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Monza SL/E fase II, força com estilo marcou a mudança de meia estação do médio da Chevrolet


Consagrado pelo arrojo de suas linhas, mas com um acabamento simples, a versão 85 e meio trouxe um interior mais luxuoso e visual mais sofisticado

Por: Anderson Nunes - 25 de dezembro de 2016

Com o lançamento do Monza sedã de quatro portas em maio de 1983, somado à introdução do motor de 1,8 litro no começo daquele ano, as mesmas boas qualidades de desempenho, estabilidade e conforto encontradas na versão hatchback foram reforçadas na carroceria de três volumes. Embora a conveniência das duas portas adicionais estivessem aumentando no Brasil, o gosto do consumidor local pelos modelos dotados de duas portas ainda era a combinação ideal, logo a General Motors não tardou a lançar o Monza sedã quatro portas em setembro de 1983. 

O perfil harmonioso do Monza sedã acabou por se tornar o modelo cobiçado pela classe média durante os anos 80
Na versão sedã, embora mantivesse o mesmo entre-eixos de 2,57 metros do modelo hatch, o comprimento passava de 4,26 para 4,36 metros. Esteticamente o modelo três-volumes apresentava linhas harmoniosas e bem definidas, deixando com ares de carro executivo. No modelo de duas portas havia o quebra-ventos que se fazia presente por uma necessidade técnica, para que o vidro da enorme porta não ficasse tão grande e difícil de ser acionado. No modelo de quatro portas não havia os quebra-ventos, e as portas dianteiras menores num primeiro momento foram importadas da Opel alemã, enquanto a GM do Brasil providenciava a produção delas no Brasil. O toque de charme ficava por conta das saídas de ar nas colunas traseiras. 

Em apenas um ano e meio de mercado, o Monza já compreendia uma família com três opções de carroceria e duas de motorização (1,6 e 1,8 litro). Os itens de conforto e conveniência, como a opção de ar-condicionado, direção com assistência hidráulica, e a inclusão do câmbio de cinco marchas ajudavam a reforçar a imagem de um produto moderno e desejado. O modelo médio da GM que conquistava o Brasil também ganhava o título de Carro do Ano promovido pela revista Auto Esporte. A marca da gravatinha tinha ganho o Brasil e preparava para surpreender os analistas de mercado com um feito inédito na história da indústria automobilística nacional. 

A traseira tinha um desenho elegante e o destaque vai para as grandes lanternas caneladas, bem típico dos anos 80
A partir de 1984 o Monza se consagrou como o carro mais vendido do País, desbancando o Chevette (campeão em 1983) e o líder de décadas, o Fusca. Era a primeira vez que um carro médio, não popular, conquistará o título de número 1 em vendas. Contribuiu para isso a chegada também do motor 1,8 litro a álcool de 96 cv de potência, em março de 1984. No total foram vendidos mais de 70 mil unidades do Monza nesse ano. A versão mais desejada era o três volumes de duas portas, com o motor 1,8 litro e itens de conforto como vidros, travas e retrovisores elétricos, ar-condicionado, direção assistida, rádio com toca-fitas e antena elétrica, era sinônimo de status da classe média brasileira na metade da década de 80. Para reforçar a imagem de modelo sofisticado a GM passou a oferecer como opcional o câmbio automático de três marchas.

85 E MEIO, UMA SURPRESA

O Chevrolet Monza começou o ano de 1985 com pé direito e mantendo as boas vendas. Entretanto o mercado em menos de um ano ganhou um novo competidor, a Volkswagen resolveu partir para a briga ao lançar em agosto de 1984 o Santana, o primeiro médio de luxo da fabricante alemã no país. Para manter-se firme no topo de vendas a GM contra-atacou e lançou em maio de 1985 o Monza com reformulações estéticas e melhorias no acabamento. Essa decisão acabou gerando críticas dos muitos compradores que haviam adquirido o carro nos primeiros meses do ano e acabaram por ficar com modelo desatualizado em pouco tempo. 

Essas modificações feitas em pleno outono de 85 deixaram o modelo conhecido como Monza 85 e meio ou Fase II. Por fora, à primeira vista, nota-se a nova grade com filetes horizontais mais largos, toda preta, e com as entradas ar dividas em três blocos. O mesmo ocorre com o spoiler, abaixo do para-choque também com três entradas de ar (antes, havia apenas uma abertura, sem filetes) e um acabamento em borracha preta, para evitar que fossem amassadas em contato com o solo. Esse conjunto dianteiro resultou em uma imagem mais agressiva. 

As alterações externas foram estendidas às laterais, com novos retrovisores de desenho mais aerodinâmico e fixados diretamente nas colunas das portas. As maçanetas e cilindros das fechaduras das portas receberam acabamento em preto. Para completar as mudanças visuais, na traseira as lanternas com luzes de setas em tom âmbar, atendendo à legislação vigente. No modelo SL/E, quando não dotado de rodas de alumínio, vinha de fábrica com calotas integrais. 

Entre as características evidentes do Monza fase II podemos destacar os retrovisores com desenho aerodinâmico presos nas colunas das portas; maçanetas e fechadura pintadas em preto, lanternas com a parte superior na cor âmbar, porta-malas prima por comportar 410 litros de bagagem, elegantes saídas de ar e a versão SL/E foi a mais vendida da linha Monza
Internamente, as modificações foram mais extensas. O modelo perdeu aquele ar de aspecto simplicista que não combinava com a proposta de médio de luxo. O destaque ficava por conta do novo painel de instrumentos, o mesmo adotado pelo seu correspondente alemão, o Opel Ascona. Colorido, o painel apresentava seis instrumentos, dois circulares, velocímetro e conta-giros. No meio, havia um conjunto de quatro mostradores menores: voltímetro, econômetro e indicadores de temperatura de água e de nível de combustível. O grupo de luzes-espia estava abaixo dos instrumentos. A iluminação do painel passou a ser em tom verde. 

O painel de instrumentos primava pela ótima ergonomia e posição dos comandos / No modelo Fase II os bancos ficaram mais envolventes e com aspecto de luxo / Painel do Monza SL/E ficou mais sofisticado com o quadro de seis instrumentos, além de bonitos são de fácil visualização
Além o painel, o volante foi redesenhado, de quatro raios e de melhor empunhadura. No retângulo que acionava a buzina ficava discretamente impressa a versão do carro, SL/E. O console também foi reformulado. Na base, à frente da alavanca de câmbio, foram instaladas a teclas de acionamento dos vidros elétricos e dos espelhos retrovisores externos, opcionais. Os pinos de travamento das portas passaram a ficar embutidos junto as maçanetas de abertura das portas. 

Os bancos também tiveram seu desenho alterado, com laterais mais envolventes, revestimento em veludo e apoio de cabeça reguláveis (antes eram parte integrante do encosto). Como opcionais, o banco traseiro pode receber apoio de cabeça e descanso de braço central. E atrás dos bancos dianteiros foram aplicados bolsas tipo porta-revista. Outros detalhes conferiam mais luxo, como o revestimento do teto também em veludo, deslocamento da luz interna principal para o centro do teto. Como opcionais para-sol com espelho de cortesia iluminado, do lado do passageiro, e luzes de leitura de duplo foco para o banco dianteiro e traseiro.   

MOTOR 1,8 LITRO, A CHAVE DO SUCESSO

Entre as características de projeto que mais chamaram a atenção no Monza desde seu lançamento foram as boas soluções técnicas encontradas em seu trem de força. Essas soluções mecânicas modernas podiam ser vistas no distribuidor acionado diretamente pela árvore do comando de válvulas, o que eliminava engrenagens, cabeçote de alumínio de fluxo cruzado, alavanca tipo dedo para transmitir movimento dos ressaltos do comando de válvulas, com tuchos hidráulicos; câmbio com lubrificação permanente, que dispensava troca de óleo; embreagem de fácil troca, podendo o disco e platô ser retirados sem a necessidade de retirar o câmbio; e por fim freios a disco ventilados na dianteira. 

O discreto adesivo 1.8A, indicativo de um motor a álcool de 96 cv que fez a fama do Chevrolet Monza
Entretanto o Monza não oferecia grande desempenho como seu estilo supunha. O único motor ofertado, o 1,6 litro alimentado por um carburador de corpo simples e 73 cv a álcool e 72 cv a gasolina, era insuficiente para deslocar com agilidade o hatchback que pesava 1.035 kg, somado a isso o câmbio de apenas quatro marchas, a velocidade máxima ficava em torno dos 150 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h era feita em 16 s. Para reverter essa situação, para a linha 1983, a GM trouxe a opção do motor de 1,8 litro a gasolina (com carburador de corpo simples) de 86 cv, com torque máximo de 14,5 m.kgf, o que trouxe um novo fôlego ao Monza. A principal modificação do novo motor foi o aumento do diâmetro dos cilindros de 80 para 84,8 mm. Dessa forma, deslocamento total passou de 1 598 cm³, para 1 796 cm³.  Com isso a velocidade máxima passava para 160 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h era feita 14 s. 

Entre as primazias do motor Família II está cabeçote confeccionado em alumínio, distribuidor acionado pelo comando de válvulas, embreagem de fácil remoção: boas soluções técnicas
Contribuiu certamente para o Monza ganhar a admiração do público quando a GM lançou a versão com motor de 1,8 litros movido a álcool, em março de 1984. Com taxa de compressão de 12:1 e um comando de válvulas com tempo de abertura maior, o motor podia “respirar” mais ar/combustível para o interior das câmaras de combustão. O carburador permaneceu o Brosol de corpo simples, mas com difusor maior, de 28 mm.  Cm isso a potência saltou de 83 cv a 5.200 rpm e torque de 14,4 m.kgf a 3.100 rpm, quando movido a gasolina; para 96 cv a 5.600 rpm e torque máximo de 15,1 m.kgf a 3.500 rpm no álcool. Acoplado ao motor estava o câmbio manual de cinco marchas bem escalonada que permitia ao Monza atingir a velocidade máxima de 165 km/h e fazer de 0 a 100 km/h em 13 s. Mas o que agradava no motor 1,8 etílico era o bom torque em baixa rotação e pronto para reagir em altas rotações, ou seja era um motor elástico como frisou a revista 4 Rodas de maio de 1984. 

O Monza repetiu o feito do ano anterior e em 1985 consagrou-se como carro mais vendido do Brasil, com um total de mais de 75 mil unidades. Para se manter no topo da lista a GM ainda apresentou em 1985 a versão esportiva batizada de S/R, somente com a carroceria hatch e motor 1,8 litro com potência de 106 cv e câmbio com relações de marchas mais curtas. No interior bancos envolventes Recaro e painel de instrumentos com grafismo vermelho. 

MONZA PLACA PRETA

Nos anos de 1980 o Chevrolet Monza foi um dos automóveis mais desejados do consumidor brasileiro. Moderno para a época rompeu paradigmas e foi por três anos consecutivos (1984-85-86) o carro não popular mais vendido do Brasil. Agora passado 20 anos desde que deixou de ser produzido, o Monza começa a despertar interesse dos colecionadores de carros antigos que já veem nele um dos próximos veículos colecionáveis.

Rádio Rio de Janeiro PLL de 50 W e relógio digital com caracteres verdes / No console, comandos dos vidros elétricos e retrovisores, itens que conquistavam os consumidores /  O estepe ainda é original Firestone 185/70 R13, porém a roda é de ferro e não em liga leve
O funcionário público André Luiz Paiva, 49 anos, é um admirador do Chevrolet Monza e desde 2013 é proprietário de um modelo SL/E branco, duas portas, 1985. Paiva nos contou que estava a procura de um Monza conservado, porém sem placa para poder restaurar e receber o atestado de originalidade. “Procurei em anúncios modelos conservados, mas sem placa preta para poder restaurar. O Monza foi escolhido por ser um carro bastante desejado nos anos 80 e também porque atualmente há poucos modelos sem placa, já que é um veículo relativamente moderno”, explicou. 

O Monza SL/E branco que ilustra essa reportagem foi comprado em 2013 por R$ 7.600,00. Foram feitos apenas pequenos reparos na lataria, já que havia pequenos pontos de ferrugem e a parte elétrica precisou de uma revisão. No mais todas as peças foram encontradas no mercado, já que ainda há um bom estoque. André Luiz cita que como ponto forte do Monza e característica da marca Chevrolet o acabamento em veludo “O ponto forte é o acabamento interno, todo de veludo, inclusive o forro do teto. Já o ponto franco é o consumo elevado do motor 1,8 litro, embora fosse um trem de força moderno para a época”, disse o dono.

Agradecimento Centro de Atendimento ao Turista – Estação Vila Luis Carlos - Guararema.