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Peugeot 2008 Griffe 1.6 AT com novo câmbio mostra energia para disputar melhor posição entre os SUVs


Reparadores reconhecem alguns progressos no utilitário esportivo da montadora francesa e que ele já merece ocupar um espaço melhor no seu segmento. Destaques ficam por conta da suspensão e da transmissão de seis velocidades

Por: Antônio Edson - 02 de maio de 2018

A fama nem sempre corresponde aos fatos e às vezes reforça preconceitos. As montadoras francesas instaladas no Brasil que o digam. Nos anos 1950 e 1960 – os mais rodados hão de lembrar – elas já eram vítimas de comparações desairosas. O Gordini, como você deve saber, veio antes. Também tinha fama discutível. Optei por citar o Gordini porque, efetivamente, se propôs a concorrer de frente com o Fusca e foi produzido por mais tempo, tendo mais versões: 1093, Teimoso, Gordini I, II, III e IV

pequeno sedanproduzido pela Willys Overland por concessão da Renault e que rivalizava a preferência da classe média com o Fusca,era chamado de leite Glória, cujo slogan era “desmancha sem bater”, ou do absorvente Modess, pois uma vez usado deveria ir para o lixo.Neste século, o C3 da Citroen e o Peugeot 206, para ficarmos apenas em dois modelos,herdaram a fama dafragilidade e deum pós-venda deficiente.O problema é que nesse caso havia, de fato, verdade na história. Umestudo realizado em 2015 pela Customer Service Index (CSI) StudySM Brasile divulgado pela JD Power, líder global em informações de consumidores, avaliou a satisfação dos clientes quanto à qualidade do pós-venda das montadoras e comprovou queaPeugeot era uma das marcas queestavaem último lugar nesse quesito.

Reverteruma fama não totalmente injusta exige investimento etrabalho.O primeiro veio do governo francês e da estatal chinesa Dongfeng que adquiriram 28% das ações da Peugeot por 800 milhões de euros.A injeção visa dar ao Grupo PSA (Peugeot e Citroen) condições para desenvolver carros compactos populares e de tecnologia híbrida. A meta é vender 1,5 milhão de veículos por ano a partir de 2020 principalmente em mercados emergentes como o Brasil.Aqui, adianta-se, o caminho morro acimaserá árduo. Em 2017, a Peugeot, 11ª colocada no ranking, vendeu 24.518 automóveis e cresceu 6% em relação a 2016, menos que a média do mercado. E ainda assim superou a Citroen que perdeu 6,4% de participação.O primeiro trabalho com vista a dias melhores foi feito: Peugeot e Citroen aposentarama transmissão de quatro marchas AL4, uma das responsáveis pelo conceito desabonador dos veículos franceses, para adotar um câmbio automático de seis velocidades, presumivelmente mais adequadoàs condições do País.

Um francês renovado para incomodar a concorrência é o Peugeot 2008 vendido no Brasil nas versões Allure, Griffe e Griffe THP. Em contrapeso à fama de alguns de seus predecessores, esse crossover compactojá lavou a honra da família: sua versão DKR, de tração em duas rodas, venceu em 2016 o Rally Dakar,omais difícil rali do mundo – há 26 anos, a Peugeot não subiu a esse pódio.Claro que os 2008vencedor, com chassi tubular e carroceria de fibra de carbono,era adaptado para a prova e pouco se parece com seus similares de rua, mas ao menos comprova que os franceses, quando querem,sabemfazer carros resistentes.

E para enfrentar a buraqueira da cidade de São Paulo, o 2008 estaria preparado? É o que a Oficina Brasil Mala Direta quis saber ao levar um modelo 2008 Griffe 1.6 AT avaliado em R$ 79.280 a três reparadores da cidade de São Paulo que constam no Oficinas Online. As escolhidas dessa edição foram a Auto Mecânica Firecar, no bairro do Mandaqui, zona norte da capital paulista;Auto Elétrica Luizinho, na Vila Cachoeira, na mesma região; e Afroncar Centro Automotivo, no bairro da Saúde, zona sul. Nessas oficinas, o crossover foi avaliado por...

Luiz Carlos Bailone. Há mais de meio século no mesmo ponto, na Avenida Coronel Sezefredo Fagundes 2789, na Vila Cachoeira, a Auto Elétrica Luizinho, uma das fundadoras do GOE (Grupo de Oficinas Especializadas), abre em média 120 ordens de serviço por mês. Seu proprietário, Luiz Carlos ou Luizinho, herdou o estabelecimento do pai, Sérgio Bailone, em 2002, quando ele então trabalhava também com funilaria e pintura. “Optei por trabalhar só com mecânica leve em geral incluindo serviços de auto elétrico devido a minha formação técnica em eletrônica”, afirma Luizinho, que conta atualmente com três colaboradores. Além de especializar-se na reparação, Luizinho se preocupa em ser um bom administrador. “Antigamente se dizia, e era verdade, que ser um bom mecânico era suficiente em nossa profissão. Hoje não é mais, pois é preciso ser também bom gestor. Não adianta reparar um carro com maestria e não dar conta de administrar seu negócio”, orienta o profissional.

Ricardo Marques. Há 39 anos no ramo da reparação automotiva, Ricardo, 53 anos, dirige a Auto Mecânica Firecar há três décadas. Empresário e técnico em mecânica industrial e automotiva, ele começou na profissão realizando pequenos reparos nos veículos da família ehoje vê sua história ser repetida pelo filho Fernando, de 28 anos, que desde os 13 dá expediente na oficina, à Rua Ponta Grossa, 207, no Parque Mandaqui, sem descuidar dos estudos – o rapaz é graduado em Mecânica Automotiva pelo Senai e o ajuda o pai a dar conta de uma demanda de quase 100 ordens de serviço por mês.O trabalho, ali, não se restringe apenas aos veículos comuns. Isso porqueeventualmente Ricardo é requisitado para cuidar das preciosidades de alguns antigomobilistas paulistas. “Somos procurados por colecionados, que não podem confiar suas joias a qualquer um, mas trabalhamos com todos os tipos de carros” explica o reparador, também proprietário de dois clássicos da Ford– um Escort XR3 1992 conversívele um Mustang 1995.

Marcelo Antônio Scoleso. Tendo como sócio o irmão Maurício, Marcelo, de 52 anos, conta com uma biografia associada aos motores. Nos anos 1960, o avô Henrique era proprietário de uma frota de táxis com aproximadamente 50 Fuscas onde Marcelo passava a maior parte do tempo, quase sempre na oficina ajudando na mecânica. A relação se estreitou ainda mais quando o pai, Ângelo, assumiu a empresa. Depois Marcelo participou de provas de motocross, fez curso de Mecânica no Senai e partiu para o próprio negócio: uma oficina, óbvio. Em 1991, a Afroncar Centro Automotivocomeçou no centro da cidade e mudou para o bairro da Saúde em 1996. Em 2008 transferiu-se para o atual endereço, na Rua Doutor Samuel Porto, 117, também na Saúde, onde seis colaboradores dão conta de uma demanda de até 150 ordens de serviço por mês. “Nosso foco é a pessoa jurídica. Alguns de nossos colaboradores atendem diretamente nas empresas”, aponta.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

À primeira vista, o Peugeot 2008 causa boa impressão.Por fora, o carro com 4,1 metros de comprimento, 1,739 metros de largura e com altura de 1,583 metro lembra mais uma pequena perua do que um SUV compacto. Luizinho Bailone adjetivou como futurista o design do 2008. “Hoje a tendência é termos faróis cada vez mais alongados e estreitos acompanhando a linha lateral do veículo, assim como as lanternas traseiras. Daqui a pouco faróis e para-brisafarão parte do mesmo conjunto ótico. Também aprovo a colocação de repetidores de seta nos retrovisores laterais. O problema é que encarece muito uma eventual substituição da peça”, acredita.

Ricardo Marques igualmente elogiou o design do Peugeot 2008, em particular o detalhe do friso cromado sobre a moldura superior da porta traseira. “Pegou bem. Há um tempo atrás alguns automóveis abusavam um pouco dos frisos cromados, mas desde que se saiba usar eles ficam bonitos”, comenta o reparador que também considerou adequado o estepe não ser do tipo provisório. De fato, não é, mas Luizinho Bailone reparou que seu aro, 15, é inferior aos quatro outros usados no veículo, de aro 16. “Certamente trata-se de uma medida de economia”, afirma o reparador. Marcelo Scoleso não só estranhou a diferença dos aros como também achou curto os assentos dos bancos. “Em longas viagens deve causar certo desconforto”, pondera. “Também achei estranho a posição dos mostradores de combustível e de temperatura do motor estarem nos cantos do painel de leitura, e não centralizados, entre o velocímetro analógico e o conta-giros. O motorista demora um pouco para se acostumar”, relata. Como acontece no Peugeot 208, a leitura dos instrumentos do painel é feita por cima do volante de pequeno diâmetro, o que até ajuda no processo desde que se posicione adequadamente banco e volante.

Mas o ponto – literalmente – alto entre os reparadores que conheceram o Peugeot 2008 Griffe 1.6 ATfoi mesmo o seu “telhado de vidro”. A cortina do teto envidraçado pode ser recolhida mediante um botão no console. “Sem dúvida, show de bola. A questão será se essa cortina começar a acumular sujeira entre ela e o vidro. Se o mecanismo de abrir e fechar quebrar o excesso de luz também pode ser um incômodo”, projeta Luizinho Bailone.

AO VOLANTE

Em seu teste dinâmico, o Peugeot 2008 Griffe 1.6 AT mostrou um desempenho ligeiramente além do esperado. Entre outras razões porquesua condução pode ser ajustada ao gosto do motorista através das opções Drive, Eco e Sport. Considerando essas opções e seu diâmetro de giro de 10,4 metros, a direção de assistência elétrica, a posição de dirigir e suas dimensões compactas, os reparadores classificaram ocrossovercomo um veículo fácil de conduzir e de manobrar no trânsito pesado. Segundo eles, os passageiros do banco traseiros, principalmente se forem três adultos, podem não se sentir muito confortáveis, já que a distância entre eixos de 2,542 metros não favorece movimentos largos.

Testando o 2008 pelaRodovia Fernão Dias, o reparador Luizinho Bailone confirmou que o crossover tem um comportamento elástico, rodar macio e é agradável de dirigir. “Tem boas retomadas de velocidade.Outra virtude importante é o silencio da cabine. Não se ouve o ranger de plásticos e o ruído maior que entra no habitáculo é o da rolagem dos pneus no asfalto”, descreve Luizinho que, no entanto, notou que o SUV raspa suafrente inferior na pista ao passar de modo agressivo por lombadas. “Talvez seu ângulo de entrada precise ser revisto”, calcula o reparador. 

Em circuito predominantemente urbano, Marcelo Scoleso considerou um avanço a presença dos modos S, de Sport, e Eco de dirigir. “Não é em todo carro que encontramos as duas opções ao mesmo tempo”. Mas ele acusou uma falta de visibilidade maior pela vigia traseira e nas laterais, o que prejudica as manobras mais rápidas feitas em meio ao trânsito pesado. Ricardo Marques, por outro lado, considerou que o 2008 apresenta uma dirigibilidade mais leve e acertada do que alguns outros SUVs compactos. “Principalmente o público feminino tenderá a preferir o 2008 em detrimento de outros concorrentes por não ser muito largo nem muito comprido. É um crossover relativamente fácil de manobrar em espaços menores.O volante de pequeno diâmetro bastante”, argumenta. 

MOTOR EC5M

Sob o capô, o Peugeot 2008 Griffe 1.6 AT mostra um velho conhecido das oficinas: o propulsor EC5M flex de1.587 cm³com um torque de 16,1 kgfm (e) a 4.000 rpm, tecnologia Flex Startque dispensa o tanquinho o reservatório de gasolina,comando de válvulas variável (CVVT) e que entrega uma potência de 118 cavalos no etanol.Segundo a Peugeot, a taxa de compressão mais alta, de 12,5:1, melhorou o rendimento do motor principalmente quando utilizado com etanol. Já o conjunto de pistões e anéis do tipolow friction emprega material de baixo atrito, o que reduz o gasto de energia para movimentar suas próprias peças.As bielas também foram forjadas e fraturadas para fornecer alta resistência, reduzir o peso e alcançar um desempenho melhor, além de menor consumo. O coletor de aspiração e tampa do motor foram fabricados em plástico a fim de reduzir o peso do conjunto, sem comprometer a resistência. O veículo ainda conta com tuchos hidráulicos e sistema “drive by wire”, que emprega fios e sensores para conectar o corpo da borboleta ao acelerador.

“É um motor que praticamente não mudou nos últimos anos e de excelente reparabilidade desde que o reparador tenha informação técnica e o ferramental adequado”, resume Luizinho Bailone, para quem um problema recorrente é a avaria do coxim principal motor. “Por ser hidráulico e mais sensível ele se rompe com certa facilidade, principalmente quando o condutor abusa de arrancadas bruscas. O coxim não tem necessariamente que suportar esses esforços, está ali para gerar conforto dentro de um funcionamento normal”, orienta. “Sim, dependendo de como o veículo é conduzido a peça pode ter sua vida útil abreviada. Acelerações bruscas judiam desse coxim e muitos já foram trocados aqui na oficina”, ratifica Marcelo Scoleso.

Ricardo Marques dirigiu seu olhar para a direita e destacou a carenagem que cobre a correia dentada. “Longe de atrapalhar ela tem a função de proteger e preservar a peça evitando contato de algum elemento estranho”. Quanto ao motor EC5M ainda trabalhar com correia dentada quando outros partiram para a corrente metálica de transmissão, Luizinho não vê problema. “Se for feita a manutenção preventiva correta e no tempo certo teremos motor por muitos anos. Não vale a pena a montadora fazer um grande investimento só para acompanhar certas tendências”, acredita. Marcelo Scoleso vai mais longe e vê, ou melhor escuta, uma vantagem na correia dentada. “Com ela o motor funciona com um ruído suave, menos áspero. Um ouvido treinado logo percebe a diferença entre a correia dentada e a corrente metálica”, compara.

O EC5M trabalha com uma bobina para quatro cilindros. “Trata-se de uma opção dos engenheiros franceses. Em motores com quatro bobinas se uma queimar o reparador troca a fase, ou seja, queimou a bobina um trocam-se a um e a três, queimou a dois, trocam-se a dois e a quatro.No caso de uma bobina única troca-se o conjunto.Mas hoje as bobinas têm longa duração”, relata Luizinho. “Quanto à eficiência não há diferença. Mas atroca de uma bobina única fica mais caro, embora hajaa tese de que no caso de haver quatro bobinas e uma queimar todas devem ser trocadas. Pessoalmente não concordo”, depõe Marcelo Scoleso.Ainda quanto a bobinas e velas, Luizinho Bailone lembra que sob a tampa de inspeção do motor EC5M, onde localizam-se essas peças, com o tempo surge um acúmulo de óleo devido à temperatura elevada do nosso clima, utilização de lubrificantes não recomendados e qualidade ruim do combustível. “Uma limpeza geralmente resolve”, argumenta.

Mais um componente do motor do 2008 que exige uma limpeza periódica principalmente a partir dos 30 mil quilômetros e o corpo de borboleta. “Devido à carbonização, comum em motores a combustão, o TBI passa a ter dificuldade em abrir e fechar, pois os fragmentos de carvão passam a impedir esse processo”, aponta Marcelo Scoleso. Ainda quanto à limpeza, Ricardo Marques aponta para os bicos injetores e repara que eles não são de fácil acesso. “Nada muito complicado, mas exige um tempo maior de oficina. Por isso a limpeza dos bicos acaba rendendo um ganho maior para os reparadores”, contabiliza. “Sim, temos o coletor de admissão de fluxo cruzado. Por isso temos mesmo mais dificuldade em acessar os bicos, localizados na parte de trás do motor. Poderia ser melhor, mas não é nada do outro mundo”, confirma Luizinho Bailone, que elogiou o coletor de escapamento com catalisador integrado. “Quanto mais perto o

Catalisador estiver do motor melhor será sua eficiência, pois sua temperatura será mais elevada”, conclui. 

TRANSMISSÃO

Lançando em 2015 com um câmbio automático de origem francesa AL4(também conhecido como DPO) de quatro velocidades, frequentemente associado a intercorrências como patinações, trancos, atrasos na troca de marchas, entrada em modo de emergência eacendimento de luzes de anomalia no painel, o Peugeot 2008 recebeuno ano passado uma caixa automática de transmissão de seis marchas desenvolvida pela japonesa Aisin.Conceituada entre os reparadores como robusta e de qualidade, a caixa da Aisin, deterceira geração, passou a equipar outros modelos do Grupo PSA (308, 408, 508, 3008 e RCZ, Citroën C4 e Lounge) e está sob o capô do Fiat Toro, Jeep Renegade e Compass.

Com a mudança, o Peugeot 2008 deixa de lado uma criticada caixa de câmbio para ganhar competitividade e alinhar-se aos utilitários esportivos concorrentes com uma transmissão atualizada. Mesmo que, por causa dela, o motor EC5M que, antes, entregava até 122 cavalos de potência no etanol tenha passado a entregar 118 cavalos. O ajuste foi necessário para o crossover preservar o mesmo índice de eficiência e de emissão de gases – segundo o Inmetro, o carro obteve o Selo Conpet de EficiênciaEnergética, classificação A em sua categoria e B na classificação absoluta geral.

Segundo os reparadores, a transmissão é, agora, ponto alto nodesempenhodo Peugeot 2008 devido ao ganho de agilidade e de suavidade ao volante tanto em circuito urbano quanto rodoviário. Devido a ela é possível ter diferentes opções de dirigibilidade: Drive, convencional; Eco, que realiza as passagens de marchas em rotações mais baixas e, assim, reduz em até 5% o consumo de combustível; e o Sport, para chegar a rotações mais altas e dar ao SUV um comportamento mais nervoso – os botões Eco e Sport estão posicionados juntos à alavanca do câmbio. “A diferença é notável. No modo Sport o motor estica as marchas e o 2008 entrega maior agilidade para as retomadas de velocidade e ultrapassagens. Na configuração Drive o motor retarda a entrega da potência. Creio que para uma pegada mais familiar pode-se fazer uma boa viagem mesmo no modo Eco. É o suficiente”, descreve Luizinho Bailone.O último destaque para o quesito câmbio é o recurso GSI (Gear Shift Indicator) que indica na matriz LCD do painel de instrumentos a marcha a ser engatada para garantir um menor consumo de combustível.

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO

O Peugeot 2008 Griffe 1.6 ATtraz direção com caixa mecânica e assistência elétrica variável, freios dianteiros com discos ventiladosnas medidas 283mm x 26mm e discos sólidos nas medidas 249 mm x 9 mmnas rodas traseiras. A suspensão dianteira é tipo McPherson, independente, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados à gás e barra estabilizadora. Nas rodas traseiras, a suspensão apresenta travessa deformável, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados à gás e barra estabilizadora. O vão do solo do 2008, de 1.583 mm, não é dos maiores em relação aos outros SUVs. A alavanca de freio lembra a forma de um manche, mas o mais relevanteé que, conforme apontaram os reparadores,a frenagem de estacionamento é realizada através da própria pinça, sem tambor. Isso significa que, nas rodas traseiras, o freio de pedal é o mesmo do freio de estacionamento.

Com o carro sobre o elevador, poucos minutos de observação bastaram para Luizinho Bailone se deparar com uma agradável surpresa. “Veja,o carro aparentemente está mais resistente. Aqui em baixo, nos Peugeot, existia um coxim auxiliar do motor, um coxim do semieixo, que quebrava direto, dava muita dor de cabeça, e agora foi substituído por um rolamento. Na verdade, eles mudaram o sistema de apoio do motor. É um avanço absurdo”, comemora. Outra boa alteração, segundo o reparador, se deu com o reforço do quadro da suspensão. “Ele agora forma uma asa fixada à carroceria e há uma barra para estabilizar e não rachar o quadro”. Bandejas e pivôs com rebites não mudaram. O mesmo não se diga das bieletas que agora trabalham na linha da bandeja. “Até um tempo atrás, na linha Peugeot,as bieletas davam muito problema pois eram posicionadas abaixo da linha das bandejas e, com isso, entortavame prejudicavam a estabilidade. Parece que os engenheiros acertaram o ponto”, acredita o reparador.

Antes de pôr o 2008 no elevador, Ricardo Marques lembrava que a suspensão dos Peugeot é particularmente problemática. Depois de subir o carro reviu o conceito. “Um automóvel para rodar bem no Brasil, com o piso e os combustíveis que temos, não pode ser apenas bom, mas muito bom. E os franceses estão aprendendo isso”, reconheceu Ricardo, apontando para o quadro reforçado, o coxim inferior do câmbio robusto ebem posicionado, o bujão do cárter de fácil acesso, os discos ventilados traseiros de bom diâmetro, “algo que nem todos os carros nacionais dessa categoria oferecem”, os bem fixados coxins do escapamento e o revestimento na parte inferior que protege as linhas de fluido de freio e de combustível.

Resumindo, sob o elevador, o Peugeot 2008 surpreendeu positivamente os reparadores. “Fácil reparabilidade, nada complicado, com mais espaço para trabalhar que os primeiros modelos da marca. Finalmente a Peugeot, ao menos nesse modelo, não está usando mais aquele sistema de eixo traseiro com buchas e rolamentos de torsão”, sintetiza Ricardo Marques. “A Peugeot parece ter abandonado aquela suspensão dos 206 e 207 que deixava todo mundo louco e dava problema direto nos rolamentos. Ao menos aqui temos uma suspensão com um contexto simples, sem muitas articulações, segura e de fácil reparabilidade. E além do mais confortável e silenciosa, como nos mostrou o teste dinâmico.Sóteria a sugerir à montadora que revise o ângulo de ataque do 2008 – de 22 graus – para evitar eventuais raspadas em lombadas”, pontua Luizinho.

ELÉTRICA, ELETRÔNICA E CONECTIVIDADE

O pacote de equipamentos eletrônicos de série do Peugeot 2008 Griffe 1.6 AT é razoável – ar-condicionado automático digital de duas zonas, direção elétrica, teto solar panorâmico,faróiscom luz diurna de LED, faróis de neblina, piloto automático, trio elétrico, limpadores de para-brisa com sensor de chuva, porta-luvas refrigerado e sistema multimídia touchscreen de sete polegadas com Android Auto, Apple CarPlay e porta USB–, mas peca ao omitir o essencial: controles eletrônicos de tração e estabilidade que são oferecidossomente na versão mais cara do modelo, a 1.6 THP Flex.“O que pode explicar o fato de os pneus cantarem quando o carro entra em curvas de forma mais agressiva”, comenta Luizinho Bailone.

Os reparadores chamaram atenção para o alternador pilotado e que funciona por demanda. “Ele não recarrega a bateria o tempo todo. Mas como o 2008 conta com uma direção elétrica há uma demanda maior de energia. Quanto maior a exigência maior será seu trabalho”, avalia Marcelo Scoleso. “Na verdade, ele produz somente o necessário para a bateria. Quando não é preciso recarga ele não a produz e evita desgaste. Com isso, o carro economiza combustível e diminui a emissão de gases porque não há uma carga excessiva na máquina”, completa Luizinho. 

Outro detalhe da parte elétrica do Peugeot 2008 é quanto à bateria. “Devido à alta tecnologia embarcada desses carros é necessário tomar certas precauções no caso de uma queda brusca de tensão, quando a bateria arria. Aconselha-se a não fazer recarga ou a popular chupeta. O procedimento correto é abrir o circuito, carregar a bateria e depois estartá-la”, orienta Luizinho. “Sim, mesmo que o 2008 não conte com o sistema start-stopa bateria merece atenção especial assim como as caixas de fusíveisBSI, interna, e a BSM, que fica no compartimento do motor”, completa Ricardo Marques.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

O Grupo PSA montou seu primeiro carro no Brasil em 2001, na fábricade Porto Real (RJ). Mas sua relação com o País é mais remota: o primeiro automóvel a rodar por aqui, em 1891, foi um Typ 3da Peugeot importado por Alberto Santos Dumont, que dispensa apresentações. Sem considerar esses 127 anos de relacionamento da Peugeot com o Brasil, mas pesando os 17 anos em que ela vem montando carros aqui,parece não ter havido tempo suficiente para o Grupo PSA absorver uma verdade que outras marcas também custaram a absorver: oficinas independentesnão podem ser ignoradas pelasmontadoras. Até porque em um País com dimensões continentais é impossível as concessionárias darem conta da demanda. Basta saber que o Grupo PSA já produziu por aqui mais de 1,5 milhão de veículos e se perguntar se todos eles dependem apenas das cerca de 350 concessionárias do Grupo no Brasil. A conta, claro, não fechará.      

“Com relação ao Grupo PSA temos que nos virar para obter informações”, admite Marcelo Scoleso que, na ocasião dessa reportagem, contava com quatro Peugeot em sua oficina. “Quando vamos atrás de informações as concessionárias não ajudam e pedem que abramos ordens de serviço para deixar o carro lá. O que resolve mesmo éa network, contato com os colegas e fóruns da internet. Isso é normal em se tratando de montadoras com pouco tempo no País. As mais antigas adotaram uma política mais aberta”, relata. “Dependendo da relação comercial com a concessionária você pode obter alguma dica, mas é difícil. Recorro mais à internet”, admite Ricardo Marques. “O problema da internet é que ela tem informação certa e informação errada. É preciso separar o joio do trigo. Algumas montadoras já aprenderam que os reparadores independentes dão bons resultados para elas, outras não. No caso do Grupo PSA não reclamo: tenho um amigo engenheiro que trabalha lá e me passa algumas dicas, mas informalmente”, testemunha Luizinho Bailone.

PEÇAS DE REPOSIÇÃO

Um grave problema da Peugeot no Brasil é o seu serviço de pós-venda. Tanto que o Grupo PSA se dedica hoje a um trabalho de recuperação da imagem da marca com o programa Total Care, que reúne dez compromissos das concessionárias para resgatar a confiança dos clientes. Nenhum desses compromissos, porém,garanteobjetivamente que as concessionárias terão em estoque e para pronta entrega ao menos as peças de alto giro. Uma pena, pois isso é o que interessa aos reparadores.

“Quando recorremos à concessionária atrás de uma peça o que mais ouvimos é que ela está no depósito central. Fazemos o pedido, pagando antecipadamente, pois hoje é assim que funciona, na base da venda casada, e esperamos até três dias para o produto chegar. Se chegar tudo bem, ocorre que em alguns casos a espera pode ser de até um mês”, admite Luizinho Bailone. “Mas verdade seja dita que isso hoje ocorre com todas as marcas, pois nenhuma concessionária está fazendo estoque”, esclarece Marcelo Scoleso. “A característica específica das peças Peugeot é mesmo o preço, mais caro que as demais. E se for peça de acabamento então, o valor vai às alturas. A saída, em casos que se pode abrir mão da originalidade, é apelar a distribuidores independentes. Uma alternativa válida é recorrer ao mercado argentino”, indica.

O recurso dos distribuidores independentes, de resto,parece ser um expediente comum a todos os reparadores quando se trata de obter peças da Peugeot mais em conta. “Sabendo disso, para abastecer o mercado, muitos comerciantes especializaram-se em peças francesas”, afirma Ricardo Marques. “Mas é um risco depender apenas desse segmento, pois muitas peças são, na verdade, chinesas e de qualidade bastante duvidosa”, adverte Luizinho Bailone.

RECOMENDAÇÃO

Na avaliação junto aos reparadores, o Peugeot 2008 Griffe 1.6 AT saiu melhor do que entrou. Explicando: o crossover entrou nas oficinas timidamente e sob a suspeita de potencialmente vir a apresentar vários defeitos comuns a seus predecessores, mas saiu delas com um conceito fortalecido e o prestígio em alta.Surpreendeu com uma transmissão resistente e moderna e uma suspensão reforçada, justamente os pontos onde se esperava que se sairia pior. Eis o veredicto dos profissionais:

“Sim, certamente recomendaria o carro a quem estivesse disposto a comprá-lo. Claro que não concordo com o preço dele, inflacionado como tudo o que as montadoras oferecem ao público brasileiro. Mas é um carro que, agora, ao menos vale a pena ter na garagem devido à boa mecânica e excelente reparabilidade”, assina Luizinho Bailone. 

“O preconceito com os carros franceses vem caindo. O meu mesmo diminui um bocado depois de conhecer melhor esse Peugeot 2008. E precisamos admitir que isso é fruto de trabalho. A verdade é que os carros franceses estão quebrando menos e durando mais, embora todos eles tenham seus limites de durabilidade. Tem coisa melhor do mercado? Se procurar tem, mas os franceses estão chegando perto. Por isso, recomendaria esse Peugeot 2008”, diz Ricardo Marques.

Marcelo Scoleso: “Aparentemente, o Peugeot 2008 apresenta uma resistência maior. Aos poucos, a gente vai percebendo que os carros da marca estão absorvendo mais as difíceis condições de rodagem no Brasil. Logo, posso avalizar esse carro a meus clientes que desejarem comprá-lo. Mas deixando claro uma coisa: o carro tem muitos componentes eletrônicos e, por isso,deve-se seguir rigorosamente e em dia o plano de manutenção prescrito pelo fabricante. Agindo assim o cliente vai ter um carro com uma boa durabilidade.”