Para realizar a avaliação geral do Sandero Stepway, o Jornal Oficina Brasil contou com profissionais da Auto Elétrico Jozi, do bairro da Bela Vista, na capital do Estado de São Paulo, e da Binho´s Car Service localizada em São Bernardo do Campo SP.
À frente da Auto Elétrico Jozi no Bairro da Bela Vista, São Paulo - SP, está Michel Batista Iaras, 34, há 20 anos atuando na área. “Comecei com 13 anos de idade; trabalhava com meu pai, o senhor Álvaro, e me tornei sócio dele. Fui avançando com a tecnologia, saí para trabalhar com 29 anos com gestão de frota por 3 anos”. O local atende 77 veículos por mês – os da marca Renault passam mais como manutenção preventiva. A seu lado, está Juarez Barbosa Florêncio, 56 anos, 40 de profissão, começou trabalhando no Ceará com o pai, trocando feixe de mola de Jeep. Está em São Paulo há 36 anos e é instrutor do Senai. Pedro Henrique FerlaLarucci, 19, há quatro meses na Jozi conta: “O Michel me encontrou no Senai e me pediu para passar aqui, porque precisava de uma ajuda. Eu vinha assistindo e ele me deu a oportunidade de começar a trabalhar”, conta.
Já Fábio Alves Pereira atende uma média de 120 veículos por mês na Binho´sCar Service localizada em São Berbardo do Campo: “Da linha Renault e Peugeot temos um fluxo grande aqui, de 5% a 10% dos carros”. Fábio está há 10 anos na profissão, e é docente do Senai há 7 anos. Ele conta com a ajuda de Milton Spagari Júnior, 42, há 22 anos na profissão, e trabalha com Fábio há cinco.
Para os profissionais da Jozi, a principal diferença em relação ao modelo anterior é o design, que teria ficado muito melhor, além do acabamento interno.
Na visão do Michel, o cliente primeiro se apaixona pelo carro, principalmente pela parte estética, e somente depois passa a considerar outros itens como o motor, consumo, etc.
Michel observa que: “No motor, visualmente nenhuma diferença; até o barulho, a ressonância que passa para dentro do carro é a mesma do Logan e Sandero antigo”. Tanto Fábio quanto Michel consideram que este motor 1.6 8v tem uma reparabilidade simples, e com bom espaço e acesso para se trabalhar nos componentes.
Sistema de partida a frio com o velho tanquinho de gasolina é sempre criticado pelos reparadores, pois os usuários não conseguem utilizá-lo da forma correta. Fábio porém, ressalta que esta versão já trabalha com o quinto injetor, o que evita boa parte dos problemas de ressecamento e envelhecimento da gasolina no reservatório.
Fábio aponta que o carro tem uma deficiência de centelhamento, pois no seu entendimento eles não deveriam colocar a bobina em um lugar tão quente, em cima da tampa de válvulas, onde ocorre muita dissipação de calor. A bobina acaba absorvendo muito desse calor, e com o tempo provoca falhas de ignição nos cilindros.
Sobre esta questão, Michel tem uma visão diferente e explica que, por baixo da bobina, há uma proteção térmica, e recorda que já pegou um Sandero com 150 mil km utilizando a mesma bobina original de fábrica.
Para ele a troca de marchas poderia ser mais suave, pois apesar do sistema ser acionado por cabos, os engates ainda são muito secos e com ruído de atrito.
A troca dos componentes da embreagem é simples, mas exige o deslocamento parcial do quadro da suspensão para facilitar a substituição. Da mesma forma, para a remoção do câmbio, basta soltar um pouco o quadro.
Sobre as coifas do semieixo, Michel afirma que estão mais reforçadas e com tulipa. Para ele, o defeito de vazar todo o óleo do câmbio é recorrente, e às vezes acontecem casos de reparadores mal preparados, que simplesmente trocam a coifa rasgada e esquecem de trocar ou completar o nível do óleo de câmbio.
Pelo tamanho do carro, Fábio diz que os discos podem até ser pequenos, mas por causa do sistema ABS e EBD a eficiência do freio também acaba sendo maior.
O carro ficou mais elevado (4cm segundo a Renault) e utiliza pneus 205/55 16R. Portanto o conjunto mola e amortecedor teve que ser redimensionado e recalibrado. “Mas acho que com essa altura o carro perde um pouco a estabilidade, sinto que pula mais, se passa em uma trepidação, a tendência não é ser macio, e é mais duro mesmo”, completa.
Michel alerta que esta proposta estética de grande apelo mercadológico tem suas limitações técnicas e comenta: “você não consegue colocar um carro desse para atuar como off road de fato, pois ele não tem essa capacidade de pegar trilha. A suspensão dele continua sendo frágil para esse tipo de terreno”.
Fábio constata que se trata de uma mola mais reforçada, apropriado aos terrenos em que vai trafegar. “A proposta do carro é andar também em terreno irregular, então utiliza uma mola com uma espessura maior. Com isso acaba tendo um desempenho melhor do que uma mola para uso exclusivamente urbano, o que acabaria danificando prematuramente os amortecedores”, diz.
PARTE ELÉTRICA
Michel e Fábio observam que as caixas de fusíveis geralmente têm um diagrama que facilita e agiliza o diagnóstico, mas este modelo não tem, e poderia ter pelo menos uma identificação por imagem na tampa.
Pelos seus conhecimentos e experiência como eletricista, Michel avalia que o veículo não apresenta nenhum grau de complexidade para os reparos na parte elétrica.
Segundo Fábio, o veículo não traz muitas dificuldades, e são poucas as ocorrências de anomalias. Apenas manutenções corriqueiras como uma queima de lâmpada de farol ou de lanterna, sem registro de ocorrências graves como por exemplo que o Clio apresentava, com infiltração de água que danificava o imobilizador e outros componentes.
Fábio elogia ainda o sistema do “alternador pilotado”, que recebe informações do módulo do veículo sobre a carga de energia necessária, e se ajusta de forma progressiva a cada demanda, evitando picos de energia e preservando os itens envolvidos na geração, incluindo o próprio alternador, bateria, correias, polias etc.
PEÇAS
Na Auto Elétrico Jozi, os profissionais encontram bastante disponibilidade de peças Renault para os itens de giro, tanto nos sistemas de correias, rolamentos, pastilhas e discos, filtros, e todas elas com qualidade similar ao original, a preços bem acessíveis.
“Eu evitaria colocar marcas paralelas em sistema de arrefecimento, sensor de temperatura, válvula termoestática, porque pode e já aconteceu de colocar peças paralelas e não funcionar corretamente. Peças de motor, peças internas de câmbio, temos que tomar muito cuidado. Coxim, você tem que colocar original, porque caso contrário o carro fica com mais vibração do que estava”, avalia Michel.
Para ele, a GM é a melhor rede de concessionárias para se comprar peças genuínas, pelo preço de custo, benefícios e qualidade. Ele não vê outra com melhor preço, melhor distribuição (disponibilidade de itens), e acredita que as outras montadoras, incluindo a Renault, deveriam seguir este padrão, para atender melhor os reparadores independentes, e por tabela, os proprietários dos veículos de suas respectivas marcas.
Na Binho´sCar Service, eles acreditam que, muitas vezes, é mais viável comprar as peças dentro de uma concessionária do que fora. “Peças genuínas eu uso para o sistema de injeção e sistema de freio. Paralelo de boa qualidade é mais para óleo, filtros e itens de manutenção preventiva. De jeito nenhum uso peças do paralelo na parte de ignição (bobinas e cabos) e válvula termostática, pois acabam sendo ruins”, afirma Fábio.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS
“Quando eu preciso de informação técnica para a linha Renault, geralmente recorro ao Sindirepa SP por ser associado”, diz Michel. Enquanto a GM, Fiat e VW por exemplo, disponibilizam canais de comunicação com o reparador independente, a Renault peca por não ter este tipo de iniciativa. As concessionárias Renault também não compartilham informações técnicas. “Eu nunca tive acesso ou contato com um chefe de mecânica da Renault”, confirma Michel.
Fábio endossa esta visão e diz que, para prestar informação, a Renault em aspecto de comunicação é bem fechada.
RECOMENDAÇÕES
“Acredito que, se os clientes fizerem as preventivas, vão longe com esse automóvel, pois realmente a Renault evoluiu muito. É um carro robusto e de excelente relação custo/benefício. Gosto de trabalhar com ele, é uma mecânica rentável. Acho que a Renault melhorou muito nesse ponto de durabilidade, então os clientes que fizerem a manutenção preventiva regularmente, vão ter carro por muito tempo. Em termos de concorrência, com outros carros nacionais, como Volkswagen, GM e Ford, a Renault está se sobressaindo muito”, analisa Michel.
“O carro só não chega a ser excelente por causa do valor de compra. Acho muito alto porque, não desmerecendo a marca ou o carro, a desvalorização da linha Renault é maior do que qualquer outra. Ah, talvez a Peugeot desvaloriza ainda mais, e a Renault ainda está um pouquinho melhor, mas tem desvalorização”, avalia Michel.
Ao que Fábio concorda: “Eu recomendaria esse carro. Apesar de ser uma manutenção um pouquinho mais cara que um carro mais popular, ele está hoje abraçando bastante o mercado. A gente pode se referir a uma linha nacional por considerar ele um carro importado, devido a ser um PSA, então acabam diferenciando os valores de peça em algumas situações, mas também é um carro que acaba tendo um tempo de vida e até de manutenção maior do que os nossos nacionais”.
Fica claro pelos depoimentos prestados, que a Renault só teria a ganhar se decidir investir em ações de relacionamento com os reparadores independentes, responsáveis pela manutenção e satisfação de milhares de clientes que circulam com os veículos de sua marca em todo o país. Além disso, reparadores independentes são grandes compradores de peças genuínas Renault; e no papel de assediados formadores de opinião, consideram a qualidade e confiabilidade do veículo, disponibilidade de peças e acesso a informações técnicas como fatores cruciais para decidir se recomendam ou desestimulam junto aos seus clientes, amigos e familiares a decisão pela compra de modelos de uma determinada marca.