estão na dianteira. Meu tímpano chegou a doer e só melhorou quando reduzimos a velocidade ou quando fechamos os vidros. Vale reforçar que isso ocorre com os quatro, ou com três vidros abertos e com velocidades acima de 80km/h”.

PEÇAS E INFORMAÇÕES

Estes são dois temas que fazem parte da rotina dos reparadores nas oficinas independentes. Quando um dos dois ‘falham’, o profissional fica ‘de arrancar os cabelos’ e coloca o carro e a marca em seu livro negro das recomendações.

O grande problema é que geralmente ambos falham, e têm muitos carros e montadoras em nosso país que os reparadores preferem não recomendar para evitar ter ‘dores de cabeça’ quando o modelo entra em sua oficina.

Sobre o ‘relacionamento’ de Marcos com a Renault, ele comentou: “As montadoras francesas em geral, mas destacando a Renault, em minha opinião, é uma das montadoras mais fechadas do mercado, seguido de perto pelas japonesas. Em se tratando de informações técnicas, as montadoras têm que entender que o reparador é o seu aliado e não concorrente, assim se ela quer vender mais carros, nos dê a ferramenta para trabalharmos bem com seus veículos e, assim, falaremos bem da marca. Se soubermos como reparar, o serviço se tornará mais eficiente e rápido e, com certeza, com essa facilidade falaremos bem do produto”.

Mas voltando a especificamente modelos da Renault, alguns esquemas de injeção até que conseguimos, mas quando se trata de carroceria, ABS, airbag, sistemas de multiplexagem, por exemplo, a coisa muda de figura. É ‘cada um por si e Deus por todos’. Perco muito tempo para conseguir as informações que preciso. Muitas vezes tenho que garimpar entre Sindirepa e colegas que atuem nas concessionárias, mas nem sempre o cliente entende o motivo da demora no reparo e nos disponibiliza tempo para este tipo de consulta”, acrescentou Marcos.

No quesito ‘peças’, o Marcos comentou: “Para este modelo aplicamos, em sua grande maioria, peças de reposição genuínas. Estas são bem mais caras que as de fabricantes independentes, mas sua confiabilidade é inigualável. Percebo que para algumas montadoras isso está se tornando uma prática, pois alguns anos atrás, o mercado de reposição era diferente, onde comprávamos muito em autopeças e componentes de fabricantes independentes. Li certa vez que as montadoras estão forçando determinadas marcas a pagar royalty para elas para colocarem as peças de reposição com sua marca. Não sei se isso é correto e se estão praticando isso mesmo, mas noto que as peças vendidas no mercado independente são a cada dia de mais baixa qualidade e de marcas totalmente desconhecidas”.

Marcos ainda completou: “Acredito que, ou os fabricantes de autopeças não estão divulgando as marcas de renome, ou as autopeças por conta de procurarem somente preços mais baixos, estão deixando de lado as peças melhores. É lógico que temos algumas marcas como as de filtros, embreagens, bombas d’água, bombas de combustível, entre outras, ainda de qualidade, mas existem muitas marcas que nunca ouvimos falar e realmente não vou arriscar colocar sem saber da sua qualidade. Diante disso, posso afirmar que adquiro 80% das peças em concessionárias e somente 20% em autopeças”.

“Só coloco peças que não conheço quando o cliente as traz, mas o deixo avisado que ele não terá garantia do serviço. Isso já aviso porque, na maioria das vezes, esta peça não chega a durar nem os três meses que a lei estipula. Assim, sem apresentar falha, para eu refazer o serviço, cobrarei outra mão de obra. As peças que mais me dão este tipo de problema são as da suspensão”, finalizou Marcos.

VEREDICTO

Com novo design, Logan ‘nasceu de novo’ e fará o mercado de sedãs balançar com mais esta opção que, além de econômica, agora é bonita.

Porém, do ponto de vista técnico, a mudança de visual do Logan não foi suficiente para fazê-lo se livrar de suas falhas recorrentes e o reparador continuará recebendo o veículo em sua oficina para os mesmos tipos de consertos, não recomendando este a seus clientes. Olhando pelo lado bom, pelo menos o carro continua igual por dentro (motor, câmbio e suspensão), e não trará surpresas na hora de executarmos qualquer serviço.