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Suspensão hidropneumática Citroën é referência em conforto há mais de cinco décadas


Veja na matéria as principais características e algumas informações que podem ser úteis na reparação de veículos que utilizam este sistema de suspensão

Por: Por André Silva e Paulo Handa - 11 de dezembro de 2014

Citroën C5 com suspensão hidropneumáticaLançada em 1955, a suspensão hidropneumática foi projetada pela Citroën com o objetivo de oferecer conforto e estabilidade em uma época na qual as ruas e estradas da França possuíam pavimentação de má qualidade. Ao longo dos anos este sistema foi aprimorado pela Citroën e passou a ser sinônimo de desempenho e conforto, tanto que outras fabricantes, inclusive a Rolls Royce, passaram a utilizá-lo em seus veículos, pagando pelos direitos autorais do projeto.

Hoje há outros sistemas que oferecem um desempenho equivalente, principalmente os que utilizam ar comprimido ao invés de molas de aço, comuns em veículos de alto luxo. Mas o sistema hidropneumático também evoluiu, e continua sendo referência na indústria automobilística.

Com o propósito de compreender o funcionamento do sistema, conversamos com dois reparadores que ao longo da matéria explicam como ele funciona, quais os principais problemas e os cuidados que devem ser tomados na realização de reparos ou manutenções periódicas. 

Funcionamento
Jeferson de Oliveira, técnico na oficina Tutti Car, na qual havia um Citroën C5 com o sistema hidropneumático em revisão, explica que, basicamente, o sistema funciona através da pressurização do óleo feita por uma bomba hidráulica, associada a esta bomba há vários sensores e atuadores eletrônicos que fazem a leitura das condições da via, bem como da forma de dirigir do motorista e alteram o comportamento da suspensão, deixando-a mais firme, ou mais macia através da pressurização de fluido nas esferas, que a grosso modo atuam como os amortecedores num sistema convencional. Estas esferas possuem nitrogênio sob pressão em seu interior, separado do fluido por uma membrana de borracha, e a quantidade de fluido no seu interior é que determina o comportamento da suspensão: mais macia ou mais firme. Já a altura do veículo também é definida pela quantidade e pressão de óleo, mas injetado num êmbolo localizado fora da esfera, ressalta José Filgueira, responsável pela oficina CETAV/SETA, especializada em veículos da marca desde 1964.

Jeferson de Oliveira, técnico na oficina Tutti Car ao lado do C5

Esferas acumuladoras, o principal item de substituição periódicaProblemas
Quanto aos problemas apresentados, Jefferson menciona que o principal defeito apresentado pelos veículos com este sistema que chegam à Tutti Car é a baixa altura (mínima) da carroceria, causada por vazamentos no sistema hidráulico, principalmente nas esferas acumuladoras. O mesmo ocorre na CETAV, de acordo com José. Acrescentando que não raro o problema de vazamento ocorre em função da utilização de fluido errado, já que nos veículos Citroën com este sistema de suspensão o fluido utilizado também pode fazer parte do sistema de direção e freios, com isso, muitas vezes o reparador, ou mesmo o proprietário, por economia ou desconhecimento, utiliza fluido de direção ou freio ao invés do fluido correto (LDS ou LHM, dependendo do veículo), causando sérios problemas a todo o sistema de suspensão, já que as borrachas e retentores do sistema são agredidos pelo fluido não especificado. Nestes casos, o prejuízo pode ser enorme, ressalta José. Que menciona outro problema relativamente frequente, principalmente nos veículos mais novos, com bomba hidráulica independente do motor, que ao serem levantados no elevador provocam a entrada de ar no sistema devido à sucção causada pelo peso das rodas e dos componentes não suspensos, com isso, ao se abaixar o veículo, há uma instabilidade em relação à altura interpretada pelos sensores, e na tentativa do sistema de corrigir o problema, ele acaba sobrecarregando a bomba, que em pouco tempo entra em colapso devido ao esforço para corrigir a altura, em vão, já que o ar é compressível. Portanto, quando for necessário levantar o veículo, José diz ser imprescindível deixar a suspensão na sua posição mais alta, com isso não há espaço para a entrada de ar. Em veículos mais antigos, como os Xantia, ele diz ser importante levantar o carro com o motor em funcionamento até que os pneus saiam do chão, dessa forma o sistema se encarrega de preencher o espaço vazio com o fluido, impedindo a entrada de ar.Equipamento de testar esferas

José Filgueira, especialista em veículos Citroën / Ferramentas especiaisPeças e mão de obra
No que se refere à disponibilidade de peças, José diz não ser um problema. Mesmo quando não disponíveis na concessionária, o tempo de entrega por parte da montadora é relativamente curto. Porém, ele diz que o principal componente que precisa ser trocado é a esfera, que é submetida a um maior esforço durante o funcionamento, os demais componentes do sistema, desde que a manutenção seja feita da forma correta, raramente apresentam problemas. “Porém, quando apresentam, requerem documentação e conhecimentos específicos, além de algumas ferramentas especiais para que sejam corretamente reparados”, completa José.

Considerações finais
Tanto José quanto Jeferson elogiam os aspectos técnicos e o comportamento dinâmico proporcionado pelo sistema hidropneumático. “Sem comparação com outros”, nas palavras de José. As ressalvas principais são relacionadas à atenção que deve ser tomada com a manutenção preventiva, que deve ser realizada por um profissional atencioso, que respeite as determinações da fabricante, pois uma simples substituição do fluido pode acarretar em danos irreversíveis ao sistema e um grande prejuízo para o cliente e também para o reparador.

Com os cuidados necessários, porém, é um sistema muito robusto e confiável, e até mesmo de baixo custo de manutenção, já que as esferas (principal item substituído nos reparos) possuem um preço relativamente acessível, concordam os dois reparadores.

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