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1º Clássicos Brasil celebra a história da indústria automobilística brasileira nos 461 anos de São Paulo


O Clube Hípico de Santo Amaro recebeu a exposição e reuniu veículos de colecionadores, emocionando os vistantes. Levamos dois reparadores para comprovar o maior evento de exposição de carros clássicos do Brasil

Por: Fabricio Rezende - 16 de fevereiro de 2015

Mais de 130 modelos do passado estiveram reunidos no 1º Clássicos Brasil, no Clube Hípico de Santo Amaro, na capital paulistaDurante os dias 23/01, 24/01 e no dia 25/01, a cidade de São Paulo recebeu inúmero eventos e oportunidades para comemorar seus 461 anos de fundação, um deles foi o 1º Clássicos Brasil, evento que nasce com o eslogam ‘O maior evento de carros clássicos do Brasil’; foi realmente um evento que marcou o aniversário da capital.

Nem mesmo a chuva fina que caía pela manhã na sexta-feira, 23 de janeiro, foi capaz de ‘espantar’ os expositores, a manhã toda foi dedicada aos ajustes finais dos carros no Clube Hípico de Santo Amaro, um lugar com tradição em eventos de automobilismo, seu imenso campo de grama contou com inúmeros bólidos de épocas distintas e ainda abrigou espaços dedicados às crianças, locais de alimentação com diversos food trucks.

Os expositores, verdadeiros apaixonados por carros, colecionam muitas vezes mais do que um veículo, podendo ser da mesma época, como um Maverick Sedan V8 (1974) e um Dodge Dart (1977), ou não, como um Romi Isetta (1956) e um Escort L (1985), não importa, o que vai importar mesmo para estes apaixonados são a confraternização de estarem juntos e o saudosismo de fazerem parte deste que é o primeiro evento voltado exclusivamente a carros nacionais.

“A ideia de fazer o evento surgiu parar valorizar todos os carros da indústria nacional e a indústria dos fora-de-série, o carro nacional tem todo respeito do brasileiro. Estamos emocionados e felizes com esta primeira edição e repletos de planos para o ano que vem”, diz José Ricardo de Oliveira, da ZR Soluções Automobilísticas, organizadora e realizadora do evento.

Histórias de paixões
Que os carros são paixão nacional isso ninguém duvida, mas para afirmar mesmo esta tese, convidamos dois especialistas em carros antigos e reparação para acompanhar a reportagem do jornal Oficina Brasil pelo evento, os escolhidos foram Paulo Handa (50), reparador há mais de 36 anos, atualmente é instrutor técnico nível 2 do Senai Ipiranga em Sistemas Automotivos e Anderson Ascava Nespoli (30), que gerencia ao lado do irmão Jefferson a retífica de motores Removel, que era de seu falecido pai, Paulo Roberto Nespoli, portanto o contato com este tipo de veículos de ‘época’, é desde criança.Ford Corcel GT ano 1971, um dos primeiros esportivos nacionais / A Romi Isetta 1959. O primeiro modelo fabricado no país (1956)Assim que pisamos no imenso gramado da Hípica de Santo Amaro, os olhos de Paulo Handa já se enchia de lágrimas ao ver um Karmann Ghia vermelho se posicionando em seu espaço junto a outros veículos Karmann Ghia ou da mesma época.

“Sou suspeito para falar, pois a maioria destes carros fizeram parte da minha infância, portanto carrego histórias destes carros, uns já tive, outros amigos tiveram e juntos curtimos muito nossa juventude”, descreve Paulo Handa emocionado.

Já Anderson Nespoli diz que o que dá mais emoção é dirigir um veículo com propulsor V8. “Sou apaixonado por motor V8, pois é um motor que dá para fazer várias coisas, me traz sensação de potência muito maior, mesmo em carros com motores preparados, um V8 me dá muito mais emoção para pilotar”, relata Anderson vendo um Dodge V8.

Mas Anderson alerta que este hobbie é para pessoas que gostam muito e têm capacidade financeira para bancar o curso alto. “Este é um hobbie um pouco caro, por exemplo, em minha retífica atendemos mais concessionárias e carros originais, porém há os esporádicos que são os verdadeiramente apaixonados, que colecionam carros antigos, mas eles não têm só um carro, têm muitos, encarecendo assim toda a manutenção e reparação deles”.

Chevrolet Chevette ano 1973, ano de lançamento do modelo pela General Motors no Brasil

Outro problema para este mercado é a mão de obra qualificada, Anderson indica que precisa ter mais amor para reparar estes veículos do que pensar em dinheiro. “A mão de obra para este tipo de trabalho em carros antigos é escassa, pois a maioria quer fazer para ganhar dinheiro, mas não é dinheiro, pois quem faz a retífica dos motores ou qualquer parte da manutenção tem que estar envolvido, por exemplo, um cliente me deixou um Ford para fazer o motor original, de manhã falei para ele que precisaria de algumas peças, quando fora à tarde, já estava embarcando para os Estados Unidos comprar as peças que eu pedi, então o cliente se envolve nisso.”, completa Nespoli.

Paulo Handa confirma o que o Anderson diz, “O mercado brasileiro ainda está engatinhando nisso, ainda se acham peças no Brasil mas é muito difícil. A proporção é que se você está precisando de uma peça para o carro de 1929, nos Estados Unidos você acha as peças como se fosse procurar para um carro de 2014 e com qualidade, diferente de algumas peças nacionais que na hora do acabamento você percebe que não tem uma qualidade 100% como o artigo importado.”, finaliza Handa.

Diversas raridades participaram do evento, carros que pouco rodaram pelas estradas, mas rodaram muito no imaginário popular proporcionando histórias que poderiam virar até roteiro de cinema. José Ricardo de Oliveira, que muitos conhecem apenas como Zé Ricardo, nos contou que a ideia era esta mesma, reviver estas histórias na cabeça dos visitantes. “As pessoas se emocionavam... Esses carros clássicos carregam a história da indústria automobilística nacional e da sociedade da época. Deveriam ser vistos e considerados realmente como uma atividade cultural brasileira”, diz Zé Ricardo.

Zé Ricardo que promove eventos automobilísticos há 25 anos, também tem histórias com alguns dos modelos dos carros expostos. “A minha história começa quando eu tinha 13 anos de idade e eu comecei a dirigir o fusca do meu avô no quarteirão de casa, em 1981, foi então meu primeiro contato com um carro. A partir daí começou minha paixão, quando completei 18 anos ele me deu um fusca 1976 e quando precisei trocar de carro não peguei um mais novo, peguei um 15 anos mais antigo e sempre foi assim, mas sempre por carros nacionais, eles que são os responsáveis por nos remeter à juventude dos brasileiros entre 35 a 55 anos”, diz Zé Ricardo. 

Premiação
Entre os cerca de 130 carros inscritos, incluindo três raridades do acervo da FIAT, 32 foram premiados pelo evento, divididos em categorias. Vale ressaltar que para efeito de premiação foram considerados veículos com mais de 30 anos de fabricação e 80% original, ou seja, placas pretas.

Foram oito juízes, especialistas na área, que tiveram a difícil e importante missão de escolher os melhores dos melhores: Carlos Eduardo Albuquerque, colecionador e restaurador; Fabio de Cillo Pagotto, engenheiro, editor da revista Collector’s Magazine nos anos 90; Gabriel Marazzi, jornalista especializado em automóveis; Lincoln Gomes de Oliveira, engenheiro da área automotiva; Luciano Dallago, colecionador e restaurador; Paulo José Meyer Ferreira – ex piloto de competição internacional, publicitário, colecionador especializado em automóveis brasileiros e alemães; Portuga Tavares, jornalista do setor automotivo e consultor do Programa Auto Esporte da TV Globo e Reynaldo Scalco JR, colecionador.Karmann-Ghia conversível, apenas 177 unidades produzidas / O Karmann-Ghia usava a mesmo motor do Fusca 1500 cc e 44 cvPara receber o troféu cada carro ‘desfilou’ na Alameda dos Clubes, um caminho que tinha bandeiras de clubes federados a Federação Brasileira de Veículos Antigos, como forma de homenagear estes apaixonados do antigomobilismo. 

Na categoria JK (veículos fabricados até 1960), que retrata a infância da indústria automobilística brasileira, com os primeiros modelos fabricados por aqui, ainda com algumas (ou muitas) peças importadas e similares aos modelos de origem das matrizes das fábricas, foram premiados: Romi Isetta (1956) – de André Beldi, DKW Universal (1956) - Flavio Gomes e VW Kombi Standard (1960) - Walter Beringhs e VW Monarca - Alexandre Atie Murad. 

Na categoria Tropicalismo (entre 1961 e 1966) – época em que os veículos passaram a ter alto índice de nacionalização (mais de 90%) o que incrementou a indústria de autopeças nacional. Projetos, alterações e modelos brasileiros, exclusivos surgiram, consolidando o parque industrial do Brasil – foram premiados: Esporte Brasília (1961) - Sergio Campos, DKW Belcar 1000 (1963) - Stevens Beringhs, Fusca 1200 Pé de Boi (1965) - Paulo José Meyer Ferreira e Willys Renault Teimoso (1966) - Paulo José Meyer Ferreira.

Ford F-100 Twin i Beam, sucesso da serie F, que iniciou a produção de picapes no Brasil em 1957

Na categoria Milagre Brasileiro (entre 1967 e 1973) – nesse período aconteceu um grande desenvolvimento, devido a diversos investimentos das fábricas, fortalecendo ainda mais nossa indústria. Isso durou até a crise mundial do petróleo, no ano de 1973 – foram premiados: Willys Itamarati Executivo Limusine (1967), Opala 3800 (1969) - Reynaldo Scalco, Shark (1970) - Sergio Trivelatto,Galaxie 500 (1971) - Fernando Ceolin, Karmann Ghia Coupé (1971) - Walter Beringhs, Ford Corcel GT (1971) - Sergio Vaz, Alfa Romeo JK (1972) - Wamderlei Natali, VW Variant (1972) –José Mateus Lopes eGalaxie LTD Landau (1973) - André Beldi.

Na categoria Geração Disco (entre 1974 e 1982) – esta época foi marcada pelo lançamento de uma nova geração de carros médios, menores e mais econômicos (uma forma encontrada para sobreviverem à crise do petróleo) e pelo fechamento do mercado para importações de automóveis a partir de 1975 – foram premiados:Dodge Charger R/T (1972) - Reinaldo Silveira, Ford F 75 (1973) - Alemão TiTiTi, Maverick Coupé V8 (1974) - Gregory Vaz, Maverick Sedan V8 (1974) - Andre Vaz, Chevrolet Chevette (1974) - Carlos Locatelli, VW Brasilia(1976) - Alexandre Artea, Dodge Dart 4 portas (1977) - Fabio Batistini e Envemo Super 90 (1981) - Fernando Hormain.

E, na categoria Nova República (entre 1983 e 1992) - nesta época as grandes fábricas se globalizaram e surge o conceito do ‘Carro Mundial’, fabricado em diversos países e com componentes vindos de diversas fábricas, fornecedores e filiais de vários países. Isso até a abertura das importações pelo governo no início da década de 1990 – foi premiado o Escort L (1985), de Erwin Moretti.

O 1º Clássicos Brasil também teve uma premiação especial que destacou os veículos: Galaxie Ambulância (1969) – Clássicos Caslini, Fusca de Competição AUTOZOOM – Oswaldo Guilherme Decanini, Fiat 147 - acervo Fiat, GM Carbrasa Escolar (1962) - Ônibus Colégio Dante Alighieri, Dogde 180 - acervo Fabio Steinbruch e Puma GTE Espartano (1972) - Heinzjurgen Halle.

Leo Steinbruch também criou o prêmio Fábio Steinbruch, em homenagem ao irmão, a quem o 1º Clássicos Brasil foi um tributo. Por ele foram premiados cinco carros: Dodge Charger R/T (1971) – Pedro Ramiro Horn, Maverick GT (1977) – José Roberto Vaz, Puma DKW (1967) – Ricardo Prado, Puma GT (1968) e Willis Interlagos (1966) – José Adolfo Bastos. O carro do presidente, Willys Itamarati Executivo Limusine 1967 / O raríssimo Uirapuru, conversível nacional feito pela BrasincaO evento
A intenção é que em cada uma das próximas edições ocorra o lançamento de um carro. Como foi o caso do Monarca 1954, que foi desenvolvido e montado por Olivier Monarca, projeto a partir de um Porsche 356. Há alguns anos Oliveira o achou e o resgatou, pesquisando toda sua história e colhendo fotos da época. Posteriormente foi comprado pela família Murad, que fez todo o processo de restauração e, 60 anos depois, repaginado, foi lançado no ClássicosBrasil, representando o começo dos carros fora-de-série no país.

O evento contou também com Espaço Kids com brinquedos para divertir as crianças e Espaço Mulher com direito a massagem. “Foi muito bom ver as famílias passeando e se divertindo, pais e filhos apreciando os carros, crianças brincando, mulheres se distraindo. Era o que queríamos: um espaço para todos que tivesse o universo do carro clássico em comum”, diz Oliveira.

Entre os expositores, havia os vendedores de carros, roupas, capa automotiva, pacotes de viagens, por exemplo. Tudo voltado ao público que gosta de carros antigos. Mas, o que chamou a atenção mesmo foi o ‘Mercado das Pulgas’, onde era possível encontrar desde peças antigas de carros, até miniaturas de automóveis, CDs, talheres com pedrarias, louças, brinquedos, antiguidades, placas decorativas em alumínio, tudo no melhor estilo vintage.

O 1°Clássicos Brasil foi uma realização ZR Soluções Automotivas, RRBB Propaganda e Marketing e DTS Promoções e Eventos. O evento tem como patrono o Chrysler Clube do Brasil, filiado à Federação Brasileira de Veículos Antigos, e tem como embaixador Fábio de Cillo Pagotto. O apoio institucional é da Federação Brasileira de Veículos Antigos, representada pelo presidente Roberto Suga.

Entre os apoiadores:  AMK Viagens, New Dog, Camargue Asset Management, Cral Bateriais e Brasc Construções e Incorporações.