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Com sistema “sensível”, falhas na injeção direta são o “calcanhar de Aquiles” dos motores FSI


Na edição deste mês, iremos mostrar que motores dotados de injeção direta sofrem bastante com o combustível adulterado fornecido em alguns postos. No caso deste Passat, a bomba de alta pressão foi danificada

Por: FERNANDO NACCARI, PAULO HANDA E PAULO MUNHOZ - 08 de junho de 2014

Para compor as informações desta matéria, contamos com o apoio do reparador Sérgio Ricardo do Val (FOTO 1). Com quase dez anos de profissão, está há 1 ano e meio na Oficina do Gato de São Paulo-SP, localizada no bairro da Mooca. Centro automotivo este que é uma referência em excelência de manutenção de veículos importados na capital paulista.

Foto 1

Sobre a falha, Sérgio nos contou: “O proprietário trouxe o veículo até a oficina alegando que seu VW Passat 3.2 FSI V6 ano 2007 (de injeção direta e 76.460km rodados), apresentava diversos problemas de funcionamento do motor, como dificuldade em retomadas de aceleração e trabalhava de maneira irregular, não mantendo o funcionamento da marcha lenta”.

A partir desta reclamação, Sérgio já tinha uma ideia do que seria a causa da falha: “Este é um problema típico de bomba de alta pressão (FOTO 2) na linha de motores tanto Volkswagen como Audi (que utilizam o mesmo sistema). Para me certificar desta suspeita, conferi com um scanner o sistema do veículo e este constatou que a bomba não conseguia atender a demanda do motor. Ela trabalhava com uma pressão de somente 40bar, enquanto a correta seria em torno de 120bar”.

Foto 2

Porém, mesmo com estes apontamentos, Sérgio reforçou: “Devemos ter cuidado com diagnósticos prematuros. O fato da bomba de alta trabalhar de maneira irregular pode não ser necessariamente problema dela. Neste tipo de sistema, as bombas de baixa pressão e de alta pressão trabalham interligadas, por conta disso é necessário verificar a eficiência da bomba de baixa para ter certeza de qual peça está com defeito. Lembrando que a linha de baixa pressão deve trabalhar com 4bar”.

“Na linha FSI da Volkswagen e Audi, há monitoramento através de sensores somente da linha de alta pressão. Qualquer falha desta linha é detectada pelo módulo e de fácil identificação pelo scanner. Já para analisar o sistema de baixa pressão é necessário verificar manualmente a eficiência do sistema através de um manômetro”, explicou Sérgio.

Com auxílio de um manômetro foi constatado que o sistema de baixa pressão estava funcionando normalmente. Dessa forma, Sérgio comentou, “Já que esta estava funcionando bem, agora podemos ter certeza do diagnóstico de falha na bomba de alta”.

“Como a bomba não conseguia manter a pressão adequada de 120bar, diversos fatores podem acarretar este defeito, mas dois se destacam como o travamento da válvula reguladora de pressão e danos internos dos componentes causados por combustíveis de baixa qualidade, causando folgas excessivas entre as peças”, exemplificou Sérgio.

Sérgio comentou ainda que a manutenção desta bomba é muito trabalhosa e, na grande maioria das vezes, o custo do reparo desta é superior ao da troca por um componente novo, dessa forma, para solucionar a falha, optou pela substituição da bomba de alta pressão.

Porém, o reparo geralmente não termina aí, pois Sérgio disse que outras peças ainda podem ser danificadas devido a este tipo de falha: “Verifique sempre todos os componentes do sistema para certificar-se da causa da falha, pois quando ocorre algum tipo de problema na bomba de alta, geralmente os bicos injetores e as velas também são afetados”.

Outro ponto importante apontado pelo reparador era sobre o sintoma de falha que o veículo apresentava: “O carro, além da dificuldade da aceleração, também apresentava mal funcionamento da marcha lenta. Portanto, o defeito da bomba de alta poderia não ser a única falha presente neste Passat, pois ele apresentava além de problemas de aceleração, ainda estava com mal funcionamento da marcha lenta. Dessa forma, analisando mais profundamente estas falhas apresentadas, identificamos uma falsa entrada de ar no sistema através de dano causado no respiro interno da tampa de válvulas (FOTO 3). Esta gerava passagem de ar diretamente ao coletor de admissão”.

“Confirmamos também a falha nas velas devido à falha de alimentação da bomba de alta, pois estas apresentavam “carbonização seca” (FOTO 3A)”, afirmou o reparador Sérgio.

Foto 3 e Foto 3A

“Para reparar todos estes problemas é necessária a remoção da bomba de alta pressão e a troca da tampa de válvulas juntamente com as velas, não sendo possível nenhuma outra alternativa de reparo”, completou Sérgio.

PASSO A PASSO

Para acompanhar o procedimento de desmontagem e acesso à bomba de alta pressão para sua substituição, siga o procedimento informado por Sérgio:

1º Passo – Começamos retirando a capa de proteção do chicote dos cabos de ignição (FOTO 4) que ficam na parte superior da tampa de válvulas e, em seguida, removemos as presilhas de plástico de fixação (FOTO 4A), apenas empurrando-as para baixo;

Foto  e Foto 4A

 2º Passo – Devemos retirar o complemento do respiro do Blow By que está na lateral direita da tampa de válvulas;

3º Passo - Retire o chicote da parte superior da tampa. Em seguida, remova as bobinas de ignição (FOTO 5). Devido à troca de calor, essas bobinas acabam grudando nas paredes do cabeçote. Portanto, remova-as com cuidado para não danificar o componente;

4º Passo - Retire os tubos de combustível da bomba de alta pressão (FOTO 6);

Foto 5 e Foto 6

5º Passo - Remova a bomba de alta (FOTOS 7 e 7A) de seu alojamento. Esta fica do lado direito do coletor de admissão e é fixada por 3 parafusos;

Foto 7 e Foto 7A

DICA – Com a bomba fora do motor, devemos verificar possíveis trincas no corpo das válvulas. Estas trincas geralmente ocorrem, pois a bomba de alta serve para vários modelos e o que a diferencia é a posição que fica a válvula reguladora de pressão (FOTO 8), assim o reparador acaba pegando a peça pela haste (sensor) e acaba girando o componente, desta maneira danifica o componente e este perde sua eficiência, podendo em alguns casos até mesmo travar.

6º Passo – Retiramos o tubo de alimentação dos bicos injetores (FOTO 9). A fixação dos parafusos desta flauta está na parte inferior do cabeçote. Para removê-los, devemos utilizar um espelho para  visualizar a sua localização;

Foto 8 e Foto 9

7º Passo – Nesta etapa, remova os parafusos de fixação do coletor de admissão (FOTOS 10 e 10A). Nele são aplicados 10 parafusos cabeça torx, onde 8 estão no vão direto e central do coletor e, mais 2, no vão esquerdo (FOTO 10B);

Foto 10 e Foto 10A

Foto 10B

8º Passo - Em seguida verifique e remova todas as mangueiras que estão fixadas no coletor de admissão.

Para removê-lo, na maioria dos casos, é necessária a remoção do painel frontal (FOTO 11) devido à proximidade dos componentes;

9º Passo - Após a remoção do coletor de admissão, temos acesso a flauta dos bicos superiores e aos parafusos da tampa de válvulas (FOTO 12) ;

Foto 11 e Foto 12

10º Passo - Remova os parafusos da tampa de válvulas (FOTO 13) observando que, para  retirá-los, devemos seguir a ordem de fora para dentro. Eles serão substituídos, pois acompanham o kit da nova tampa de válvulas;

Foto 13

11º Passo – Para realizar a montagem da tampa de válvulas (FOTOS 14 e 14A) basta seguir o procedimento na ordem contrária.

Foto 14

Foto 14A

Sérgio orienta que, como este procedimento é trabalhoso, recomenda-se efetuar manutenção preventiva, como a limpeza interna do coletor de admissão, substituição das velas de ignição, limpeza da câmara dos bicos injetores e demais para aproveitar a mesma mão de obra e baratear o serviço, já que em um veículo dotado de injeção direta este é um defeito muito comum.

CONCLUSÃO

O Passat, alvo do acompanhamento para esta matéria, foi apenas mais uma vítima dos combustíveis adulterados e de má qualidade fornecidos por alguns postos de combustíveis de nosso país.

 

Vamos ficar atentos, pois os veículos dotados de sistema de injeção direta estão ainda mais suscetíveis a falhas causadas por estes combustíveis, pois estes trabalham com altíssimas pressões e folgas entre peças bastante reduzidas, fazendo com que qualquer impureza seja um veneno para o sistema. Estas falhas, porém, não remetem a uma falha de projeto das montadoras, mas a uma realidade triste que vivemos no Brasil com a pouca fiscalização a estes postos. Dessa forma, a qualquer momento poderemos nos deparar com mais casos como este e devemos estar preparados para atendê-los, portanto, aprimoramento profissional, daqui por diante, será ainda mais inevitável.