Sabemos que as avançadas tecnologias automotivas estão cada vez mais presentes no dia a dia das oficinas independentes e que os reparadores lutam para desvendar estes desafios tecnológicos. Atualizações e cursos tornam-se primordiais para o bom desenvolvimento do profissional.
Mas o que você faz quando o cliente chega à oficina com um veículo carburado? Sabe o que fazer? Para exemplificar, selecionamos o caso de um amigo reparador para mostrar aos nossos leitores o que fazer com um carro carburado que foi reprovado na Inspeção Veicular Ambiental. Você sabe interpretar este laudo? Sabe regular um carburador considerando o nível de emissões do veículo?
Acompanhe o processo de regulagem do carburador de um Fiat Uno 1.0 1995 dotado da caixa Ecobox, utilizada pela fabricante italiana para controle do circuito de vácuo.
LAUDO DA INSPEÇÃO
O laudo gerado pela concessionária da Prefeitura de São Paulo, a Controlar (na cidade de São Paulo, todos os veículos registrados são obrigados a passar pela inspeção para ter seu licenciamento liberado), aponta para nível de COc (Monóxido de Carbono corrigido) acima do especificado para seu ano/modelo de fabricação. O valor máximo permite para este carro 3% do volume da amostra, sendo que o medido na marcha lenta estava em 4,60 e em aceleração a 2500 rpm apresentou 4,45% deste volume. (Foto 1)
O veículo estava na Auto Check Saúde, bairro da Saúde em São Paulo, e o reparador Ricardo Luiz Leite Silva que fez a manutenção do Uno nos deu algumas dicas técnicas, e nos explicou o que significavam estes números: "o excesso de CO aponta para excesso de combustível injetado na câmara para a queima".
DEFEITOS ENCONTRADOS
Já com o carburador do veículo retirado, Ricardo comentou sobre os problemas encontrados. "O giclê de ar está fora do especificado para este componente, restringindo a passagem de ar onde o giclê correto é o 200 e o presente era o 180 (Foto 2). A altura da boia também estava fora, deixando o combustível gotejar em todos os tempos do motor, lembrando que a altura correta é 32mm" (Foto 2A). Para conferir os valores, o reparador utilizou uma tabela padrão.
MONTAGEM DO CARBURADOR
Para prosseguir com a montagem do carburador 495.214.02, primeiramente, confira na tabela a relação de giclês conforme o modelo do carburador (ver tabela).
Agora, sabendo dessas informações, prossiga:
1) Instale o giclê de ar do primeiro e do 2º corpo; (Foto 3)
2) Instale a nova válvula agulha e parafuse-a; (Fotos 4 e 4A)
3) Fixe a boia em sua sede e faça a medição de sua altura. Se necessário, ajuste-a. Lembre-se que a altura desta é de 32mm. *Detalhe, o reparador possui gabaritos com a medição referente, porém, a medida pode ser obtida com auxilio de paquímetro; (Fotos 5 e 5A)
4) Monte a parte superior do carburador e aparafuse-o; (Foto 6)
5) Monte a parte inferior do mesmo e também fixe-o; (Foto 7)
6) Instale os tubos misturadores do 1º e 2º corpo. Preste atenção para não invertê-los. Caso tenha dúvida, àquele que tem a tubulação direcionada para o lado do injetor de partida a frio é denominado 1º corpo, e o 2º corpo é o oposto a este; (Fotos 8 e 8A)
7) Monte o suporte do diafragma parafusando os dois parafusos de sua lateral; (Foto 9)
NO VEÍCULO:
Para prosseguirmos com a montagem no veículo, confira se é necessário realizar a retifica da base (baquelite) do carburador, pois, se este estiver empenado, poderá apresentar entrada de ar falsa e isso acarretará na dificuldade de regulagem do carburador quanto à emissões. Neste caso, foi necessário retificá-lo. Após esta realizada, prossiga:
1) Coloque a nova junta sob o coletor de admissão; (Foto 10)
2) Posicione o suporte do carburador sobre essa junta;
3) Sob este, coloque outra junta; (Foto 11)
4) Posicione o carburador sobre esta; (Fotos 12 e 12A)
5) Aperte os quatro parafusos de fixação; (Foto 13)
6) Conecte os chicotes nos seus respectivos sensores; (Foto 14)
7) Instale as mangueiras correspondentes ao sistema Ecobox.
ECOBOX
Caso seja necessário desmontar esse conjunto e posteriormente religar as mangueiras de vácuo desta caixa, siga: (Foto 16)
Válvulas Delay - funcionamento/ligação.
A-Válvula Delay - preta e verde
Esta válvula corresponde a de número 5 no desenho esquemático do sistema.
Sua finalidade é definir o funcionamento ou não da "Power-Valve" e do "Dash pot".
B-Válvula Delay - preta e branca
Esta válvula corresponde a de número 16 no desenho esquemático do sistema.
Sua finalidade é definir o tempo de funcionamento do sistema Dash pot, ou seja, definir o tempo que o motor leva para voltar ao regime de marcha lenta quando este está em processo de desaceleração.
C-Válvula Delay - rosa e branca
Esta válvula corresponde a de número 19 no desenho esquemático do sistema.
Sua finalidade é fazer com que a "portinhola" de entrada de ar frio no misturador do Thermac se abra mais lentamente.
D-Válvula Delay - preta e branca
Esta válvula corresponde a de número 18 no desenho esquemático do sistema.
Sua finalidade é suavizar o sinal (vácuo) enviado do carburador para a Válvula Ford, retardando assim a lavagem do cânister.
E-Válvula Delay - preta e verde
Esta válvula corresponde a de número 17 no desenho esquemático do sistema.
Sua finalidade é equalizar o vácuo existente no circuito do Dash Pot da Power-Valve.
REGULAGEM
Aqui vem o grande diferencial do reparador moderno. Antigamente, a regulagem era feita baseada na estabilidade da marcha lenta e em acelerações, se o motor não falhava. Porém, isso não quer dizer que o veículo esteja bem regulado quanto às emissões.
Assim, o correto é basear-se nestes três parâmetros:
- marcha-lenta próxima aos 900 rpm;
- Índice de COc abaixo de 3% do volume medido;
- índice de HCc abaixo de 700 ppm.
Para certificar-se destes, tenha um analisador de gases o qual faz medições em tempo real. Em seguida:
1) Instale a sonda no escapamento; (Foto 19)
2) Aguarde a estabilização dos valores na tela do equipamento; (Foto 20)
3) Acelere o veículo a 2500 rpm;
4) Abra ou feche os parafusos de controle de entrada de ar e de combustível, de acordo com o que seja necessário; (Foto 21)
5) Após atingir os valores desejados nas emissões, acelere o veículo abruptamente algumas vezes e deixe-o estabilizar-se na marcha lenta. Assim, confira se os valores de medição dos gases voltaram a permanecer baixos. (Foto 22)
6) Caso sim, o processo foi concluído;
7) Caso não estabilize, confira se há entradas de ar falsas, confira se o atuador de marcha lenta está com funcionamento adequado, confira as condições dos filtros de ar e de combustível, certifique-se da qualidade do combustível.