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Jimny 4Sport 1.3 arranca elogios pela robustez nas oficinas. Mas não esconde o peso da idade


Projeto original de 1965, jipe da Suzuki ainda se impõe como opção entre os off roads de pequeno porte com boa desenvoltura no trânsito urbano. Uma das razões: mecânica resistente e feita para não dar dor de cabeça

Por: Antônio Edson - 25 de maio de 2017

Entre os automóveis que circulam pelo planeta poucos têm projeto mais antigo do que o jipe, criado nos Estados Unidos entre o fim dos anos 1930 e início de 1940 para atender a uma demanda militar surgida durante a 2ª Guerra Mundial. Vitorioso nos fronts, esse utilitário compacto, resistente e espartano, com tração 4x4, deu baixa na caserna, virou paisano e foi reproduzido mundo afora. Em um Japão rendido e ocidentalizado, por exemplo, ele ressurgiu em 1965 como o Hope Star ON360 (foto 1) por iniciativa da Hope Motor Company que acabou, em 1967, incorporada à Suzuki Motor Corporation. Coube a essa montadora rever pontualmente o projeto e reposicioná-lo no mercado em 1970 já como Jimny – variação do termo jipe – 360 (foto 2). Sem nunca ser descontinuado, recebeu ligeiras atualizações ao longo do tempo e conquistou o mundo com vários nomes – Samurai, Maruti Gypsy, Caribean, Potohar, Sierra etc. Hoje a denominação original, Jimny, foi resgatada na maioria dos 188 países onde ele senta praça, ou melhor, roda – foi o primeiro Suzuki a ser montado aqui, em 2013, na planta de Itumbiara (GO) –, é tido como o mais legítimo herdeiro do conceito jipe e um símbolo mundial da empresa fundada em 1909 por Michio Suzuki.

Foto 1

Foto 2

Não é difícil entender esse fenômeno de longevidade: como autêntico jipe, o Jimny é robusto, simples e produzido para não dar oficina. E falando popularmente é pau para toda obra. Trafega na Europa, Ásia, África, Oceania e nas três Américas sem exigir grandes adaptações. Ao contrário: sente-se em casa em qualquer pista – asfalto, terra, lama, areia etc – e até onde não há muita pista. Com um raio de giro de apenas 4,9 metros, ele pode fazer um caminho de ida e volta sem engatar a ré: facilidade de manobra que o faz ter boa aceitação no trânsito urbano principalmente junto ao público feminino. Ainda por cima tem um carisma típico daqueles carros que não se curvam à moda: essa passa e o Jimny roda. Com um projeto antigo, ele não esconde a idade e parece orgulhoso de seus 52 anos. Se não é propriamente bonito também não demonstra necessidade de sê-lo. Tem personalidade e, para os jipeiros, chega a ter alma ou pedigree. Enquanto outros carros, por exemplo, apresentam versões aventureiras apenas na aparência, com suspensão ligeiramente elevada e adereços plásticos, o Jimny é discreto e mostra sua tração 4x4 integral ou reduzida só quando provocado.

Em abril, a equipe de reportagem do jornal Oficina Brasil teve a oportunidade de circular com um Jimny 4Sport 1.3 16 válvulas e submetê-lo a alguns testes pelas ruas da zona oeste e sul da cidade de São Paulo (SP), em especial junto a um time de reparadores escolhido a dedo no Guia de Oficinas Brasil. O Jimny estacionou no pátio da Interceptor Auto Reparadora, no bairro do Alto da Lapa; na FJ Auto Mecânica, no Ipiranga; e na Gigio’s Bosch Service, no mesmo bairro. Estacionar é modo de dizer, claro, porque nessas oficinas o jipinho foi recepcionado, analisado e posto à prova por uma rigorosa equipe de profissionais que fizeram jus ao bom conceito que gozam em suas comunidades. Vamos às feras:

Silvio Pacheco Medeiros (foto 3), 54 anos, 46 deles como reparador já que começou aos 8 anos na oficina do pai. Com cursos nas áreas de autoelétrica, mecânica e eletrônica automotiva, Silvio graduou-se em Administração de Empresas na FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo (SP), fez pós-graduação em Gestão de Negócios e é instrutor de mecânica em cursos do Senai (Serviço Nacional da Indústria). Em sua oficina, a Interceptor, ele dá continuidade, na prática, ao negócio iniciado em 1962 pelo falecido pai. “A oficina já fez 55 anos e temos clientes ainda daquela época ou, em alguns casos, filhos, netos e bisnetos deles. Em alguns casos já estamos na 4ª geração”, memoriza. O perfil da sua oficina, que gira entre 130 e 150 veículos/mês, dá ênfase à reparação preventiva e preditiva, pois raramente chegam a ela carros guinchados. “A equipe de nove profissionais atende todos, claro, mas nossa carteira de clientes permite realizar o chamado atendimento preditivo, que é ir adiante da preventiva e promover no veículo alterações que evitem, no futuro, alguma quebra ou problema que tem grande probabilidade de ocorrer. Há vários casos em que é possível prever isso”, antecipa. 

Fred Jorge Silva do Nascimento (D) e Ewerton Soares Marques (E) (foto 4). Fred Jorge, de 41 anos, fundou a FJ Auto Mecânica há apenas seis meses, mas segue uma carreira ascendente no ramo da mecânica reparativa iniciada aos 15 anos e aberta às custas do próprio empenho e do seu empreendedorismo. O rapaz começou no chão da oficina, cursou Senai, cursos técnicos em concessionárias (Fiat, GM e Ford) em injeção eletrônica e outras especialidades, graduou-se em Administração de Empresas, assumiu a administração de várias oficinas até se tornar sócio de uma delas. Um dia comprou a própria empresa onde pode implantar o seu modelo de negócio. “Queremos que o cliente nos procure pela qualidade de nossos serviço, atendimento e absoluta transparência, não pelo preço. A ideia é, em breve, é abrir uma filial para se dedicar à funilaria e pintura e deixar a primeira unidade como mecânica e centro automotivo”, projeta Fred que conta, no momento, com cinco colaboradores, entre os quais o experiente Ewerton Marques, 35 anos, e há 17 anos no ramo.

Foto 4

Gerson de Oliveira Santos (foto 5). Com quase 30 anos dedicados à reparação automotiva, Gerson herdou a vocação do pai e do avô. Sua capacitação começou com o curso de elétrica automotiva e o de reparação de motores diesel, esse feito no Senai. Sua oficina, a Gigio’s Bosch Service, começou com o irmão Douglas e depois foi assumida inteiramente por ele. Com um giro aproximado de 200 veículos/mês, o estabelecimento, que conta com quatro colaboradores, prima pela versatilidade. “Fazemos além da mecânica propriamente dita também suspensão, troca de óleo, injeção eletrônica, toda parte elétrica, alguma coisa de câmbio, pneus, alinhamento e boa parte de acessório. Agregar serviços e o fato de estarmos há 12 anos no mesmo ponto ajudam a termos um razoável movimento e a não sentirmos tanto a crise. Afinal, as pessoas hoje dão preferência a um lugar onde possam fazer tudo ao mesmo tempo. É importante cativar o cliente e conquistar a sua fidelidade”, orienta.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Montado atualmente na planta industrial da Suzuki de Catalão (GO), em coligação com a Mitsubishi, o Jimny 4Sport 1.3 16V tem um preço sugerido de aproximadamente R$71 mil. A montadora justifica esse valor com base em seus acessórios que podem ser comparados a um carro popular bem equipado. Ou até parecerem extravagantes se o Jimny for colocado lado a lado com aqueles jipes Willys ou Ford de cabine curta que rodavam comumente no Brasil entre os anos 1950 e 1980. Além de contar com os obrigatórios ABS e airbags, o veículo vem com, entre outros itens, direção hidráulica, barras de proteção laterais nas portas, ar-condicionado, vidros elétricos, travamento remoto e automático das portas, rádio CD player com entrada USB e Bluetooth, retrovisores elétricos, cintos de segurança de três pontos com ajuste de altura, rodas aro 15’, bancos com revestimento premium (na verdade, um couro sintético), snorkel opcional (foto 6), leds traseiros como luzes de neblina e de ré (foto 7). Merece destaque, sob o piso do compartimento traseiro, um estojo em que vai um engate para reboque (foto 8) que, no caso do Jimny, não é enfeite, pois o jipe tem capacidade de puxar até 450 quilos.

Foto 6

Foto 7

Foto 8

Na parte mecânica propriamente dita, destaques para a alimentação por injeção multiponto, acionamento eletrônico da tração 4x2, 4x4 e 4x4 reduzida, e frenagem com assistência BAS (Brake Assist System) que adequa a frenagem à velocidade do veículo no momento em que o pedal é acionado. O ponto negativo e até quase incompreensível fica por conta do motor de 1.328 cm3 alimentado apenas por gasolina, como será comentado mais adiante.

“O Jimny oferece recursos e um acabamento similares aos de um veículo popular de qualidade, o que não é pouco para um jipe. Já o painel de instrumentos (foto 9) tem o essencial, inclusive termômetro da água do radiador, informação que, lamentavelmente, muito veículo mais moderno vem substituindo por uma luz espia”, compara o reparador Gerson de Oliveira, da Gigio’s Bosch Service. Para Silvio Pacheco, da Interceptor, aí falou mais alto o bom senso. “A característica dos motoristas desse tipo de automóvel é a de estar sempre atento aos instrumentos. Normalmente, em uma trilha, o sujeito fica de olho em um possível aquecimento acima do normal, o que pode acontecer não por defeito de alguma peça, mas pela exigência que se faz do veículo. Por exemplo: ao passar por um terreno alagado pode-se juntar barro ou folhas ali perto do radiador e impedir o fluxo do ar, comprometendo o arrefecimento. Uma luz espia não seria o suficiente”, recomenda.

Foto 9

Em compensação, para Silvio, faltou um computador de bordo. “Porque há apenas o hodômetro total e parcial que não informa o rendimento ou o consumo de combustível. Será que um componente hoje quase comum encareceria tanto o veículo?”, indaga. Quanto ao acabamento geral, o reparador o entendeu como honesto e apropriado. “Não deixa de ser um veículo espartano e com poucos arremates sofisticados no painel de plástico rígido (foto 10), o que é positivo para as suas características. Imagine um carro desses, preparado para andar na lama e na terra, equipado com muitas frescuras. Depois de pouco tempo estaria tudo soltando”, acredita.

Foto 10

Fred Jorge, da FJ Auto Mecânica, também achou o acabamento do Jimny similar ao de um veículo popular de bom gosto, qualificando-o como suficiente. “Não é necessário mais do que isso para um carro assumidamente off road. O usuário de um carro desses tem que se preocupar com a robustez e a resistência, não com a aparência”, argumenta.

AO VOLANTE

Na falta de trilhas e de pistas de barro e lama nas imediações de suas oficinas, os reparadores, ao tomarem o volante do Jimny 4Sport 1.3 16V não o pouparam de subidas íngremes, valetas e buracos – que não faltam na cidade de São Paulo – e de atacar lombadas e tachões. “Um jipe deve ser avaliado como tal e não como carro de passeio. Se ele apresenta certo desconforto e vibração isso é normal, anormal é esperar dele um comportamento de sedan, como muitas pessoas iludidas fazem”, justifica Gerson de Oliveira. “Esse aqui mesmo não apresenta barulho ou vibração significantes. A vibração da alavanca de câmbio, que afinal está sobre um eixo cardan, está dentro do tolerável para um jipe. Não afeta a sua boa dirigibilidade nem a acústica interna que costuma ser um problema nesse tipo de carro. O ruído interno é baixo e a gente pode conversar sem elevar a voz. De relevante mesmo, só o barulho da terceira porta, traseira, que incomoda quando passamos por buracos e lombadas”, avalia o reparador da Gigio’s Bosch Service, que aprovou a ergonomia do Jimny. “Sou magro e de estatura mediana. Meu biotipo se encaixou bem ao banco e à posição alta de dirigir. Isso transmite segurança, pois permite visualizar bem os obstáculos que surgem à frente, fundamental em uma trilha”, completa.

Já Sílvio Pacheco, da Interceptor, entende que a vibração da alavanca do câmbio e passada ao habitáculo excedeu um pouco o limite. “Poderia ser menor se tivéssemos um balanceamento mais fino, estático e dinâmico do eixo cardan. A questão aí não é de peça ou engrenagem, mas de esmero na produção. Alguém poderia dizer que está bom para um jipinho de entrada, mas não tanto para um automóvel que, afinal, custa mais de R$70 mil. Como não é possível alterar a suspensão, pois encareceria mais o produto, temos aí outra razão para caprichar mais no acerto da suspensão oferecida, certo?” por outro lado, ele também aprovou a direção hidráulica e posição de dirigir, embora lembrasse que o Jimny não é um carro familiar e que oferece conforto razoável apenas para os passageiros da frente. “Com o motorista e o carona tudo bem, mas quem vai atrás sofre um bocado principalmente em viagens mais longas, até porque o jipe é estreito (1,6 m) e tem uma curta distância (2,25 m) entre-eixos, o que compromete o conforto e a estabilidade. Mas, afinal, é sempre bom deixar claro: estamos falando de um jipe e não de um sedan de luxo”, relativiza.

É bom levar a sério o aviso do reparador. Ao entrar em um Jimny, de fato, deve-se deixar do lado de fora qualquer esperança de conforto, principalmente para os passageiros altos, com mais de 1,85 m, e os idosos que até terão certa dificuldade em se encaixar nos bancos traseiros, que comportam apenas duas pessoas. Para esses últimos, o acesso chega mesmo a ser penoso pois é necessário arrastar os bancos da frente sobre os trilhos. Para piorar o carro possui uma altura do solo de 20 centímetros, ótima para superar trilhas, mas um horror para quem já tem uma mobilidade prejudicada e pretende se instalar em seus bancos traseiros.

Fred Jorge, da FJ Auto Mecânica, levantou os mesmos pontos que os seus dois colegas, dando especial ênfase para a surpreendente versatilidade urbana do Jimny. “Eu pensei até que ele fosse pular mais, devido à natureza de sua suspensão, mas vi que ele demonstra certa firmeza, segurança e responde razoavelmente bem aos comandos. Ainda que seja um jipe, ele pode perfeitamente ser usado dentro do cotidiano urbano devido a suas dimensões compactas, caber em qualquer vaga e facilidade de manobrar. Aliás, com a buraqueira de São Paulo, eu diria que ele é mais adequado para essa cidade do que muito hatch, sedan e SUV. Pelo menos é mais resistente e preparado”, admite Fred. 

MOTOR M13AA 1.3 16 VÁLVULAS

O Jimny 4Sport 1.3 16V produzido no Brasil vem com um motor longitudinal de 1.328 cm³ denominado M13AA, com bloco em alumínio e quatro cilindros em linha, comando de válvulas variável e injeção eletrônica multiponto sequencial. Apresenta potência máxima de 85 cavalos a 6.000 rpm e torque máximo de 11,2 kgfm a 4100 rpm. A impressão geral colhida entre os reparadores é que esse pequeno motor é apropriado às necessidades do carro e tem uma adequada área de ventilação, o que permite um bom espaço para trabalhar (foto 11). Sua aparente falta de potência não chega a comprometer o desempenho do veículo mesmo quando esse é mais exigido e ainda apresenta a vantagem de ser econômico para um 4x4 de trilha alimentado a gasolina – sua ficha técnica informa que ele rende 9,5 km/l na cidade e 10,7 km/l na estrada, o que justificou, em sua categoria, uma nota A pela classificação PBE (Programa Brasileiro de Etiquetagem, 2016) do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).

Foto 11

Apesar de contar com alguns componentes eletrônicos, o propulsor do Jimny apresenta alguns sinais do peso da idade. “A gente percebe que o projeto é antigo ao constatar que o sistema de refrigeração (foto 12) nem tem ainda o tanquinho de água auxiliar no qual você repõe a água ou o líquido de arrefecimento. Isso cria um pouco de dificuldade para o condutor que só consegue enxergar se o nível do líquido está de acordo com o motor frio. Isso, claro, não significa que o arrefecimento funcione mal. Ao contrário, apesar de antiquado, o radiador parece bem dimensionado”, aponta Silvio Pacheco, da Interceptor, que conta a favor do motor o fato de poucas vezes tê-lo visto em sua oficina. “Ele tem um bom histórico. Aqui param poucos, só para a manutenção preventiva mesmo. Nunca precisamos fazer uma intervenção mais profunda”. O reparador, no entanto, lamenta o fato de o propulsor ser abastecido somente com gasolina. “Para um carro produzido no Brasil, em pleno 2017, considero isso uma falha. É muito conservadorismo. Até grandes sedans de luxo, top de linha, já apresentam motorização flex”, compara.

Foto 12

“Se é conservador por um lado, por outro o Jimny preserva a simplicidade dos jipes. Em uma palavra, sua manutenção é prática. Nada nele está escondido e tudo está bem à mostra”, garante Fred Jorge, que aponta para um item aparentemente sem importância geral no contexto do cofre de um veículo, mas nem tanto para um jipe. “Um bom exemplo de praticidade é esse motor do limpador de para-brisa (foto 13). Com uma chave de fenda e mexendo em dois ou três parafusos você o solta e conserta rapidamente, o que é importante quando você está em um lamaçal e sob chuva. Em uma Land Rover ou uma Mitsubishi L200, onde tudo parece mais complicado, não haveria tal facilidade”, compara o reparador da FJ Auto Mecânica.

Foto 13

Coube a Silvio Pacheco, da Interceptor, chamar atenção para um detalhe importante. “O motor tem um sistema de corrente metálica de distribuição (foto 14) e não de correia dentada, o que confere mais robustez e confiabilidade, sempre mais adequado a esse tipo e veículo”, observou o reparador, que, no entanto, também teve olhos para uma possível fragilidade na parte superior do motor. “Claro que lavar o motor de um carro é algo a ser evitado e, quando absolutamente necessário, deve ser feito sempre a seco. Ainda mais com um jipe, produzido para andar na lama e no barro. Mas esses chicotes (foto 15) que ligam os bicos injetores e fazem a alimentação do motor estão demasiadamente expostos. Eles não podem sofrer a ação da água, inimiga de qualquer componente eletrônico. Assim, eles deveriam ficar embutidos e fechados em algum outro lugar mais protegidos. Eu providenciaria esse cuidado. Aqui faltou atenção por parte da montadora”, apontou. Outro detalhe que incomodou Silvio foi o acelerador ainda contar com o sistema de cabo (foto 16) e não ser eletrônico. “É defasado e consome mais combustível”, sentenciou.

Foto 14

Foto 15

Foto 16

Gerson de Oliveira concordou com a exposição dos chicotes, mas preferiu destacar a visibilidade e o bom acesso aos componentes do motor. “Em veículos compactos, geralmente encontramos certa dificuldade devido à falta de espaço no cofre. Mas não vejo isso aqui. Não é preciso desmontar nenhum coletor de admissão para ter acesso aos bicos da injeção eletrônica (foto 17) e o corpo de borboletas (foto 18) também está bem fácil, assim como o filtro canister (foto 19), que aproveita os gases do tanque de combustível. Isso é um diferencial porque em alguns automóveis ele fica embaixo do para-lama, meio escondido. Gostei também do acesso à bomba da direção hidráulica (foto 20), que não exige nenhum ferramental específico para desmontagem”, descreve.

Foto 17

Foto 18

Foto 19

Foto 20

TRANSMISSÃO E EMBREAGEM

O jipe da Suzuki dispõe de um câmbio manual, bastante simples, de 5 marchas e embreagem monodisco a seco, acionada por cabo. Com isso, o percurso do pedal da embreagem é relativamente longo e macio e proporciona uma troca de marchas bem ajustada. Mas o modo mais divertido de usar o Jimny é esquecer essa configuração básica e, se possível, aventurar-se. A sugestão é colocá-lo em um terreno acidentado, deixando de lado a preocupação com a sujeira provocada pela terra ou lama. É isso, afinal, o que o veículo pede com seu modo de tração 4x4 que pode ser acionado eletronicamente, e não através de alavancas, por botões do painel (foto 21). O sistema ainda conta com um engate 4x4 com reduzida (4WD-L ou Four Wheel Drive Low), indicada para exigências off roads. Aviso aos navegantes, navegadores e pilotos de primeira viagem:  o 4x4 pode ser engatado em pisos de baixa aderência e em uma velocidade de até 100 km/h, mas a reduzida exige que o carro esteja parado; a reduzida, nos jipes, é comumente empregada ao rebocar outro veículo ou um obstáculo, ao subir uma ladeira muito íngreme, em atoleiros ou descidas escorregadias, já que os freios, mesmo com o módulo ABS, podem provocar derrapagem; e em modo 4x2, o veículo trabalha com tração nas rodas traseiras.

Foto 21

Aviso dado, os reparadores consultados avaliaram que os diferenciais, eixos cardan dianteiro (foto 22) e traseiro (foto 23) e a caixa de transferência (foto 24) do Jimny estão bem posicionados e são suficientes robustos. Aliás, note-se que o veículo sai de fábrica sem um protetor de cárter (foto 25), já que esse está em uma posição bastante elevada em relação ao solo, mais até do que o diferencial que, assim, naturalmente o protege. “O cárter é alto e está resguardado pelo diferencial e pelas barras de direção e barras estabilizadoras. Então se acontecer alguma coisa antes de quebrar o cárter vai quebrar o diferencial, que é de ferro, o que é, convenhamos, difícil. É mais fácil quebrar a pedra”, afirma Ewerton Marques, da FJ Auto Mecânica.

Foto 22

Foto 23

Foto 24

Foto 25

Embora seja resistente, o Jimny, entretanto, não é inquebrável. Assim, Silvio Pacheco, da Interceptor, observou que as válvulas ou respiros dos diferenciais (foto 26) dianteiros e traseiros estão demasiadamente expostos – esses respiros servem para, em caso de aquecimento do óleo contido nos diferenciais e da caixa de transferência, os gases formados a partir da expansão poderem ser expelidos, como acontece, grosso modo, em uma panela de pressão. “Sempre que o veículo entrar em uma área alagada, no entanto, e uma válvula dessas eventualmente apresentar mal funcionamento existe a possibilidade real da água entrar e sujar o óleo, provocando um sério dano ao câmbio. Seria o caso de providenciarmos aqui uma manutenção preditiva, ou seja: puxar uma mangueira dessa válvula para levarmos o respiro para um lugar mais alto. Isso, claro, se a montadora não o fizer. Afinal é sempre melhor prevenir do que remediar”, diagnostica o reparador.

Foto 26

Outro cuidado a tomar, ou prevenção a ser feita, é com o motor elétrico de engate da caixa de transferência (foto 27), cujos relês estão mais expostos do que deveriam e podem ser danificados por algum obstáculo terreno. “A tendência é haver um mau contato e, portanto, alguma coisa precisa ser feita, como transferir o motor para um local mais alto e protegido, de preferência para um ponto seco. Eu providenciaria também um chicote soldado, para maior segurança”, avalia Silvio Pacheco. “Não apenas a água, mas também uma vibração mais forte do escapamento pode vir a afetar o funcionamento do motor elétrico da caixa de transferência. Se não for possível mudar sua posição que ao menos seja mais protegido”, avisa Gerson de Oliveira.

Foto 27

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO

A direção hidráulica do Jimny 4Sport 1.3 16V é macia suficiente para não exigir demasiado esforço para esterçar as rodas aro 15 e os pneus Pirelli Scorpion 205/70 (foto 28) de configuração mista (campo/cidade) e que se adequam a uma proposta de um 4x4 compacto predisposto a circular em vias urbanas. Se ela poderia ser elétrica? “Não vejo necessidade”, responde o reparador Silvio Pacheco. Para ele, a direção do Jimny já tem um bom nível de endurecimento sem ser progressiva e se fosse elétrica talvez existisse aí um fator extra de preocupação, “Embora, por outro lado, pudesse ajudar levando-se em conta que o motor não tem grande potência e a direção hidráulica acaba sempre tirando um pouco dela, enquanto a direção elétrica não faz isso”, pondera.

Foto 28

Os freios do jipe levam discos sólidos à frente (foto 29) e a tambor nas rodas traseiras (foto 30). Testados por nossos reparadores em trânsito urbano, eles apresentaram um comportamento satisfatório embora não fossem os mais desejados. “Freio a tambor nas rodas traseiras é um sistema antigo e que eu coloco como um problema em automóveis com as características do Jimny que trabalham em condições fora de estrada, se sujeitando a água e terra. Isso porque a lona do tambor é muito suscetível à perda de eficiência ao entrar em contato com a lama. Nas rodas traseiras, eu acharia melhor um sistema de freio também a disco. Ainda que o trabalho maior da frenagem, cerca de 70% dele, recaia sobre as rodas da frente”, afirma Silvio Pacheco. Mas o ponto de vista não é unânime. “Freio a tambor na traseira pode parecer muito convencional, mas para uso off road é razoável, até porque as panelas das rodas traseiras são bem grandes”, avalia Fred Jorge, que também foi condescendente com o fato dos freios dianteiros não terem discos ventilados. “Discos sólidos estão adequados para um jipe que, naturalmente, não são velozes”, defende. Gerson de Oliveira acrescentou que o peso do veículo também não justificaria o investimento de discos ventilados.

Foto 29

Foto 30

A suspensão do Jimny leva eixo rígido e molas helicoidais na dianteira (foto 31) e traseira (foto 32), e ainda barra estabilizadora à frente. Esses eixos rígidos funcionam como alavancas, possibilitando a movimentação do veículo em trilhas muito severas, em especial aquelas em que as rodas nem sempre estão todas tocando no chão. A simplicidade de não contar com suspensão independente isenta de preocupações com empenamentos de bandejas – que não existem nesse caso – ou desalinhamentos após passar por um grande buraco. Em compensação há os inevitáveis inconvenientes de um menor conforto: basta uma roda passar por uma saliência para todo o veículo balançar, principalmente em trajetos urbanos.

Foto 31

Foto 32

“Creio que nesse caso a montadora levou em conta o fator custo-benefício, pois uma suspensão independente encareceria sobremaneira o veículo, embora fosse a melhor opção. Um eixo rígido tem o agravante de, enquanto uma roda estiver muito embaixo a outra estará no alto fazendo o veículo perder aderência ao solo. Consequentemente há um desperdício da tração. Uma suspensão independente acompanha melhor as irregularidades da pista”, calcula o reparador Silvio Pacheco. “Uma suspensão independente faria o preço do Jimny ir às alturas. Aqui a montadora quis um sistema que chegasse mais próximo do ideal sem custar tanto”, acredita Fred Jorge. Mas pode ter havido ainda outra razão para uma suspensão com eixo rígido tanto nas rodas dianteiras quanto nas traseiras. “Preservar a robustez”, acredita Gerson de Oliveira. “Pode não ser a mais confortável, mas assim a robustez está caracterizada em toda a estrutura da suspensão. Para mim é a ideal para um 4x4 compacto”, garante o reparador.

ELÉTRICA, ELETRÔNICA E OUTROS ITENS

Se alguns reparadores às vezes se queixam que automóveis modernos dependem demais de seus recursos e componentes eletrônicos esse problema não acontece tanto com o Jimny, que ainda deixa a cargo do ser humano algumas decisões. Um autêntico jipe, por exemplo, não tem e talvez nunca venha a ter “frescuras” como piloto automático ou sistema de park assist, pois isso seria tirar do ser humano parte da diversão de dirigir um veículo desse.

Gerson de Oliveira, da Gigio’s Bosch Service, garante que a bateria (foto 33) de 45 amperes do Jimny é suficiente para atender às demandas do veículo. Segundo o reparador, hoje, com o advento da eletrônica embarcada, as montadoras devem se preocupar em oferecer aos veículos um bom suporte de carga, com um alternador de boa capacidade para manter o sistema. “Antigamente você precisava de uma bateria muito grande porque o alternador carregava pouco. Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, você precisa de um alternador que gera energia suficiente para todo o sistema e uma bateria apenas para dar a partida e proporcionar o primeiro funcionamento no veículo, pois os motores de partida estão mais desenvolvidos, rápidos e compactos”, explica.

Foto 33

Quanto à localização da bateria do Jimny, Gerson de Oliveira observou que sua posição, no interior do cofre, apresenta uma praticidade. “Ela está junto ao motor, mas não do seu lado mais aquecido, perto do coletor de escapamento. Ainda assim está bem à vista”, afirmou. “Isso dispensa o trabalho de mexer em vários acabamentos até chegar a ela, como em alguns outros 4x4”, completa Fred Jorge, da FJ Auto Mecânica. O mesmo acontece com os faróis (foto 34), que são no clássico estilo olho de boi, bem típico dos jipes, já que se pode facilmente trocar uma lâmpada quando necessário. “Em certos carros, você tem que desmontar a grade ou mesmo soltar o para-lama para trocar uma lâmpada. É um trabalhão, aqui é bem simples”, concorda Gerson de Oliveira.

Foto 34

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Por ser um carro com um conceito consagrado – o de um jipe – e com uma mecânica robusta e antiga, mesmo tendo agregado recursos eletrônicos – alguns reparadores consideram não ser necessárias muitas informações técnicas para dar conta dos reparos. Até porque eles reconhecem: apesar do longo tempo de experiência profissional que possuem o Jimny é um dos carros que menos encostou em suas oficinas. “Com mais de 25 anos de reparação automotiva eu nunca peguei um desses para proceder a algum reparo. No máximo trocamos óleo e pastilhas de freio e nos limitamos a uma manutenção preventiva”, admite Fred Jorge. “Mas estamos preparados para o dia em que, eventualmente, precisarmos intervir. Temos um bom relacionamento com as concessionárias da marca e sabemos como acessar a fábrica no surgimento de qualquer dúvida séria”, completa.

Segundo Gerson de Oliveira, a configuração física do motor de um jipe convencional não demanda informações técnicas complexas para um reparo. “Acontece, porém, que hoje a eletrônica embarcada está em todos os automóveis e até, um pouco, nos jipes e por isso não podemos abrir mão de um conhecimento técnico mais apurado. Reconheço que poucos desses jipinhos passaram pela oficina e quando isso aconteceu demos conta do recado pois os reparos foram básicos. Agora, se for necessária uma intervenção profunda vamos recorrer às concessionárias, à montadora, ao Sinderepa e à nossa rede Bosch. Uma coisa é certa: o cliente não deixará de ser atendido”, define Gerson.

PEÇAS DE REPOSIÇÃO

Como é possível observar, pelo ponto de vista dos reparadores há pouca experiência com o modelo para uma avaliação consistente e a percepção se torna mais subjetiva. Neste sentido o único estudo sistemático do comportamento do modelo é fornecido pelo Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária), que em 2016  divulgou, por categoria (uma trabalho com ênfase na reparação de carroçaria) , a lista dos melhores carros com menor custo de reparo no Brasil. E, segundo o instituto, na categoria utilitário esportivo off-road, o campeão foi o Jimny com 36 pontos. Isso vale dizer que o jipinho da Suzuki apresenta, ao menos relativamente no seu segmento, maior facilidade de reparo e um melhor custo-benefício em relação ao valor gasto nas oficinas de carroçaria.

“Com o Jimny, se formos dividir em porcentagens, daria 70% para as concessionárias e 30% para os distribuidores independentes de qualidade. “Se eu fosse proprietário de um carro desses não teria coragem de colocar peças de 2ª linha nele. E como reparador ainda menos, com exceção de alguma mola ou amortecedor de qualidade que pode ser trazido de um produtor independente. É uma certeza de durabilidade prolongada”, afirma Fred Jorge. “Não há o que discutir, peça aqui só original”, concorda Gerson de Oliveira.

RECOMENDAÇÕES

É difícil pensar, no restrito mundo jipe 4x4, em um concorrente para o Jimny 4Sport 1.3 16V ou qualquer uma de suas variações, principalmente entre os veículos atualmente produzidos no Brasil e em sua faixa de preço.Um Troller T4 3.2 Diesel XLT 4x4 novo, por exemplo, está em outra categoria, custando mais de R$120 mil, apesar de sua cabine curta. Já o importado Jeep Wrangler 3.6 V6 Sport 4WD, novo, não sai por menos de R$ 185 mil.

A única que, por aproximação, concorreria com o Jimny, no Brasil, era a Pajero TR4 se não tivesse saído de linha em 2014. Ou, talvez, o antigo Lada Niva que deixou de ser vendido aqui nos anos 1990, mas cuja montadora, o grupo russo Lada/Avtovaz, promete, para a Europa, em 2018, lançar uma terceira geração 4x4 – comenta-se que essa versão poderia chegar ao Brasil, mas sabe-se lá por quanto...

Por essas e outras, o Jimny reina absoluto. Em 2016 foram vendidas 1503 unidades do jipe, 50 a mais do que a Troller T4. “Para as condições brasileiras é um carro que suporta bem as condições ruins de nossas ruas e estradas, tem uma segurança mínima exigida e um nível baixo de emissão de poluentes, mas pelo preço sugerido ele poderia entregar mais tecnologia”, sugere Silvio Pacheco, para quem só seria possível sugerir o veículo pela ausência de alternativas. “Recomendaria o veículo pela confiabilidade, robustez e segurança”, assegura o reparador Fred Jorge. “Ele pode não ter a tecnologia como ponto forte, mas não podemos ignorar sua robustez”, arremata. “É uma boa opção para quem quer um 4x4 robusto com a opção para ser usado também como veículo urbano. E isso poucos oferecem”, finaliza Gerson de Oliveira.

Ja abaixo o vídeo da avaliação do reparador: