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Honda CR-V mostra-se um velho conhecido do reparador, com exceção do novo sistema Flex


Montadora parece não ter corrigido alguns problemas crônicos na suspensão do veículo, mas o que mais preocupa o reparador é a dificuldade em conseguir informações técnicas para os serviços e peças a um custo viável

Por: Fernando Naccari e Paulo Handa - 14 de outubro de 2014

Honda CR-V sempre foi um carro tido com um veículo feito para a família buscar crianças na escola, passear nos tempos livres, espaço para carregar compras, carrinhos de bebês e afins. Mas, para quebrar essa imagem de bom garoto, ostentava o estepe na tampa traseira (até a penúltima versão) e uma tração 4x4 que permitia que o SUV pudesse enfrentar todo o tipo de terreno.

Bom, isso era antigamente, pois o Novo CR-V nem isso ostenta mais (FOTO 1). Sem o estepe no porta malas e com modelo de entrada saindo com tração 4x2, traz visual mais agressivo, mas sem perder o apelo familiar. Além disso, o design é a aposta para conquistar também o mais jovem que busca veículos que valorizam sua imagem.

O veículo traz o motor 2.0 i-VTEC Flex.One (FOTO 2), o mesmo que foi estreado no New Civic meses antes, capaz de rodar com gasolina, etanol ou ambos misturados sob qualquer proporção, dispensando ainda o uso do tanque de gasolina para partida auxiliar.

 

Foto 1 e Foto 2

O novo sistema atua com o pré-aquecimento dos bicos injetores e atua sob um ritual que o condutor realiza mesmo sem saber:

• Quando destrava a porta com a chave, a central eletrônica recebe a informação de que o veículo poderá entrar em funcionamento;

• A central eletrônica faz leitura da temperatura externa e, se esta estiver acima de 20°C, a partida poderá funcionar normalmente;

• Caso esteja abaixo dessa temperatura, a central envia um sinal de acionamento das resistências dos injetores de cada cilindro, aquecendo o etanol antes de entrar na câmara para a combustão. Quanto menor a temperatura, maior a corrente elétrica. A Honda garante que o motor pode funcionar com temperaturas de até -10°C.

Lembrando que a tecnologia é fornecida pela Bosch, mas o sistema é programado pela Keihin, empresa do grupo Honda.

Outro destaque que o veículo possui é o botão ECON (FOTO 3), o mesmo antes utilizado no New Civic. Com ele acionado, o sistema entende que o motorista deseja dirigir no modo econômico e faz com que todos os sistemas do veículo, incluindo o ar-condicionado, atuem de maneira mais suave. Para apelar ao aspecto ecológico, com o botão ligado, notamos uma plantinha com folhas que aparece no display do painel e um aro em volta deste ganha uma coloração verde. Se você acelerar leve, esse aro permanece em tons verdes, no entanto, se pisar um pouco mais, o verde desaparece, mostrando que você está “exagerando”. Além disso, nota-se que o desempenho do carro cai bastante.

Com esta função ativa, aferimos um consumo de 8,3km/l de etanol. Já com o ECON desativado, o consumo caiu para 7,5km/l, mas o desempenho melhorou significativamente. As medições foram aferidas em circuito misto entre cidade e estrada.

Para melhorar a autonomia do veículo, o tanque de combustível passou de 58 litros para 71 litros, compensando um relativo aumento de consumo de etanol em comparação a antiga versão que só bebia gasolina.

Nesta nova configuração de motor, a potência ficou em 155cv com etanol e 150cv com gasolina, mas junto aos seus 1.516kg, não podemos esperar que o carro seja um primor aos entusiastas automobilistas.

 

 

Foto 3

POR DENTRO DO CR-V

O modelo que avaliamos, o EXL 4x4, contava com bancos de couro, GPS, ar-condicionado dual-zone, controle de estabilidade, teto solar, seis airbags, câmbio automático de cinco velocidades e amplo espaço interno. Aliás, conforto a bordo e na condução do veículo são itens que não podemos reclamar no CR-V.
Apesar de ser um veículo alto, ele possui boa calibração de seu conjunto de suspensão, deixando-o firme em diversas condições de rodagem, mas em vias com piso irregular os ocupantes acabam sentindo um ligeiro incômodo, já que este conjunto tende mais à dureza do que à maciez, fazendo com que a cabine balance bastante.

NAS OFICINAS

Para avaliação do veículo, fomos ao Centro Automotivo Base do município de Guarulhos-SP e lá, conversamos com Renato Germano dos Santos, de 32 anos e que atua na profissão há mais de 17 anos (FOTO 4). “Iniciei minha carreira com meu pai que possuía uma oficina mecânica. Depois de certo tempo, atuei em uma rede autorizada GM. Em seguida acabei passando por algumas oficinas multimarcas onde adquiri experiência com veículos da Honda e, atualmente, trabalho no Centro Automotivo Base há mais de um ano”.

Renato comentou que a oficina atende, em média, 280 veículos por mês e, dentro destes atendimentos, pelo menos 10% são de veículos Honda. “Faço manutenção destes carros desde os modelos 2001 até os 2013, mas apesar de não ser um carro que frequenta muito as oficinas como um carro popular, dentro os do segmento de SUVs, é um dos que mais faço manutenções. Outra coisa, se o condutor não se atentar à manutenção preventiva do veículo, com certeza terá um futuro serviço de reparo corretivo de custo muito elevado”. 

 

Foto 4

REPARABILIDADE 

Para Renato, a manutenção do CR-V não é das mais difíceis, no entanto, merece certo cuidado do profissional no ato de um serviço. “Não observo dificuldade na reparabilidade, mas oriento que, se o reparador não tiver experiência e cuidado, poderá danificar algumas peças nas manutenções, pois muitas delas são fixadas em roscas de alumínio. Portanto, há a necessidade de efetuar o torque correto nos parafusos e porcas, principalmente nos do conjunto motopropulsor. Infelizmente, vejo que alguns carros que chegam para as manutenções não receberam este cuidado e prejudicam nosso trabalho em futuros reparos”.

Outra situação que o reparador aponta que merece cuidado está nos chicotes elétricos. “OS chicotes deste veículo obedecem a um determinado ‘caminho’ na carroceria, mas muitos reparadores não se atentam a esta questão e acabo pegando vários casos de chicotes avariados porque entraram em contato com outras partes que não deveriam”, contou Renato.

NOVO CR-V: UMA EVOLUÇÃO 

Segundo as análises do reparador, o CR-V não pode ser considerado um veículo totalmente novo, mas sim uma evolução da versão anterior. “O que mais diferencia este SUV do modelo anterior mesmo é o design. Hoje ele tem linhas mais agressivas e chama mais a atenção quando passa na rua, mas exceto isso, não irá trazer grandes surpresas ao reparador independente”, comentou Renato.

O motor recebeu algumas alterações, mas segundo Renato, não mudará muita coisa do aspecto da reparação. “Na parte do motor, verifico que houve mudanças nas versões até o final de 2012 (FOTO 5), depois permaneceu o mesmo 2.0 16V movido a gasolina e atualmente, até por uma tendência de mercado, este se tornou flex no fim de 2013”.

Renato disse que este motor também é o mesmo utilizado nos New Civic, que frequentam bastante as oficinas independentes. “Estes motores são velhos conhecidos nossos do dia-a-dia por causa do Civic. Neste novo CR-V, verifico mudanças nos bicos injetores que, com quantidade maior de fios, estão equipado com sistema de aquecimento e está sendo cada vez mais utilizado nos veículos orientais, substituindo o velho sistema de partida a frio com reservatório de gasolina”.

Sobre os defeitos recorrentes neste motor, Renato comentou que costuma trocar os rolamentos do tensor da correia dos acessórios Multi-V com certa frequência (FOTO 6). “Este tensionador apresenta fadiga e começa a apresentar barulhos como um ‘Tec Tec Tec’. Já troquei essa peça inclusive em veículos com menos de 40.000Km e em período de garantia. Vendo neste novo carro, o tensor continua o mesmo, portanto, o defeito deve continuar”.

Foto 5 e Foto 6

 

 

Renato disse também que já precisou fazer retíficas nestes motores, mas essas causadas por descuidos dos proprietários. “Peguei alguns casos em que o condutor não se atentou à troca de óleo do motor e, por consequência, criou-se borras em seu interior. Isso não é muito comum para este segmento de veículos, pois neste os clientes costumam ser mais cuidados, mas especificamente na CR-V tenho visto exceções”.

Ainda no sistema de lubrificação, mas sem culpa do cliente, devemos tomar cuidado com a posição de montagem da bomba de óleo. “Devemos nos atentar no momento da desmontagem desta peça, pois existe uma posição correta na corrente que traciona as engrenagens e é necessária a introdução de um pino guia para soltarmos o parafuso de fixação dela. Na montagem, o cuidado é igual e devemos lembrar de posicionar as engrenagens da bomba corretamente”, explicou Renato.

O reparador ainda aconselhou que, a cada 40.000km, deve ser feita a conferência das folgas das válvulas. “Se o profissional o fizer, posso afirmar com toda convicção e experiência que tenho com o serviço que até o ruído do motor muda e ele começará a trabalhar ‘mais macio’, melhorando inclusive o consumo. Os valores que indico são de 0,18mm para as válvulas de admissão e 0,25mm para as válvulas de escapamento e o torque para as porcas do regulador fica em torno de 14Nm. Outra coisa que devemos fazer é substituir a junta da tampa de válvulas sempre após este serviço”.

Nos modelos New Civic este procedimento, segundo Renato, é mais trabalhoso. “No CR-V é mais fácil este processo, pois nele temos mais espaço para trabalhar, ao contrário do New Civic em que é necessário remover a ‘churrasqueira’”.

Também no motor, Renato orienta pra a verificação constante das velas de ignição. “Como este modelo é flex, com certeza teremos os mesmos problemas que o New Civic apresenta, como quando o condutor utiliza muito o etanol e a peça costuma apresentar oxidação na parte inferior próxima à câmara, portanto aconselho fazer a verificação a cada 10.000km, pois se for deixar mais para frente, como os 60.000km que é o indicado pela Honda, elas engripam em seus alojamentos e se não forem retiradas com todo o cuidado podem danificar a rosca do cabeçote, necessitando uma retífica e posso dizer que isso é mais comum do que parece”.

Já no sistema de transmissão, Renato disse não ter feito muitos reparos, a não ser em caso de algum acidente ou por descuido do condutor. “Aparentemente o câmbio é o mesmo da última versão. Apesar de não ter feito grandes reparos neste câmbio e ele não apresentar um defeito característico, recomendo a troca do fluido (FOTO 7) da transmissão automática a cada 40.000km, pois peguei alguns casos em que o condutor literalmente ‘fritou’ os pacotes de embreagem por não saber conduzir da maneira correta um veículo automático e por não realizar a manutenção preventiva como deve ser feita”.

No diferencial (FOTO 8) também não foram notadas mudanças, mas o reparador alertou para que neste componente a troca do fluido deve ser efetuada com menos quilometragem do que o fluido da transmissão, cerca de 20.000km. “O fluido utilizado é o mesmo que se coloca na transmissão CVT e não devemos colocar outro tipo de fluido, pois fará com que o diferencial produza um ruído muito grande, principalmente em curvas, parecendo que seus componentes internos estão sendo quebrados”, relatou Renato.

 

Foto 7 e Foto 8

No conjunto de suspensão (FOTO 9), Renato disse que constatemente troca as buchas da bandeja. “Essa manutenção é muito comum e neste novo carro o sistema é o mesmo, portanto, acredito que este reparo continue frequente. Acredito que este problema ocorra neste e em outros SUVs porque o motopropulsor fica alojado exatamente em cima do conjunto de suspensão e não deslocado como é comum nos demais tipos de veículos. O que poderia fazer este conjunto mais resistente seria deixá-lo mais rígido, no entanto, como a proposta deste carro é mais voltado para a cidade do que para a estrada de terra, acaba primando pelo conforto e aumentando a frequência de suas manutenções. Bom, é uma escolha da marca”, disse o reparador.

Na traseira, os amortecedores (FOTO 10), aparentemente, não sofreram alterações. “Neste componente, tenho efetuado trocas já em veículos com 20.000km. O defeito mais comum é vazamento que, com o tempo, ocasiona perda de ação do amortecedor fazendo com que a suspenção traseira produza muito barulho em terreno irregular e torne a dirigibilidade em curvas bastante difícil, nas quais o veículo fica “bobo””, relatou Renato.

 

Foto 9 e Foto 10

No sistema de freios (FOTO 11), também não houve muitas mudanças, mas um defeito importante foi sanado. “Em modelos anteriores eram comuns reparos por conta de muito barulho nas pinças de freios dianteiros quando o condutor trafegava em terrenos irregulares. Para solucionar este problema, tínhamos que substituir os pinos do cáliper, mas neste novo modelo essa peça foi modificada”, observou Renato.

No interior do veículo, a alteração mais significativa foi a instalação de um “econômetro” (FOTO 12) instalado no painel. “Isso é muito bom para que o condutor observe como conduz o veículo, autonomia, como está o consumo naquele momento, mas do ponto de vista da reparação, não significará mais ou menos problemas para nós verificarmos, mas para o motorista é muito útil”, comentou Renato.

 

Foto 11 e Foto 12

PEÇAS E INFORMAÇÕES

Sobre sua experiência com a aquisição de peças para este veículo, Renato disse que devemos ter bastante cuidado, pois a qualidade do produto adquirido interferirá diretamente na segurança do serviço prestado e na boa impressão que a oficina prestará a seu cliente. “No mercado independente há a disponibilidade de peças chinesas para a linha Honda com grande fartura, mas como já sabemos, não dá para apostarmos neste tipo de peça. Devemos lembrar que não existem milagres e se você achar peças muito baratas, com certeza não possuem a qualidade e a segurança de que é preciso, pois estas quando funcionam tem baixa durabilidade e nós reparadores, para não perdermos o cliente, não podemos nos dar ao luxo de termos retrabalho por conta de peças de má qualidade”, explicou.

Com relação a sua rotina de compras, Renato demonstrou que tem bem dividida a sua escolha, dependendo do tipo de item que for adquirir. “Com exceção de discos, pastilhas de freios, buchas das bandejas dianteiras, velas, filtros e lubrificantes, os demais itens só adquiro em concessionárias da montadora. Faço isso porque que no mercado paralelo estas outras peças não oferecem a qualidade que necessitamos e também devido à montadora possuir uma logística, ofertando a maioria das peças sem demora na entrega. O problema fica quando vamos ver os preços, pois lá são muito mais caras, mas infelizmente nesse ponto não temos muita escolha. Com isso, posso dizer que, atualmente, para a CR-V e os demais veículos da Honda, compro 60% dos itens genuínos e os demais em autopeças, mas somente de fabricantes renomados no mercado”, explicou Renato.

Quando falamos em disponibilidade de informações técnicas ao mercado independente, Renato comentou que a Honda não é aberta a este público. “Ela não é muito ‘fã’ em dar informações técnicas para nós e raramente conseguimos algo com eles diretamente. As pessoas que trabalham nas concessionárias são prestativas e ajudam muitas vezes com o que podem, mas vejo que é uma política da montadora em restringir algumas coisas, pois sinto que os funcionários ficam acuados em prestar algumas informações a nós. Na minha opinião, deveríamos nos juntar e começar a exigir a abertura destas informações como é comum na grande maioria dos países, como nos EUA e boa parte da Europa”, reclamou Renato.

RECOMENDA?

Fizemos a pergunta ao reparador se o CR-V é um veículo que ele recomendaria a seu cliente. Renato foi enfático. “O carro tem uma mecânica simples e não tem grandes segredos na manutenção, mas com peças caras e pouca informação técnica. É uma escolha que eu digo para o cliente pensar com mais cuidado, e sugiro outras opções”, finalizou Renato.