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Câmbio de motocicleta não é um bicho de sete cabeças - Parte 1


Conteúdo atualizado sobre o sistema de transmissão esclarece as dúvidas mais frequentes apresentadas pelos reparadores do segmento duas rodas

Por: Paulo José de Sousa - 10 de março de 2016

Na primeira parte da matéria vamos abordar alguns diagnósticos e sintomas de falhas na caixa de marchas da moto, e na segunda parte vamos apresentar um procedimento de montagem de engrenagens nos eixos e também entender algumas regras de como é definida a ordem de marchas.

A receita facilita os diagnósticos de defeitos e simplifica o entendimento do processo de montagem do câmbio e irá ajudar muito, funciona em motocicletas de todas as faixas de cilindradas da Honda, Yamaha, Hyosung, Kasinski, Sundown e outras marcas para câmbios com o mesmo princípio.

Esta matéria já foi publicada no jornal Oficina Brasil , mas pela importância do tema e algumas dúvidas dos reparadores resolvemos atualizar o conteúdo e reeditá-lo.

O nosso trabalho irá focar as motocicletas de baixa cilindrada, as regras descritas nos demais manuais de serviços quanto aos procedimentos, tolerâncias, limites de uso e substituição de peças deverão obrigatoriamente ser praticadas para assegurar a máxima qualidade no serviço e a satisfação do cliente.

Recomendamos que nunca desmonte um câmbio sem ter certeza da necessidade do serviço, para que não haja desperdício de mão de obra e peças.

CARACTERÍSTICAS   

O câmbio de motocicleta de motor a quatro tempos é robusto, tem vida longa, mas não perdoa os maus tratos nem a falta de manutenção. O sistema de lubrificação é por pressão da bomba de óleo, o lubrificante é peneirado, centrifugado ou forçado pelo filtro de papel e flui pelas galerias e tubulações localizadas nas carcaças e bloco do motor e por fim passa através dos eixos primário e secundário do câmbio (foto1),  que são apoiados em buchas , rolamentos de esfera ou roletes, cada engrenagem recebe a lubrificação por um orifício de pequeno diâmetro.  

Foto 1

O mesmo lubrificante banha também o conjunto da embreagem, relação primária e a parte superior do motor, como: pistão, anéis, cilindro, biela, virabrequim , cabeçote, válvulas e demais peças, o óleo tem que ser adequado às solicitações impostas ao motor.

Em outras palavras, se o motor não funcionar, o óleo não irá chegar ao conjunto de  engrenagens, e por conseqüência haverá danos  devido ao atrito. Na caixa de marchas parte das engrenagens gira livre nos eixos (loucas ou livres) e a outra parte gira com os eixos (fixas  deslizantes ou não) durante o funcionamento do motor.

SINTOMAS E CAUSAS DE FALHAS

Há motocicletas em que, em ponto morto na condição de  marcha lenta, a roda traseira  continua girando como se uma marcha estivesse engatada, é sinal que há muito atrito entre um dos eixos e uma engrenagem, na desmontagem é comum encontrar um ou mais eixos de câmbio com aspecto azulado devido à alta temperatura resultante do atrito com as engrenagens, mesmo a motocicleta estando com a manutenção impecável a causa pode estar relacionada a falha na   lubrificação  motivada pela  condução da motocicleta por longa distância com o motor desligado, ou seja, pegando uma “banguela”, utilizando  dispositivo de reboque,  “empinar” a moto também pode ser uma causa. 

O eixo será fragilizado pelo calor excessivo e pode vir a romper futuramente.

Embora haja exceções, problemas em câmbio normalmente não acontecem da noite para o dia, a caixa de marchas dá sinais através de ruídos  quando o usuário   engata e/ou conduz a motocicleta em uma determinada marcha.

Na troca de óleo é possível notar sinais de limalhas de metal provenientes da quebra de uma peça interna.

Também há danos provocados por peças que se soltaram pela falta de aperto adequado.

Ruído ou ronco, quando andamos numa determinada marcha, pode ter como causa uma pequena falha no(s) dente(s) da(s) engrenagem(ns). Não confundir com ruído externo, ex.: falta de ajuste da corrente de transmissão.

Outros sintomas que levam o reparador a pensar que o problema está no câmbio: 

• Marcha escapando, dificuldade de engatar ou trocar de marcha. 

Aqui normalmente a solução é mais simples e o  defeito pode ser decorrente do desgaste de uma peça do conjunto ou do conjunto completo: mola do eixo pedal de câmbio, braço posicionador, “abridor  de garrafa” (braço seletor, pescador) e “estrelinha”  (excêntrico posicionador  na Honda e chamado de seguimento na Yamaha). (foto 2) e (foto 4)

Foto 2

Foto 4

É bom também analisar o alinhamento do eixo do pedal de marchas. O acesso ao conjunto é fácil, basta tirar a tampa da embreagem.

Toda a análise é necessária, pois se o conjunto estiver em ordem aí será necessário partir para a desmontagem e análise da caixa de marchas. (foto 3)

Foto 3

CAUSAS DE FALHAS NO FUNCIONAMENTO: 

• Câmbio constantemente submetido a trancos; 

• Ajuste inadequado do conjunto;

• Espessura da junta do cárter abaixo ou acima do especificado;

• Carcaça do câmbio empenada;

• Rolamentos danificados, folga entre os rolamentos e a carcaça;

• Trambulador danificado;

• Desgastes nos dentes e engates das engrenagens por excesso de uso;

• Garfos desalinhados ou gastos;

• Travas e calços das engrenagens danificados ou montados em posição errada;

• Falta de lubrificante, lubrificante inadequado, ou excessivamente contaminado;

• Bomba de óleo solta ou danificada;

• Obstrução nas galerias de passagens de óleo ou no filtro.