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JAC J6 2.0 VVT ainda é uma incógnita no mercado, mas tem virtudes para ocupar seu espaço


Com capacidade para 7 passageiros, a minivan da JAC Motors agrada clientes e reparadores, mas a sobrevivência da marca no Brasil ainda é incerta (foto 1)

Por: Jorge Matsushima - 14 de setembro de 2015

O Salão do Automóvel de 2010 ficou marcado pela “invasão” das marcas chinesas, e trazia junto uma perspectiva interessante para o consumidor brasileiro, com a chegada de modelos de baixo custo e extremamente equipados.

Sob a batuta do bem sucedido empresário Sérgio Habib, o grupo SHC apresentou naquela edição a JAC Motors com pompa e circunstância, e em março de 2011 eram inauguradas simultaneamente 46 concessionárias no país, e o início das vendas era apoiada por uma forte campanha de marketing, com o Faustão como garoto propaganda da marca. Os atrativos eram o design europeu, capricho no acabamento, e modelos de entrada completíssimos com ar-condicionado, direção hidráulica, duplo air bag e freios ABS (ainda não obrigatórios na época), trio elétrico, CD player, rodas aro 15, sensor de ré, etc. O preço com todos estes acessórios ficava abaixo dos modelos básicos dos concorrentes nacionais diretos (sem nenhum destes opcionais). E para neutralizar a desconfiança sobre a qualidade dos veículos chineses, a JAC oferecia a inédita garantia de 6 anos!

O sucesso foi imediato, e a JAC Motors do Brasil emplacava em seu primeiro ano de atividades (2011), nada menos do que 23.700 unidades, e anunciou o seu projeto de fábrica no país.

Tamanho sucesso porém, não ficaria sem reação dos concorrentes, e montadoras locais, incomodadas pelo fato de terem que sacrificar as suas margens de lucro para competirem com os novos players chineses, conseguiram junto ao governo federal uma intervenção protecionista que aumentou em 30% o IPI para os veículos importados.

Esta medida atingiu duramente as operações de diversas marcas importadas no país (chinesas ou não), e arruinou os planos de muitas empresas que se preparavam para montar veículos no país. Centenas de concessionárias de marcas importadas fecharam suas portas, e os consumidores perdiam a possibilidade de comprar veículos mais completos e acessíveis, ou seja, a concorrência saudável para o mercado sucumbia diante de uma “canetada”.

Dentro deste cenário, a JAC Motors do Brasil teve que se adaptar para sobreviver, enxugando a estrutura, reduzindo drasticamente as verbas de divulgação, e encolhendo a sua rede de concessionárias. O projeto de fábrica vem sendo tocado a passos lentos, e o grupo SHC deixou de ter o controle majoritário da operação, passando o comando para a JAC chinesa, que injetou mais dinheiro na operação. 

As vendas despencaram, e em 2014 a JAC Motors emplacou apenas 7.953 veículos, que representa cerca de um terço do volume vendido no primeiro ano. No total, estima-se que a frota circulante da JAC Motors no Brasil gire em torno de 50.000 veículos. Embora todos ainda estejam teoricamente no período de garantia, muitos deles já frequentam as oficinas independentes.

Selecionadas dentro do Guia de Oficinas Brasil, três conceitua¬das empresas no mercado de reparação independente confirmam a lógica, e todos eles já atenderam clientes com veículos JAC. Os profissionais que avaliaram a minivan JAC J6 foram:

Alexandre Dias, o Alê (foto 2), administrador de Empresas, 39 anos, começou no segmento aos 14 anos com o pai que era eletricista, e se tornou empresário em julho de 1995, quando inaugurou a Guia Norte, inicialmente na Vila Sabrina com 150m² (logo após o período crítico do plano Collor). Depois abriu a segunda loja com 250m² na Vila Guilherme, e em 2014 venderam a loja matriz e inauguraram a segunda loja com 950m², também na Vila Guilherme, São Paulo.

Vanderson Coelho (foto 3) Trabalha desde os 13 anos com o pai, já aposentado mas que continua presente no dia a dia da oficina. A empresa Hidrauto tem 30 anos de atuação no mercado, e estão no mesmo endereço há 16 anos no Bairro do Tatuapé, São Paulo.

Daniel Kawashima (foto 4) 38 anos, técnico em Mecânica Industrial e com 20 anos de experiência no mercado automotivo. Trabalha há 10 anos na Super G, empresa com 15 anos de mercado, localizado no bairro da Saúde em São Paulo. Daniel inicialmente foi contratado como mecânico, mas há 5 anos aceitou o convite e tornou-se um dos sócios da empresa.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Alê gostou do novo design, bem ao gosto do consumidor brasileiro, com destaque para as mudanças na lanterna traseira, grade dianteira, acabamento interno e rodas. Seu comentário: “Nem parece carro chinês! A decoração interna é muito bonita e se destaca bastante (foto 5). Eu só não gostei dos controles do ar-condicionado, um pouco confusos e mal posicionados (muito baixos) o que acaba desviando a atenção do motorista”.

Vanderson também gostou da melhora no design. “ O espaço interno é muito bom (foto 6), embora o acesso aos dois últimos assentos seja limitado para crianças. O acabamento interior é de bom gosto, e agrada bastante. Detalhes como a chave canivete valorizam o conjunto”.

Daniel também aprova o novo visual, e chega a dar nota 9 para o design; mas em compensação critica o uso excessivo de plástico rígido no interior do veículo. Mas a avaliação é positiva: “Percebo nitidamente uma evolução do padrão em relação ao modelo anterior. O acabamento geral é muito bom, e ajuda a derrubar o mito sobre a baixa qualidade dos carros chineses”.

“O painel mudou bastante,com um design muito bonito (foto 7). Foi eliminada aquela iluminação em tom azulado muito forte que chegava a incomodar à noite; mas por outro lado, a numeração do velocímetro e conta giros durante o dia ficou um pouco apagado nesta nova versão, dificultando a sua leitura”, conclui Daniel.

DIRIGINDO O J6

Na opinião de Alê e Daniel, o motor 2.0 VVT Jetflex, que entrega 155cv(g)/160cv(e) a 5500 rpm, e torque de 196 Nm(g)/202 Nm(e) a 4000 rpm, oferece desempenho acima do esperado, acelera bem e tem boas retomadas. Vanderson sugere que o motor poderia ter um pouquinho mais de torque em baixas rotações para uma retomada mais vigorosa. Mas no geral, todos concordam que a performance é adequada à proposta do modelo.

Alê lamenta a falta de opção pelo câmbio automático, pois é um carro para 7 lugares, típico para famílias com filhos. Na sua visão, este carro com transmissão automática seria um sucesso de vendas, pois não teria concorrentes à altura. 

Vanderson percebeu alguns ruídos na direção ao esterçar o volante, que poderiam ser decorrentes de pequenas folgas na caixa de direção, e considerou o problema um pouco prematuro para um carro com apenas 5.000km. 

Daniel considerou o engate nas trocas de marchas preciso, mas um pouco seco (áspero) quando comparado aos modelos equivalentes. Em uma descida acentuada com piso de paralelepípedo molhado, pôde comprovar a eficácia do sistema ABS/EBD, que em condições críticas de aderência parou o veículo de forma segura e sem desvios ou bloqueios de roda.

O comportamento da suspensão foi elogiado por todos. Alê não notou ruídos internos, e Vanderson considera que a calibragem é melhor do que a versão anterior, que era mais dura e barulhenta. Daniel aprova o equilíbrio da suspensão que absorve bem as irregularidades do piso sem ser macia demais. Porém, registrou um barulho incômodo provocado pelo trilho do banco central.

MOTOR

O propulsor 2.0 16VJetflex (foto 8) é inteiramente novo em relação ao anterior movido somente à gasolina, e é o mesmo que equipa a SUV T6. Possui duplo comando de válvulas no cabeçote, sistema VVT (comando de válvulas variável) e o moderno sistema de alimentação flexível com pré-aquecimento dos injetores.

Além do desempenho, todos elogiaram a tecnologia embarcada que eliminou o velho tanquinho de gasolina para partidas a frio, fonte de muitos problemas decorrentes da falta de cuidados ou de esclarecimento dos usuários quanto ao uso correto do sistema.

Vanderson estranhou a ausência de uma capa de cobertura do motor que melhoraria a parte estética, mas ao mesmo tempo lembrou que o sistema de fixação destas capas costumam quebrar com muita facilidade. Ele gostou da adoção da mola a gás para sustentação do capô (foto 9).

O acesso aos principais componentes de manutenção, como filtros de combustível e óleo; filtros de ar e de cabine; velas e cabos de vela, e correia dentada, são amplos e aparentam facilidade de manuseio.

Daniel observa que, a exemplo da maioria das montadoras, o protetor de cárter na JAC também não é um item de série; mas considerando que os veículos rodam no Brasil, seria melhor rever esta opção.

TRANSMISSÃO

O acesso à caixa de transmissão e ao conjunto da embreagem é bem tranquilo, e não apresenta maiores obstáculos (foto 10).

FREIO E SUSPENSÃO

A suspensão dianteira é independente, tipo Mc Pherson com molas helicoidais e barra estabilizadora. Os freios são com discos ventilados e sistema ABS (foto 11). A troca dos componentes básicos, como discos, pastilhas, buchas, pivôs, terminais, bieletas, amortecedores e batentes, é considerada tranquila por todos os reparadores. 

A suspensão traseira é independente, tipo Dual Link com molas helicoidais e barra estabilizadora. Foi elogiada pelo Daniel, pois esta configuração oferece uma excelente estabilidade, conforto, e ao mesmo tempo proporciona uma rotina muito simples de manutenção. O freio é a tambor com sistema ABS/EBD. Alê observou que o cabo do freio de estacionamento está um pouco vulnerável, e poderia ser fixado um pouco mais alto para ficar mais protegido (foto 12).

Alê parabeniza a escolha da medida dos pneus, 205/55 R16 (foto 13), pois além de sere bem adequada para o porte e proposta de uso do veículo, é uma medida padrão de mercado compartilhada por muitos modelos, ou seja, o proprietário do veículo não encontrará dificuldades em repor os pneus, seja pela disponibilidade ou pelo preço acessível.

Em contrapartida, todos reprovaram a instalação do estepe por baixo do veículo (foto 14), afinal, estamos no Brasil, e infelizmente a ocorrência de roubo de estepe é muito frequente. Esta situação inclusive serve de alerta aos reparadores, pois assim que o carro der entrada na oficina, recomenda-se verificar junto com o cliente se o estepe está de fato no veículo. Muitas oficinas já tiveram a desagradável experiência de serem responsabilizados indevidamente pelo sumiço do estepe. Fica registrado o alerta!

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Até a data das entrevistas, nenhum dos 3 reparadores estiveram diante de problemas crônicos ou de procedimentos de manutenção corretiva que demandassem a necessidade de obtenção de informações técnicas específicas. Até o momento os serviços executados são rotinas de manutenção preventiva tais como troca de óleo do motor, filtros, pastilhas e discos, velas, alinhamento, balanceamento, troca de pneus e itens de suspensão.

Os reparadores esperam não encontrar dificuldades para obter as informações necessárias para a correta manutenção, afinal, os veículos JAC costumam utilizar componentes e sistemas conhecidos no mercado (Delphi, Bosch, entre outros).

Por ser uma frota relativamente nova, ainda não há subsídios para avaliar até que ponto será necessário o uso de ferramentas especiais, tabelas e diagramas específicos em manutenções corretivas, e qual o grau de dificuldade que será colocado para obtenção destas informações por parte do Grupo SHC. O fato é que se houver acesso às informações técnicas corretas no aftermarket, com certeza o reparador independente proporcionará longa vida aos modelos JAC no mercado; e por outro lado, se o independente for encarado como concorrente, infelizmente será apenas mais um bom carro a se tornar um mico no mercado na mão do cliente, que certamente replicará sua insatisfação.

PEÇAS DE REPOSIÇÃO

Este é o ponto que sempre preocupa proprietários e reparadores quando o assunto é disponibilidade de peças de reposição. E para nos certificarmos, fomos até a Central de Distribuição de Peças da JAC Motors, em São Caetano do Sul SP (foto 15), e pudemos constatar que o Grupo SHC investe pesado no estoque de peças genuínas para reposição.

Segundo o coordenador do setor, a JAC tem um índice de atendimento de 95% dos pedidos de sua rede, ou seja, praticamente todas as peças de reposição necessárias para a frota circulante no país estão disponíveis no estoque. O prazo médio de entrega é de até 24 horas na região metropolitana de São Paulo e vai até 7 dias para as regiões mais remotas (Norte do País).

Obviamente este centro de distribuição atende exclusivamente à rede concessionária ou credenciada, e como todos os carros JAC no Brasil supostamente ainda estão no período de garantia, todo o foco da companhia está voltado ao fortalecimento de sua rede, apoiado no longo período de garantia de 6 anos.

O fato é que muitos clientes JAC já abandonaram a garantia e frequentam regularmente as oficinas independentes, e isso por duas razões muito simples: A primeira porque as oficinas independentes possuem uma capilaridade imbatível, ou seja, em qualquer ponto do país onde rodem veículos automotores, haverá um reparador técnico de portas abertas e preparado para atender seus clientes; e segundo porque os clientes estabelecem vínculos de relacionamento baseado na confiança e comodidade junto aos reparadores independentes, seja qual for a marca do veículo.

Em decorrência do duro golpe sofrido pelos importadores no final de 2011 com o aumento de 30% no IPI, a rede de concessionárias JAC não teve outra alternativa senão encolher e fechar alguns pontos não rentáveis. Por sinal em algumas regiões específicas, a JAC nomeou oficinas independentes como oficinas credenciadas, para atender clientes em áreas cujas concessionárias locais foram desativadas.

Como relatado no início da matéria, as 3 oficinas independentes consultadas, Guia Norte; Hidrauto e Super G já tinham experiência de atendimento a clientes JAC, todos eles com serviços de manutenção preventiva. 

Alê comenta que na concessionária JAC, no balcão de peças, não há diferenciação entre o reparador independente e o cliente pessoa física; e na consulta que fez, o estoque se limitava a itens de alto giro. Teve que encomendar algumas peças que levaram de 15 a 20 dias para serem entregues. Ele considera este prazo ruim, mas dentro da média de outras marcas.  

Vanderson atende frequentemente clientes que abrem mão da garantia de fábrica (várias marcas), e realizam as revisões periódicas na Hidrauto. Sugere que as concessionárias JAC olhem o independente como clientes diferenciados de peças, e parceiros de mercado para atender bem o cliente JAC. “A nossa primeira opção é sempre usar peças genuínas; mas se a concessionária não mantém estoque e o preço não é competitivo, partimos para o mercado paralelo com itens de primeira linha. No caso de modelos JAC, muitos itens de giro já são oferecidos no mercado paralelo por marcas consagradas e de qualidade inquestionável”.

Daniel também se preocupa com a opção das concessionárias em não manter itens de reposição no estoque. “A nossa experiência com peças genuínas JAC apontam prazo médio de 7 dias para a entrega. Pode parecer normal, mas o cliente não gosta de ficar todo este tempo sem o carro, além do que o espaço ocupado em nossa oficina compromete a rentabilidade”.

Enfim, os reparadores independentes continuam soberanos na escolha da peça que será aplicada nos veículos de seus clientes, e por ordem de importância privilegiam: qualidade; disponibilidade imediata; procedência e preço. 

De olho neste mercado (aftermarket automotivo), montadoras líderes de mercado já trabalham há muito tempo em programas de relacionamento com os reparadores independentes, com o objetivo final de vender peças genuínas em condições competitivas.

Alê, Vanderson e Daniel concluem que se as concessionárias JAC tiverem uma boa política de peças de reposição junto aos reparadores independentes, fortalecerão em muito a satisfação dos clientes JAC que não frequentam mais a rede concessionária; e principalmente, venderão muitas peças genuínas em um mercado disputado por renomados fabricantes de autopeças, grandes distribuidores e importadores independentes. E o que não falta no mercado são importadores de peças chinesas, mas cuja procedencia é duvidosa.

RECOMENDAÇÃO

Se depender da avaliação técnica dos reparadores entrevistados, a JAC Motors já conta com importantes formadores de opinião; mas para que isso se consolide de fato, é preciso que as concessionárias JAC melhorem a logística de disponibilidade das peças genuínas, principalmente para os reparadores independentes, conforme atestam os comentários finais:

Alê (foto 16): “Indico com ressalvas porque o carro é superior e muito mais bonito que seu concorrente direto (Chevrolet Spin). A marca JAC é muito bem vinda na Guia Norte pois não representa dificuldades na parte técnica (reparabilidade) porém sem uma política de peças a reparação se torna cara e dificultosa, o que é muito ruim para o dono do carro e para nós reparadores. Ainda sobre o produto eu lamento apenas a ausência da opção pelo câmbio automático. Na minha visão, o Grupo SHC deveria rever esta decisão, pois hoje em dia há preferência pelo carro automático, ainda mais nesta faixa”.

Vanderson: “Eu recomendo sim a compra para meus clientes interessados, pois trata-se de um veículo tecnicamente muito bom. Mas vou alertar para que analisem com calma os valores e a facilidade para uma futura revenda, pois não é difícil prever grande desvalorização, uma vez que pela falta de uma política de fornecimento de peças para oficina, a manutenção será cara e demorada, o que ajuda a micar produtos na hora da revenda”.

Daniel: “Recomendo a compra deste veículo pela boa relação custo/benefício, e por se mostrar um projeto muito equilibrado e bem resolvido. Todavia, alertaria sobre os riscos do cliente ficar refém de peças cativas, pois as concessionárias consultadas até o momento não mantêm estoque pronta entrega na loja, mesmo para itens de giro”.

Em resumo, a minivan JAC J6 tem todas as virtudes técnicas para vencer no mercado; mas para o consumidor, a experiência com uma marca só é completa quando o ciclo compra, pós-venda (garantia) e aftermarket (independente) se completa de forma contínua e harmoniosa, e a JAC Motors do Brasil tem uma boa perspectiva para vencer as adversidades e voltar a brilhar no cenário automotivo brasileiro, desde que não cometa o mesmo erro de outras marcas que se lançaram no mercado, acreditando que somente a rede de concessionárias seria capaz de atender bem e fidelizar os seus clientes. Até onde sabemos, no mercado brasileiro, nenhuma montadora conseguiu esta façanha.