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Reparador não compra peças pela internet


Esta é a conclusão da pesquisa realizada pela prestigiada revista “Aftermarket Business World” dos Estados Unidos, num levantamento dirigido a donos de lojas e oficinas mecânicas nos EUA

Por: Da Redação - 10 de janeiro de 2014

Publicada no mês de dezembro de 2013 no periódico, o estudo de mercado comprovou, entre outras informações relevantes, que quase a metade (46%) das oficinas afirmou que nunca compraram peças na internet. Já outras 30% revelaram que compraram, porém não o fazem com frequência (ou seja, continuaram fiéis aos seus fornecedores clássicos) e compraram até menos em 2013 se comparado com 2012. Apenas 3% responderam que compram peças pela internet quase todo o tempo.

Entre as causas para não comprar pela internet a pesquisa identificou que a principal delas (27%) é o receio de adquirir a peça errada, já para outros 22% o custo de envio foi considerado o motivo mais importante para não realizar negócios on line.

A pesquisa também mostrou que para 60% dos entrevistados, não haverá promoção envolvendo descontos ou os famosos “cupons” tão populares nos EUA, que os façam comprar  peças pela internet.

Além destes aspectos, o estudo focou três produtos diretamente: carregadores de baterias, lâmpadas e bombas de combustível, porém a percepção dos reparadores é praticamente a mesma, apesar da diversidade dos itens.

Nos três casos os resultados são muito semelhantes, sendo que nas bombas de combustível, por se tratar de um item mais técnico a preocupação com a compra errada aumenta.

Desta forma esta pesquisa atesta a larga preferência dos reparadores norte-americanos pelos canais tradicionais para aquisição de peças.  Para ajudar a compor o cenário do futuro da comercialização de autopeças nos EUA trazemos outros  estudos de mercado divulgados durante a feira AAPEX, que aconteceu em dezembro de 2013, em Las Vegas. Estes dão conta de que atualmente 3,7% das autopeças já são comercializadas pela internet no mercado dos EUA,  porém apenas 0,7% é dirigida às oficinas mecânicas (os outros 3% vão para o chamado “DIY” onde os próprios donos dos carros compram as peças).

Ainda na AAPEX foi divulgada uma expectativa sobre o crescimento para as vendas de autopeças on line numa proporção de 15% ao ano, o que no segmento profissional (oficinas mecânicas)  vai representar um ganho de share (em relação aos canais tradicionais) da ordem de 0,1 ponto percentual a cada 12 meses .

A conclusão final é que o mercado de venda de peças pela internet apresenta condições muito diferentes se comparado a outras indústrias, e com menos ambiente para prosperar no ritmo de outros mercados onde as compras on line crescem anualmente a taxas elevadas e garantindo o retorno dos investimentos na formação de “marketplaces”.

Outro aspecto divulgado na AAPEX, mostrou que a presença cada vez mais forte de lojas virtuais, aplicativos e sites para busca de peças (marketplaces) têm influenciado dramaticamente o processo de pesquisa de preços principalmente junto aos donos de carros, comportamento este,  que acaba criando embaraços para as oficinas na hora de cobrar a peça.

“É interessante notar que apesar das inúmeras iniciativas de “e-tailing” ainda não há uma que possa ser considerada líder na preferência do consumidor muito menos do profissional da mecânica, como observou a recente pesquisa conduzida pela AASA entre seus associados, mas fica claro que as inciativas estão divididas em quatro categorias básicas: a dos varejos tradicionais que montaram suas lojas virtuais, os marketplaces focados em autopeças, os sites especializados e os marketplaces que vendem de tudo, inclusive autopeças”, escreveu Chris Gardner (VP da AASA – Automotive Aftermarket Supliers Association) em recente artigo publicado na mesma  After­market Business World.

Ainda segundo Gardner o meio que vai despontar na eventual e  futura preferência do consumidor deverá atender necessidades muito específicas do segmento de reposição de autopeças como correta informação sobre os produtos, orientações sobre aplicação, retorno de compras erradas tanto na aquisição quanto na aplicação, suporte técnico e eficiente assistência em garantias.

E SE PENSARMOS EM TERMOS NACIONAIS?

Por outro lado, ao transpormos esta realidade do mercado dos EUA para nosso Brasil, e no momento em que assistimos várias iniciativas e investimentos  para implantação de lojas virtuais e formação de marketplaces para venda de peças on line , os fatos apresentados por esta pesquisa e informações diretamente da AAPEX, colocam em dúvida a viabilidade destas ações em nosso país.  Pois, uma vez comprovado que os reparadores dos  EUA  elegem o receio de comprar errado e o custo de envio como os principais inibidores da compra on line, o que dizer destes fatores quando confrontados a realidade brasileira?

Comprar uma peça errada no Brasil é uma realidade mesmo pelo método “clássico”, pois em nosso país (ao contrário dos EUA) não dispomos de um sistema de padronização de part numbers e aplicação para os fornecedores de peças do mercado independente.

Concorre para agravar esta situação a maneira como os reparadores no Brasil estão driblando a complexidade das panes que hoje somam, além dos tradicionais defeitos mecânicos, os intrincados desarranjos que a eletro/eletrônica dos componentes mascara e obriga o reparador a uma sequência de trocas de componentes até encontrar a solução. Tal realidade, facilmente comprovada por aqueles que acompanham o Fórum do jornal Oficina Brasil, faz com o que o fornecedor de peças dos reparadores se adaptem a este “troca/troca” e suporte, mas como fazer isso on line?

Finalmente não podemos esquecer que a peça para a oficina é um “insumo crítico”, que impacta diretamente no seu trabalho e resultado,  muito diferente, de um par de tênis, vinhos finos, perfume, livro, ou outro item de consumo de uma pessoa “física”.

Quanto à logística então, nem se fala, pois estamos anos luz atrás da eficiente rede de distribuição e entrega dos EUA  erguida e aprimorada ao longo  de mais de 100 anos (logo muito antes da internet) e que viabilizou a expressiva “indústria do catálogo”, quando as principais lojas e magazines distribuíam boa parte de seus produtos via esta logística. Por décadas consumidores nos EUA se acostumaram a comprar por catálogos (a internet nada mais é do que um catálogo eletrônico) e a receberem suas encomendas de forma rápida e economicamente viável em suas casas posicionadas em qualquer ponto do país continental.

Já no Brasil sabemos que a logística é um “gargalo nacional” e um dos “nós” que atrapalha sobremaneira nosso desenvolvimento econômico em geral e fator crucial para o progresso e viabilidade  do comércio eletrônico seja lá do que for. Por outro nosso mercado “tradicional” já criou mecanismos de formas de atuação para atender a demanda “just in time”, com o sistema de motoboys que operam o “retira”, uma porta lateral comum em qualquer distribuidor e que provê a necessidade das lojas de autopeças e estas, em ação semelhante, as oficinas mecânicas.

Reforça a perspectiva sombria para o desenvolvimento das iniciativas de vendas de autopeças on line em nosso país, o fato - impensável para os responsáveis pelas lojas virtuais de autopeças nos EUA -  e que envolve  o intrincado (insano mesmo) sistema tributário brasileiro.

A este adverso cenário nacional podemos juntar outras características únicas e muito brasileiras que ajudam a empacar as expectativas de desenvolvimento do mercado de comercialização de peças on line e dizem respeito à informalidade e crédito.

Mas voltando a realidade do mercado norte-americano, presumidamente o mais desenvolvido do planeta quando o assunto é comércio eletrônico, quando colocamos o foco no setor de reposição automotiva, mesmo nos EUA não identificamos um benchmark sólido e que efetivamente aponte um caminho de como a venda de autopeças via internet (para oficinas)  vai se popularizar e neste sentido, amparados nos dados divulgados pelas pesquisas e no recente encontro da  AAPEX, as apostas ainda são muitas, mas pelo visto nenhuma encontrou ressonância nas expectativas e necessidades dos reparadores.