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Ipanema GLS 1994, a perua somava as qualidades do hatch kadett com mais espaço para a família


Com um visual diferente, a Ipanema modernizava o segmento das peruas médias com motores potentes, conforto e tecnologia

Por: Anderson Nunes - 31 de julho de 2023

Ao fazer sua apresentação pública durante o Brasil Transpo, ocorrido em outubro de 1989, em São Paulo, a General Motors preenchia a lacuna deixada pela Marajó, com a perua Kadett, batizada de Ipanema. A estratégia da marca com o novo produto era clara: aumentar significativamente sua participação de mercado, no segmento de peruas de porte médio. Neste campo, a finada Marajó nunca conseguiu competir de frente com a então líder de vendas do setor, a Parati, e a versátil Elba, da Fiat.   

A Elba, aliás, inovou para melhor, já que na linha 1990 o fabricante de Betim passava a oferecer a versão de quatro portas, antes restrita à exportação. Esse era o ponto negativo da Ipanema, que, mantinha o antigo conceito de duas portas, uma escolha que continuaria a penalizar o conforto dos fiéis seguidores da marca Chevrolet.

Com a Ipanema a General Motors incorporava todas as (modernas) soluções aplicadas no Kadett, como a dianteira dotada de linhas arredondadas, teto sem calhas e os vidros colados rentes à carroceria, recursos que buscavam a menor resistência aerodinâmica possível. Isso ficava comprovado pelo coeficiente de arrastado aerodinâmico, com um Cx de apenas 0,35, valor bem baixo para uma perua, ligeiramente maior que o do Kadett SL e SL/E, que era de 0,32. 

Porém o que impressionava à primeira vista era a traseira reta, com um corte abrupto, ao contrário do que se via na produção brasileira de perua naquele período, em que esses modelos adotavam uma leve inclinação na tampa do porta-malas. O visual da traseira, na verdade, tratava-se do caso no qual a função cedia lugar à forma, já que o desenho reto favorecia muito a arrumação da bagagem ou da carga. Também vale salientar que peruas como a Dodge Kingsway e a DKW-Vemag Vemaguete adotavam tal estilo de traseira. Era um arranjo estético que ganhou força na Europa em meados dos anos de 1980 e fez escola a partir das peruas Volvo. 

KADETT COM MAIS ATRIBUTOS

Apesar do desenho da traseira dividir opiniões, o corte reto da tampa do porta-malas favorecia a visibilidade. Enquanto no Kadett as largas colunas traseiras prejudicavam a visão periférica, na perua as estreitas colunas favoreciam a visão do motorista pelo espelho retrovisor interno. Outra vantagem da Ipanema era a sua estabilidade, pois a distribuição de peso ficava mais equilibrada, já que a carroceria com teto mais longo, um novo tanque de combustível de 50 litros (47 no Kadett) era posicionado antes do eixo traseiro, que melhorava a distribuição de peso e na segurança.

Comparado ao Kadett (4,07 m) a Ipanema media 4,31 metros de comprimento e mantinha o mesmo entre-eixos de 2,52 m. Quanto à suspensão, na dianteira foi mantido o sistema independente do tipo McPherson. Na traseira é que estavam as diferenças de arranjo quando comparadas ao Kadett: o eixo rígido permaneceu o mesmo, mas os amortecedores foram reposicionados, passaram a ser inclinados ao invés de verticais. Isso contribuía para que as torres de suspensão não atrapalhassem o espaço do porta-malas. 

A barra estabilizadora traseira passou de 14 mm para 16 mm de diâmetro. Outra novidade que a Ipanema oferecia no campo da segurança era referente à válvula equalizadora do freio traseiro. Ela era instalada em posição central, ao contrário das outras peruas, que ficava alojada nas extremidades; isso permitia uma melhor distribuição da pressão nas duas rodas traseiras. Os freios eram a disco ventilado na dianteira e a tambor na traseira. Um opcional interessante era o sistema para inflar os amortecedores traseiros por meio de ar comprimido. Isso permitia nivelar a altura da carroceria, independente do peso da carga transportada, o que favorecia a dirigibilidade e as frenagens. 

Na parte mecânica, a Ipanema era equipada com o motor de quatro cilindros, de 1,8 litro, com potência de 95 cv tanto na gasolina como no álcool, porém a potência máxima aparecia em regimes de rotações diferentes (5.800 rpm na gasolina e 5.600 rpm no álcool). O torque máximo era de 14,9 m.kgf no combustível fóssil e 15,1 m.kgf no álcool, ambos a 3.000 rpm. Acoplado ao motor estava o câmbio manual de cinco marchas, configuração 4+E (quatro marchas reais e uma de economia), dentro do conceito de sobremarcha (Overdrive). O comprador também tinha à disposição, como opcional, o câmbio automático de três velocidades. 

DUAS VERSÕES DE ACABAMENTO

A Ipanema era oferecida em duas versões de acabamento, a básica SL e a luxuosa SL/E. na versão topo de linha, o acabamento era mais aprimorado com bancos todo revestido em tecido, painel de instrumentos com hodômetro total e parcial, além do conta-giros. Também havia sistema de advertência sonoro de lanterna/farol ligados, relógio digital no console central, controle temporizador da luz de teto ligado por 15 segundos, além de iluminação no compartimento de bagagem, porta-luvas e cofre do motor. 

A lista de opcionais na versão SL/E era vasta e podemos citar entre os acessórios o trio elétrico (vidros, travas e retrovisores), coluna de direção regulável em altura, direção com assistência hidráulica, ar-condicionado, rádio toca-fitas, além do sistema de verificação de funções (check-control) e computador de bordo com 7 funções. Em ambas as versões de acabamento as rodas eram de aro 13 polegadas, calçadas com pneus radiais 165 R 13, sendo que na versão SL/E o comprador podia optar pelas rodas de alumínio. 

Para a linha 1992, os fabricantes preparavam-se para normas de emissões poluentes mais rigorosas (fase 2 do Proconve) adotando catalisador e/ou injeção eletrônica. A GM fez a opção pela injeção eletrônica para as linhas Monza e Kadett, desse modo os modelos abandonavam em definitivo o carburador. Nas versões de 1,8 litro foi adotado o sistema monoponto digital com ignição integrada, designado como EFI (sigla apenas de Electronic Fuel Injection). O motor passava a 99 cv a álcool e 98 cv a gasolina.

CORREÇÃO DE ROTA

Embora a Ipanema fosse uma perua média dotada de um bom espaço interno, principalmente no compartimento de bagagens, a versão familiar da linha Kadett carecia do fato de não oferecer uma versão dotada do motor de 2 litros, mesmo que suas rivais na ocasião também não ofertassem tal trem de força nessa cilindrada. Outro ponto desfavorável para a Ipanema era que em plena era quatro portas, ela estava restrita à opção de duas portas. E por fim, o estilo reto da traseira não agradou a todos.

Mas antes tarde do nunca, a GM fez uma correção de rota para o veículo de uso misto derivado do Kadett. Em abril de 1993, a Chevrolet decidiu incorporar as quatro portas e encerrou a produção do modelo de duas portas. Outra boa novidade, era que a versão SL/E só seria oferecida com o motor de 2 litros (a versão SL, todavia, permanecia com o motor 1,8 litro). O resultado final de todas essas mudanças foi uma perua média, que ganhava atrativos, não só por um conjunto mecânico mais potente, mas também pelas linhas que ficaram mais equilibradas com a adição de mais duas portas. Em 1º de junho, a fábrica de São José dos Campos atinge a marca de 30 mil Kadett Ipanema produzidas.

O aumento de torque e potência em relação à versão SL/E de duas portas, conjugado somente com 27 kg a mais de peso, deram vida nova à Ipanema. O modelo ficava bem mais ágil em aceleração e velocidade máxima. O motor Família II, de 2 litros com injeção eletrônica monoponto fornecia potência de 110 cv na gasolina, quando abastecido com álcool ganhava mais 6 cv. Já o torque máximo era de 16,6 m.kgf no motor a gasolina e 18 m.kgf no combustível vegetal, ambos a 3.200 rpm. 

Segundo os testes realizados pela revista Auto Esporte, a Ipanema SL/E, equipada com o motor de 2 litros a gasolina atingiu velocidade máxima de 179 km/h, e aceleração de 0 a 100 km/h foi efetuada em 12,1 s. A publicação também notou que não era preciso reduzir tanto de quinta para quarta marcha nas ultrapassagens. Como novidade, a GM passava a oferecer como opcional o freio a disco nas rodas traseiras. Uma correção que poderia ter sido feita pela a engenharia da GM, era referente à medida dos pneus, que permaneceram na medida 165 R 13. 

A novidade na linha 1994 era o tanque de combustível que aumentava para 65 litros, além da nomenclatura que passava a ser GL e GLS, unificado com o restante da linha GM. Em 1995 para atender à alta demanda pelo Corsa, a Ipanema deixa ser fabricada em São José dos Campos, interior de SP, passa a ser produzida no complexo de São Caetano do Sul, no Grande ABC. Nesse ano também a Ipanema perde a versão topo de linha GLS, substituída pela Astra Wagon, importada da Bélgica. 

Mudanças estéticas eram efetuadas para a linha 1996, que ganhava um melhor acabamento externo, com a introdução de novos para-choques, agora pintados na mesma cor da carroceria e a grade dianteira que estava mais alinhada ao estilo dos Opel alemães. A linha Ipanema passa a contar somente com a versão GL, podendo receber o motor 1,8 ou 2 litros. Outra novidade era a medida dos pneus que aumentava em largura: nas rodas de aço eram adotados pneus de medida 175/70 SR 13, já as rodas de alumínio passavam a ser cobertas com pneus 185/70 SR 13. 

Na segunda metade da década de 1990 o segmento de peruas sofreu grandes mudanças com a chegada dos novos Fiat Palio Weekend e do Escort SW, a Parati passará à segunda geração em 1995. Na linha GM, a Ipanema ganhava concorrência dentro de casa, com a perua Corsa, que embora fosse compacta, trazia mais tecnologia e itens de segurança como o duplo airbag e freios com sistema antibloqueio.  O ano de 1997 foi o canto do cisne da Ipanema GL, que tinha como novidade somente o motor de 2 litros equipado com a injeção eletrônica multiponto para atender às novas normas de controle de emissões de poluentes.