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Mercedes-Benz 190, o veículo compacto que inaugurou com sucesso um novo segmento de mercado para a marca de Stuttgart


O 190, também conhecido como baby Benz, mostrou ao mundo que a Mercedes-Benz também sabia fazer carros menores, além alcançar reputação no segmento de esportivos

Por: Anderson Nunes - 23 de maio de 2023

Ao contrário do que muitas pessoas possam acreditar, a história da Mercedes-Benz não se fez tão somente com grandes e luxuosos sedãs. Estabelecida em 1926, a Daimler-Benz já ofertava em seu portfólio modelos de pequeno porte como a série 130/150/170H de motor traseiro, lançado em 1931. O modelo 170V de motor dianteiro, apresentado em 1936 e considerado a primeira geração do Classe E, era um veículo médio para época. Entretanto, a tendência natural de aumentar os automóveis a cada mudança de geração fez com que a marca de Stuttgart ficasse sem um modelo que a representasse no segmento de entrada.  

No início dos anos 1970, a ideia de um Mercedes-Benz compacto ganhou um impulso inesperado: a Lei do Ar Limpo, introduzida pelo presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, especificava o consumo de combustível da frota para os veículos de todos os fabricantes à venda nos EUA. Isso era conhecido como a “Economia Média Corporativa de Combustível” (CAFE). No ano de 1985, era de 12 km/l. Este foi um desafio para muitas marcas de automóveis, incluindo a Mercedes-Benz, uma vez que a gama de modelos disponíveis nos EUA, há muito tempo um dos principais mercados da marca da estrela de três pontas, estava no segmento de mercado de luxo e no topo do espectro de potência, com um consumo de combustível resultante da frota acima do limite especificado. Portanto, o ímpeto para desenvolver uma nova série de modelos mais compacta e, logo, mais eficiente em termos de consumo de combustível ganhou relevância devido ao mercado de exportação.  

Em janeiro de 1974, ficou definiu em uma carta os principais requisitos para esse Mercedes-Benz. Foi assim expressa: “O novo modelo deve ser um típico Mercedes-Benz. Portanto, não podemos fazer muitas concessões em termos de refinamento, segurança e as características associadas a marca”. O primeiro livro de especificações já definia a nova série do modelo batizada de 201 continha as seguintes diretrizes: “O objetivo deste produto não é adentrar nos mercados de tamanho médio, que foram ocupados por marcas como Opel e Ford por muitos anos. Além disso, o modelo 201 deve ser deliberadamente distinto destes devido às características de marca registrada que os clientes esperam em termos de qualidade, segurança e refinamento”. 

Isso significava que os valores tradicionais da marca Mercedes-Benz, como conforto, segurança, longevidade e confiabilidade, que antes eram implementados com perfeição em veículos maiores em todas as gerações, agora precisavam ser transferidos para um veículo compacto sem exceção. Este grande feito de engenharia foi um enorme desafio. Os primeiros protótipos começaram a rodar em 1978 em diversas condições climáticas e de terrenos.  

BABY BENZ  

A imprensa automotiva internacional aguardava com expectativa pelo novo Mercedes-Benz. E os jornalistas não ficaram desapontados quando os novos compactos da série 201 foram apresentados à imprensa mundial em Sevilha, Espanha, em novembro de 1982, nas versões 190 e 190E. A primeira surpresa foi o visual. Um veículo único, mas com todos os atributos de um Mercedes-Benz, foi produzido sob a orientação de Bruno Sacco. Além disso, o compacto tinha um baixo coeficiente de arrasto (valor Cx) de 0,33 e um desenho sofisticado e descomplicado, com uma elegância inegavelmente jovem e dinâmica. A imprensa automotiva o apelidou de “baby Benz”, em alusão ao seu tamanho compacto.  

O estilo do 190 lembrava vagamente o modelo topo de linha na época, o Classe S da série 126, lançado em 1979. Os faróis retangulares, com duplo refletor ladeados pela grade cromada que tinha como charme a estrela fixada sobre ela. Na traseira as tradicionais lanternas estriadas colaboravam para uma boa visualização mesmo após rodar por estradas de lama ou cobertas de neve. Um detalhe visual chamava a atenção: a tampa do porta-malas mais alta do que o capô, um recurso aerodinâmico que estava muito em voga naquele início dos anos de 1980.

Outros detalhes aerodinâmicos eram a ausência de calhas no teto, limpador de para-brisa de um único braço e para-choques de plástico integrados a carroceria. O 190 media 4,42 metros de comprimento, 1,68 m de largura, 1,38 m de altura e 2,66 m de distância entre-eixos, o modelo era visivelmente mais compacto do que o Classe E (série 123) da mesma época, media 4,72 m, 1,79 m, 1,44 m e 2,79 m, na ordem.   

Internamente, o 190 trazia um visual elegante e sem muitos luxos – as laterais de portas eram revestidas em vinil e os bancos em tecido. O painel de linhas sóbrias continha três módulos de instrumentos com vários mostradores, grande volante de quatro raios, apoio para descanso do pé esquerdo ao lado do pedal da embreagem. Nas versões de acabamento superior havia uma discreta faixa de madeira. Um item pouco comum nos Mercedes-Benz era o freio de estacionamento acionado por alavanca e não por pedal do lado esquerdo, como em outros modelos da marca.  

DOIS MOTORES DE INÍCIO 

As duas primeiras versões da linha eram a 190 básica e a 190 E, letra que indicava o uso da injeção eletrônica. O motor de quatro cilindros M102 de 2,0 litros, com comando de válvulas no cabeçote, era oriundo do modelo 200 lançado em 1980. Entregava potência de 90 cv e torque de 16,8 m.kgf com carburador e 122 cv e 18,2 m.kgf, com injeção, conjunto mecânico suficiente para levar o “baby Benz” à velocidade máxima de 195 km/h. O câmbio, a princípio sempre manual, tinha quatro marchas na versão carburada e cinco na versão com injeção eletrônica.   

Uma inovação era a suspensão traseira independente do tipo multibraços, composta por cinco braços de cada lado para um melhor posicionamento das rodas mesmo em situações críticas, como uma curva de alta velocidade. Já a suspensão dianteira era independente por braços sobrepostos. Um dos destaques era a redução de peso obtida pelo emprego de aço de alto resistência, o modelo 190 básico pesava 1.180 kg, isso sem afetar a resistência a colisões.

Outros destaques no campo da segurança eram a opção do sistema de freios antibloqueio (ABS), bolsa inflável para o motorista e pré-tensionador dos cintos dianteiros. Mesmo os freios traseiros eram a disco de fábrica.  

Na linha 1983 chegava a versão 190 D, diesel, dotada de motor de quatro cilindros, 2,0 litros e aspiração natural, que entregava 72 cv e 12,6 m.kgf de torque. Para minimizar o ruído interno, foi aplicado um eficiente sistema de “envelopamento” que resultava em uma significante redução de ruído proveniente do motor. Essa versão a diesel do modelo 190 foi por muitos anos o modelo predileto dos taxistas devido a sua robustez e a economia de combustível. 

Para o mercado norte-americano foram oferecidas variações especificas de motor. A versão 190 E 2,3 litros de quatro cilindros fornecia 113 cv. Essa redução de potência deveu-se aos padrões de emissões do mercado norte-americano da época.

O coletor de admissão, o comando de válvulas e o sistema de injeção de combustível foram refinados em 1984 e o motor passou a produzir 122 cv. O 190 carburado também foi revisado no mesmo ano, seu trem de força teve a potência aumentada para 105 cv. 

SEDÃ ESPORTIVO  

No salão do automóvel de Frankfurt de 1983 era apresentado o 190 E 2.3-16V, que denotava a aplicação das quatro válvulas por cilindro no motor M102 de quatro cilindros de 2,3 litros. O cabeçote, preparado pela inglesa Cosworth, era todo feito de liga leve usando o processo de fundição exclusivo batizado de Coscast.

O motor gerava uma potência máxima de 185 cv a 6.200 rpm e 24 m.kgf de torque a 4.500 rpm. Com diâmetro e curso de 95,50 x 80,25 mm, garantiram que o carro pudesse facilmente acelerar até a linha vermelha de 7.000 rpm. A aceleração de 0 a 100 km/h era efetuada em 7,5 segundos e a velocidade máxima era de 230 km/h.  

Toda a mecânica era revista, o sistema de direção era mais direto e o volante apresentava um menor diâmetro, além do tanque de combustível ser ampliado de 55 para 70 litros. O câmbio manual de cinco marchas, fornecido pela alemã Getrag, tinha a primeira marcha para trás e fora do “H” principal, técnica utilizada em carros esportes para deixar nesse “H” as quatro marchas superiores, sempre próximas umas às outras, para uma troca mais rápida e precisa.  

A suspensão recebia molas, amortecedores, buchas e estabilizadores especiais, com ênfase na estabilidade, além de um sistema hidráulico autonivelante. Isso permitia que a altura de condução ficasse sempre nivelada mesmo quando o carro estava totalmente carregado. O diferencial autobloqueante contava com a opção de controle eletrônico de diferencial, que bloqueava de 15% a 100% para uma melhor tração.

As rodas de 15 pol. calçavam pneus medida 205/55. No interior o revestimento era em tecido xadrez e havia três instrumentos adicionais no console, abaixo do rádio, um medidor de temperatura do óleo, cronômetro e voltímetro. O 190 E 2.3-16 estava disponível em apenas duas cores, azul-preto metálico e Smoke Silver. 

Melhorias foram sendo adicionadas à linha 190 no decorrer da produção. Em 1985 a Mercedes-Benz aplicava o primeiro motor de seis cilindros em linha em seu compacto, batizado de 190 E 2.6. O motor de 2.566 cm³ oferecia 166 cv e torque de 23,3 m.kgf, que conferia ao modelo uma velocidade máxima de 215 km/h e 0 a 100 km/h em 8,2 segundos. Uma das qualidades deste propulsor era seu funcionamento macio e o torque em baixa rotação. Visualmente era identificado pelas duas saídas de escapamento e o emblema 2.6 fixado do lado direito na tampa do porta-malas. A versão 2,3 litros e duas válvulas por cilindro, antes exclusiva do mercado norte-americano, chegava aos clientes europeus mais potente, com 136 cv. 

A demanda por veículos movido a diesel aumentava ano a ano na Europa, e de olho nesse mercado, a Mercedes-Benz passou a oferecer na linha 1988 a versão 190 D Turbo, dotada de motor de cinco cilindros, de 2,5 litros e que recebia um turbocompressor para entregar 122 cv e 23,4 m.kgf de torque. A versão era identificada por fendas no para-lama dianteiro, somente do lado direito para fornecer ar ao turbocompressor. 

ESCALADA DE POTÊNCIA 

O auge do desempenho foi finalmente marcado pelo 190 E 2.5-16, lançado em 1988. O motor de 2,3 passou para 2,5 litros com potência de 204 cv e torque 24,5 m.kgf, dados capazes de levar o sedã à velocidade máxima de 235 km/h e acelerar de 0 a 100 km/h em 7,5 segundos. Duas novas cores foram oferecidas – vermelho e um tom de prata. Evo I, como passou a ser chamado, tinha um novo spoiler traseiro e caixas das rodas mais largas. Muitas mudanças foram feitas em componentes, como freios e suspensão. O carro apresentava um sistema de suspensão ajustável que permitia que a altura fosse acertada a partir de um interruptor interior.  

Em março de 1990, no Salão do Automóvel de Genebra, foi exibido o 190 E 2.5-16 Evolution II. Com o sucesso do Evolution I, a produção de 502 unidades deste modelo já foi vendida antes de ser revelada. O "Evo II" incluía o AMG PowerPack, que trazia um motor diferente do utilizado na versão anterior: tratava-se de um propulsor de 2.463 cm³ em vez de 2.489 cm³ e menor curso dos pistões (compensado no maior diâmetro de cilindros) para menor sensibilidade a altas rotações, além de menor massa móvel e lubrificação aprimorada, a potência declarada era de 235 cv a 7.200 rpm, com torque de 25 m.kgf a 5.000 rpm, isso possibilitava uma velocidade máxima de 250 km/h e uma aceleração de 0 a 100 km/h em 7,1 segundos. 

Evolution II foi radical body kit (projetado pelo Prof. Richard Eppler, da Universidade de Stuttgart) com uma grande asa traseira ajustável, spoiler da janela traseira e rodas de liga leve Evolution II de 17 polegadas. O kit serviu a um propósito aerodinâmico - foi testado em túnel de vento para reduzir o arrasto para 0,29 e, ao mesmo tempo, aumentar a força descendente. Os 500 exemplares foram pintados em azul/preto metálico "blauschwarz". Mas os dois últimos, os números 501 e 502 foram pintados em prata astral, tornando-os os mais raros dos modelos Evolution. 

As últimas atualizações apareceram em 1991 com os freios ABS de série, controle eletrônico de tração para a versão 2,6 litros, potência aumentada em 4 cv para o 190 E de 2,0 litros. Em 1992, último ano de produção, a Mercedes-Benz apresenta as versões AVANTGARDE do 190 E 1.8, 190 E 2.3 e 190 D 2.5 como atraentes modelos especiais com pintura efeito pérola. Eles fornecem ímpeto para a individualização no segmento de alto volume. Depois de 10 anos de mercado, o sedã 190 despedia-se do mercado com uma produção total de 1.879.629 unidades