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Mais do que da paciência chinesa, a liderança do JAC T5 CVT foi fruto de um esforço da JAC Motors, ou da Jianghuai Automobile Co. Ltd, e de seu parceiro brasileiro, o grupo SHC, em produzir um carro com preço competitivo e excelente custo benefício – a versão top de linha do SUV da JAC, com câmbio automático e um vasto pacote de opcionais, sai pelo equivalente a versões de entrada de alguns concorrentes. E isso mesmo em um tempo que, no Brasil, os veículos importados são sobretaxados em 30 pontos de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). A pesada alíquota, diga-se, foi a responsável por abater gravemente esse comércio no País. Em abril, o setor dos veículos importados registrou uma baixa de 28,4% em relação a abril de 2016. Apesar disso, técnicos chineses e brasileiros não desanimaram e rodaram mais de 600 mil quilômetros durante alguns meses para a realização de ajustes no T5 CVT.
O resultado do esforço sino-brasileiro foi um automóvel ao gosto dos consumidores nacionais. Algumas novidades introduzidas no SUV especialmente para o público daqui foram uma nova calibração da Unidade de Controle da Transmissão que gerou maior agilidade de resposta aos comandos do acelerador, uma suspensão mais forte, câmbio com relação de marchas mais curtas, tela de central multimídia de oito polegadas com função de espelhamento e uma cabine com um tratamento acústico que a deixou mais silenciosa.
Obviamente será preciso mais do que isso para assegurar um sucesso no mercado automotivo, principalmente no segmento dos SUVs, o mais concorrido do mundo. E alguns dos fatores para medi-lo são a manutenção, durabilidade e resistência do veículo, além da reposição de peças e o acesso a informações técnicas – sem falar, claro, da rede de concessionárias e valor de revenda. Some-se, também, campanhas na mídia para fixar a imagem da montadora e do veículo junto ao público, embora as verbas de marketing sejam as primeiras a cair em tempos bicudos como esse. Pois exatamente para antever algumas dessas soluções e, também, problemas que cercam o lançamento da JAC Motors, a reportagem do jornal Oficina Brasil rodou por alguns dias de maio com um T5 CVT pelas ruas de São Paulo (SP) e o submeteu à análise de uma rigorosa equipe de reparadores independentes. O SUV compacto foi impiedosamente examinado por...
Ademir Kushima (D) e João Carlos Silva dos Santos (E) (foto 1). Aos 60 anos, o empresário e reparador Ademir completou em 2017 exato meio século de vivência em oficinas. Ainda menino, ele começou a aprender o ofício com o pai na cidade de Rinópolis, localizada no oeste paulista e onde a colônia japonesa se concentrava fortemente na agricultura. A família de Ademir, no entanto, tinha a mecânica como meio de sobrevivência. No início dos anos 1970, ele se mudou para a capital para fundar a Mack Auto Service em 1972 no bairro da Saúde, zona sul da cidade, onde está até hoje e tem um giro aproximado de 150 veículos por mês. “Com exceção de transmissão automática, que terceirizamos, e a parte elétrica, fazemos de tudo: injeção, freio, suspensão etc. O importante é não deixar de atender nenhum cliente”, assegura Ademir. Entre os 10 colaboradores de sua oficina está o baiano de Entre Rios João Carlos Silva dos Santos. Filho de caminhoneiro, João, de 31 anos e reparador desde os 16, ainda se lembra quando o pai arranjou para ele uma colocação em uma oficina mecânica. “Comecei varrendo o chão”, recorda o hoje gerente que fez cursos de reparação automotiva no Senai, na Bosch e onde mais apareça alguma oportunidade. “Se você não investir em conhecimento está fadado a sofrer nesse ramo”, argumenta João, que trabalha há 12 anos com Ademir e é uma espécie de seu braço direito.
Osmar Brunacci (foto 2). A história de vida desse empresário, engenheiro mecânico e administrador de empresas de 55 anos se confunde com a história da reparação automotiva independente do paulistaníssimo bairro da Mooca, localizado entre o seu perímetro central e o início da zona leste de São Paulo. Aliás, o sotaque mooquense do reparador – que se não deixa escapar um ôrra meu tem uma leve entonação italianada – não deixa dúvida de sua ascendência. Aos 10 anos de idade, ele já frequentava a oficina fundada em 1963 pelo tio e pelo pai, a Irmãos Brunacci, e que está há 54 anos no mesmo endereço. “Esse prédio tem quase a minha idade”, aponta Osmar, que narra as transformações de sua clientela através desse período. “Nos anos 1960 e 1970, a Mooca tinha muitas indústrias e a nossa clientela era formada por suas frotas e seus funcionários. Depois as empresas se mudaram, os galpões e terrenos ficaram vazios e de anos para cá eles foram redescobertos pelas construtoras. O bairro começou a se verticalizar com muitos prédios e a chegada de uma nova classe média que é hoje quem frequenta nossa oficina, especializada na mecânica geral da linha leve”, descreve.
Daniel Kawashima (foto 3). Graduado em Mecânica Industrial pela Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas de Mogi das Cruzes (SP), o reparador tem 39 anos de idade e 21 de experiência no mercado da reparação automotiva. Há 11 anos Daniel trabalha na oficina Super G, empresa estabelecida em 2001 no bairro da Saúde em São Paulo e onde iniciou uma ascendente caminhada profissional. Inicialmente ele foi contratado como mecânico e há sete anos aceitou o convite para se tornar um dos sócios da empresa. O interesse pela profissão ajudou. “Desde criança gostava de desmontar e remontar o que via pela frente e me interessava pela reparação. Ao longo da vida também fiz muitos cursos relacionados com a mecânica, como o de carburação, injeção eletrônica, multímetros, scanner e outros”, afirma o gerente que conta com seis colaboradores em sua oficina que tem um giro mensal de 130 veículos. “Fazemos aqui toda a parte de geometria, suspensão, motor, embreagem, freio, cabeçote, parte de corrente etc e, felizmente, não sentimos a crise. Em alguns dias há uma oscilada, mas o movimento não para”, garante Daniel.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
A aparência exterior do JAC T5 CVT ainda se inspira – para dizer o mínimo – em outros veículos, como o Hyundai ix35, com exceção da exagerada grade frontal (foto 4) um tanto superdimensionada para o veículo. No interior, o painel interno (foto 5) também remete ao SUV coreano, assim como o volante (foto 6) é claramente copiado do Chevrolet Cruze, apenas com a estrela de cinco pontas no lugar da gravatinha. A chave, por sua vez, remete a alguns modelos da Audi. Fora esses detalhes, porém, percebe-se uma evolução na busca de um conceito próprio por parte da JAC. Se o acabamento interno ainda abusa do plástico duro (foto 7) – como veículos de outras montadoras, o que não chega a ser um defeito chinês – esse ao menos não tem mais rebarbas nem o odor de plástico reciclável que caracterizou veículos de montadoras daquele país. O aspecto é de uma montagem bem cuidada.
“O porta-malas de 600 litros é bastante espaçoso” (foto 8), destaca Osmar Brunacci, que observou os detalhes da costura em vermelho do volante (foto 9) e dos bancos em couro ecológico que conferem um ar esportivo ao veículo. Destaque também para as generosas dimensões da tela multimídia de oito polegadas (foto 10). O aparelho permite o espelhamento de um smartfone, tem uma boa câmara de ré com sensor de estacionamento e, no entanto, peca por não oferecer o serviço de GPS. “O design do veículo, acabamento, painel, volante e, principalmente, o conforto interno me agradaram, mostrando que os chineses estão se aproximando do gosto dos brasileiros”, resume Ademir Kushima. “Chamo a atenção para o apoio central para o braço e a lateral das portas estofadas. São caprichados”, completa João Carlos. “Destaco a ergonomia e a boa posição de dirigir (foto 11), embora o assento dos bancos me pareça mais curto do que o desejável”, afirma Daniel Kawashima. Uma reclamação comum entre os reparadores foi a visão prejudicada pela janela traseira através do retrovisor interno. As grossas colunas laterais impedem uma visão melhor. “Teremos forçosamente que concentrar a visão pela câmara de ré ao fazer qualquer manobra que necessita da visão traseira”, completa Daniel.
AO VOLANTE
Unanimidade entre os reparadores, a posição de dirigir é um dos pontos altos do JAC T5 CVT além do baixo ruído interno na cabine. “É confortável e transmite a sensação de segurança e firmeza”, define Ademir Kushima. O motor 1.5 deu a impressão de não corresponder ao porte do veículo, de resto confirmada pelo desempenho demonstrado nas ruas da zona sul da cidade de São Paulo. “Ele é um pouco lento nas retomadas, embora na velocidade final fique dentro do esperado”, afirma João Carlos. “É um pouco chocho de arrancada e esse desempenho tem mais a ver com a pouca potência do motor do que propriamente com o câmbio CVT”, interpreta Osmar Brunaci. “Sua aceleração eletrônica tem um tempo de resposta ou gap diferente, mas depois que o motorista se acostuma não há problema”, rebate Daniel, para quem o SUV trabalha com uma rotação baixa, por volta dos 1.500 rpm, visando a economia de combustível. “Quanto menos giro mais economia. Se condutor conseguir manter o motor sempre nessa faixa de giro obterá um bom ganho. Essa característica é mérito do câmbio CVT que escalona melhor as marchas”, explica.
Outra qualidade do JAC T5 CVT foi a maciez do rodar. “Sua suspensão aparenta estar ajustada para o relevo das nossas ruas. Sem ser mole demais dá a impressão de ser bem calibrada”, afirma João Carlos, para quem fala mais alto a vocação familiar do veículo. “É um carro agradável de dirigir no dia a dia. Dou nota 9,5 à sua dirigibilidade e só deixo de dar um 10 pela pouca visibilidade traseira. Para o dia a dia urbano não é necessária uma potência maior”, justifica. “Mesmo em ruas de calçamento de pedra ele apresentou um rodar macio, apontando que houve uma adequação. Para não dizer que não ouvi nada de estranho percebi apenas uma pequena vibração do escapamento e uma batida da suspensão no final do curso quando o carro passa por lombadas. Isso poderia ser evitado com um novo desenho das molas e amortecedores. Mas não chega a comprometer o conforto e a segurança do carro porque, afinal, o problema não está tanto no carro e, sim, no nosso piso. No quesito dirigibilidade, o JAC foi bem”, pondera Osmar.
MOTOR 1.5 16V VVT JETFLEX
O motor do JAC T5 CVT é o mesmo que equipa os J3, J5 e o T5 de transmissão manual, com quatro válvulas por cilindro e variador de fase no comando de admissão (VVT, Variable Valve Timing) que rende potência máxima de 125 cv a gasolina e 127 cv com etanol, a 6.000 rpm. Essa tecnologia de comando variável de válvula permite uma variação no tempo e no curso das válvulas e, com ele, essas abrem de acordo com a necessidade do motor. Em baixas rotações, o sistema escolhe a configuração mais apropriada.
O torque máximo é de 152 Nm (gasolina) e 154 Nm (etanol), ambos a 4.000 rpm. Com o sistema bicombustível JetFlex, o motor dispensa o uso do tanquinho de gasolina para as partidas a frio. Abaixo dos 2 mil rpm, ele tem um torque fraco, de onde se conclui que uma força do diferencial mais curta faria com que as seis marchas virtuais do câmbio CVT ficassem com um melhor escalonamento, proporcionando uma energia extra nas retomadas de velocidades. O lado positivo disso é que o T5 CVT se destaca no quesito economia rendendo até 12,2 quilômetros por litro de gasolina na estrada. Nada mal para um SUV de seu porte.
“O carro tem mais cofre do que motor (foto 12) e para o reparador isso é tudo de bom, pois espaço não falta para trabalhar. Faz até imaginar que, no futuro, a JAC possa apresentar uma versão desse SUV com um motor maior e mais potente”, acredita Osmar Brunacci. O reparador ainda destacou a praticidade da arquitetura do motor e da disposição de suas peças em comparação a outros veículos. “Em um Jetta ou Tiguan, o reparador precisa desmontar metade do carro para ter acesso a um compartimento do motor e aqui não, está tudo à mostra, como o coxim hidráulico do motor (foto 13) e o motor de partida (foto 14). A flauta e os bicos injetores (foto 15) também estão bem colocados no cabeçote, facilitando o acesso, a retirada e a manutenção. Enfim, vejo muita praticidade aqui, sem sequer a necessidade de ferramentas específicas. Esse carro certamente terá uma boa reparabilidade. Isso significa mão de obra mais rápida, menos tempo de oficina e mais economia para o cliente”, argumenta.