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Fusível queimado, por que queimou, queimou por quê? Qual é a importância de um fusível?


Pode até parecer uma pane trivial, entretanto para o diagnosticador avançado, descobrir o motivo da queima e liberar o veículo com uma plena segurança que o defeito não voltará a se repetir é um desafio

Por: Diogo Vieira - 29 de maio de 2018

Um Hyundai HB20 1.0 chegou no reboque em uma oficina parceira da Automotriz Serviços. Segundo o cliente, pela manhã o carro não entrou em funcionamento. No painel de instrumentos, a luz de injeção acendia bem como as outras lâmpadas espias dos sistemas.

Notamos que não havia o barulho característico da bomba de combustível girando a chave no cilindro de ignição. Fato, realmente não chegava alimentação positiva no conjunto de bomba localizado debaixo do assento traseiro.

Figura 1- Hyundai HB20 na oficina do consultor Diogo Vieira

O próximo passo foi verificar a existência de algum dispositivo de bloqueio como um rastreador ou alarme. Como estes dispositivos não foram encontrados na instalação elétrica do carro, prosseguimos para os testes de fusíveis da injeção e em seguida o relé de acionamento da bomba de combustível.

Figura 2 - Ilustração do relé de acionamento da bomba combustível.

Conforme mostra a figura 2, os pinos 85 e 86 são referentes ao acionamento da bobina do relé. Pinos 30 e 87 são referentes à etapa de potência que aciona a bomba. O pino 87 fica diretamente ligado à bomba enquanto o pino 30, à alimentação positiva que vem do fusível. Realizado os testes, concluímos que tanto o relé quanto o fusível estavam em perfeito estado, entretanto, identificamos que não havia alimentação para este circuito. Hora de checar se havia algum jumper, dispositivo de ligação ou fusível geral que mandasse um positivo ao fusível da bomba e consequentemente, ao pino 30.

Figura 3- Localização da placa de Fusíveis Mega, presa entre os terminais A e B

No vão do motor, vemos a caixa de fusíveis localizada ao lado da bateria (Figura 3). Checando novamente o estado dos fusíveis, descobrimos um de 125 Amperes rompido em um suporte (este suporte/placa contém vários fusíveis) que fica parafusado nos terminais A e B. As linhas pontilhadas em vermelho e amarelo destacam a posição deste suporte (ou placa).

Figura 4- Placa/suporte de fusíveis

A figura 4 mostra a referida peça em detalhes: nos círculos amarelos, vemos o valor do fusível que estava partido e o ponto de ruptura.

Alguém pode pensar:

- “Fácil de resolver. Coloca um jumper ou fusível de maior capacidade que aguenta!”.

Bem, não é assim que pensamos. Se a engenharia determinou que deve existir um fusível naquele lugar e com um valor determinado, vamos manter a originalidade do sistema.

- “Coloca um novo e pronto, bem fácil de instalar”

Quando a oficina responsável pelo veiculo ligou para a concessionária Hyundai, foi informada que a referida peça custava R$380,00. Trezentos e oitenta reais numa placa de fusíveis? Parecia brincadeira. Então veio a questão: E se aplicarmos uma peça nova e em pouco tempo o mesmo fusível viesse a queimar? Prejuízo certo para a oficina. Não tinha jeito, tínhamos que investigar o que fez este componente elétrico de segurança romper.

Figura 5- Alternador na bancada: teste da placa de diodos, estator, rotor... na busca de algum curto-circuito.

De acordo com a legenda localizada na tampa plástica da caixa de fusíveis, o referido fusível de 125 Amperes pertencia ao alternador/sistema de carga. Pensando bem, um curto no chicote ou o próprio alternador em curto explicaria a nossa pane elétrica! Mãos à obra. O alternador era de fácil acesso e rapidamente desmontamos. A figura 5 mostra o componente desmontado e em testes na bancada. Felizmente (ou infelizmente) não havia defeito no componente e no seu chicote elétrico que o ligava à bateria.

Um fusível de 125 Amperes, um valor tão alto e não queimou fusíveis de valores menores. Que estranho.

O que fez esteFigura 6- Transdutor de corrente. Também chamado de pinça amperimétric fusível queimar?

Será que usaram um auxiliar de partida por falta de carga na bateria?

Mas o cliente não disse nada sobre a bateria descarregada... e se ele estivesse mentindo?

Parece sem sentido, já que o carro estava na garantia da empresa locadora...

Apenas para ligar o carro com o auxiliar de partida não deveria ser a causa do rompimento do fusível, já que no momento em que o motor de partida funciona, quem fornece energia a ele é a bateria e não o alternador.

Neste momento o inseparável osciloscópio, tão útil para poder “enxergar a corrente elétrica”, entra em cena juntamente com um transdutor de corrente, também chamado de pinça amperimétrica (Figura 6).

A figura 7 mostra a rampa de corrente obtida com nosso osciloscópio Hantek e a pinça amperimétrica. O sinal foi capturado no fio que sai do alternador e vai para a bateria. No momento da partida, obtivemos esta imagem e tiramos algumas conclusões:

Figura 7- Rampa de corrente na saída do alternador. Valores normais.

* Com a ignição ligada e motor parado, o que mantém o fluxo de corrente no circuito elétrico do veículo é a bateria e portanto, a corrente que flui da saída do alternador é zero ampere.

* No momento da partida, o alternador começa a receber os primeiros giros do eixo virabrequim transmitidos pela correia de acessórios. Temos uma rampa de corrente ascendente conforme a figura.

* A combustão inicia-se e o motor acelera próximo dos 1.100 rpm e a marcha lenta começa a se estabilizar. No gráfico, compreende o momento em que temos um pico de quase 80 A (oitenta amperes) e uma rampa descendente, após aproximadamente 12 segundos depois da partida obtemos uma corrente nominal de 15 A (quinze amperes).

Estes parâmetros foram considerados normais. Bastava agora tentar reproduzir o momento que o carro falhou. Retiramos a nossa bateria Bosch que estava para testes, recolocamos a bateria do cliente (estava na carga, pois de tanto insistir acabou descarregando-a), instalamos um fusível de som automotivo de 100 A (cem amperes) no lugar do componente rompido, fechamos todas as portas e acionamos o alarme para que no outro dia, pudéssemos capturar a falha.

No outro dia pela manhã, com o carro instrumentado com nosso osciloscópio e pinça, viramos a chave e o carro pegou. Entretanto, um gráfico diferente (figura 8) apareceu na tela do nosso PC. Nas mesmas condições de teste da figura 7, vimos uma anormalidade na rampa descendente depois dos mesmos 12 segundos, a corrente nominal na marcha lenta não era mais 15 A (quinze amperes) e sim 65 A (sessenta e cinco amperes)! Fora o pico de corrente que chegou à capacidade máxima do alternador, 90 A (noventa amperes).

Figura 8- Rampa de corrente com a bateria do Veículo. 65 amperes na marcha lenta.

Diante dos fatos, restava agora um teste na bateria do veículo e mesmo assim, uma corrente de 65 A deveria ser suportada por um fusível de 125 A. Aplicamos um teste de “corrente parasita” para saber se havia um consumo de corrente com o carro desligado e encontramos 10 mA (dez mili amperes) que é um valor considerado normal. A figura 9 mostra a bateria que veio aplicada ao veículo e o equipamento usado no teste. Nosso aparelhinho acusou falha na bateria (baixo CCA de partida).Figura 9- Bateria defeituosa e testador digital de bateria.

Pedimos uma nova bateria. Outro detalhe importante foi as informações que obtivemos no catálogo de peças online da Bosch (www.bosch-automotive-catalog.com): a bateria recomendada para este veículo seria uma Bosch S5 de 50 Amperes e um CCA de 400 Amperes. Valores diferentes da bateria aplicada ao veículo que conforme pode ser visto na foto 9, estava aplicada uma de 45 Amperes e CCA de 310 Amperes.

De posse dos dados coletados, deduzimos que havia um defeito neste fusível de 125 A que, recebendo constantemente uma grande circulação de corrente ocasionada pelo defeito da bateria, acabou superaquecendo e partindo-se. Contudo, ainda restava outra pergunta:

O que tem haver roFigura 10- Diagrama elétrico da montadora. Imagens de carsis.com.brmper um fusível do sistema de CARGA/ALTERNADOR e faltar alimentação no sistema elétrico da bomba de combustível?

Que coisa curiosa!

Como dito em outras matérias, Diagnóstico Avançado não vai se limitar ao uso exclusivo do Osciloscópio. O Diagnóstico avançado é uma nova cultura na qual o reparador deve estar apto a operar diversas ferramentas e dentre elas, diagramas elétricos.

Neste caso do HB20, usamos um excelente diagrama elétrico para sanar esta dúvida: o original da montadora Hyundai. Como? Disponível no portal www.carsis.com.br. Lá o reparador terá acesso a todo conteúdo das montadoras. A figura 10 mostra o diagrama elétrico do circuito da bomba de combustível.

Lógica de funcionamento por blocos nas fotos que seguem:

* Para que a bomba de combustível entre em

funcionamento, deverá receber alimentação positiva pelo fio verde.

* O relé da bomba, ao receber um comando da Unidade de Controle do Motor, conduz a tensão do fio vermelho ao fio verde.

* Necessário reparar que neste diagrama elétrico, existem dois fusíveis que alimentam o relé da bomba: F24 de 15 amperes e F16 de 30 amperes e não para por aí. O fusível F16 recebe alimentação positiva da foto que segue.

Figura 11- Diagrama da Hyundai. Caixa de fusíveis do vão do motor. Destaque para fusível ALT de 125A. Imagens retiradas de www.carsis.com.br

Sobre a Figura 11, entendamos o circuito:

* Do borne A, sai a fiação que liga a caixa de fusíveis ao alternador.

* Do borne B, sai a fiação que liga a bateria à caixa de fusíveis.

* Circulado de azul, temos o fusível ALT de 125A que estava rompido.

* Na caixa de diálogo em azul claro, o fusível ALT é destacado em amarelo e a descrição dos circuitos protegidos segue a direita. Dentre tantos circuitos protegidos, está nosso fusível F16 de 30 amperes da foto anterior.

* Concluímos que o F16 está ligado internamente na caixa de fusíveis ao borne A. Logo se o fusível ALT rompe, todos os circuitos à esquerda do ALT não recebem alimentação se a ignição estiver ligada e motor parado, pois o alternador não está em movimento.

Quando entendemos o diagrama acima, tivemos a certeza que a pane elétrica estava resolvida definitivamente.

O reparador municiado de boas ferramentas, como: um bom scanner automotivo, um osciloscópio, um bom multímetro e diagramas elétricos confiáveis; aliado a uma boa capacitação técnica e com o aplicativo do Fórum Oficina Brasil tem enormes chances de sucesso para resolver panes elétricas.

Acompanhe a seção Casos de Estudo no Oficina Brasil e aguarde o próximo caso.

Até mais.