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Adotado pela Chrysler, o Esplanada foi o último modelo a carregar a alma Simca no Brasil


Com a missão de substituir modelos de renome em nosso país, como Simca Chambord, o Esplanada também conquistou uma legião de fãs, inclusive no meio da reparação

Por: Anderson Nunes - 09 de maio de 2014

Chrysler Esplanada conquistou uma legião de apaixonados

Nem bem as cortinas do 5º Salão do Automóvel, ocorrido em novembro de 1966, haviam sido fechadas e uma das principais novidades expostas no recinto já trocava de mãos. A Simca que havia exibido naquele evento a dupla Regente/Esplanada, sua última cartada para se manter  firme no segmento de luxo, acabara de ser absorvida pela norte-americana Chrysler. Em um primeiro momento, a fábrica estadunidense teve dúvidas se manteria ou não a produção da dupla de sedãs que substituía o ícone Chambord. Apesar do controle de qualidade da Simca ser ineficiente, os pontos fortes como suspensão dianteira McPherson, direção, freios e estabilidade afastaram os rumores de que modelo Valiant iria substitui-los e assim a Chrysler resolveu bancar a fabricação dos dois modelos.

O Esplanada, assim como seu irmão Regente, utilizava o monobloco do Chambord, mas trazia frente e traseira remodelada. Na dianteira chamava a atenção o novo grupo ótico redondo alojado em molduras cromadas de formato hexagonal, tendo na parte superior as luzes de piscas. O capô tinha superfície mais reta com dois vincos longitudinais, quanto a grade tinha pequenos frisos horizontais. Os para-choques receberam desenho retilíneo e protetores de borracha retangular. A traseira adotou novas lanternas verticais com um pequeno retângulo ao centro, ornamentadas com molduras cromadas. E por fim, as calotas eram as mesmo do Chambord. Como opcional havia os vidros escurecidos, faróis auxiliares atrás da grade e teto parcialmente ou todo revestido de vinil corrugado. 

Motor Emi-Sul de 2.505cm²

Internamente, era mantido o painel acolchoado, volante na cor marfim e o velocímetro com escala horizontal utilizado pelo Chambord. O luxo ficava por conta dos novos bancos e laterais das portas revestidos em couro, dos apliques em jacarandá e do rádio. O encosto do banco dianteiro reclinável podia ser dividido em 1/3 ou 2/3. Para os passageiros de trás apoio de braço reclinável e luzes de leitura nas colunas, completavam o conforto a bordo.

Na parte mecânica é adotado o motor Emi-Sul de 2.505 cm³, alimentado por carburador de corpo duplo DFV com potência de 140 cv e torque de 23 m.kgf, acoplado a transmissão manual de três marchas, com alavanca na coluna de direção. Como opcional havia o câmbio 6M, de seis marchas, já disponível nos modelos Rallye e Présidence desde 1965. O tal câmbio de seis marchas, na verdade era o câmbio de três marchas com sistema de sobremarcha adicionada em cada uma das marchas, seguindo o mesmo princípio da caixa de transferência dos modelos 4x4 com reduzida. A engenhoca era acionada por meio de dois botões no painel, um para estrada e outro para cidade que faziam atuar um sistema eletro-hidráulico. Para identificar tal câmbio era aplicada na coluna C a plaqueta “6M”.

Em fevereiro de 1967 vemos os últimos modelos Esplanada e Regente saindo de fábrica com o selo Simca. Em abril de 1967 a Chrysler assume de vez as operações da Simca no Brasil, colocando em prática um plano de restruturação de pessoal e fabril na unidade de São Bernardo do Campo. As medidas da Chrysler no país foram traumáticas, com a demissão de 400 empregados, de um total 1.700 trabalhadores. Nem mesmo os diretores escaparam dos cortes.

Para assegurar métodos de qualidade mais precisos a Chrysler enviou à sede da empresa nos Estados Unidos alguns veículos para testes. Os engenheiros norte-americanos introduziram diversas modificações tanto no acabamento como na parte mecânica. Em agosto de 1967, a empresa passa a operar oficialmente como Chrysler do Brasil S/A, adotando tal assinatura nas peças publicitárias que foram ao ar.

Faróis duplos faziam parte da identidade visual do veículo

  • Para assegurar métodos de qualidade mais precisos a Chrysler enviou à sede da empresa nos Estados Unidos alguns veículos para testes. Os engenheiros norte-americanos introduziram diversas modificações tanto no acabamento como na parte mecânica. Em agosto de 1967, a empresa passa a operar oficialmente como Chrysler do Brasil S/A, adotando tal assinatura nas peças publicitárias que foram ao ar.

O Esplanada produzido pela Chrysler trazia diferenças sutis em relação ao primeiro modelo feito pela Simca. Na parte externa, as mudanças resumiam-se aos frisos laterais agora unidos na parte dianteira. Na parte interna do friso a pintura podia ser preto ou cinza, dependendo da cor da carroceria. No capô foi mantido o nome “Esplanada” em letras garrafais. As calotas cromadas ganharam um novo desenho tendo a parte central mais saliente. Um pequeno detalhe dizia respeito ao símbolo da Chrysler, o pentastar aplicado na parte inferior do paralama dianteiro direito.

A Chrysler ainda não satisfeita continuou a testar severamente as unidades do Esplanada e do Regente em seu campo de provas, na cidade Auburn Hills, no estado de Michigan. Para os diretores da Chrysler era necessário dar nova credibilidade aos produtos e apagar definitivamente imagem negativa proveniente dos tempos da Simca.

 

CHRYSLER MUDA TUDO
Em abril de 1968 a Chrysler apresenta os modelos Esplanada e Regente com várias modificações de estilo, acabamento e mecânica. Para mostrar que a Chrysler estava empenhada em manter os dois produtos no material de divulgação a empresa dizia ter feito 53 modificações e reforçava que os carros tinham percorrido em seu campo de provas 20 mil km em estradas ruins, outros 11 mil km a 150km/h e mais de 12 mil km blocos de pedras. O forte argumento de vendas passou a ser a garantia de dois anos ou 36 mil km, única do Brasil, reforçando a confiança da Chrysler na dupla. Os testes de rodagem feitos nos Estados Unidos foram amplamente utilizados nas propagandas e os carros ganharam na tampa do porta-malas uma plaqueta com o dizer – Fabricado pela Chrysler do Brasil.

Cada detalhe do acabamento reforçava a identidade do veículo

O chamariz dos carros era a aparência, com uma nova dianteira que incorporava quatro faróis, dois de cada lado na vertical instalados dentro de uma nova moldura. A grade redesenhada, trazia três frisos horizontais mais largos e no canto inferior esquerdo placa cromada com nome do modelo. Na traseira, novas lanternas traziam lentes lisas, de curvatura mais suave nas cores vermelho e laranja.

No interior havia um novo padrão de revestimentos para os bancos. O destaque era para a nova disposição dos instrumentos no painel. Os mostradores passaram a ser redondos. Do lado esquerdo estava o medidor de nível de combustível e temperatura, além de duas pequenas luzes espia de pressão do óleo e alternador. Ao centro o relógio e do lado direito o velocímetro com escala até os 200km/h, tudo ornamentado com revestimento em madeira. Abaixo o botão de afogador, luz alta, uma pequena alavanca para controle de ventilação da cabine e o interruptor do limpador de para-brisa. Do lado direito outra alavanca controlava o avanço manual do distribuidor, que regulava o desempenho do motor de acordo com a qualidade do combustível. O volante ganhou um novo desenho com a letra estilizada “E” ao centro, que identificava o modelo Esplanada.

Na parte mecânica depois dos exaustivos testes, a Chrysler fez a opção pelo motor Emi-Sul de menor tamanho, de 2.414cm³, alimentado pelo carburador de corpo duplo DFV, com potência reduzida para 130 cv e o torque de 21 m.kgf. O câmbio continuava sendo o três marchas com acionamento na coluna de direção. Outra mudança foi a migração da bateria do porta-malas para o cofre do motor. No lugar da bateria foi introduzido um estojo de ferramentas.

No limpa vidros, orientação para usar somente água com 2 % de detergente - Plaqueta ainda da fábrica demonstra originalidade do modelo

Como na maioria dos antigos, porta malas era generoso

Embora as publicações especializadas de época já davam como certo a produção de um legitimo modelo Dodge em solo brasileiro, a Chrysler continuava aprimorando o Esplanada. No salão do automóvel de 1968, era a apresentada a linha 1969 do Esplanada e Regente. Visualmente o Esplanada ganhou uma larga faixa na parte inferior das laterais pintada em cinza, mesma pintura foi aplicada na porção inferior da dianteira e traseira, além da tampa do porta-malas. As calotas cromadas receberam um novo desenho com detalhes em preto fosco. No modelo da reportagem por opção do dono foram mantidas as calotas do Esplanada 1968.

 

Mesmo com marcadores simples, fundo de madeira dá luxo ao visual

A novidade era a introdução da versão esportiva GTX, uma proposta inusitada e de certa forma ousada da Chrysler. Num tempo que esportivo era sinônimo de carros pequenos e dotados de duas portas, o Esplanada GTX trazia o conforto de um sedã de quatro portas com uma pitada esportiva, mesmo que desempenho fosse praticamente igual aos dos irmãos mais comportados. Era dotado do mesmo V8 de 130 cv, mas o câmbio era de quatro marchas com alavanca posicionada no assoalho.

Externamente o GTX trazia faixas decorativas pretas nas laterais, na parte inferior da lateral e tampa do porta-malas. As rodas cromadas traziam desenho exclusivo e vinham pneus cinturados Pirelli 185-15. Como opcionais podia receber teto de vinil preto, faróis de longo alcance redondos fixados no para-choque e capô com duas falsas entradas de ar.

Motor de  2.505m³ rendia 140cv de potênciae tanque de 23m.kfg

Internamente os bancos dianteiros eram individuais e reclináveis com revestimento em couro preto, separados por um longo console que imitava jacarandá. No painel um conta-giros tomou do relógio, que foi parar no console central. O volante esportivo da marca Walrod, de três raios trazia elementos circulares. Outro diferencial do GTX eram as quatro cores exclusivas, o vermelho Indianápolis, o azul Le Mans, o verde Interlagos e o cobre turbina, a mesma tonalidade de cor do americano Chrysler Turbine 1963.

Os últimas mudanças feitas ainda foram apresentadas no primeiro semestre de 1969, quando o modelo Esplanada ganhou a opção do acabamento do GTX. Em agosto de 1969, os últimos Esplanada, Regente e GTX dizem adeus a linha de produção, já que a Chrysler estava preparando a chegado do seu novo modelo, o Dart. Foram produzidos, no total 17.449 unidades, sendo 12.040 do Esplanada, 4.778 do Regente e 631 do GTX. O fim de produção desses modelos os últimos resquícios dos memoráveis automóveis Simca desaparecia do cotidiano brasileiro.