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Polara: a mudança de nome que deu um sopro de vida ao pequeno Dodge no segmento de médios


Ele nasceu como Dodge 1800, mas problemas de qualidade afetaram o início de sua trajetória. Foi, então, rebatizado de Polara, em uma tentativa de melhorar sua imagem

Por: Anderson Nunes - 13 de abril de 2015

O desenho do Dodge Polara trazia linhas equilibradas com boa distribuição de volumes destinados ao motor, à cabine e ao porta-malasEm abril de 1973, a Chrysler do Brasil não foi muito bem sucedida no lançamento do Dodge 1800. Com o intuito de ser o primeiro veículo de uma nova geração de modelos médios a chegar ao mercado naquele ano, a montadora aprontou-se em lançá-lo rapidamente, porém problemas relacionados à qualidade prejudicaram a imagem do 1800 junto ao seu público consumidor. 

Assim que chegaram às ruas, os defeitos começaram a surgir: Dodginho apresentou problemas na carroceria, como alinhamento das portas e borrachas de vedação, carburador com péssimo rendimento e câmbio com ruídos no sincronizador, além de vibrações na caixa de direção. 

Enxurradas de reclamações começaram a chegar às mesas dos dirigentes da Chrysler. Ciente dos problemas, e tendo de escolher entre resolvê-los ou abandonar o carro e partir para outro, a Chrysler optou por saná-los. Introduziu melhorias mecânicas e efetuou a “operação garantia total”: reparava defeitos mesmo fora de garantia, para reconquistar os clientes insatisfeitos, e oferecia brindes e facilidades de pagamento para atrair os consumidores.Polara chegou com a missão de resgatar a imagem do pequeno Dodge, de 1973 / As maçanetas externas embutidas, preocupação com a segurançaO preço para reparar a imagem do 1800 era alto, mas a Chrysler decidiu bancar. O primeiro passo foi lançar mão de um conhecido recurso da indústria automotiva – a nova versão. Em abril de 1974, para tentar dar um novo alento, surgia o 1800 SE, um modelo com perfil mais esportivo: tinha a parte inferior da carroceria, grade e molduras das lanternas em preto-fosco e rodas de desenho exclusivo. Por dentro, o revestimento era xadrez e o volante mais esportivo, de três raios. Para garantir um preço mais baixo, algumas simplificações foram feitas, como não incluir o comando interno do capô.Adesivo com o nome da concessionária fixado no vidro traseiro / A partir de 1978, as lanternas ficaram maioresO motor ganhava um pouco de potência, indo agora a 82 cv, e o torque passava para 14,5 m.kgf, com o carburador SU de ventúri regulável, mas o desempenho pouco melhorava, sendo insatisfatório para uma versão esportiva. A velocidade máxima era de 144 km/h, e a aceleração de 0 a 100 km/h ficava na casa dos 19 segundos. Embora compacto, o porta-malas do Polara era amplo / Pequeno retrovisor tinha mais uma função estética do que de segurançaSímbolo do leão na grade sugeria agressividade ao PolaraDODGE POLARA,  O RENASCIMENTO
Em um esforço para reerguer seu carro médio no mercado, a Chrysler recorreu até mesmo à mudança da denominação 1800. Em 1976, era adotado o nome Polara, que em mercados estrangeiros, como Argentina e Estados Unidos, identificava um grande Dodge, do porte de nosso Dart. A publicidade o destacava como “o carro que respeitou a opinião pública”, assinalando possíveis sugestões de compradores por menor consumo, motor mais “envenenado”, interior mais luxuoso e a traseira mais baixa. As versões foram mantidas em Luxo e Gran Luxo.

Visualmente, o Polara pouco se diferenciava do 1800, a não ser pela grade preta com desenho horizontal, com moldura cromada. Na traseira, foram aplicadas novas lanternas de maior área útil. Mas no conjunto mecânico estavam as mudanças mais perceptíveis. O motor ganhou um novo carburador da marca inglesa SU-175, em substituição ao japonês Hitachi 150. O cabeçote foi inteiramente retrabalhado com o aumento do diâmetro das válvulas de escape, que passaram de 31 mm para 34 mm, além da eliminação dos cantos vivos das válvulas que “atrapalhavam” a mistura ar-combustível. 

Foram redimensionados também o coletor de admissão, que passou dos 28 mm para 30,5 mm, e o coletor de escape, de 30 mm para 33 mm, de forma a otimizar a entrada e saída dos gases. A taxa de compressão foi aumentada de 7,5:1 para 7,7:1. O comando de válvulas também passou por modificações; o eixo de comando aumento de 0,26 polegadas para 0,29 polegadas, e seu cruzamento de 48° para 56°. Faróis retangulares foram uma tendência lançada pelo Dodginho / Luxo da transmissão automática revelado em uma discreta plaqueta Com um conjunto mecânico mais homogêneo, a potência saltou de 82 cv a 4600 rpm para 93 cv 5000 rpm. O torque foi de 14,5 m.kgf a 3000 rpm para 15,5 m.kgf a 3500 rpm. Isso resultou em um melhor desempenho, já que a velocidade máxima saltou dos 148 km/h para 160 km/h. A aceleração de 0 a 100 km/h também melhorou, pois passou de 17,61 segundos para 14,05 segundos, segundos testes da revista Quatro Rodas.  

DESCANSO AO PÉ ESQUERDO
Para a linha 1978, a Chrysler aplicou a primeira reformulação visual em seu veículo médio. O Polara ganhou uma nova frente, com faróis retangulares e luzes de piscas na cor âmbar nos extremos dos para-lamas, mesmo conjunto ótico aplicado ao HilmannAvenger de 1976. A grade também foi modificada, ganhando como emblema um leão estilizado. Na traseira, as lanternas foram redesenhadas, ficando maiores e divididas em três seções e prolongadas até as laterais.

Internamente, a versão Gran Luxo passou a oferecer como opcionais bancos reclináveis com ajuste contínuo do encosto e retrovisor interno com posição dia-e-noite. Foram mantidas as opções de acabamento preto, vinho e caramelo, que podiam ser combinadas de acordo com a pintura externa. Pneus radiais também passaram a ser oferecidos. O motor de 1,8 litro tinha como diferencial o carburador horizontal, típico de projetos ingleses / Na tampa do carburador indicação de como efetuar a manutençãoPoucas mudanças foram atribuídas à linha 1979, modelo que ilustra nossa reportagem. Externamente, somente os frisos de borracha são novos. Internamente, o acabamento passou a seguir padrão de revestimento adotado nos modelos Dart e Magnum. Também estava disponível o rádio toca-fitas estéreo com antena elétrica. 

Em um tempo de mercado com poucas inovações mecânicas, a Chrysler surpreendeu ao oferecer transmissão automática em um modelo pequeno. Em julho de 1979, o Polara passou a ter opção do câmbio automático, antes restrito a carros grandes e caros. O Polara automático inovava ao trazê-lo com quatro velocidades, já que modelos como Ford Galaxie, Chevrolet Opala e o próprio Dodge Dart só ofertavam câmbios automáticos de três velocidades.Ambiente requintado com interior monocromático e volante do Dodge Dart / Na parte de trás conforto para dois passageirosA caixa automática, batizada de modelo 45, era importada da Inglaterra, onde equipava o HillmannAvenger. Posicionada no assoalho, trazia o seletor de escolha de marchas com as seguintes letras: P-R-N-D-3-2/1. A seleção das marchas é feita mediante uma leve pressão em seu topo. Já na parte inferior, há um botão que, pressionado, permite engatar tanto a ré como descer de uma marcha mais longa para outra mais curta, como, por exemplo, de drive para terceira. Por fora, a única diferença é a inclusão de uma plaqueta no canto direto do porta-malas com a inscrição DODGE AUTOMATIC. Para usufruir do conforto do câmbio automático, o cliente pagava 12% a mais que a versão com câmbio manual.

Já as relações de marchas pouco mudavam do câmbio manual para o automático. A primeira tem relação 3,00:1 (no câmbio manual 3,53:1), a segunda de 1,94:1 (2,16:1) e a terceira de 1,35:1 (1,38:1), enquanto a quarta marcha permanece 1,00:1. A marcha à ré do automático tem relação de 3,89:1 contra 3,68:1 do câmbio manual. Já o diferencial não mudou: sua relação permaneceu de 3,89:1.

Bom acabamento também presente nas laterais das portas / O painel trazia somente as informações necessáriasTestado pela Quatro Rodas, a publicação destacou a suavidade de funcionamento do câmbio automático, sobretudo no trânsito urbano. A ressalva ficou por conta do kick-down, que sentia uma lentidão quando pressionado até o fim do curso do pedal do acelerador. Quanto ao consumo, praticamente houve um empate. No modelo com câmbio manual, foi de 10,72 km/l e, no automático, de 10,44 km/l. A velocidade máxima atingida foi de 142 km/h no automático e, no manual, de 148 km/h.

Nesse mesmo ano, a Volkswagen passa a ter o controle acionário da Chrysler do Brasil, o que gerou dúvidas sobre a continuidade de sua linha. Para não afugentar os compradores e evitar o encalhe dos Dart, Magnum, Le Baron, Polara e dos caminhões Dodge, a marca alemã divulgou anúncios, com a questão “O que vai acontecer com esses carros e caminhões?”, ou a afirmação “A Volkswagen apostou nestes carros e caminhões”. Tal iniciativa tentava convencer que a marca Dodge estava mais forte do que nunca.

Para reforçar a campanha, o Dodginho ganhou uma versão mais luxuosa, a GLS, em 1980, com bancos dianteiros com encosto de cabeça integrado (opcional no GL) e painel de instrumentos completo com seis mostradores, incluindo manômetro de óleo e voltímetro, da marca Veglia. Visualmente, havia novos para-choques com ponteiras de plástico, grade reformulada e novas calotas, sendo uma raiada, a outra de plástico.Dodge Polara inaugurou o câmbio automático de quatro marchas no Brasil / Rádio integrado ao painel traz a assinatura Chrysler Na parte mecânica, melhorias foram introduzidas, com o aumento da taxa de compressão, que passou de 7,7:1 para 8,0:1, adoção de um carburador vertical da Weber de duplo estágio, coletor de admissão reformulado e um novo filtro de ar. O Polara GLS vinha equipado de série com pneus radiais 165/80-13 e, entre os opcionais, estavam o para-brisa laminado, ar quente, desembaçador traseiro, rádio toca-fitas com antena elétrica e pintura metálica. O único opcional não disponível para a versão GLS era a transmissão automática.

Em 1981, pouco antes da extinção da marca, o Polara saía de linha, com uma produção total de 92.665 unidades. Como a Volkswagen já tinha o Passat brigando pelo segmento de médios, ela preferiu não investir em concorrência interna. Já na Argentina, como a marca de Wolfsburg não tinha um modelo nesse segmento, o Dodge 1500 foi rebatizado em terras portenhas de Volkswagen 1500, com versões de quatro portas e perua ficando em produção até meados de 1990.

CAÇA AO POLARA
O engenheiro paulista Alexandre Piedemonte é admirador de veículos antigos há um bom tempo. Entretanto, começou a realizar o sonho de ter uma coleção a partir de 2013, quando adquiriu um VW TL 1971 cor Azul Diamante e, posteriormente, um Galaxie Landau 1976 Série Prata.

A admiração pela marca Dodge começou cedo, pois seu pai foi proprietário de dois DodgesDart nos anos de 1978 e 1983. “Esse Dodge Polara automático é meu segundo modelo, pois tenho também mais um Polara 1979, só que com câmbio manual”, salienta Piedemonte.

Luz de cortesia fixada no centro do teto / Rodas com sobrearos eram acessórios comuns na década de 70   O engenheiro nos contou que a compra deste carro foi algo marcante. Na época, ele fez uma oferta ao antigo dono, que disse que venderia, mas na última hora desistiu do negócio. “Passados alguns meses, quando já havia adquirido o outro Dodge Polara, o antigo dono me ligou dizendo sobre a intenção novamente de vendê-lo. Como eu já havia adquirido outro Polara, não resisti e acabei fechando a compra desse raro Polara automático”, conta sorridente.

Não foi necessário restauro: o Polara automático estava em perfeito estado. Ao gosto do colecionador, foram instalados apenas os sobrearos nas rodas e uma repintura da faixa preta na traseira dos Dodginhos deste modelo e ano.