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Procedimentos de manutenção na caixa de transmissão do Chevrolet Corsa Classic 1.0 - 2004


Conheça os principais defeitos, as causas mais prováveis; e veja entre os procedimentos de reparação, como é possível desmontá-lo sem a utilização de sacadores específicos.

Por: Tenório Júnior - 19 de fevereiro de 2016

Um dos componentes de maior durabilidade em um automóvel é sem dúvida, o câmbio (fig 2). Em alguns casos, essa peça chega a ficar por décadas sem sofrer desgastes expressivos que justifiquem a sua desmontagem para efetuar reparos internos.

A durabilidade do câmbio depende essencialmente dos cuidados que o motorista tem com a manutenção e da forma de dirigir. Por incrível que possa parecer, pequenos vícios do motorista podem provocar desgaste prematuro nas peças internas do câmbio, como por exemplo, descansar a mão sobre a alavanca de câmbio; esse costume prejudica os garfos e os anéis sincronizadores. 

No quesito manutenção, os cuidados devem ser com o óleo, sobretudo quanto ao nível e especificações técnicas de substituição e tipo do óleo. 

A embreagem é uma aliada do câmbio, é ela quem promove o “desligamento” do câmbio em relação ao motor. Portanto, quando ela está ruim ao ponto de dificultar o engate das marchas, é o câmbio que sofre as consequências. Sendo assim, ao menor sinal de dificuldade de engate das marchas, principalmente a primeira e a ré, é necessário verificar o problema e solucioná-lo logo que possível for.

O câmbio do Corsa Classic (fig 1), que foi objeto de estudo dessa matéria, estava “roncando”. Esse defeito é fácil de diagnosticar porque ele só faz barulho quando está em aceleração, diferente do rolamento da roda que faz barulho mesmo quando está em ponto morto. 

Nesse caso, o problema estava no rolamento do eixo secundário, que foi ocasionado e/ou agravado pelo uso de óleo contaminado ou inadequado. Tal afirmação se dá pela constatação de borra no interior do câmbio, pela cor e viscosidade do óleo que estava dentro dele (cor de ferrugem e grosso como óleo 90).

Os defeitos mais comuns nesse tipo de câmbio são: 

• Rolamentos avariados – provoca ruído (tipo ronco) nas acelerações;

• Desgaste nos garfos – provoca dificuldade de engate e faz escapar marcha porque ela não fica bem encaixada; 

• Desgaste dos anéis sincronizadores - faz as marchas “arranharem” mesmo com o carro em movimento;

• Vazamento pelos retentores – perda de óleo que gera inúmeros problemas.

Nessa matéria descrevemos o passo a passo para a desmontagem e montagem do câmbio, considerando que o leitor já possui conhecimento básico em transmissões mecânicas, por esse motivo, alguns procedimentos, que são comuns à maioria dessas transmissões, não foram detalhados. 

Existem alguns tipos de suportes apropriados para a desmontagem e montagem de câmbios, no entanto, na falta de um, utilize uma bancada comum para apoiá-lo durante a desmontagem e montagem.

01 – Primeiramente deve-se escoar o óleo do câmbio. Para isso, pode-se remover a tampa inferior (fig. 3A) ou a lateral (fig. 3B).

02 – Retire o garfo de embreagem, o eixo do garfo (fig. 4) e o guia do rolamento. (fig. 5) Aproveite para examinar as condições do garfo e do guia.

03 – Retire a tampa superior (aquela que contém o eixo seletor de marchas) (fig. 6)

Dica: na tampa superior existe um pino de plástico que serve para travar a conjunto seletor na posição ideal para desmontagem e montagem. Gire o liame e pressione o pino com a mão, quando chegar no lugar certo, o pino de plástico irá encaixar e travar o conjunto na posição correta. (fig. 6A)

04 – Com uma chave (Alen 5) remova os parafusos que fixam o garfo da 5ª e remova-o. (fig. 7)

05 – Remova todos os parafusos ao redor da carcaça e retire a carcaça com o conjunto de engrenagens completo. (fig. 8)

06 – Retire as travas das engrenagens que compõem a 5ª marcha (fig. 9). Com um martelo de repuxo específico ou mesmo com uma talhadeira sem corte, retire os 4 pinos que promovem a precisão no engate das marchas e o travamento da marcha que está engatada para que ela não escape com solavancos. O nome técnico desse pino é “pino bala” (fig. 10)

07 – Remova o pino elástico que trava o garfo da Ré (fig.11). Na sequência, retire o eixo e garfo da Ré (fig. 12) e o pino de segurança da Ré. (fig. 13). 

A função desse pino é impedir que a Ré seja engatada juntamente com a primeira marcha, ou seja, quando a primeira marcha é engatada o pino bloqueia o garfo da Ré e vice-versa.

08 – Retire os dois parafusos que prendem o pino-trava do garfo da 5ª, e os dois que prendem a trava de segurança da quinta marcha (fig. 13), também chamada de “lingueta” (fig. 14).

A função dessa peça é impedir que a quinta velocidade seja engatada junto com a terceira velocidade.

09 – Retire o pino elástico do garfo da 3ª e 4ª (fig. 15) e saque o eixo com atenção para não perder o pino trava (fig. 17B) que está na placa de rolamentos (fig. 16).

10 – Retire o pino elástico do garfo da 1ª e 2ª velocidades e saque-os. (fig. 18)

11 – Agora, com todos os garfos e eixos fora, os conjuntos estão livres, presos apenas pelos rolamentos da placa e engrenagens da quinta velocidade. Vale ressaltar que as engrenagens motriz e motora da 5ª marcha podem ser sacadas individualmente utilizando um sacador específico (fig. 23B). Na falta do sacador, utilize a prensa para sacar todo o conjunto de uma só vez. 

Importante: Para sacar os conjuntos, deve-se aplicar força uniforme nos dois eixos. Se não tiver um dispositivo que permita empurrar os dois eixos simultaneamente, aplique a força moderada e alternando entre os eixos, primário e secundário. (fig. 20) e (fig. 21)

 

Agora chegou a hora da desmontagem do eixo secundário. 

12 – Remova a engrenagem da 1ª marcha, o rolamento e a “pista” do rolamento da 5ª marcha utilizando a prensa (fig. 22). Depois, prenda o eixo na morsa utilizando “mordentes” de alumínio para não danificar a ponta do eixo.

13 – Retire a trava da engrenagem fixa (fig. 23) e remova-a apoiando a prensa sob a engrenagem da 2ª marcha (fig. 24)

14 – Remova manualmente a engrenagem da 3ª e a trava que prende a engrenagem fixa (Fig. 25), logo após, apoiei a prensa sob a última engrenagem, que é a da 4ª marcha e retire-a (fig. 26).

A partir de agora, é só lavar e verificar atentamente todas as peças para identificar possíveis avarias. Atenção especial com os rolamentos que estão na placa, eles são os principais “vilões” desse câmbio. 

A montagem deve ser da forma inversa à desmontagem. 

Dica: Para montar as peças que são prensadas, apoie a engrenagem na prensa, posicione os anéis sincronizadores e pressione o eixo (fig. 27 e 28).

Atenção: certifique-se de que os anéis sincronizadores estão perfeitamente encaixados nas engrenagens. 

Desmontando e montando o diferencial

01 - Retire a luva de pré-carga (porca que prende a coroa), com a ferramenta apropriada (fig. 29) e retire a coroa.

Verifique o estado dos dentes da coroa, das planetárias e das satélites. Bem como, os rolamentos e a engrenagem sem-fim, do velocímetro.

Atenção: A montagem da coroa deve ser feita antes de colocar os conjuntos de engrenagens para que se tenha sensibilidade no ajuste da coroa. Alguns técnicos recomendam marcar a posição da luva antes de soltá-la, considerando que a pré-carga dos rolamentos da coroa está correta. Porém, como não é possível constatar se está correta ou não, o melhor é refazer o ajuste. Veja como:

A) Girando a coroa com a mão, aperte a porca até eliminar a folga entre a coroa e rolamentos.

B) Após eliminar a folga, aperte mais 10° e trave a porca. (fig. 30)

Atenção: Não se esqueça de substituir o anel oring da porca da coroa (fig. 31) e os retentores laterais.

Instalando o guia do rolamento de embreagem

Instalar essa peça é bem simples, mas é preciso se atentar ao anel de vedação. Muitas vezes ele fica grudado no câmbio ou no próprio guia, passando despercebido. É importante substituí-lo na hora da montagem (fig. 32).

Na montagem, efetue os procedimentos inversos à desmontagem. 

Dicas: 

A) Ao desmontar as engrenagens e luvas de engate, faça uma marca na parte superior de cada peça para não correr o risco de inverter o lado na hora da montagem. Pois algumas peças parecem que têm os lados iguais mas são diferentes;

B) Ao término da montagem, engate as marchas com a mão e gire o eixo piloto para ver se não há algo estranho. Se tiver alguma dúvida, desmonte novamente;

C) Todo defeito tem uma causa, tente identificá-la para eliminar de vez o problema;

D) O óleo de câmbio do Corsa é específico, verifique a aplicação correta no manual do veículo.

Curiosidade: Você sabe por que a marcha à ré faz um pequeno barulho no momento do engate?

Porque ela não possui anel sincronizador.

Logo que a embreagem é acionada, o câmbio se desliga do motor mas, as engrenagens continuam girando por um pequeno espaço de tempo, por causa da força inercial. Nas outras marchas o anel sincronizador freia a engrenagem permitindo o engate suave e sem ruído. A dica é: pise na embreagem e espere aproximadamente 3 segundos (esse é o tempo que o câmbio demora para parar sozinho), engate a Ré, devagar; certamente não haverá ruído.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A boa execução de um serviço, seja ele qual for, depende não somente do conhecimento técnico, mas da capacidade de interpretar o funcionamento de cada peça e do conjunto. Ao desmontar um conjunto de transmissão, reserve um espaço limpo e organizado e concentre-se em todas as etapas de desmontagem. Lembre-se: as peças de uma caixa de marchas foram desenvolvidas umas para as outras, de modo que uma delas colocada no lugar errado irá comprometer todo o funcionamento do conjunto.