Depois de muitos casos parecidos como este em nossa oficina, vamos abordar de maneira detalhada este diagnóstico resolvido com agilidade e rapidez, graças ao uso de equipamentos específicos para diagnóstico avançado de motores, sendo o osciloscópio e seus transdutores o principal deles.
O scanner ou rastreador como muitos falam, é apenas uma ferramenta auxiliar. Na maioria dos casos ele aponta um caminho a seguir e o reparador precisa ter conhecimento, ferramentas especializadas e material técnico para seguir os caminhos indicados até a solução do problema.
O proprietário deste veículo, um Palio Attractive com 16.000 km, ano 2013, motor 1.0 Fire Evo sem variador de fase no comando de válvulas, chegou com o carro em nossa oficina com a reclamação de extrema falta de potência e logo pediu um orçamento para passar o scanner e limpar os bicos injetores, pois segundo ele seria a causa do defeito do carro.
Após ouvi-lo, pedimos para dar uma volta no carro e vimos que ele realmente tinha razão, o veículo não tinha a mínima condição de continuar transitando pelas ruas daquele jeito. Parecia que estava totalmente atrasada a ignição dele, muito baixa a pressão da bomba de combustível ou ainda com escapamento muito obstruído.
Na volta para a oficina, explicamos para o dono do carro que este tipo de diagnóstico seria difícil precisar um orçamento, já que seriam muitos os testes a serem feitos e talvez algumas substituições de componentes. Ele então compreendeu nossa situação e aprovou o início do serviço. De imediato pegamos o osciloscópio, considerado por nós a principal ferramenta para esse tipo de análise.
Como a nossa primeira suspeita era sincronismo de correia e esse motor tem sensor de fase no comando, instalamos a ponta de prova do canal 1 no sensor de fase e o canal 2 no sensor de rotação. O sensor de fase desse motor tem 4 dentes, sendo 1 maior e 3 menores. O final do dente maior deve coincidir entre os dentes 14 e 18 da roda fônica do virabrequim, pois na engrenagem desse comando existe uma folga no encaixe do guia que não deixa ser possível montar todos com exatidão e nesse caso aí estava no dente 21, confira na figura 1.
Com esse diagnóstico já poderíamos concluir que algo estava bem errado ali, mas para certificarmos, partimos para um próximo teste com o transdutor de compressão com sensor MPX, que mostra a onda de compressão do motor com um atraso tão pequeno que é quase imperceptível, dando maior exatidão ao teste. Nessa imagem inserimos uma régua com medidas que vão de 0 (zero) até 720 graus, ou seja, de um pico de compressão até o outro, dando duas voltas completas do motor. Para um perfeito sincronismo, teríamos que observar na imagem o ponto dos 380 graus próximos ao meio da rampa de admissão e como mostra a figura 2, está bem fora também.
Ainda existia uma outra dúvida em nosso diagnóstico: nesses motores Fire é bem comum a quebra do dentinho trava da engrenagem do virabrequim, o que faz escorregar a engrenagem um pouquinho tirando o motor de sincronia. Para concluir precisávamos desse último teste. Quando esse motor está em PMS, o dente número 17 da roda fônica deve coincidir com o sensor de rotação, então colocamos um canal do osciloscópio novamente no sensor de rotação e o outro canal continuou com o transdutor de compressão. Ao examinar a figura 3, vimos que ali não havia problema, pois estava correto o posicionamento do referido sensor.
Após todos esses testes, até agora o único componente desmontado foi uma vela de ignição do 1º cilindro para encaixe do transdutor de compressão, partimos para a solução do caso, já que havíamos concluído que realmente estava bem fora o sincronismo da correia dentada. Retiramos a tampa de válvulas para instalar a ferramenta de fasagem no comando, removemos as carenagens da correia dentada e percebemos que a ferramenta do virabrequim não encaixava, pois a engrenagem estava cerca de 4 dentes atrasada. Retiramos a correia, posicionamos a engrenagem corretamente, instalamos uma correia e seu respectivo tensionador novos, fixamos a ferramenta na engrenagem do VB, executamos o ajuste de tensão da correia, montamos tudo novamente, ligamos o carro e já percebemos que o funcionamento havia mudado, parecia um novo motor. Ligamos novamente o osciloscópio para registrar o resultado do trabalho. Agora o final do dente maior do sensor de fase que antes coincidia com o dente 21, está no dente 18 da roda fônica, podemos ver na figura 4. Na figura 5 vemos que tudo voltou ao normal após todos os reparos, já que agora os 380 graus após o PMS estão posicionados quase ao meio da rampa de admissão.
Depois de tudo concluído, aí sim instalamos o scanner, fizemos uma varredura no sistema e tudo estava em perfeita ordem, resetamos os parâmetros e partimos para o teste de estrada com o veículo, em que constatamos que nosso trabalho havia dado um excelente resultado, pois o desempenho do veículo tinha voltado ao normal. Só nos restava entregar para o dono, o que foi feito logo em seguida. Ele fez muitos elogios ao nosso trabalho e pagou com prazer, apesar de não ter recebido orçamento prévio.
Investimentos em equipamentos que agilizam e dão precisão ao serviço são extremamente importantes para solução de casos como esse no dia-a-dia de uma oficina mecânica, até porque nos dias de hoje, temos novos sistemas sendo lançados a todo momento e cada vez fica mais difícil de acompanhar a evolução dos automóveis, mas em compensação, quem investir e se manter constantemente atualizado terá maior chance de permanecer no mercado com estabilidade.