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Honda HR-V 1.8 LX - SUV mais vendido do país passa pela avaliação de reparabilidade nas oficinas


Reparadores elogiam o projeto e conjunto técnico do veículo, mas não aprovam a postura da montadora, que continua distante das oficinas independentes

Por: Jorge Matsushima - 24 de junho de 2016

A história da Honda no Brasil começa em 1971, com a importação de motocicletas, que logo em seguida seriam produzidas na planta industrial sediada na Zona Franca de Manaus - AM, pela Moto Honda da Amazônia Ltda, que até os dias atuais permanece soberana como a maior produtora de motocicletas do país.

Mas foi no final dos anos 80, e começo da década de 90, que a marca conquistou o respeito, a admiração e o coração dos brasileiros, primeiro com a conquista do tricampeonato mundial de fórmula 1 por Nélson Piquet, a bordo de um Williams Honda em 1987; e principalmente com os 3 inesquecíveis títulos mundiais conquistados pelo mito Ayrton Senna da Silva, em 1988, 1990 e 1991, a bordo da lendária McLaren MP4 equipada com motores Honda.

E na carona do prestígio alcançado por estas conquistas memoráveis, em 1992 a Honda Automóveis do Brasil Ltda iniciava as suas operações no país, primeiro com a importação e distribuição dos modelos Civic e Accord, e em 1997, inaugurava a sua planta industrial localizada na cidade de Sumaré - SP. Desde então, a Honda vem se consolidando no mercado brasileiro, ampliando gradativamente a sua gama de modelos, alcançando um status de produtos de excelência, e conquistando a confiança dos consumidores. O crescente aumento no volume de vendas justificou investimentos para ampliação da capacidade produtiva, e uma nova planta industrial encontra-se concluída e pronta para operar, na cidade de Itirapina – SP. A crise não afetou as vendas da Honda em 2015, mas a montadora nipo-brasileira mantém a cautela, e aguarda um cenário econômico mais claro e definido, antes de inaugurar a sua nova unidade.

Apesar do cenário caótico para muitos de seus concorrentes, a Honda mantém um ritmo forte, em boa parte graças ao estrondoso sucesso do HR-V, que já estreou em 2015 como o líder do segmento de SUV´s, e ostenta em algumas cidades, uma fila de espera de até 4 meses para ser entregue. No ano passado foram mais de 51.000 unidades vendidas e emplacadas.

A garantia de fábrica é de 3 anos sem limite de quilometragem, ou seja, até 2018 teoricamente todos os HR-V’s vendidos estarão cobertos. Mas na prática, pesquisa do Instituto Roland Berger comprova que, por razões diversas, uma parcela dos consumidores acaba migrando para as oficinas independentes, e para antecipar uma visão técnica deste modelo, convidamos experientes reparadores cadastrados no Guia de Oficinas Brasil para registrarem as suas impressões, e são eles:

Hélio Olsen (foto 1), 48 anos, 35 anos no segmento. Começou aos 13 anos na oficina do pai, que trabalhava com reparos eletrônicos (rádio e televisão), e que também entendia de mecânica automotiva. Com a experiência acumulada em eletrônica, Hélio foi migrando para a mecânica, trabalhou em concessionárias e oficinas independentes, foi instrutor do Senai por 8 anos, e finalmente montou a sua oficina, a Fire Birds, localizada na cidade de Piracicaba-SP, onde trabalha junto com a esposa Marilda.

José Carlos Massa (foto 2 dir.), 60 anos, 44 anos de experiência no setor, sendo 16 anos trabalhando em concessionárias, onde adquiriu muita experiência em diversos treinamentos nas montadoras, e 28 anos como empresário, à frente de sua oficina, a Center Car Serviços Automotivos, localizada na cidade de São Caetano do Sul – SP.

Roberto Nunes, (foto 2 esq.), 53 anos, reparador, trabalha desde os 15 anos no segmento. Foi colega de trabalho de José Carlos em algumas concessionárias e oficinas, e trabalha na Center Car há 4 anos.


Wagner Gimenez (foto 3), 50 anos, empresário, 29 anos no segmento automotivo. Começou cedo como vendedor ambulante, e nas férias trabalhava em um dos clientes, que era dono de uma oficina mecânica. Este cliente um dia precisou ir para Portugal, e pediu para Wagner tomar conta da empresa, o que ele fez com muita dedicação durante 4 anos até o retorno do ‘patrão’. Em seguida, com a experiência acumulada, partiu para o empreendimento próprio, a Autofix Serviços Automotivos, inaugurada em 1992 e localizada no bairro do Brooklin Paulista em São Paulo – SP. Fez muitos cursos no Senai e com fabricantes, e se preocupa também em manter sua equipe sempre atualizada.

 

Primeiras impressões

  

Hélio começa a avaliação com um comentário bem humorado: “esse carro na verdade é um crossover (foto 4), mas no Brasil, para seguir a moda, ele virou um SUV, e está fazendo muito sucesso, principalmente porque é mais alto. É da natureza do ser humano querer se sentir um pouco por cima, né?  E as mulheres também gostam de carros mais altos porque transmitem uma sensação de segurança.”

Wagner comenta: “esse é um carro global, que apesar da crise, está vendendo muito, e acredito que este sucesso é decorrente de uma soma de fatores como o belo design bem atualizado, excelente acabamento, e a confiabilidade da marca Honda no mercado.”

Todos elogiam o conforto e amplo espaço interno, começando pela boa ergonomia do banco do motorista com regulagem de altura, volante com ajuste de altura e profundidade e ampla visibilidade (foto 5). O design do interior, de muito bom gosto, e a qualidade dos acabamentos também foram aprovados pelos técnicos.

José Carlos e Roberto chamam a atenção para o excelente porta malas com 451 litros de capacidade (foto 6), e comentam: “os passageiros do banco de trás contam com bom espaço (foto 7), e não precisam ficar com as pernas encolhidas. Outra grande ‘sacada’ é a versatilidade do banco traseiro, que pode escamotear o encosto (foto 8) ou o assento (foto 9), igual ao Honda Fit, que possibilita inúmeras configurações, e dá até para carregar uma bicicleta dentro.”

Hélio analisa o posicionamento de mercado: “esta versão LX é a de entrada, e o preço sugerido de R$ 84.900,00 é caro, mas ainda fica numa faixa de mercado que tem bastante consumidores, diferente por exemplo do CRV, que já fica numa faixa mais restrita.”

José Carlos aprova o ‘pacote’ e anota: “para uma versão de entrada, ele é bem completo, mas sem sofisticação. Transmissão CVT, direção elétrica, ar-condicionado, rádio com USB e bluetooth, trio elétrico. E as mulheres vão gostar do quebra-sol com espelhinho, iluminação individual, e cheio de porta trecos para tudo que é lado.”

  

Dirigindo o HR-V

 

Wagner elogia a posição de dirigir (foto 10), com excelente ergonomia e conforto e narra algumas percepções: “a visibilidade para a frente é ótima, com interferência mínima da coluna A, e os retrovisores são bem amplos e bem posicionados. A suspensão é firme, mas não chega a ser dura como a do Civic, e absorve muito bem as imperfeições do piso, sem aquelas batidas de final de curso, típicas da Honda. Mesmo em lombadas, buracos e ondulações do tipo ‘costela de vaca’, não ouço ruídos internos, e isso mostra que houve uma boa evolução na acústica e projeto da suspensão.”

O freio de estacionamento com acionamento elétrico e a função ‘Brake Hold’ (foto 11) foram aprovados por unanimidade, pois facilitam a vida dos motoristas nas saídas em ladeira, e mantêm o freio acionado e as luzes (de freio) acesas, muito útil no anda e para dos congestionamentos urbanos. Para sair, basta acelerar levemente que o freio é liberado.

Outro item que chamou a atenção dos reparadores é a transmissão CVT, com variação contínua, que possui as opções P (estacionamento), R (ré), N (neutro), D (Drive para condução normal), S (Sport para condução com melhor aceleração/efeito freio motor/subida e descida de ladeiras), e L (Low  para freio motor mais intenso/subida e descida de ladeiras íngremes).

José Carlos elogiou a progressividade nas acelerações, sem trancos, com pouca oscilação nas rotações do motor, e aumento rápido da velocidade, e descreve: “parece um carro de uma marcha só, e você não percebe a variação da relação. Mas ele não fica escorregando como os CVTs antigos, e se ajusta rapidamente a cada situação. Estou impressionado com o silêncio no interior do carro, sem barulho de suspensão ou de acabamentos soltos.”

Hélio foi o único dos entrevistados que pôde testar o carro na estrada, e anota as suas impressões: “o motor i-VETEC 1.8 e a transmissão CVT formam um conjunto muito eficiente e agradável, com boas acelerações e retomadas eficientes, bem mais esperto do que um CRV ou Renegade Flex 1.8, que são mais ‘lerdos’. Apesar da altura do carro e as rodas aro 17”, o carro é muito estável, firme e confortável ao mesmo tempo, e a direção elétrica progressiva (EPS) garante uma boa sensação de controle, tanto em baixa como em alta velocidade.”

Wagner e Hélio elogiam também o recurso de indicação de condução econômica (foto 12), que é um contorno luminoso em torno do velocímetro, que fica verde para uma condução econômica, verde claro para condução normal, e branco para alto consumo de combustível.

E ambos comentam: “a transmissão CVT está calibrada para aproveitar da melhor forma possível o torque e a potência do motor, equilibrando consumo e desempenho. A 120 km/h por exemplo, o motor trabalha a apenas 2.000 rpm. E o assistente de consumo ajuda o motorista a se reeducar, e se adaptar a um modo de condução mais econômico.”

Segundo a metodologia padronizada do Inmetro (NBR 7024) no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, o HRV conquistou a classificação “A” e está entre os mais eficientes dentro de sua categoria (“C” na geral), e os números de consumo e emissões apurados foram:

Consumo

Etanol

Gasolina

Ciclo urbano

7,1 km/l

8,5 km/l

Ciclo estrada

11,0 km/l

12,0 km/l

Energético

1,96 MJ/km

Poluentes

NMHC

0,016 g/km

CO

0,122 g/km

NOx

0,028 g/km

Gás de efeito estufa (somente gasolina)

CO2

  120  g/km

 

 

Motor 1.8 i-VTEC SOHC 16V Flex One

 

O eficiente propulsor 1.8 (foto 13) já é conhecido pelo reparadores, que constataram satisfeitos que o posicionamento no cofre do motor do HR-V favoreceu os acessos aos principais componentes envolvidos nas rotinas de manutenção preventiva. Nas tabelas acima, alguns números deste motor:

Hélio aponta algumas particularidades: “este motor é todo feito em alumínio (cabeçote, bloco e cárter), e utiliza componentes de longa durabilidade, como as velas de iridium, com trocas previstas a cada 60.000km, corrente de comando que vai durar bem acima dos 100.000km, e a correia de acessórios que também tem troca recomendada aos 60.000km. Aqui pela parte da frente (foto 14) você tem acesso livre para as bobinas e velas, válvula EGR, sonda pré-catalisador e alternador. A regulagem de válvulas também fica bem facilitada.”

Na parte de trás do motor, Wagner faz uma comparação importante: “para acessar os injetores e a flauta no New Civic, o espaço é bem apertado e sem visão. Aqui no HV-R ficou bem melhor (foto 15), e agora é possível efetuar inclusive rotinas de testes e diagnósticos. O acesso ao corpo de borboletas (foto 16) também ficou excelente!”

  

Pela parte de baixo do motor, José Carlos e Roberto descrevem: “o motor tem uma cobertura plástica que precisa ser removida para a troca de óleo. A fixação (da cobertura) me parece um pouco frágil, com presilhas plásticas do tipo utilizada em acabamento (foto 17), e com o tempo vão quebrar ou cair. A posição do bujão do cárter e do filtro de óleo (foto 18) facilita bastante a troca. Daqui também fica fácil acessar o compressor do ar-condicionado, bomba d´água, sonda pós-catalisador e sistema de arrefecimento.

O componente que vai dar mais trabalho é o motor de arranque, pois o escapamento e eixo estão na frente.”

Wagner aponta outras facilidades: “aqui do lado esquerdo do motor (foto 19), a troca do filtro de ar, bateria, relés e fusíveis, e acesso ao módulo é bem simples e tranquilo. Mas se precisar fazer uma intervenção no cilindro mestre ou servofreio (atrás da caixa do filtro de ar), aí vai dar um pouco mais de trabalho.”

E Wagner prossegue: “do lado direito do cofre (foto 20), temos um ótimo acesso ao conjunto ABS, alternador, troca da correia de acessórios e pontos de manutenção do ar-condicionado.”

E no lado direito, fica também o item sobre o qual Hélio e Wagner fazem um alerta importante: “o coxim hidráulico do motor é um item que quebra com muita frequência no New Civic (na faixa de 60 a 70.000km dependendo do tipo de uso), e a peça custa perto de R$ 800,00 na concessionária, o que é um absurdo! Por enquanto não há alternativas no mercado paralelo. Este é um item para gente observar atentamente se a Honda solucionou o problema. A vantagem aqui no HR-V é que o acesso para a troca deste componente é bem melhor, e vai exigir menos tempo para a troca.”

 

Hélio criticou ainda a dificuldade para visualizar o nível do reservatório de líquido de arrefecimento, posicionado ao lado da bateria (foto 21), pois trata-se de um item importante, e sem o uso de uma lanterna, fica difícil conferir.

José Carlos elogia o sistema FlexOne, que dispensa o uso do tanquinho de gasolina para partida a frio.

 

Transmissão CVT

 

Hélio avalia e comenta: “as primeiras versões do CVT, que equipavam o Fit de primeira geração (2007/2008) apresentavam mais problemas de desgaste e manutenção. O New Fit, da segunda geração, passou a usar a transmissão automática convencional, e agora o Novo Fit (terceira geração) voltou a usar o CVT, e dá para ver aqui no HR-V, tanto pelo comportamento do carro, quanto pelo compacto conjunto (foto 22) que se trata de um sistema completamente diferente.

E Hélio prossegue: “a principal recomendação é fazer a troca do fluido da transmissão dentro da quilometragem recomendada pela montadora, no caso a cada 40.000 km (conforme manual de manutenção do carro), e deve-se aplicar sempre o fluido genuíno, que segundo o manual do fabricante é o HCF-2. Feito isso, é um sistema de longa durabilidade, que dificilmente precisará passar por uma manutenção corretiva.”

Wagner e José Carlos ratificam as dicas do Hélio, e consideram que se a troca do fluido for feita nos prazos recomendados, as manutenções serão mínimas, e observam que, em caso de necessidade de remoção e recolocação da compacta caixa CVT para manutenção, os espaços são tão amplos que não há necessidade de remoção do agregado.

 

Freio, Suspensão e Direção

 

 

A suspensão dianteira (foto 23) é independente do tipo McPherson com barra estabilizadora, e o freio a disco ventilado conta com sistemas ABS (antibloqueio) e EBD (distribuição eletrônica de frenagem).

Na traseira a suspensão é semi-independente com barra de torção (foto 24), e o freio utiliza discos sólidos e conta com acionamento eletrônico do freio de estacionamento.

O sistema conta ainda com o recurso VSA (Vehicle Stability Assist) ou controle de estabilidade e tração.

Hélio registra as suas observações: “o sistema de freios é bem robusto, e as pastilhas são grandes, bem dimensionadas para o porte do carro. A manutenção nos sistemas de freio e suspensão são bem tranquilas, sem maiores dificuldades. O alerta fica para a troca das pastilhas traseiras, que exigem o uso de um scanner para fazer o correto recolhimento das pinças. Outro cuidado recomendado é observar atentamente onde estão posicionados os sensores dos sistemas de controle eletrônico de frenagem e estabilidade, e manuseá-los corretamente a cada manutenção.”

José Carlos e Roberto elogiam um detalhe que faz muita diferença na troca dos amortecedores traseiros, e comentam: “olha que bacana este acesso à porca superior do amortecedor (fotos 25A e 25B)! Essa tampa dispensa a remoção dos acabamentos laterais do porta-malas. Na dianteira a troca de buchas, bieletas, bandeja, pivô que é parafusado, homocinética, pastilhas, cavalete, cubo, tudo tranquilo e simples.”

A caixa de direção é mecânica (foto 26), e conta com assistência elétrica progressiva (EPS) instalada na coluna de direção.

Wagner comenta: “a direção elétrica é um sistema que proporciona maior suavidade e melhor controle do volante, gera menos manutenção, e melhora a eficiência do motor, pois tem uma polia a menos para roubar potência. Esta separação da caixa e do motor elétrico, que fica na coluna, ajuda a reduzir os custos de manutenção, pois a parte que fica mais exposta e sujeita a impactos e desgastes é apenas um caixa mecânica, que tem menor custo de reposição.”

   

Outros itens

 

Analisando por baixo (foto 27), Hélio observa que a plataforma é nitidamente compartilhada com outros modelos Honda (City e Fit), e chama a atenção para a qualidade no acabamento.

José Carlos gostou do escapamento correndo pelo lado direito do assoalho, com um bom isolamento térmico em todo o percurso, e como o silencioso é feito em inox, projeta que vai demorar bastante para ser substituído.

Wagner aprova a facilidade para troca do canister e do filtro de combustível (foto 28), que fica bem protegido.

José Carlos conclui que, pela posição centralizada do tanque, com 51 litros de capacidade, o acesso à bomba de combustível é feito por cima, desmontado o console central. Mas considerando que o filtro de combustível é externo, acredita que dificilmente será necessária uma intervenção na bomba. A troca de lâmpadas de faróis e lanternas conta com bons acessos e tampas estratégicas que facilitam a troca.

Hélio finaliza aprovando a opção pelo estepe temporário dentro do porta-malas, que ocupa menos espaço e fica protegido contra furtos.

 

Informações Técnicas

 

Hélio, José Carlos e Wagner relatam que as informações técnicas oferecidas pela Honda e seus concessionários é zero, e lamentam esta postura fechada da Honda do Brasil.

Hélio comenta: “eles (montadora) priorizam somente o atendimento da rede concessionária, e eu acho isso muito errado, pois nós somos parceiros deles, e não concorrentes. A maior parte dos clientes Honda estão nas oficinas independentes, principalmente os carros mais rodados, mais antigos. Quando a gente recebe informações da montadora, a gente consegue trabalhar melhor, fazer uma aplicação mais eficiente, deixando o cliente da marca mais feliz e satisfeito, e quanto mais informações eu tenho da montadora, passo a conhecer melhor o produto, e claro, vou falar bem dele para os meus clientes. É por essa razão que montadoras como a Chevrolet, Fiat, Volkswagen, Ford, Mitsubishi e até mesmo a Citröen estão cada dia mais abertos aos reparadores independentes. Todos saem ganhando com isso. Nos países desenvolvidos, praticamente todas as montadoras disponibilizam informações para os reparadores independentes, afinal não existe uma rede concessionária capaz de atender todos os carros que ela colocou no mercado.

José Carlos e Wagner também discordam desta postura da Honda, e registram: “repare que as oficinas independentes não ficam disputando ou tentando roubar clientes da concessionária, por isso não nos vemos como concorrentes. E quando o cliente Honda escolhe a nossa oficina, a gente procura atendê-lo bem, e resolver o problema com a melhor qualidade possível. Mesmo sem informações da montadora, a gente corre atrás, é obrigado a investir em equipamentos, literatura técnica, procurar ajuda com os amigos do setor. Ainda bem que a maioria das montadoras e concessionárias já nos tratam como parceiros de mercado, e a cada dia novas portas estão se abrindo.”

 

Peças de reposição

 

Apesar de atuarem em cidades distintas, Hélio (Piracicaba), José Carlos (São Caetano do Sul), e Wagner (São Paulo), relatam as mesmas dificuldades, que é a falta de disponibilidade de peças genuínas na concessionária para pronta-entrega, e uma política comercial desfavorável, que trata o reparador independente como se fosse um consumidor final de balcão.

Hélio comenta: “para comprar e vender peças corretamente, é preciso dar entrada e saída nas notas fiscais, e isso gera uma carga tributária grande, mas a concessionária Honda local não oferece condições comerciais para isso. Isso dificulta a nossa vida e a do cliente Honda. Sem contar que nada é a pronta-entrega, só por encomenda, e a espera vai de um a três dias, mesmo para itens de giro, e os penalizados novamente são: a oficina, e o cliente que fica sem o carro por indisponibilidade das peças genuínas.

Wagner tem os mesmos problemas em São Paulo, e comenta: “nossa oficina, apesar de ter cadastro e comprar regularmente, tem o mesmo desconto que uma pessoa física teria no balcão, sem contar que ele vai pagar em 3 vezes no cartão de crédito, e a gente em uma única parcela. Dá para entender um negócio desses? E sobre a entrega, tirando as peças de alto giro como pastilhas e filtros, só por encomenda, com prazo de entrega de 2 a 3 dias.”

Em São Caetano do Sul, José Carlos enfrenta os mesmos problemas, e declara: “por estas dificuldades relatadas, nós priorizamos a compra de peças com qualidade original no mercado paralelo, pois os preços são mais acessíveis e a logística de entrega é bem mais ágil. Na concessionária compramos apenas itens cativos, ou alguns itens técnicos em que a qualidade da peça genuína seja comprovadamente superior.”

Os reparadores lamentam ainda a ausência de acesso ao catálogo eletrônico de peças Honda, e Hélio comenta: “outra postura difícil de entender por parte da Honda e das concessionárias. As principais montadoras já disponibilizam algum tipo de acesso ao catálogo eletrônico de peças, e isso é ótimo para as duas partes. Na oficina eu agilizo meus orçamentos, e já identifico o código exato das peças, sem erros, e isso poupa o tempo da concessionária e agiliza o processo. Neste quesito, a Honda está ficando para trás no mercado brasileiro.”

 

Recomendação

 

Hélio explica como procede quando é consultado sobre a compra de um carro novo: “muitas pessoas me consultam sobre qual carro elas deveriam comprar, e eu procuro orientá-la a fazer uma escolha racional, mas dentro de suas expectativas, necessidades e orçamento disponível. Primeiro pergunto quais são os carros desejados, e aí vou mostrando e colocando valor para cada item como custo do seguro, valor de revenda, custo de manutenção, tipo de manutenção que aquele carro exige, e problemas recorrentes que o carro pode vir a apresentar. Como exemplo, quando o assunto é um New Civic, eu aviso que o coxim hidráulico do motor pode apresentar problemas, mas a maioria não saberá o que isso significa, por isso dou números, informando que se esta peça der problema, isso vai custar cerca de R$ 800,00 (só a peça), e aí todo mundo entende! Portanto a pessoa interessada deve ter uma reserva para este tipo de despesa. Voltando ao HR-V, entendo que é um bom veículo, bem atualizado e sem grandes dificuldades técnicas para a manutenção, uma vez que o nosso histórico de atendimento dos modelos similares (Civic, Fit, City e CRV) é bastante favorável e sem surpresas desagradáveis, exceto pelo coxim que comentei.”

José Carlos relata o seu parecer: “quando os clientes me perguntam se eu aprovo a compra de um veículo Honda, como um HR-V por exemplo, eu costumo falar bem, exatamente porque são carros que passam por aqui na oficina, e geralmente dão pouca manutenção, apenas o básico, e dificilmente apresentam problemas sérios ou recorrentes. Apesar de não dispor de informações técnicas adequadas da montadora, com a nossa experiência e equipamentos adequados, conseguiremos dar um bom atendimento quando acabar o período de garantia.”

Wagner pondera e avalia: “o cliente de um veículo Honda zero km como este HR-V vai ficar muito satisfeito, e por um bom período. Porém, à medida em que a quilometragem avançar, passando dos 80.000km, e manutenções mais pesadas como troca de cilindro mestre, pinça de freio, molas e amortecedores tiverem que ser efetuadas, o cliente vai ficar assustado com os orçamentos, e é nessa hora que eles começam a migrar para as oficinas, em busca de uma solução mais acessível.”

 

Conclusão

 

Hélio resume o sentimento e a percepção de mercado de muitos reparadores independentes:

“A Honda está de parabéns pelo lançamento de mais um belo carro, com muita qualidade. Mas é sempre bom lembrar que não basta um bom carro para que a montadora tenha credibilidade. Carro bom tem aos montes no mercado, mas o diferencial começa no pós-venda da concessionária, e depois de alguns anos quando esse carro chegar nas oficinas, nós reparadores independentes vamos formando a nossa opinião sobre a manutenção destes carros, pontos fortes e pontos fracos, disponibilidade de informações e política de fornecimento de peças de reposição ao longo da vida útil do carro. E é essa experiência de reparabilidade que a gente repassa diariamente, para clientes, parentes, amigos e quem mais nos consultar.

Nós reparadores somos profissionais, e queremos o melhor para nossos clientes, e por isso a gente indica carros bons, mas principalmente, que tenham uma manutenção razoável e descomplicada.

Muitas marcas e produtos, queimados no mercado, foram salvos graças à dedicação dos reparadores independentes, que conseguiram resolver os problemas e manter estes carros rodando. Mas quando nem o reparador encontra condições de trabalho, como falta de peças na rede concessionária por exemplo, mesmo carros interessantes e promissores simplesmente desaparecerem do mercado.

Tenho vários clientes com veículos Honda, que sempre tiveram uma boa experiência de manutenção aqui na Fire Birds, e apoiados na minha recomendação, alguns deles já compraram recentemente o HR-V e outros modelos novos da marca. Eu tenho ciência que eles vão ficar alguns anos afastados de minha empresa, principalmente no período de garantia, mas eu fico tranquilo, porque eles sempre voltam, e acabam indicando novos clientes, pois confiam na nossa seriedade.

Além dessas recomendações positivas para a Honda, sou cliente frequente no setor de peças, mas infelizmente até o momento, a contrapartida por parte deles é zero.

 

Mas felizmente este cenário mudou bastante, e as grandes montadoras que nos tratam como parceiros, oferecendo acesso às informações técnicas, treinamento e catálogo de peças, já são maioria. E claro, quanto mais eu conheço o produto, e mais facilidades eu tenho para repará-los, mais modelos desta marca parceira eu vou recomendar.”