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Bronzinas para motores de motocicletas são componentes que exigem cuidados na aplicação


Conhecer as especificações técnicas do motor é fundamental no momento da seleção das bronzinas para montagem do motor que deve funcionar corretamente, garantindo um bom desempenho e durabilidade

Por: Paulo José de Sousa - 28 de junho de 2017

Nesta matéria abordaremos os processos de diagnósticos e seleção do conjunto de bronzinas das bielas e carcaças do motor, as dicas podem ser aplicadas em qualquer marca de motocicleta. Embora não pareça, a bronzina é considerada um rolamento e a forma semicircular possibilita a montagem e desmontagem no motor sem a necessidade de ferramentas para instalar ou para remover.

A maioria das motocicletas de baixa cilindrada praticamente não utiliza bronzinas em seus motores, somente aquelas que têm apelo esportivo são equipadas com esses componentes, no entanto, as bronzinas predominam em motocicletas grandes.

A bronzina também é conhecida como casquilho e é estampada em uma combinação de metais, um “sanduíche” de ligas metálicas que pode ser composto por camadas de dois metais, conhecida como bimetálica ou trimetálica, montada com três metais que são estruturadas em uma capa de aço.

De acordo com o manual técnico da Mahle, as ligas que compõe as bronzinas possuem propriedades antifricção, ou seja, reduzem o atrito e são de material “mole” com o objetivo de poupar os colos do virabrequim.

Além disso, outras características conferem à peça resistência a corrosão, mas o fabricante recomenda que o reparador não toque na superfície interna da bronzina.

Embora nem sempre perceptível, entre o virabrequim e o conjunto de bronzinas há uma película do óleo, impedindo o contato metálico entre as peças. Na condição normal de funcionamento o filme do lubrificante exerce uma pressão que na verdade é o apoio do virabrequim, evitando assim o atrito.

O segredo da durabilidade do conjunto virabrequim, bronzinas e bielas depende do lubrificante, pressão do óleo e folga padrão do conjunto. O virabrequim atua na rotação real do motor, ou seja, ele gira muito, dependendo do tipo de motocicleta ele pode passar de 10.000 RPM facilmente.

O sistema é confiável, durável, mas não tolera falhas de manutenção, as bronzinas são sensíveis e a falta de lubrificação, mesmo que por pouco tempo, causará danos ao motor. Sabemos que durante o funcionamento do motor na condição de torque máximo, a carga no eixo do virabrequim é elevadíssima e basta uma pane que logo o motor começara bater, se o usuário não perceber o problema e continuar conduzindo a motocicleta, ocorrerão danos generalizados, podendo perder o motor inteiro.

Na imagem abaixo o diagnóstico indica que a bronzina girou dentro da biela provocando dano em seu mancal.

Aspecto do estrago no colo do virabrequim

Em caso de dano em uma ou mais bronzinas, não é correto responsabilizar o lubrificante sem necessariamente analisar as prováveis causas. Veja na outra página a foto do colo do virabrequim danificado.

O que é a seleção de bronzinas

Neste processo há sempre um critério definido pelo fabricante do motor, a regra estabelece que na montagem do conjunto mancal, bronzinas e eixo, a folga padrão deverá ser assegurada para que não haja risco de panes por folga insuficiente ou excessiva, portanto no catálogo de peças dos diversos fabricantes de motocicletas há uma variedade de bronzinas com espessuras diferentes, sempre pensando em compensar o desgaste do eixo do virabrequim, e assim proceder o ajuste.

Pela característica física do jogo de bronzinas fica complicado para o reparador diferenciar as peças, por isso são utilizadas cores para facilitar a seleção, sendo que para cada cor é atribuído um código de peças correspondente a uma espessura diferente, em outras palavras, selecionar uma bronzina com mais espessura significará menos folga no conjunto.

Comparativo de cores das bronzinas: 1. Bronzina da biela, cor azul; 2. Bronzina da carcaça do motor, cor preta

Quando fazer a seleção de bronzinas

Normalmente são três situações diferentes que requerem a seleção:

1. Troca das bronzinas em função do desgaste natural, fruto do uso frequente da motocicleta.

2. Troca de bronzinas em função do desgaste ou defeitos em componentes como a carcaça do motor, biela(s) ou virabrequim.

3. Troca do conjunto de bronzinas em função do desgaste ou defeitos no conjunto de peças, carcaça do motor e virabrequim ou biela(s) e virabrequim.

1° hipótese para a troca de peças - Após milhares de quilômetros surgem as folgas entre as bronzinas e o eixo do virabrequim, normalmente a folga aparece no colo em que há mais deficiência de lubrificação ou no qual há mais carga de trabalho, o detalhe e a frequência de problemas podem ser característicos por modelo de motocicleta.

Independente do motivo, preventivamente, sempre que abrir o motor é aconselhável verificar o virabrequim e as bronzinas na prática o desgaste ocorre primeiro no conjunto de bronzinas como comentamos, a peça é feita de material “mole”, ou seja, mais “macio” que o eixo de virabrequim, mas o reparador deve sempre efetuar as medições dos diâmetros dos colos. Há casos nos quais é necessária a troca do virabrequim, os manuais não recomendam o seu recondicionamento, porém alguns reparadores utilizam como recurso alternativo a retífica do virabrequim e a aplicação de bronzinas sob medida, que são peças distribuídas no mercado de reposição, mas a durabilidade do conjunto não é assegurada pelos fabricantes.

Alguns motores não irão apresentar desgaste no eixo, portanto pode ser que o reparador substitua o par de casquilhos por novos, mas mantendo a cor original (espessura).

Aferição de folga de bronzina das carcaças do motor com auxílio do Plastigage - motocicleta Kawasaki

Pela dificuldade de acesso à bronzina quando montada no conjunto mancal- eixo, o método recomendado para aferição de folga é por meio do Plastigage (na edição anterior do jornal Oficina Brasil apresentamos os procedimentos de aplicação do Plastigage).

2° hipótese para a troca de peças - A segunda hipótese para a seleção de bronzinas está relacionada à troca de um dos componentes, ex.: virabrequim, carcaças do motor ou biela(s).

A troca de bronzinas é feita em conjunto com a troca do componente listado acima, é comum que com o uso da motocicleta a bronzina se adapte ao eixo e também ao seu mancal, por isso não pode ser reutilizada em caso de troca de uma das peças acima.

Para calcular o novo par de bronzinas, o reparador deverá utilizar as bronzinas usadas (desde que estejam inteiras) e montar o conjunto de peças com o Plastigage, com os dados das folgas em mão o reparador saberá se deve optar por bronzinas de maior ou menor espessura, é importante assegurar a folga padrão entre o eixo e as bronzinas.

3° hipótese para a troca de bronzinas - Esta hipótese possui duas variáveis:

a. Seleção de bronzinas das bielas. Sempre que ocorrer a troca do par de peças: virabrequim e biela(s), a seleção de bronzinas seguirá uma tabela definida pelo fabricante da motocicleta.

b. Seleção de bronzinas das carcaças do motor:

Sempre que ocorrer a troca do par de peças virabrequim e carcaças do motor, a seleção de bronzinas seguirá uma tabela definida pelo fabricante da motocicleta.

Seleção de bronzinas por meio de tabelas

Como exemplo utilizaremos os procedimentos do fabricante Honda, sendo que cada fabricante utiliza uma maneira de calcular a nova bronzina e o processo é bem simples porém, deverá ser efetuado em cada colo do virabrequim. Normalmente é utilizado na linha de montagem das fábricas mas atenção, o método de combinação de códigos só pode ser aplicado em peças novas (zero km).

Passos para a seleção de bronzinas das bielas

Consiste na combinação de códigos impressos (2) no virabrequim com códigos das bielas.

Código “C”“C”: local da sequência de códigos da seleção de bronzinas do conjunto da carcaça e mancal, os códigos são: A, B ou C. Os códigos deverão ser combinados com os códigos da carcaça do motor conforme a tabela correspondente.

Código “2”“2”: Local da sequência de códigos da seleção de bronzinas das bielas, os códigos são: 1, 2 ou 3. O código deverá ser combinado com a sequência de códigos tirados das bielas conforme a tabela correspondente.

Na tabela acima há uma correspondência, o código da biela alinhado ao código do virabrequim irá indicar a cor da bronzina para aquele ponto (colo) do virabrequim. É necessário fazer a seleção para todos os colos do eixo.

Se o reparador perder uma das referências, ex.: cor das bronzinas, código de biela, carcaça do motor ou virabrequim ele poderá utilizar os dados fornecidos nas tabelas de seleção de bronzinas para efetuar o ajuste do conjunto.

Virabrequim - motocicleta CB 400

Passos para a seleção de bronzinas das carcaças do motor

Consiste na combinação de uma sequência de códigos impressos no virabrequim (C) com códigos gravados na carcaça do motor (alguns fabricantes utilizam a parte traseira da carcaça inferior).

Na tabela acima haverá sempre uma correspondência, o código da carcaça alinhado ao código do virabrequim irá indicar a cor da bronzina para aquele ponto (colo) do virabrequim. É necessário fazer a seleção para todos os colos do eixo.

Características e diferenças das bronzinas da biela e das carcaças - A bronzina da biela tem uma concepção mais simples, normalmente é lisa e possui apenas um furo para a passagem de lubrificante (foto abaixo), porém as bronzinas do virabrequim são diferentes, possuem canal e furo de circulação de óleo, ambas possuem trava, o objetivo é evitar que elas girem junto com o eixo do virabrequim.

A bronzina possui resistência e características para suportar as diversas intempéries do motor:

• Resistência ao desgaste;

• Resistência aos ataques químicos;

• Capacidade de suportar as cargas mecânicas;

• Capacidade de se adaptar ao eixo e alojamento.

Quando comparado no motor, a bronzina pode durar mais que o rolamento de esferas ou de roletes (agulhas), porém são muito sensíveis, não toleram procedimentos errados, nem ausência de lubrificante mas como vantagem, se bem cuidadas durarão muito, a área de contato é maior, por isso distribui melhor a pressão resultante do trabalho dos pistões e bielas, ao contrário dos outros rolamentos, nos quais a pressão fica concentrada nas esferas ou roletes.

Desgaste precoce dos pistões, anéis e cilindros como consequências da folga excessiva nas bronzinas das carcaças do motor - Em resumo, o óleo que lubrifica os pistões, cilindros e anéis do motor segue por galerias, dutos, giclês, virabrequim e por fim circula através das bronzinas, quando há folga excessiva entre o virabrequim e as bronzinas a pressão do lubrificante é reduzida, por consequência, o volume de óleo injetado na parte inferior dos pistões, pinos, parede dos cilindros e anéis diminui e então ocorre elevação na temperatura e o desgaste das peças.

Comparativos de bronzinas: 1. Bronzina da biela; 2. Bronzina do mancal da carcaça

CB 400

Causas de desgastes prematuros nas bronzinas

As causas listada abaixo também podem comprometer a vida útil de outras peças como virabrequim, carcaças do motor, bielas, pistões, anéis e outros, vejamos:

• Pressão do lubrificante abaixo da especificação;

• Bomba de óleo danificada;

• Dutos de passagens de lubrificante obstruídos;

• Especificação do lubrificante fora do padrão;

• Óleo deteriorado pelo combustível ou tempo de utilização;

• Nível ou quantidade de lubrificante abaixo do especificado;

• Lubrificante contaminado por partículas metálicas ou pó;

• Filtro de óleo obstruído;

• Falhas no sistema de arrefecimento do motor;

Encaixe da bronzina no mancal da carcaça do motor

• Virabrequim desalinhado;

• Virabrequim retificado, raio de concordância inadequado;

• Carcaças do motor com empeno;

• Deformação no alojamento da bronzina das carcaças do motor;

• Excesso ou falta de aperto nos parafusos dos mancais das carcaças do motor ou das bielas;

• Falta de procedimento ou procedimento inadequado nos parafusos dos mancais das carcaças do motor ou das bielas;

• Quebra de parafusos dos mancais das bielas;

• Inversão de mancais das bielas no processo de montagem;

• Deformação no alojamento da bronzina da biela;

• Abuso na utilização da motocicleta;

• Seleção de bronzinas em desacordo com a informação do fabricante do motor;

• Desgaste lateral da bronzina ocorrido pelo desalinhamento da biela;

• Corrosão, ação química na superfície das bronzinas;

• Qualidade do jogo de bronzinas;

• Falha de encaixe da trava da bronzina no processo de montagem de biela ou mancais das carcaças do motor.