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Executivo da Autozone no Brasil fala dos planos da empresa para os reparadores


Movimentando 8.6 bilhões de dólares no total das operações, a Autozone inaugurou sua primeira loja no Brasil em Sorocaba no mês de novembro. Mauricio Braz, responsável pela inserção desta no Brasil, afirma que vender peça é uma consequência de bom atendimento e que isso os diferenciará da concorrência

Por: Vivian Martins Rodrigues - 20 de dezembro de 2012

Faz algum tempo que o mercado de aftermarket ouve falar que a rede de autopeças Autozone abrirá lojas no Brasil. Pois bem, o primeiro passo foi dado. Em 9 de novembro, a marca inaugurou a primeira loja, localizada em Sorocaba, interior de São Paulo. A rede que possui 5.000 lojas nos Estados Unidos, dominando 15% de vendas de autopeças e 321 unidades no México, ainda não conta quais são os planos de expansão para o mercado brasileiro, nem fornece dados de investimento, mas afirma que veio para ficar.

A grande dúvida em relação à proposta da rede para o nosso mercado é o fato de que, diferente dos americanos, o brasileiro possui bem pouca familiaridade com a cultura “Do It Yourself” ou “faça você mesmo”, marca registrada da Autozone por lá. No Brasil, assim como no México, país em que a marca solidificou-se no mercado, a cultura é do “Do It For Me” ou “faça por mim”.

Será que o brasileiro está pronto para esta realidade? Afinal sabemos quanto custam às ferramentas e quão é difícil conseguir informações técnicas para reparos, até para os profissionais da reparação independente.

Mauricio Braz, em entrevista para o Jornal Oficina Brasil, esclarece qual a posição da rede para esta questão e fala das promessas de valores da rede para o mercado de autopeças.

Jornal Oficina Brasil:
Conte um pouco da sua experiência profissional.
Mauricio Braz: Sou administrador de empresas, formado pela USP e pós-graduado na Federal do Paraná. Atuo na área automobilista há aproximadamente 18 anos. Na GM foram oito anos de experiência na área de vendas e pós-vendas, após trabalhei três anos na Toyota como gerente nacional de vendas. Passei pelo Grupo Caltabiano, concessionárias de pesados e varejo. Há um ano e meio estou na Autozone. Assumi o projeto pois me identifiquei com os valores propostos.

JOB: Qual a estrutura da rede?
Mauricio: No México, iniciamos as operações há 14 anos, somando 321 lojas. Nos Estados são aproximadamente 5.000 lojas. Também abrimos uma loja no Alaska e agora, no Brasil. O México é um projeto diferenciado, houve um aprendizado de implementação e solidificação diferente do que está sendo feito no Brasil. Aqui, temos dados consistentes de mercado.

JOB: Porque a Autozone escolheu Sorocaba, no interior paulista, para abrir a primeira loja?
Mauricio: Sorocaba é uma cidade de 650 mil habitantes. Tem tamanho de mercado suficiente para receber a primeira loja e está bem perto da administração, localizada na capital de São Paulo.

JOB: Qual o investimento para o Brasil?
Mauricio: Ainda é uma informação confidencial. Vamos primeiro estudar a demanda.

JOB: Recente pesquisa da AAIA informa que o Do It Yourself (faça você mesmo) nos Estados Unidos atinge 22%. Sabemos que o Brasil não possui essa cultura. Qual a posição da Autozone quanto a isto?
Mauricio: O mercado americano nem sempre foi Do It Yourself. O México ainda não é um mercado DIY e possui um comportamento semelhante ao Brasil, que é o Do It For Me (faça por mim). O americano tem garagens equipadas com ferramentas e possuem espaço para trabalhar no veículo. Já México e Brasil, utilizam-se do trabalho do reparador.

JOB: As ferramentas no Brasil são bem caras. Haverá empréstimo de equipamentos?
Mauricio: Nos Estados Unidos o mesmo aparelho que é aplicado em um veículo serve para todos, já no Brasil, não há essa padronização.  Por isso emprestaremos ferramentas, mediante depósito que será estornado integralmente no ato da devolução.

JOB: O foco da Autozone é o consumidor final?
Mauricio: Vamos trabalhar com os dois públicos: consumidor final e reparadores.  O reparador no Brasil, assim como no México, será o nosso maior público.

JOB: Há algum diferencial para o reparador?
Mauricio: Temos nos Estados Unidos e México um programa comercial específico para reparadores que aplicaremos no Brasil também. O reparador tem descontos diferenciados para compras, entrega, crédito, possui atendimento diferenciado e o programa do empreste uma ferramenta “Lend a tool”.

JOB: A Autozone prestará serviços?
Mauricio: Oferecemos reparos pequenos, gratuitamente. Por exemplo, o cliente que comprar uma bateria, a instalação será feita sem custo. Recarga de bateria também é feita, assim como teste do alternador, da injeção eletrônica, troca de lâmpadas e de limpadores de para-brisa. Ou seja, ajudamos o cliente a fazer substituições simples, mas serviços, não serão feitos.  Apontamos o problema e indicamos que procure um reparador.

JOB: Isso significa que a Autozone não concorrerá com o reparador?
Mauricio: Não concorrerá. Faremos apenas reparos simples. No site americano, temos um campo onde indicamos uma oficina e reparadores, próximos à loja. Podemos fazer o mesmo aqui.

JOB: Qual a porcentagem do mix de faturamento, divididos em peças e serviços?
Mauricio: Nos Estados Unidos temos dois espaços diferenciados: o que chamamos de piso de supermercado de peças (onde o próprio cliente pega suas peças e estas não possuem aplicações específicas) e temos as peças de mecânica, localizadas atrás do balcão de atendimento (que requer aplicação específica), onde é necessário que o cliente indique para o Autozoner qual o modelo e ano do carro.

JOB: O que é um Autozoner?
Mauricio: É como chamamos os membros da equipe de atendimento. Eles atuam focados nas Promessas de Valores: “para os Autozoners o cliente vem sempre primeiro”, “conhecemos nossas peças e produtos”, “nossas lojas são excelentes”, “temos a melhor mercadoria e o melhor preço”. Os funcionários reúnem-se diariamente com o grito de guerra, para lembra-los quem são e o que prometem ao cliente. As reuniões com acionistas, diretores e presidência iniciam-se sempre com o grito de guerra que é mundial.

JOB: Qual a porcentagem do mix de faturamento?
Mauricio: Nos Estados Unidos vendemos 60% de peças de mecânica e 40% de peças de showroom, tanto para os reparadores, via programa comercial, quanto para o cliente final. No México o balanço é diferente, são 60% de piso de vendas e 40% de peças de mecânica. No mercado “faça por mim”, há mais demanda por piso de vendas. Já no Brasil, não sabemos o que esperar.

JOB: Qual o diferencial em relação á concorrência?
Mauricio: Temos um modelo diferente, pois alguns concorrentes trocam pneus, óleos e fazem serviços que não faremos. Apostamos que o que nos diferencia do mercado é o atendimento, é o “offer reliable advice”, ou seja, oferecer o conselho confiável para o cliente. Se não for preciso trocar peças, falaremos. Por exemplo, caso não seja necessário trocar a bateria, faremos apenas uma recarga gratuita. Queremos estabelecer um relacionamento com clientes e fornecedores em longo prazo, pois pretendemos permanecer por muitos anos no mercado brasileiro.

JOB: Qual vai ser a participação da rede na cadeia. Comprará peças por qual canal?
Mauricio: Compraremos direto da fábrica e também do distribuidor. Há mercado para todos e como já temos relacionamento por conta de mercados externos, compraremos direto da Magneti Marelli, da Bosch, entre outras.

JOB: Trabalharão somente com peças de giro?
Mauricio: Trabalharemos com peças boas, excelentes e premium. Teremos peças tanto para Gol, quanto para Chrysler. Precisamos estudar o mercado para saber qual a demanda por peças, porém temos um catálogo bastante completo.

JOB: Há uma pesquisa da CINAU (Central de Inteligência Automotiva) que aponta o crescimento da escolha do canal concessionário para compras de peças pelo reparador. Qual sua opinião?
Mauricio: Passei pelos três mundos: montadora, concessionária e aftermarket. Vejo o mercado de uma ótica diferente em razão disto e acredito que à medida que há um aumento da proliferação de modelos e dos períodos de garantia, esses novos modelos demoram mais para chegar ao aftermatket que não produz a peça de imediato. Este mercado está aprendendo a lidar com isto.

JOB: Como a administração da Autozone global, enxerga o mercado brasileiro?
Mauricio: Este projeto está em andamento faz aproximadamente cinco anos, quando começaram a estudar no planejamento de expansão da empresa, quais os mercados que reuniam atributos positivos. O Brasil possui um conjunto de fatores que foram decisivos para esta seleção de expansão internacional, por ser um mercado instável, com relativa regulamentação, cujo parque veicular é o 4º maior de emplacamentos do mundo. E o brasileiro possui a cultura de ser apaixonado por carro, além de ainda entender o carro como um “patrimônio”.