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Fiat Strada Adventure mostra ao reparador que sua terceira porta é só um mero detalhe


Apesar da polêmica acerca de histórico de falha grave no motor E.torQ, veículo recebe algumas melhorias e possui fácil manutenção, bom acesso às peças e informações técnicas ao público independente

Por: Fernando Naccari e Paulo Handa - 16 de setembro de 2014

O reparador Adriano, a picape Strada e o proprietário e reparador Guglielmo MartinoNascida como uma picape derivada do Fiat Palio no ano de 1998, já como modelo 1999, a Strada chegou para substituir a Fiorino Picape. Mais moderna, com maior lista de equipamentos e capacidade de carga maior, era disponível, incialmente, somente com cabine simples e em três diferentes versões de acabamentos e motores: a básica Working, equipada com motor Fiasa 1.5 de 76cv, a intermediária Trekking com motor 1.6 de oito válvulas e 92cv e a top de linha LX, com motor 1.6 16V de 106cv.

Apesar de não possuir a maior caçamba do segmento, perdendo para a Ford Courier, ainda tinha dimensões que atendiam bem à proposta de veículo para carga: 51cm de altura, 1,29m de largura e 1,77m de comprimento (medidas internas). Um pequeno degrau no para-choque auxiliava no processo de carga e descarga do veículo que ainda contava com oito ganchos para amarração no compartimento de carga.

Em 1999, a primeira inovação: a Strada com cabine estendida. Por meio de pesquisas na época, a Fiat identificou que a maior parte dos usuários não estava transportando grandes objetos na caçamba, mas sim no pouco espaço que sobrava dentro do veículo.

Dessa maneira, a cabine ganhou 30cm e permitiu que a capacidade de carga atrás dos bancos fosse de 300 litros. No entanto, a caçamba passou de 2,4m² de área para 2,0m², fazendo com que a capacidade de carga caísse de 705kg para 685kg úteis.

No ano de 2002 veio o primeiro face-lift, acompanhando o visual do recém-lançado novo Palio, apresentando novos para-choques, faróis, capô e para-lamas. No mesmo ano chegou também nova opção de motorização, o 1.9 Powertrain (fruto de uma associação já finalizada entre Fiat e GM para produção conjunta de motores) de 108 cv no lugar do 1.6 16V.

Em 2003, a picape passa por uma ‘involução’ recebendo o motor 1.3 8V de apenas 67 cv e painel do antigo Palio, tudo a fim de baratear custos de produção e venda do veículo. Somente em 2005 houve a opção de motor flexível em combustível na versão Trekking com motor 1.4, mas já era vendida como modelo 2006.

Entre os anos de 2010 e 2012 houve também a Strada Sporting, carregada de adereços visuais que remetiam à esportividade, motor 1.8 E-torQ 16V Flex e câmbio automatizado Dualogic.

No final de 2013, a Strada passou por sua mais nova reestilização que promete agitar o mercado de picapes, com a adoção de uma terceira porta. Esta, porém, só é possível de se abrir quando a porta dianteira do passageiro está aberta, ocultando sua maçaneta (FOTOS 1 e 1A). Segundo o Diretor de Desenvolvimento de Design de Produto do Grupo Fiat-Chrysler da América Latina, Claudio Demaria, essa solução foi devido à possibilidade de manter o visual limpo na lateral do veículo e permitir que essa abertura fosse controlada pelo passageiro da dianteira, principalmente em caso da presença de crianças nos bancos traseiros.

Foto 1 e Foto 1AMas não foram só as três portas o único destaque da linha 2014 da Strada. A picape ganhou uma linha de cintura mais alta e uma caçamba maior, que cresceu oito centímetros na altura, oferecendo mais volume para carga. As novas lanternas traseiras, colocadas em uma posição mais elevada, invadem a lateral e passam modernidade ao modelo.

A versão Working também recebeu um novo para-choque dianteiro, muito mais condizente com sua proposta de robustez e praticidade. Além das reformulações visuais citadas, uma série de detalhes inéditos, externos e internos, também foi adicionada à linha Strada 2014: abertura elétrica da tampa do combustível; porta escada; novo vidro traseiro; novo volante para Trekking e Adventure são alguns deles.

A gama do Fiat Strada 2014 será composta por seis versões: três Working (com cabines curta, estendida e dupla) com motorização 1.4 Flex; uma Trekking (com cabine dupla) com propulsor E-torQ 1.6 16V Flex; e duas Adventure (com cabines estendida e dupla) e motor E-torQ 1.8 16V Flex.

As três motorizações, são as já bem conhecidas pelos reparadores e estão divididas de acordo com a versão de acabamento. A Working vem equipada com o robusto e econômico motor Fire 1.4 Flex, com potência de 85cv (gasolina) e 86cv (etanol) e torque de 12,4kgfm (gasolina) e 12,5kgfm (etanol). Os modelos Trekking dispõem da tecnologia E-torQ, que proporciona alto desempenho com baixo consumo de combustível. Com baixos ruídos e níveis de vibrações o modelo E-torQ 1.6 16V Flex desenvolve potência de 115cv (gasolina) e 117cv (etanol) e torque de 16,2kgfm (gasolina) e 16,8kgfm (etanol). Para a Adventure está reservada a motorização mais potente: a E-torQ 1.8 16V com potência de 130cv (gasolina) e 132cv (etanol) e torque de 18,4kgfm (gasolina) e 18,9kgfm (etanol).

AVALIAMOS
Tivemos a oportunidade de testar durante sete dias a versão Adventure com câmbio manual e motor 1.8 16V E.torQ, dotada da terceira porta.

No convívio com o veículo, notamos que realmente a solução encontrada pela Fiat surtiu efeito e, direcionar-se aos bancos traseiros não é uma tarefa difícil, mas o espaço para que os que seguem atrás ainda depende muito do tamanho daquele que segue nos bancos dianteiros (FOTO 2).

Foto 2Dinamicamente, o motor 1.8 16V (FOTO 3) parece ser fraco para a proposta do veículo. O que mais reforça essa sensação é a relação de marchas longas que a Fiat adotou, tornando a tarefa de ultrapassagens bastante injusta, pois o motor da Strada demonstra que acordou somente após os 4.000rpm. Em questão de consumo, aferimos 7,8km/l com etanol e 9,8km/l com gasolina, ambas as medições em circuito urbano e com ar-condicionado sempre ligado.

Foto 3Já o conforto de rodagem é algo que merece elogios. Embora o veículo tenha pneus de uso misto que, geralmente são mais ruidosos e trazem mais vibrações à cabine, além de uma suspensão elevada tendendo à rigidez, dirigi-lo é bem agradável e nos dá boa sensação de segurança em curvas, por exemplo.

NA OFICINA
Para sabermos se as mudanças que o veículo sofreu nessa nova versão resumem-se apenas a uma terceira porta e pequenos detalhes estéticos, levamos uma Fiat Strada Adventure 2014 1.8 16V E.torQ, cedida gentilmente pela montadora, a uma oficina independente especializada na marca, a Kar Bello Serviços Automotivos na capital de São Paulo, famosa pela reparação de veículos de marcas italianas, principalmente Fiat e Alfa Romeo.

Lá, conversamos com o icônico reparador italiano Guglielmo Martino de 59 anos. Martino, como prefere ser chamado, nos contou que iniciou na carreira aos 16 anos em Nápoles, na Itália junto com seu avô e, aos 23 anos, veio ao Brasil a passeio e nunca mais voltou. “Comecei em uma empresa de táxi do meu tio, mais precisamente na oficina desta. Depois de algum tempo fui para uma concessionária Fiat onde fiquei por muitos anos e, junto a um amigo, em 1996 percebi lá que consertar automóveis não era só trocar peças. Foi quando fundamos a Kar Bello que continua comigo até hoje”.

Junto a Martino, colaborou com a avaliação o reparador Adriano Vieslosk de 27 anos de idade. Com três anos de experiência no ramo de serviços mecânicos em veículos, está há um ano na Kar Bello. (FOTO 4)

Foto 4

Martino comentou que, apesar de ser especializado, ainda assim atende veículos multimarcas. No entanto, a fama adquirida pela oficina faz com que mais da metade de seus atendimentos sejam da linha Fiat e, deste montante, pelo menos 15% são Fiat Strada. “É um veículo que aprecio muito e não vejo complicações no momento da reparação”. 

DEFEITOS RECORRENTES 
Após fazer uma primeira análise visual do veículo e seus componentes, Martino comentou que encontrou algumas mudanças quando comparado às antigas versões. “Não percebi mudanças radicais, mas com as exigências de segurança impostas recentemente, notei que este carro já possui airbag e ABS de série”.

No motor (FOTO 5), Martino disse que não houve modificações, pelo menos nenhuma visível. “O sistema de partida a frio adota o quinto bico injetor e ainda utiliza o reservatório de gasolina.  Outra coisa a comentar é a utilização do sistema de comando através de corrente e não de correia dentada que, pelo lado da reparação é ruim, pois o período de troca se estende muito, isso ainda se for necessária”.

Foto 5Martino comentou que o motor E.torQ possui um defeito grave que, para os proprietários e reparadores, é visto com muita preocupação. “É comum ver motores que apresentam quebra dos pistões, que são notadas quando estes começam a apresentar um barulho interno incomum e bastante alto. Para sanar, só trocando as peças danificadas e fazendo os demais serviços que forem necessários, como uma retífica, por exemplo”.

Como sabemos, esta é uma falha gravíssima que, segundo Martino, acontecesse devido à fadiga precoce do material. “A Fiat nega que este seja o problema. Já pedimos esclarecimentos e eles comentaram que o defeito era ocasionado devido a um erro de software da ECU. Este provocava erros no ponto de ignição, causando sucessivas detonações pequenas em determinados locais que, com o tempo, causavam o dano no pistão. Eu não acredito nessa versão, mas eles disseram que este problema foi corrigido e todos aqueles que passaram por isso tiveram a garantia concedida. Vamos acompanhar e verificar se nos novos veículos este problema deixou de ocorrer”.

O conjunto de transmissão, que no veículo avaliado era manual, não sofreu alterações. “A transmissão é a mesma e, devido a isso, acredito que ela apresente os mesmos defeitos que a antiga apresentava, como por exemplo, as marchas ‘arranhando’ na troca. Isso ocorria devido aos anéis sincronizados desgastarem e perderem a capacidade de frenagem das engrenagens”, disse Adriano.

Já o conjunto de freios sofreu algumas mudanças mais significativas. “Devido a este possuir ABS, o disco dianteiro (FOTO 6) agora é ventilado e possui um conjunto de pastilhas maior. Para mim, isso é uma boa notícia, pois estes veículos, que na teoria são destinados à carga, costumam apresentar desgaste acentuado nestes, pois boa parte do peso veículo fica concentrada na frente”, explicou Adriano.Foto 6Outra evolução no sistema de freios é com relação ao corretor de frenagem que se localizava no eixo traseiro (FOTO 7). “Este, com a vinda do sistema ABS, foi substituído pelo controle eletrônico EBD, muito mais eficiente e tem a vantagem de não gerar ruídos, como era comum nesta antiga peça”, acrescentou Adriano.

As rodas também ganharam uma importante alteração. “Antigamente o carro utilizava rodas aro 15”, mas agora adota uma 205x60 R16, o que permite que a suspensão tenha um melhor amortecimento e seja mais macia”, disse Adriano.

Outro ponto forte da Strada é a robusta suspensão traseira (FOTO 8). “Este sistema de feixes de mola é muito mais eficiente do que os que a concorrência utiliza, as convencionais molas helicoidais. Na Fiat, isso permite que maior resistência e maior capacidade de carga do que na concorrência”, opinou Adriano.

Foto 7 e Foto 8

Na parte de iluminação, Martino comentou que a mudança visual da lanterna traseira (FOTOS 9 e 9A) permitiu ainda uma maior facilidade na troca das lâmpadas. “Ficou bem melhor que no carro anterior, pois neste necessitávamos desmontar a traseira quase que completa para trocar uma lâmpada”.

Foto 9 e Foto 9A

JÁ TEVE RECALL 
Martino nos alertou quanto ao recall que vem sendo feito com os modelos novos que já possuem a terceira porta, pois foi utilizado um parafuso de fixação na haste do cinto de segurança dianteiro menor do que o indicado. “O parafuso tem 33mm de comprimento sendo que o correto deveria ser 38mm”.

Até como um serviço de atenção a mais ao seu cliente, Martino relatou a importância dos reparadores orientarem seus clientes mais desavisados. “Em caso de acidente, a haste de ancoragem poderia se soltar facilmente, deixando o passageiro dianteiro sem a proteção do cinto de segurança e sujeito a ferimentos graves. A Fiat fez um recall para os veículos fabricados entre 05 de julho e 19 de novembro de 2013, e que tenham a numeração de chassis entre 7692036 e 7749028. O problema é que eles tinham o prazo de até 23 de dezembro de 2013 para efetuarem essa correção gratuitamente, contudo é aconselhado informar os proprietários a entrarem em contato com a Fiat para saberem como proceder, caso não tenham efetuado as correções no tempo indicado”.

PEÇAS E INFORMAÇÕES
Martino comentou que, atualmente a política de venda de peças pela montadora melhorou muito. “Há alguns anos, as peças genuínas eram uma fortuna e poucos proprietários arcavam com este custo para a manutenção de seus veículos. Fora que as concessionárias não as tinham em estoque e optávamos em colocar peças paralelas por questão do tempo que o veículo ficaria parado na oficina. Hoje, devido à concorrência, elas perceberam um mercado que não exploravam bem, que era o de vendas diretas. Assim, a Fiat começou a apresentar uma melhor logística de disponibilidade de itens e tudo a preços populares muitas vezes mais baratos do que os praticados em autopeças. Com isso, hoje compro 70% em concessionárias, pois tenho bons descontos e o item chega a minha oficina em um prazo razoável. Componentes de sistemas de freios, filtros e lubrificantes, num total de 20%, ainda compro em autopeças, pois eles ainda possuem preços competitivos e, os 10% restantes, compro em distribuidores”. No caso das informações técnicas, Martino disse que sua experiência como reparador da rede autorizada Fiat o auxilia até os dias de hoje. “Como trabalhei muitos anos em concessionária Fiat e trabalho com a marca como minha especialização, consigo as informações que preciso com a própria montadora e com amigos da rede. Hoje parabenizo a Fiat com uma atitude que considero muito madura que é abrir, através de um site oficial, as informações técnicas ao público independente, o Reparador Fiat. Vejo que ela percebeu que partilhando das informações com os reparadores  faz com que o seu produto não tenha segredos e, como consequência, os reparadores ficam mais confiantes, pois sabem que não ficaram refém das concessionárias, pois não é uma concorrência, é uma parceria em que ambos os lados saem vencedores”, explicou Martino.

RECOMENDA? 
Perguntamos a Martino se o novo Fiat Strada Adventure é um veículo que ele recomendaria, e ele afirmou que sim. “O carro tem manutenção simples, eu tenho informação técnica e bom acesso às peças de reposição, portanto se algum cliente me perguntar, este é um carro que indico sem pensar duas vezes”, finalizou.