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Manutenção e preservação dos sistemas de transmissão automática - Parte 1


Baseados neste pequeno manual, o reparador poderá acompanhar a vida útil do componente detectando falhas e efetuando o reparo correto de acordo com o sintoma das falhas

Por: Carlos Napoletano Neto - 11 de abril de 2014

Depois de receber diversos contatos de reparadores que precisam de algumas dicas de como efetuar reparos e verificações nos sistemas de transmissões automáticas, decidimos desenvolver um pequeno manual com dicas básicas para auxiliar os reparadores e, em alguns casos, como estes podem orientar os consumidores a acompanhar e preservar a qualidade e funcionamento deste componente que cada vez mais fará parte da realidade das oficinas de reparação independentes.

DICAS

1. Como faço para verificar o nível de fluido da transmissão de um veículo?

Sempre verifique o nível do fluido com o motor do veículo em funcionamento (com exceção da linha Honda). Com a alavanca em PARK (P) (exceto os veículos Dodge e Mitsubishi cuja alavanca deve permanecer em neutro com o freio de estacionamento aplicado), e com o motor na temperatura normal de funcionamento. Remova a vareta de nível e limpe-a com um pano livre de fiapos. Insira novamente a vareta totalmente e remova-a. Verifique OS DOIS lados da vareta para ver se indicam a mesma coisa. Repita o processo.

A razão para verificar os dois lados da vareta é que após o fluido circular através da transmissão, ele cai de volta na região do cárter e causa uma agitação deste. Isto cria uma marcação desigual gerando uma leitura falsa. Algumas transmissões são trabalhosas que outras nesta questão.

Nota: Se você verificar o nível após desligar o motor por algum tempo, o fluido proveniente do conversor de torque retornará à região do cárter onde o nível é medido, dando a você uma falsa leitura de nível alto. Quando o motor é acionado, o fluido na região do cárter é utilizado para carregar completamente a transmissão e o conversor de torque. Também a diferença na temperatura do fluido afetará a medição. O volume do fluido expande quando aquecido à temperatura de trabalho.

Outro método de verificação do fluido é desligar o motor e imediatamente medir o nível. Isto neutraliza a agitação e dá um nível correto (sem agitação) antes do fluido proveniente do conversor de torque ter a chance de retornar ao cárter.

Dica: Se você adicionou fluido, repita o procedimento, porém o faça várias vezes antes de obter a leitura final. O fluido adicionado adere à parede do tubo da vareta e poderá dar uma leitura incorreta de nível.

Dica: Se o nível de fluido estiver baixo, você está diante de um vazamento! As transmissões automáticas não consomem fluido. Identifique e repare o vazamento a fim de evitar problemas mais sérios com a transmissão.

Após haver adicionado fluido, dirija o veículo por 3 ou 4 quilômetros e então verifique o nível novamente. Isto é especialmente importante em veículos com tração dianteira.

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2. A transmissão tem um vazamento. Posso ter uma ideia de quanto posso cobrar o reparo?

Existem várias regiões que são propensas a vazamentos em uma transmissão automática. Elas incluem: a bomba, retentor do conversor de torque, retentores do eixo de mudanças, retentor do servo de redução, conexões elétricas, tampa do governador, sensor do velocímetro, retentor do eixo traseiro ou semi-eixos, tampa do servo, tubo de abastecimento, cabo de redução, cárter, tampa lateral, linhas de arrefecimento e tampa do diferencial.

A questão importante é: Quais são as fontes do vazamento. A maioria dos técnicos e usuários somente observam a parte inferior da transmissão, e assim concluem que a junta do cárter está vazando, quando na verdade o vazamento é na parte superior e escorre ao redor do cárter. Assim sendo, é imperativo que a transmissão seja inspecionada completamente para avaliar a situação e origem do vazamento!

Assim a resposta à esta pergunta é: não, não se pode calcular o custo do reparo até se inspecionar a transmissão completamente.

3. Posso dirigir o veículo com uma transmissão vazando?

Isto depende da proporção da perda de fluido. Um vazamento pequeno ou lento permitirá que você ande com o veículo desde que se mantenha o nível do fluido dentro da faixa adequada. Você terá de estabelecer a proporção do vazamento e corrigir o nível de acordo com ele. É óbvio que se o fluido está escorrendo de maneira muito grande, você não irá muito longe! Uma transmissão opera de maneira normal até que o vazamento de fluido drene o cárter abaixo da marca “mínimo” da vareta. Então a transmissão passará a exibir sintomas de operação anormal e danos internos poderão ocorrer. O que começou com um pequeno vazamento poderá resultar em um orçamento de reparo completo e a situação for ignorada!

4. Como posso calcular o custo de reparo de uma transmissão?

Minha primeira pergunta a você é: Qual modelo de transmissão está instalado no veículo e como você sabe que ele necessita de reforma? Ocasionalmente, um motor com falha de alimentação, sistema de escapamento bloqueado, módulo ou sensores defeituosos, aterramento deficiente ou outro problema externo à transmissão poderá ser a causa da operação anormal da mesma. Infelizmente tivemos numerosos veículos que deram entrada na oficina cujas transmissões sofreram reforma ou mesmo foram substituídas por outras, mas o problema de funcionamento continuou. Isto ocorre porque usualmente o problema não se encontra na transmissão, por isto não são resolvidos com a reforma ou troca da mesma! Que gasto desnecessário!

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5. Quanto dura normalmente uma transmissão automática?

Não existe uma resposta exata para esta pergunta. A quilometragem ou tempo de uso antes de ocorrerem problemas graves variam grandemente, e desta maneira, não vemos uma correlação entre quilometragem e falhas esperadas em uma transmissão. Não é incomum que apenas poucos anos depois de uma nova transmissão ganhar as ruas que ocorram falhas precoces de projeto, mas aos poucos, com as subsequentes atualizações no projeto original, elas se tornam mais confiáveis.

Os três maiores fatores que influenciam na expectativa de vida de uma transmissão automática são manutenção periódica, verificação e correção frequente do nível do fluido e hábitos de direção (mau uso).

 

6. Como posso orientar um cliente para que a transmissão automática do seu veículo tenha uma duração maior?

Assim como o dentista te orienta, “não os ignore”. Verifique o nível e condição do fluido periodicamente, repare quaisquer problemas e vazamentos prontamente, inspecione a transmissão em bases regulares, e instale um radiador auxiliar se o veículo é utilizado para reboque, fins comerciais ou em ambiente de temperaturas elevadas. Algumas unidades pedem a instalação de um “kit de mudanças” adicional para trabalharem com mais conforto.

A troca do fluido original por um fluido sintético poderá ajudar em certas aplicações porque abaixam a temperatura geral de trabalho do conjunto, resultando em uma vida mais longa da transmissão, mas nem todas as transmissões podem utilizar fluido sintético. Verifique com seu técnico de confiança ou com a APTTA BRASIL quais os fluidos mais apropriados para seu veículo automático.

7. O que é um “kit de mudanças”?

O kit é um pacote de serviço colocado no mercado que foi desenvolvido para compensar alguma deficiência de projeto descoberta em uma determinada transmissão. Em muitos casos, o kit melhora a qualidade das mudanças, aumenta a pressão interna de trabalho da transmissão e fornece uma melhor lubrificação.

Nota: Nem todas as transmissões necessitam de um kit de mudanças.

 

8. Se eu abastecer a transmissão acima do nível normal (sobrebastecimento), isto causa algum problema?

Em uma palavra, respondo que SIM! Ocorre que quando o nível está acima do normal, o fluido passa a tocar nas partes móveis da transmissão, se tornando aerado (gerando espuma) o que poderá causar operação anormal. Isto gera baixa pressão com consequente patinação interna e queima dos elementos de aplicação, destruindo rapidamente a transmissão. Além disso, poderão ocorrer vazamentos que de outra forma não ocorreriam!

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9. O sobreabastecimento causa ruptura dos retentores?

Não! A carcaça da transmissão é ventilada evitando que a pressão interna aumente em áreas normalmente não pressurizadas. Um sobreabastecimento poderá aumentar o nível do fluido de maneira que a transmissão perca fluido através do respiro ou vaze através dos retentores que estejam normalmente acima do nível de fluido, mas os retentores que estão sob pressão e os que normalmente não estão não alterarão esta situação devido ao nível aumentado de fluido.

10. Só com os sintomas de falha que o cliente nos informa, posso saber a causa da falha?

Gostaríamos que fosse simples assim. Não nos leve a mal, mas raramente temos uma descrição tão acurada do problema pelo cliente dando todas as informações necessárias de maneira a identificar a causa da falha de uma transmissão. Em muitos casos, se realizássemos o reparo baseados tão somente na descrição dos sintomas pelo cliente, o problema não seria resolvido. Muitas pessoas, incluindo mecânicos em geral, não possuem conhecimento de câmbio automático suficiente para diagnosticar adequadamente uma falha no sistema.

O melhor que podemos fazer é dar informação ao cliente que possa ajudá-lo a entender o problema ou sintoma, e fornecer alguma visão sobre algumas soluções possíveis.

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11. Por que não é recomendado substituir minha transmissão defeituosa por outra “usada” comprada em um desmanche, por exemplo?

 

Embora seja mais uma opção, devemos pensar duas vezes antes de fazer isto.

Se sua transmissão funcionou bem até agora, não há razão para pensar que outra funcionará melhor do que ela só porque algo se danificou agora. É a mesma coisa que em um desmanche pensarem que o carro batido que ele comprou se tornou um problema. Se a transmissão estava funcionando bem, com certeza ele a incluirá em seu estoque para venda, e quando alguém precisar de uma transmissão, ele a venderá como um câmbio seminovo.

Se o seu veículo fosse vendido a um desmanche um mês antes do problema atual aparecer, este mesmo problema apareceria no carro de outro usuário um mês depois da sua transmissão ter sido instalada. Este procedimento não somente acarretará mão de obra adicional para remoção e recolocação de outra transmissão, como também corre-se o risco da transmissão instalada estar em igual ou pior estado do que a original do veículo, mesmo o proprietário do desmanche dando “garantia” da peça instalada.

Isto, presumindo-se que uma transmissão exatamente igual a do seu veículo esteja disponível. Nos dias atuais, as transmissões são mais específicas de um ano de fabricação, fabricante e modelo do que eram alguns anos atrás.

O que fazer? A opção de uma transmissão usada é a mais barata presumindo-se que ela esteja em bom estado. Mas, se você pretende utilizar seu veículo por mais alguns anos, uma unidade reformada será mais confiável e com mais garantia que aquela usada de desmanche.

A oficina que instala a transmissão de desmanche vai provavelmente cobrar cada vez que removerem e recolocarem a transmissão. Em outras palavras, se a primeira transmissão usada não estiver boa, espere uma cobrança de remoção e recolocação para a próxima transmissão usada, que o dono de desmanche “garantiu”. Ele só garantiu a transmissão e não a mão de obra. Isto assumindo que o dono do desmanche possua outra transmissão. Informe-se antes de fazer este tipo de negócio.

Outra razão para considerar, é se o “problema da transmissão” está mesmo na transmissão. Com as unidades controladas hoje por computador, existem numerosos sensores eletrônicos, externos à transmissão que podem ser responsáveis pelo problema em si. Esta é uma forte razão para verificar com um técnico habilitado o diagnóstico antes de substituir a transmissão.

Já tivemos casos de veículos guinchados para nossa oficina técnica, cujo proprietário informou que já havia substituído a transmissão e o problema ainda continuava!

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12. O carro veio da oficina recentemente, tendo sofrido reparos em outra área, e agora a transmissão está apresentando problemas.

Se você notar algum problema com a transmissão logo depois de outro reparo, o indicado é orientar o cliente a levar o veículo a oficina que realizou o último reparo. Ocasionalmente, um problema pode ter sido criado durante o reparo. Mas, não espere muito tempo; esta consequência inintencional deverá ser investigada o quanto antes. A lógica dita que se a transmissão funcionava bem antes do reparo, ela deverá funcionar bem depois também. Apenas lembre-se de usar certa diplomacia!

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13. Tenho uma transmissão com gerenciamento eletrônico e ela atualmente está apresentando funcionamento irregular. O que poderia ser? Preciso de uma transmissão nova?

Se você perceber algum problema com sua transmissão, não assuma automaticamente que o problema está na transmissão. O computador recebe informações de vários sensores, processa as informações, e então aciona os atuadores para que a transmissão execute suas funções. Frequentemente, o problema está em um destes sensores, uma conexão elétrica, ou massa do sistema. Neste caso, qualquer reparo executado na transmissão não resolverá o problema. Um equipamento chamado scanner pode “ler” os códigos de falha armazenados na memória do computador e ajudar a apontar a origem da maioria dos problemas.

Assim sendo, é imperativo que o inteiro sistema de controle seja diagnosticado completamente antes de se intervir na transmissão. Os veículos atuais são bem diferentes dos antigos em termos de tecnologia.

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14. Ao rebocar outro veículo ou equipamento posso fazer isto com a alavanca em “D”?

Muitas transmissões não permitem o reboque em D. Contudo, algumas transmissões não possuem um limitador para este procedimento. Portanto, esta é uma chance de saber se a sua transmissão permite isto ou não, lendo o manual do proprietário. Enquanto estiver lendo sobre este assunto. Aproveite para saber quais são os períodos recomendados de troca do fluido e filtro, pressão dos pneus, etc. Este manual é frequentemente ignorado, mas contém informação muito valiosa.

15. O aspecto queimado do fluido é ruim para a transmissão?

Não necessariamente. O fluido se torna marrom e começa a cheirar queimado com o funcionamento “normal” da transmissão. A razão com que ele muda de sua cor normal vermelha (em geral) para a cor marrom é em função principalmente da temperatura de trabalho da transmissão e o tempo decorrido desde a última troca.

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16. Quão frequentemente devo revisar uma transmissão automática?

Os intervalos normais de serviço variam dependendo do uso do veículo e a temperatura de trabalho da transmissão. Quando você verifica o fluido periodicamente, note seu cheiro. Você perceberá um cheirinho de queimado bem antes dele começar a mudar de cor. E, quando você notar um cheiro muito forte de queimado, troque o fluido da transmissão. A quilometragem desde a última manutenção até a atual se tornará seu período de manutenção padrão.

Também, se houver uma quantidade muito grande de bolhas de ar no fluido, percebidas na vareta, é tempo de trocar o fluido.

A expectativa de vida do fluido está diretamente relacionada à temperatura de trabalho da transmissão. A temperatura média de trabalho da transmissão fica por volta de 100ºC, mas a eficiência do sistema de arrefecimento de seu veículo e o tipo de condução vai determinar a expectativa real de vida do fluido. A 100ºC, o fluido dura aproximadamente 150.000km, mas para cada 6ºC adicionais, a quilometragem total será reduzida pela metade.

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17. O cliente reclama que ocasionalmente o motor morre quando para em um semáforo ou coloca a alavanca da transmissão em “D” após funcionar o motor novamente.

Algumas vezes, um veículo automático, especialmente com tração dianteira, equipado com transmissão automática, poderá apagar o motor quando parar em um semáforo, após o mesmo ter alcançado sua temperatura normal de trabalho. Quando o motor é acionado novamente, ele morre novamente quando a alavanca é colocada em “D”. Este problema às vezes se repete até o motor esfriar. Isto é causado por uma embreagem existente dentro do conversor chamada “embreagem do conversor de torque” ou TCC, que está falhando quando deveria ser desaplicada pelo sistema. (Esta embreagem serve para eliminar a patinação causada pelo acoplamento fluido entre o motor e a caixa e assim aumentar a eficiência do carro automático, semelhante à embreagem de um carro com câmbio manual).

O problema não ocorre quando o conjunto motor/transmissão está frio devido a um sensor de temperatura que impede a embreagem interna do conversor de torque de ser aplicada antes de a transmissão aquecer.

O cárter da transmissão deverá ser removido para se inspecionar quanto a resíduos causados por danos internos que poderia estar contaminando o sistema. Se o cárter estiver relativamente limpo, então o solenoide que controla a embreagem do conversor pode estar defeituoso e deverá ser substituído.

Somente em caso de emergência, você poderá localizar o chicote que alimenta a transmissão e desconectá-lo da mesma. Ele está localizado na frente da caixa de câmbio, nos veículos com tração dianteira, e pode ser localizado facilmente olhando-se a transmissão por cima. Numa transmissão com tração traseira, o chicote está localizado no lado esquerdo da caixa (lado do motorista). Uma vez que a caixa esteja desconectada, a embreagem do conversor de torque não será aplicada. O chicote permite outras funções da transmissão, e provavelmente a luz de diagnóstico da caixa ou motor acenderá, após o chicote ser desconectado. Não dirija continuamente o veículo nestas condições. Este procedimento é somente para possibilitar a condução do veículo até sua oficina de confiança!

Se o sintoma continuar após o chicote haver sido desconectado, então existe um problema mecânico com o conversor de torque ou com a transmissão em si.

18. O cliente pediu para substituir sua transmissão automática por uma manual. É possível?

Este pedido se tornou o maior desafio! Não nos leve a mal, mas este tipo de serviço nas oficinas não compensa!

Neste assunto, existem várias considerações que devem ser feitas. É necessário comprar uma transmissão mecânica, todo o conjunto de embreagem, volante do motor, o sistema de cabos da embreagem, bem como o sistema de alavanca de mudanças e console interno.