DEFEITO OU ERRO MECÂNICO?
Já há algum tempo venho querendo comentar sobre esse assunto.
Minha atenção para ele, o assunto, foi aguçada por um comentário de um grande amigo que exerce a função de vistoriador de sinistro de uma grande empresa seguradora desde 1995 e é um dos mais renomados peritos nessa área.
Tudo começou em Curitiba num mês de maio do ano de 2008.
Por motivos óbvios vou chamar esse meu amigo de Alaor.
Eu estava naquela cidade fazendo diagnóstico de um Centro Automotivo que necessitava expandir e modernizar suas atividades em virtude das exigências do mercado e ele, o Alaor, estava numa concessionária fazendo vistorias de veículos acidentados para assegurar o pagamento do sinistro por parte da seguradora em que trabalhava.
Por ser, já naquela época, um perito especialista viajava pelo país todo quando a seguradora necessitava contestar um diagnóstico técnico do sinistro, para discutir judicialmente o pagamento do seguro. A base operacional dele era em São Paulo.
Ele ficou na cidade por seis dias e nos encontrávamos a noite para jantarmos e atualizarmos o bate-papo.
Num daqueles jantar e durante nossa conversa ele fez o seguinte comentário: “tenho encontrado veículos gravemente acidentados que passaram por revisão de viagem recente, tanto em concessionárias como em Centros Automotivos, e os indícios que ocasionaram o acidente são de utilização de peças “pebas” ou erro do mecânico na aplicação”.
Desde aquela época esse comentário ficou gravado em minha mente.
Há uns vinte dias entrei em contato com ele e reavivei o assunto. Só que agora estamos bastante distante, ele em São Paulo e eu em Vitória. O contato foi via WhatsApp e ele tornou a reafirmar que ao longo desse tempo os indícios relatados naquela ocasião continuam ocorrendo, sendo que em certas regiões são mais acentuados.
Passei alguns dias ruminando esse assunto e entrei em contato com mais alguns vistoriadores de seguradoras que conheço e foram categóricos em confirmar que isso ocorre com frequência, levando a crer que existe certo “relaxamento” com relação ao item segurança na ocasião da aplicação de peças e da prestação de serviços de mecânico que podem originar esses acidentes.
O profissional mecânico tem que se conscientizar que, ao se propor a executar um serviço de reparo automotivo ele estará lidando com a segurança e a vida do condutor do veículo e também de seus passageiros.
E dessa forma ele, o profissional mecânico, é responsável por tudo que venha ocorrer em decorrência desses serviços realizados e das peças aplicadas.
Nos trabalhos que desenvolvo junto aos Centros Automotivos em que atuo como consultor, eu oriento que os profissionais mecânicos não apliquem peças fornecidas pelos próprios clientes.
Por quê?
Por que na maioria das vezes essas peças que são compradas pelos clientes são de origem duvidosa e eles buscam pelo menor preço sem se preocuparem com a qualidade ou originalidade das mesmas, colocando em risco a qualidade dos serviços realizados.
Ao aceitar essas peças para realizar o serviço, o profissional mecânico estará incentivando o mercado paralelo que negociam com essas peças “pebas” e de origem duvidosa, inclusive o “desmanche”.
Eu creio que, se as seguradoras fizessem a perícia com muito mais responsabilidade por ocasião da vistoria do sinistro e buscassem identificar com precisão o motivo causador do acidente, e em casos de defeito de peças ou erro de aplicação responsabilizassem as oficinas mecânicas que realizaram o serviço, essa incidência seria reduzida para níveis insignificantes e tiraria do mercado um monte de profissionais de reparos automotivos que se assemelham ao profissional “pela porco” do segmento.
Ajudaria inclusive a forçar a profissionalização desses profissionais que se dedicam a prestar serviços de reparos automotivos, melhorando a qualidade, a segurança e a garantia das peças aplicadas e serviços realizados.
E com isso ganharia o cliente proprietário de veículos, que teriam seu patrimônio – o carro hoje é considerado um patrimônio – valorizado no mercado.
E também ganharia o segmento de reparos automotivos, vista que só sobrariam no mercado os realmente capacitados para a execução dos serviços de reparos automotivos.
Portanto senhores reparadores automotivos se desejam realmente profissionalizar e valorizar a categoria comecem a mudar seus critérios de execução dos serviços adotando novos conceitos de responsabilidade.
JotaPerkol
Respostas:
Prezado Senhor,
Com a devida licença gostaria de expor meu ponto de vista de cunho Profissional, e embasado em mais de uma década atuando no segmento automotivo, experiência internacional e devida formação.
Sinistros, ou acidentes, podem serem causados por serviços de má qualidade, profissionais despreparados e uso de peças e artefatos de qualidade inferior, e justamente em relação à isso eu sou plenamente à favor de uma Regulamentação Compulsória a fim de Certificar Oficinas, Centros Automotivos e Profissionais da Área, à exemplo do que já ocorre na Europa e na América do Norte.
Porém, o Senhor insinuou uma certa generalização quando referiu-se à classe de Reparadores, referindo-se ao "Profissional Mecânico" como uma única categoria, ao invés de deixar claro a ocorrência de casos isolados de anti-profissionalismo. Com todo respeito, isso tratou-se de uma atitude tendenciosa e equivocada de sua parte. Separar o joio do trigo é necessário, assim como discriminar profissionais incapacitados de profissionais competentes e que se preocupam SIM, com fatores primordiais como segurança e qualidade em serviços prestados.
Quanto à sua área de atuação, posso dizer que conheço muito bem os procedimentos referentes às Vistorias de Sinistros, e a política utilizada pelas Seguradoras, mesmo as "renomadas" nacionalmente. Inclusive, recentemente, devido à um acidente de transito, tive que acionar meu seguro. Posso dizer que me decepcionei, uma vez que o serviço prestado foi incompatível com a tradição da seguradora e pelo valor pago anualmente.
Primeiramente, a Cia. de Seguros comunicou-me que eu deveria utilizar uma de suas Oficinas Credenciadas, caso contrário eu perderia uma série de benefícios. Pois bem, aceitei tais condições e meu veículo foi conduzido à Oficina Credenciada, e o resultado foi decepcionante, onde constatei desde equipamentos eletrônicos queimados por inversão de polaridade na bateria, até peças avariadas na colisão e reconstituídas "porcamente", sem mencionar uma série de peças danificadas e mesmo assim remontadas, escorrimentos de pintura e serviços de funilaria de quinta categoria. E ainda tive que escutar do Profissional desqualificado e certificado pela Corretora, que um dos meus discos de freio, não poderia ter sido empenado na colisão, já que aquele tipo de material, quando em decorrência de impacto, imediatamente sofre uma quebra mas não uma deformação. No final das contas, educadamente, me dirigi ao Proprietário do Estabelecimento a fim de resolvermos sobre os danos causados no sistema eletrônico do veículo, simplesmente ele me virou as costas, riu e ironizou meu questionamento dizendo que rodando tudo voltaria a funcionar.
Pois bem, em nome da Seguradora, ele tomou a atitude errada com a pessoa errada. Além de Doutorado em Engenharia Elétrica, possuo Certificação Internacional pela SAE, possuo Certificação Alemã em Qualidade Automotiva pela Audi e pela VW e faço parte do Comitê do INMETRO pela elaboração de Normas Compulsórias no Setor Automotivo. A consequência de tal descaso por parte da Oficina desqualificada e pela pré-avaliação da Seguradora, por sinal realizada por alguém despreparado, devido suas teorias embasadas em conceitos vazios, o serviço foi realizado novamente, porém quem vistoriou o veículo dessa vez fui eu.
Portanto, meu caro, antes de propor idéias mirabolantes de Seguradoras Super-Poderosas, regulamentando rigorosamente as Oficinas e tomando medidas judiciais contra Deus e o Mundo, deveriam, antes de tudo, prestarem um serviço de qualidade aos seus Clientes, realizando vistorias criteriosas e com embasamentos reais, e principalmente, credenciando Oficinas realmente qualificadas, ao invés de "Boquetas".
Att;