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Gigante: JAC T8 agrada na oficina por boa reparabilidade, apesar do tamanho avantajado


A ‘Maxivan’ da marca chinesa surpreende por trazer um motor a gasolina em um veículo de porte ‘diesel’. Segundo reparadores, a única dificuldade na manutenção do veículo será encontrar um elevador que aceite seu grande porte

Por: Fernando Naccari e Paulo Handa - 11 de agosto de 2014

 O enorme JAC T8 e os reparadores Reginaldo (à esquerda) e Ricardo (à direita)

O mais recente lançamento, e um dos mais importantes da marca, para o ano de 2014, a ‘Maxivan’ T8 é um veículo diferenciado, sendo o primeiro veículo da linha chinesa voltado ao transporte de passageiros. Confortável e luxuoso é como podemos melhor defini-lo, porém economia de combustível não é uma de suas virtudes.

O veículo transporta com espaço de sobra seis passageiros (FOTOS 1 e 1A) mais o motorista e ocupa uma faixa do mercado ainda não explorada em nosso país, o das vans de transporte de passageiros com foco no conforto, não apenas no transporte em si.

Segundo Sergio Habib, presidente da JAC Motors Brasil, o foco de vendas para o modelo será para empresas que atuem no segmento de transportes executivos. Neste setor, incluem-se hóteis, locadoras e empresas de traslados.

 

Foto 1 e Foto 1A

DIRIGINDO UM T8

Apesar do seu tamanho avantajado (5,1m de comprimento, 1,84m de largura e 1,97m de altura), como o veículo é homologado para sete pessoas, este pode ser dirigido por quem tem a habilitação de categoria “B”.

Porém, este tamanho também é um complicador, pois pessoas “menos treinadas” poderão sofrer um pouco com as manobras com ele no dia-a-dia. Vale lembrar que, apesar de tentar atingir o público de transporte executivo, o T8 está à venda nas concessionárias para quem desejar comprar e, com certeza, quem tem uma família grande poderá pensar em adquirir este carro, portanto, cuidado!

O modelo possui suspensão dianteira com triângulos inferiores e superiores (FOTO 2). Na traseira (FOTO 2A), que recebe o diferencial (a tração da T8 é nas rodas de trás), a suspensão é constituída por um eixo rígido. Ambas contam com molas helicoidais progressivas e barras estabilizadoras e oferecem bom conforto mesmo em pisos com irregularidades acentuadas. As rodas de 17” são em liga de alumínio com pneus 225/60 e os freios tanto dianteiros como traseiros são a disco ventilado com ABS e EBD.

 

Foto 2 e Foto 2A

O T8 vem com motor 2.0 16V (FOTO 3) com turbo e intercooler, capaz de gerar 175cv a 5.400rpm e torque máximo de 260Nm mantendo rotação constante entre 2.000rpm e 4.000rpm. Dirigindo a van, sentimos esse torque todas as vezes que aceleramos o veículo com um pouco mais ‘de vontade’. Curioso é que, de dentro do carro, principalmente na posição dos ocupantes que seguem na dianteira, ouve-se bem o ruído do motor a gasolina semelhante ao de um motor diesel, em que percebemos inclusive a turbina ‘enchendo’, característica esta de veículos antigos alimentados por bomba injetora. O motivo, segundo a assessoria de imprensa da marca, é que ouvimos o “sopro” da turbina, muito comum nos veículos diesel comercializados em nosso país.

 

 

Foto 3

O veículo é equipado com câmbio manual de seis marchas e possui bons engates, muito melhores que nos demais veículos da marca. Infelizmente, ainda não há previsão para a implantação de uma transmissão automática no veículo, mas ao que tudo indica, isto pode ocorrer após a fábrica da JAC Motors iniciar suas atividades em nosso país.

Fizemos nosso trajeto em circuito predominantemente urbano na cidade de São Paulo e usando em 100% do tempo o ar-condicionado do veículo, já que este tipo de trajeto e condição serão predominantes no uso da van. Ao final do nosso período de testes, rodamos cerca de 520km com o T8 e este apresentou o consumo de 4,7km/l. Consumo este muito alto, quando comparado a um veículo de mesma categoria como a Mercedes-Benz Sprinter e Fiat Ducato, ambos a diesel, pois estes atingem médias de 9,5km/l e 9km/l, respectivamente. Vale lembrar ainda que o preço médio do diesel é inferior ao da gasolina - talvez este seja o grande calcanhar de Aquiles do veículo.

VIDA a BORDO
O interior da van tem os bancos no formato 2+2+3, no qual as poltronas da fileira intermediária são individuais, reclináveis, removíveis e giram 360 graus, tendo essa característica como o carro chefe do modelo. Além disso, os bancos dianteiros possuem aquecimento e ajuste elétrico, teto solar para os passageiros que seguem nos bancos de trás, ar-condicionado com controle independente para o compartimento traseiro (FOTO 4), luzes individuais de leitura, central multimídia com entrada USB e Bluetooth (FOTO 5), entre outros itens.

 

Foto 4 e Foto 5

O entre-eixos do T8 é gigante. Com 3,08m, permite que todos os passageiros trafeguem com conforto e com a possibilidade de esticar as pernas em todas as posições. Mesmo com os bancos na configuração de sete lugares, o espaço para bagagem atrás da última fileira de bancos fica em 1.310 litros (FOTO 6). Se necessário, todos os bancos traseiros podem ser retirados, revelando um espaço de carga digno de um furgão. Sem a última fileira de bancos, o espaço para carga sobe para 3.550 litros ou 4.800 litros se retirados também os dois centrais, situação esta em que será pouco utilizada, com certeza, devido à finalidade destinada ao veículo.

O modelo conta com diversos itens que buscam proporcionar as conveniências que as outras vans não proporcionam como, por exemplo, acendedores de cigarro e tomadas 12v de sobra, seis alto-falantes, rádio MP5 com antena externa e 6 porta-copos.

Mas não só os passageiros contam com os mimos da van chinesa, pois o motorista pode contar com alguns facilitadores como comandos multifunção no volante (FOTO 7), direção hidráulica, computador de bordo, abertura interna da tampa do tanque de combustível, retrovisores com acionamento elétrico e repetidor de seta, vidros elétricos, faróis com regulagem elétrica de altura, desembaçador traseiro, retrovisor interno antiofuscante, limpador traseiro com temporizador e quebra-sol com espelho de cortesia.

 

Foto 6 e Foto 7

Ainda completam o pacote de equipamentos, airbag duplo, cintos traseiros laterais com 3 pontos, travamento automático das portas a 15km/h, sensor de estacionamento traseiro com câmera de ré, travamento automático das portas a 15 km/h, portas com barras de proteção lateral, trava central e chave com destravamento remoto das portas, além de alarme antifurto.

NA OFICINA

Para sabermos como será a manutenção do T8 2.0 16V Turbo nas oficinas, conversamos com os reparadores e irmãos Reginaldo Kuboyama de 39 anos e que possui mais de 15 anos de profissão e também com Ricardo Hideki Kuboyama de 33 anos, dos quais 12 anos são dedicados à carreira. Ricardo optou por se especializar na área de suspensão e ar-condicionado, enquanto Reginaldo ficou com motor, transmissão e injeção. Ambos são proprietários da Tokio Car Service, uma autorizada Bosch com história desde 1970 e herdada do pai que, segundo eles, foi o principal responsável por inspirá-los a seguirem os mesmos passos.

Para Reginaldo, o motor do T8 possui layout comum aos asiáticos, porém possui pontos a serem melhorados. “Aparentemente ele possui sincronismo através de correia dentada. Verifico também que, para determinados componentes, haverá a necessidade de remover algumas peças para termos acesso a elas. Em vários serviços será necessária a remoção do coletor de admissão, pois o espaço no cofre é muito reduzido (FOTO 8 e 8A)”.

 

Foto 8 e Foto 8A

Outro fato que chamou a atenção é a quantidade de mangueiras fabricadas em borracha no cofre do motor. “Na grande maioria dos veículos que utilizam destas mangueiras, com a troca de calor na região, costumam ressecar e danificar com relativa facilidade. Temos que tomar muito cuidado com isso, pois geralmente estas não são vendidas no mercado de reposição e as concessionárias não costumam manter grandes estoques das mesmas”, explicou Reginaldo.

O reparador Reginaldo notou que o sistema de injeção que equipa o T8 é da marca Delphi (FOTO 9). “Se seguir a regra, este tipo de injeção não costuma apresentar muitos problemas em seus sensores ou no próprio módulo. Nestes sistemas, o que mais costumo fazer é a limpeza dos bicos injetores”.

Ao contrário do que ocorre em alguns modelos da JAC, o T8 já possui sistema de acelerador e corpo de borboleta eletrônicos (FOTO 10), conhecido também como sistema “Drive by Wire”.

 

Foto 9 e Foto 10

Uma fragilidade do sistema observada por Reginaldo está na fixação do sensor de temperatura do ar. “Ele fica montado em uma superfície plástica e, se o reparador não tiver o devido cuidado, tanto na montagem deste, quanto na sua desmontagem, poderá espanar a rosca, danificar o suporte ou o próprio sensor (FOTO 11 e 11A)”.

 

Foto 11 e Foto 11A

No caso do T8, o sensor MAP não é incorporado ao de temperatura do ar (FOTO 12 e 12A). “Atualmente, praticamente todos os veículos trabalham com este em conjunto, mas isso não implica em perda de qualidade da leitura ou algo do tipo, é só uma questão de economia de espaços e de itens a serem produzidos. Por outro lado, em caso de dano, troca-se apenas o avariado. Neste caso, caso precise procurá-lo para reparo, este fica localizado na superfície do coletor de admissão”, comentou Reginaldo.

 

Foto 12 e Foto 12A

Para manutenções nos bicos injetores, o reparador não terá dor de cabeça. “A localização deles é muito boa, dá para acessá-los com facilidade. Outra vantagem é utilizar a flauta em plástico, pois ela troca menos calor com o combustível, prevenindo falhas por bolhas de ar no sistema”.

Reginaldo ainda comentou outra característica comum a sistemas que utilizam este componente fabricado quando fabricado neste material. “Notei que, geralmente, quando o tubo misturador é de plástico (FOTO 13), o retorno para a bomba é diferente e é direto no copo da bomba da mesma. Quando os tubos são de metal, o retorno de combustível é no próprio regulador de pressão. Isso ocorre porque neste caso o combustível atinge temperaturas muito altas no retorno e, em alguns casos, pode apresentar falhas”.

O filtro de óleo também fica em uma posição boa para ser substituído (FOTO 14). “O que será mais chato é a remoção do protetor do cárter, pois ele é muito grande, pois se não o fizer, fazer sujeira é quase certo”, disse Ricardo.

 

Foto 13 e Foto 14

O filtro de combustível também fica em um local de fácil acesso (FOTO 15). “Além disso, fica bem protegido e o tanque de combustível nesta versão é bem grande (80 litros)”, comentou Ricardo.

Os eletroventiladores do sistema de arrefecimento estão logo atrás da grade dianteira e estão em uma região com pouco espaço (FOTO 16). “Provavelmente teremos que retirar a parte frontal para conseguirmos removê-los quando necessário. Fora que, nesta posição, qualquer pequeno acidente poderá causar danos ao conjunto”, disse Reginaldo.

 

Foto 15 e Foto 16

Com o motor posicionado “em linha”, a transmissão de seis marchas é acoplada ao cardã que transmite a rotação ao eixo traseiro (FOTO 17). Segundo Reginaldo, apesar do conjunto aparentar ser bastante robusto, para o motorista, nada seria melhor do que uma transmissão automática.

Reginaldo ainda acrescentou que, por se tratar de um veículo pesado, a tração traseira (FOTO 18) tem a vantagem de permitir que o veículo possua maior aderência das rodas motrizes com o solo, facilitando o seu deslocamento.

 

Foto 17 e Foto 18

Sobre a manutenção do conjunto de suspensão dianteira, Reginaldo disse não ter visto complexidade em sua reparação. “Chamo a atenção para os ângulos de suspensão que neste veículo são reguláveis (FOTO 19)”.

Na suspensão traseira, devido a esta abrigar o cardã e o diferencial, não é possível efetuar as regulagens de convergência. “Pelo peso e dimensões da carroceria, poderá apresentar desgastes irregulares nos pneus traseiros”, observou Reginaldo.

 

Foto 19 e Foto 20

O conjunto de freios é composto por discos ventilados na dianteira (FOTO 20) e sólidos na traseira (FOTO 20A) e ambos são dotados de ABS e EBD o que, segundo Ricardo, na hora do reparo não trarão dificuldades, exceto pelo tamanho do conjunto e peso. “Se na montagem houver algum descuido e este ficar desalinhado, a trepidação será grande”.

 

Foto 20A

PEÇAS E INFORMAÇÕES 

Como sabemos, a rotina da oficina precisa ser norteada por estas duas bases e, sem elas, um veículo ou uma marca ficam mal vistos pelo mercado.

Diante desse cenário, Reginaldo comentou que estas questões o preocupam muito nos veículos JAC. “Com base na demanda dos veículos que atendo, isso me traz a percepção de que ficaremos muito reféns às concessionárias da marca, pois ainda não há peças para ela no mercado independente. Recentemente tive que trocar as velas de um J3 e só achei na autorizada, agora imagine se por acaso eu precisar um jogo de junta? Provavelmente terá um preço elevado e dependeremos da disponibilidade destas para efetuar nossos serviços e isso não pode ocorrer”.

Para Reginaldo, o grande problema da manutenção de um veículo chinês é a procedência inclusive das peças genuínas. “Com um carro da China as peças são da China também, e aí? A experiência das oficinas com este tipo de peça é a pior possível e o que garante que com um carro de lá as coisas mudem? Acredito que vai ser difícil classificá-las, mas só o tempo nos dará essa resposta”.

Segundo Reginaldo, até o momento não existe divulgação de informações técnicas de nenhum veículo da montadora. Se por um lado isso é um grande problema para o reparador independente, a vantagem é que estes carros têm um conjunto que sugere uma manutenção mais intuitiva e sem grandes segredos. “É um carro que tem fácil reparação e bastante similar às dos veículos da linha Toyota, porém não podemos sair desmontando tudo sem ter material que nos ajude a determinar o que deve ou não ser feito no veículo”.

A grande preocupação do reparador é que a JAC seja uma montadora “de passagem” pelo país, assim como aconteceu com outras que estiveram por aqui e deixaram proprietários e reparadores em apuros. “Tomara que a marca não seja uma Lada da vida, ou KIA e Hyundai que passaram por aqui nos anos 90, desapareceram, e só retornaram para cá em 2005 com a Hyundai Tucson, por exemplo deixando os antigos proprietários na mão, assim como nós reparadores, pois achar peças de veículos mais antigos é quase impossível. Se der tudo certo para a JAC, logo peças surgirão e as informações técnicas também”, finalizou Ricardo.