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Volkswagen Amarok Highline Extreme: medida provisória para aguardar uma reforma maior


Com leiaute retocado, modelo top 2017 da picape faz sala de espera para a versão de seis cilindros que deverá chegar ainda este ano. Os reparadores aprovaram a medida, mas esperam um pouco mais no futuro

Por: Antônio Edson - 23 de maio de 2017

Nesses tempos em que o Brasil vive a expectativa de profundas reformas não é exagero afirmar que um dos maiores veículos – literalmente se falando – da Volkswagen comercializados no País pegou carona na agenda reformista e está prestes a passar por um downsizing às avessas, ou trocar um motor de menor litragem por outro mais musculoso. Afinal, a versão top da Amarok 2017, agora chamada de Highline Extreme, equipada com um propulsor turbodiesel 2.0 TDI (Turbocharged Direct Injection), que rende 180 cavalos com 42,8 kgfm de toque, serve como sala de espera para a chegada da versão montada sobre um turbodiesel 3.0 de seis cilindros e 224 cavalos, com 56,1 kgfm de torque, semelhante ao do Touareg, prevista para ingressar no mercado brasileiro ainda este ano – com nome e sobrenome definidos, Amarok Aventura, ela já é oferecida em pré-venda na Argentina, onde é fabricada, na cidade de General Pacheco. Desde já, com leiaute ligeiramente retocado e pontuais atualizações, a nova Amarok Highline Extreme tem, parcialmente, agradado aos reparadores não só pelo acabamento caprichado, boa ergonomia ao dirigir e silêncio na cabine como, sobretudo, pelo generoso espaço oferecido para o trabalho sob o capô e o inovador câmbio automático de oito marchas.



Pelo que a Amarok já apresenta e promete mostrar em um futuro breve, a Volkswagen demonstra ambições e, também, insatisfação com a posição intermediária ocupada por sua picape no ranking nacional de vendas do segmento. Em meados de 2016, ela estava em terceiro lugar entre as equipadas apenas com motores diesel (4.830 unidades vendidas) e comendo poeira da Toyota Hillux (13.440 vendidas até então). O objetivo da montadora alemã é, claro, estreitar essa distância e, acima de qualquer coisa, sepultar o rumoroso escândalo das emissões de poluentes conhecido como “Dieselgate” e produzido entre 2009 e 2015, período em que a injeção eletrônica de seus veículos movidos a diesel foi intencionalmente programada para falsificar informações sobre a emissão de gases. No Brasil, a fraude respingou sobre a Amarok. Segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), essas picapes comercializadas no País estariam equipadas com o tal software – o que a montadora nega –, justificando uma multa de R$ 50 milhões aplicada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) à Volkswagen do Brasil.

Disposta a conferir a quantas anda o arranhado prestígio da picapona da Volks junto aos reparadores e checar se ela pode se tornar tão confiável quanto suas rivais, a reportagem do jornal Oficina Brasil rodou com uma Amarok Highline Extreme 2017 pelo perímetro central da cidade de São Paulo (SP) durante alguns dias de março. A intenção foi pô-la frente a frente com os profissionais que, cedo ou tarde, a terão em suas oficinas. A falta de uma prova de rally, uma pista de enduro ou uma trilha de terra não chegou a comprometer muito a avaliação de um veículo em tese capacitado para enfrentar terrenos acidentados com a sua tração 4 x 4 integral. Com valetas, lombadas e buracos, as ruas da capital paulista, ainda mais após as chuvas de um verão que se despedia, não decepcionam quem aprecia sacolejos e bamboleios. E os reparadores visitados que tiveram o prazer – ou não – de senti-los a bordo da Amarok foram:

Os irmãos Márcio e Marcelo Mendes Sanches, sócios da Carbumac Multicenter, há 25 anos instalada no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP). Márcio, com 45 anos e há 30 atuando como reparador, formou-se como técnico pelo Senai (Serviço Nacional da Indústria) e começou no ramo da reparação automotiva ainda adolescente trabalhando na oficina de um tio. O espírito empreendedor, no entanto, o chamou a abrir o próprio negócio logo aos 18 anos quando resolveu fundar a Carbumac com o irmão Marcelo, hoje com 48 anos e também formado como técnico em mecânica automotiva no Senai. Ambos admitem que a influência do pai, João Martins Sanches, de 70 anos, que se aposentou após trabalhar durante boa parte de sua vida no setor de autopeças, foi fundamental para a constituição da empresa familiar. “Na hora decisiva da escolha das peças e de seus fornecedores deixamos por conta dele. Experiência não lhe falta”, respeita Márcio. O time da Carbumac é completado por dois jovens que dão os primeiros passos no ramo da reparação: Pedro Luiz Casson, de 24 anos e reparador há sete anos, e Willan Souza da Paixão, de 19 anos e há dois anos no ramo. Na foto 1, João Martins aparece ao centro e, no sentido horário, vêm pela sequência Marcelo (no alto, à esquerda), Márcio, Pedro e Willan.

Ricardo Brandini (E) e Valdenir Silva de Lima (D) (foto 2). A história da Brandini Serviço Automotivos, no bairro do Cambuci, em São Paulo (SP), começou a ser escrita há 20 anos quando o preparador de carros para pistas Márcio Brandini montou sua oficina e, com ela, uma equipe que preparava bólidos que participavam da Cup Classic, modalidade na qual competem carros nacionais antigos envenenados. Seu irmão Ricardo, que também é apaixonado por esses veículos, em especial os dotados de motores V-8 (Dodge Dart, Fords Maverick e Landau), chegou à oficina mais tarde, inicialmente para cuidar da parte administrativa – é graduado em Administração de Empresas. Com o esfriamento da Cup Classic, Márcio imigrou para a Austrália, onde ainda hoje trabalha como reparador, e Ricardo, atualmente com 41 anos, assumiu integralmente a oficina que tem se dedicado à reparação geral de veículos nacionais e importados, com destaque para motores, freios, câmbios, suspensões e alinhamentos. Ricardo tem no colaborador Valdenir, o Val, uma espécie de braço direito. O reparador tem 46 anos e está há 24 anos no ramo.

Douglas Lopes Neves (no alto), Fernanda Lopes Neves Barbosa (E) e Celso de Oliveira Neves (D) (foto 3). O reparador Celso, de 54 anos, está no ramo desde 1974 e montou a Carcel Auto Center no bairro do Cambuci, em São Paulo (SP), em 1989, quando chegou de Maringá (PR). As dependências da oficina serviram de playground para os filhos Douglas e Fernanda, que, inevitavelmente, ao crescerem, aderiram ao negócio. “Não foi preciso chamá-los”, lembra o pai. O rapaz, hoje com 32 anos, graduou-se em Tecnologia Elétrica pela Universidade Mackenzie, e a moça, aos 28 anos, responde pela parte administrativa da empresa que conta com sete colaboradores. “Mexemos com tudo no que diz respeito à reparação automotiva, com exceção da parte elétrica e da funilaria”, avisa Douglas. “Meus filhos são os principais responsáveis pela boa imagem e qualidade dos serviços da oficina. Assim como eles, hoje, fazem parte da empresa, também temos clientes que já são filhos de antigos clientes”, garante, orgulhoso, Celso.


PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Ingressar em qualquer ambiente com um automóvel de dimensões superlativas – mais de cinco metros de comprimento, quase dois de altura e largura praticamente igual – é o que se chama de entrada triunfal. Ainda mais quando, no caso da Amarok Highline Extreme 2017, ela tem a impactante cor Azul Ravena, criada exatamente para atrair a si todas as atenções, como o veículo testado que, com todos os itens de série e acessórios instalados, estava, em março, cotada em aproximadamente R$ 171 mil.

O primeiro a destacar alguns detalhes pontualmente revistos na nova Amarok, certamente para seduzir um público mais jovem, foi Douglas Neves, da Carcel. “Gostei do jeitão do carro. Ainda que sutil, a reestilização o deixou mais atraente. A grade frontal (foto 4), de modo especial, ficou bonita com esses filetes de alumínio. As linhas meio quadradas também me agradam. O santantonio (foto 5) ficou show de bola e marca presença, assim como as rodas diamantadas de aro 20 (foto 6) que, na verdade, têm um estilo mais urbano do que off-road. O adesivo ‘4motions’ (foto 7) ficou bacana, assim como o aplique em metal com a inscrição ‘Extreme’ (foto 8), que dão identidade ao veículo e expressam sua tração”, aponta.

Foto 4

Foto 5

Filigranas à parte a verdade é que outras pequenas novidades da picape transcendem a dimensão decorativa. No que se refere à segurança, por exemplo, os faróis ganharam lâmpadas de xenônio e foram emoldurados por um filamento de leds (foto 9) que permanecem acesos durante todo o tempo de funcionamento do veículo. “Teremos poucos problemas com esses faróis, pois os leds e as lâmpadas de xenônio não costumam dar manutenção e, se derem, o acesso aos faróis está bem facilitado”, espera Valdenir de Lima, da Brandini Serviço Automotivos. Marcelo Sanches, da Carbumac, elogiou o revestimento da caçamba (foto 10), em manta durabed, uma pintura semelhante ao epóxi e que protege bem a lataria contra umidade, oxidação e as intempéries, dispensando outras coberturas plásticas. “Para quem é adepto de pescarias, como eu, esse é o melhor dos mundos”, sonha.  

Em meio a tantos itens de série fornecidos pela nova Amarok Highline Extreme 2017, Márcio Sanches detectou uma falha. “Por ter um vão livre do solo de 24 centímetros (foto 11), trata-se de um carro em que não entramos, mas subimos. Logo, senti falta de um estribo maior que sirva efetivamente como um degrau. Quem tem menos de 1,80 metro sofre para entrar na cabine. Acho que os engenheiros não pensaram muito nos baixinhos”, protesta.

 

TEST DRIVE

Vencidas as dificuldades em “escalar” a Amarok, o sacrifício parece ter valido a pena, confirmando a impressão – na verdade, certeza – de que as grandes picapes estão cada vez mais parecidas com os veículos de passeio luxuosos e distantes do tempo em que tinham acabamento espartano e estavam condenadas à dura lida do campo. Hoje, de fato, com tanto luxo e tecnologia a bordo e sob o capô, elas estão mais para o gênero country ou sertanejo universitário. “A posição de dirigir, a ergonomia, é agradável e funcional”, credita Márcio Sanches. Segundo a montadora, os bancos dianteiros da nova Amarok, que são revestidos em couro – como os traseiros –, envolvem os ocupantes de maneira anatômica, permitem suportar longas distâncias e receberam o certificado “ergoComfort” por entregarem a seus ocupantes “um conforto compatível aos de sedans de luxo”. De fato, eles possuem 12 ajustes elétricos e dois manuais, mas não são perfeitos. “Faltou um ajuste de memória”, observou bem Douglas Neves, da Carcel. “Em compensação, os retrovisores são bem focados e sem ponto cego. Em certas picapes, ao fazer uma curva você se depara com uma coluna e aqui não encontrei nenhuma”, aponta Valdenir de Lima, da Brandini Serviço Automotivos, para quem a picape se comporta como um autêntico sedan ou hatch moderno. “O acelerador eletrônico dá uma boa resposta e o motor enche rápido e de forma silenciosa”, descreve.

O revestimento do painel em plástico duro (foto 12) não foi uma unanimidade. “É simples e levando em conta o valor do veículo poderia ser mais luxuoso. Seria melhor se tivesse uma textura emborrachada”, sugere Marcelo Sanches. “Mas é preciso ser realista”, adverte Douglas Neves. “Moramos em um país tropical e um painel emborrachado em um carro desses acaba rachando depois de uns 10 anos de uso, devido a incidência dos raios de Sol, o que só traz um problema a mais. Prefiro assim mesmo”. Douglas também chamou a atenção para a falta de algo que, no entanto, é positivo. “O barulho! O nível de ruído interno é baixíssimo mesmo em altas rotações. Deve ser resultado de um eficiente isolamento acústico”, detectou. “Pelo silêncio a bordo a sensação é a de que você não está dirigindo um veículo movido a diesel”, confirma Márcio Sanches.

Foto 12

MOTOR 2.0 TDI

De fato, prestes a se aposentar, o motor 2.0 TDI Biturbo Diesel da Amarok Highline Extreme 2017 se esforça para sair de cena silenciosamente, o que não é pouco para quem passou por um “Dieselgate”. Embora tenha menos potência do que o de suas concorrentes, o propulsor da Amarok não faz feio devido ao câmbio automático de oito marchas e ao sistema biturbo que consegue extrair um alto rendimento de seus 1968 cm3. Na picape, as duas turbinas (foto 13) atuam de modo sequencial. Primeiro entra em ação a turbina menor, que enche mais rápido, com o motor em baixa rotação, e a turbina maior entra na sequência, quando o motor trabalha em rotações mais altas e em velocidades maiores. Todo esse esforço de extração, no entanto, para um motor de, relativamente, pequena litragem, não resolveu o problema do consumo elevado de combustível. Enquanto algumas de suas rivais, como a Toyota Hilux, com motor turbo de 2.8 litros – portanto, com um motor maior –, fazem até 12 km/l na estrada e 10 km/l na cidade, a picape alemã rende, respectivamente, 9,2 km/l e 8,9 km/l. “A Amarok bebe muito”, sintetiza Douglas Neves.

De modo geral, no entanto, o motor desperta mais elogios do que críticas, até porque têm o que todo reparador gosta: espaço para trabalhar. “Nele, os elementos estão bem distribuídos e há bons respiros para se fazer as reparações”, confirma Pedro Luís Casson, da Carbumac. Seu chefe, Márcio Sanches, complementa: “A Amarok é grande, mas não assusta. Já pegamos motores menores e mais complicados. Às vezes, quanto maior o cofre do carro mais espaço encontramos para trabalhar”. Marcelo Sanches concorda e aponta, por exemplo, que o filtro de óleo (foto 14), filtro de ar (foto 15), bomba injetora (foto 16), reservatório de fluido da direção hidráulica (foto 17) e do fluido de freio e a as turbinas estão em locais bem acessíveis.

Por sua vez, Valdenir de Lima, da Brandini Serviço Automotivos, elogiou o fácil acesso à correia dentada (foto 18) e ao seu tensionador (foto 19), ainda que esperasse por uma Amarok já equipada com uma corrente metálica. “Acho que a Volks, nesse caso, priorizou o custo-benefício”, acredita. “Uma correia dentada é, a longo prazo, sempre mais sensível à poeira em carros de uso off-road, por isso aqui cairia melhor uma corrente metálica”, endossa Douglas Neves.

O reparador da Carcel ainda destacou que o motor da Amarok, como muitos outros, acompanhou a evolução dos propulsores movidos a diesel que, no mundo todo, têm conquistado um novo status. “Eles caminharam bastante, é fato, em função dos sistemas de gerenciamento que ganharam a injeção direta e muita eletrônica embarcada, assim como os motores movidos flex. Não por acaso, na Europa, muitos sedans de luxo são movidos a diesel. Outro fator que ajudou na evolução dos motores foi a engenharia de materiais, com mais peças de alumínio que contribuíram para a redução de peso do bloco. A física propriamente dita dos motores é sempre a mesma, mas na soma desses fatores você acaba tirando uma cavalaria mais forte e economia maior de combustível”, analisa o reparador.

Assim como as virtudes do motor são visíveis alguns vícios não se escondem. E um desses é o duto do filtro de ar, de borracha (foto 20), que alimenta a turbina e está perigosamente perto dessa peça e, consequentemente, exposta ao seu calor. “Essa mangueira deveria ser de outro material, mais resiliente ao calor, ou vir coberta por uma manta defletora. Com o tempo e sua exposição a tendência é que ela não aguente a alta temperatura da turbina”, antecipa Márcio Sanches. O alerta vermelho foi geral: “Talvez será preciso rever isso logo”, concorda Douglas Neves, da Carcel. “Essa mangueira vai sofrer e, com ela, o proprietário e o reparador”, completa Valdenir de Lima, da Brandini.

Outro ponto sensível da nova Amarok que não chega, ainda, a ser um embaraço, mas pode vir a ser em função do histórico do veículo nas oficinas é a válvula EGR (Exhaust Gas Recirculation) (foto 21). “Nesses carros já vi mais de um caso em que essa válvula apresentou vazamento líquido, o que é uma pequena dor de cabeça. O pior é que não há como evitar o problema, pois é consequência de uma fadiga precoce de material”, previne Douglas Neves, da Carcel. Essa válvula, que serve para fazer a recirculação de gases no motor, tem um preço bastante salgado, como de resto a maioria das peças da Amarok. A peça original sai por cerca de R$ 4 mil reais. 

TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA

Um ponto pacífico entre os reparadores foi a acertada escolha da Volkswagen em adotar na nova Amarok Highline Extreme 2017 o câmbio automático sequencial de oito marchas (fotos 22A e 22B) desenvolvido pela gigante alemã especializada em transmissões automotivas ZF Friedrichshafen AG. Trata-se de um diferencial bem-vindo entre as picapes oferecidas aqui e que, fatalmente, não tardará a ser copiado em um segmento de mercado disputado palmo a palmo. Como opção de uso manual, a Amarok dispõe de borboletas (shift paddles) atrás do volante que proporcionam respostas rápidas para reduções antes de curvas ou ultrapassagens.

“Apesar de ser um carro grande, essa Amarok é um carro fácil de dirigir mesmo no trânsito pesado das cidades. A transmissão, claro, responde por grande parte dessa facilidade. Ela é excelente e apresenta um escalonamento bem curto que evita de o giro do motor subir muito. Temos aqui uma evolução real”, classifica Douglas Neves, da Carcel. “As marchas são curtas e sobem rapidamente de forma imperceptível, sem nenhum tranco. Certamente isso é consequência de uma leitura acertada do cruzamento das várias informações fornecidas pelos sensores eletrônicos e do sistema de injeção direta”, resume Márcio Sanches. “No módulo Sport, as marchas são esticadas e ficam mais longas, mas a troca ainda sim é suave. Se você optar pelas borboletas manuais, o computador de bordo ajuda o condutor informando o momento de fazer as trocas para aproveitar melhor o rendimento do motor. É um sistema bastante intuitivo”, pontua Valdenir de Lima.

Atrelado ao câmbio, a tração integral se constitui em um recurso indispensável para deslocar um veículo de uso off-road que, descarregado e sem passageiros, pesa mais de duas toneladas. Afinal é ele que dá segurança e aderência a terrenos difíceis em quaisquer condições de pista. “O veículo normalmente trabalha no sistema 4 x 2, com tração traseira. Ao acionar o botão 4 x 4 (foto 23), no entanto, a picape passa a ter tração nas quatro rodas, pois a força traseira é distribuída, através de um diferencial (foto 24), para as rodas da frente. Essa mudança é feita de forma tranquila, mesmo com o carro em movimento, e você sente o veículo agarrar mais ao piso”, descreve Mário Sanches. “A diferença ao se acionar o 4 x 4 é sensível, pois o carro ganha mais tração, agarra mais no chão e não é preciso acelerar tanto para sentir o motor passar mais força para as quatro rodas”, completa Valdenir de Lima, da Brandini.

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO

Na nova Amarok Highline Extreme 2017, os engenheiros da Volkswagen conseguiram reunir em um mesmo espaço, e às vezes no mesmo sistema, o que existe de mais tradicional ou convencional com o que há de mais moderno e inovador. O convencional, por exemplo, fica por conta dos freios a tambor nas rodas traseiras (foto 25) – os dianteiros contam com discos ventilados (foto 26) –, do freio de estacionamento por pinças e cabo (foto 27), e da suspensão traseira com feixes de molas (foto 28) – a suspensão dianteira é no sistema de duplo A (foto 29), com duas bandejas. “Esses freios traseiros podem parecer ultrapassados, mas a verdade é que quando acionados mostraram eficiência e transmitem segurança. E não é nada fácil segurar um veículo de duas toneladas”, reconhece Márcio Sanches.

Ao ver os freios a tambor e a suspensão traseira, Douglas Neves, da Carcel, comparou a Amarok a um dinossauro. “Vendo o carro por baixo, se você dissesse que ele é uma Rural Willis 1968 eu acreditaria, pois é igual. É duro de engolir, mas quase todas as concorrentes da Amarok também usam o mesmo sistema de freio a tambor nas rodas traseiras e a suspensão feixe de mola ainda funciona. Outra característica comum a quase todas elas é a direção hidráulica e não elétrica”, afirma o reparador. Os reparadores, aliás, foram unânimes ao reconhecer as virtudes imbatíveis da suspensão em feixe de molas: ela suporta grande peso, tem uma durabilidade indefinida e um insuperável custo-benefício, além de raramente dar manutenção em função de sua robustez. Seu prestígio continua tão em alta que até correm comentários nas oficinas de que algumas picapes que hoje se apresentam com a suspensão traseira de eixo de torsão podem se render à volta do feixe de molas. A conferir no futuro.

Obviamente, essa suspensão não é perfeita: seu outro lado é que o veículo perde em conforto com maiores pulos, principalmente nas picapes com cabine simples. “Hoje o uso urbano pede mais a suspensão traseira multilink ou independente, pois o feixe de mola não é muito confortável. Agora, ao se levar em conta o uso off-road ela ainda é melhor e mais resistente”, aponta Marcelo Sanches. “Por questão de adequação, uma suspensão traseira multilink ou com eixo de torção não atenderia à proposta de um carro que se pretende verdadeiramente off-road e rodar pelas estradas de terra desse País, dentro das condições difíceis que conhecemos. Para essa finalidade, e ainda não quebrar, não há coisa melhor do que uma suspensão de feixe de molas, assim como o freio de estacionamento por pinça e cabo, pois um sistema elétrico, aqui, seria algo a mais para dar dor de cabeça. Às vezes quanto mais simples melhor”, explica Douglas Neves, que também chamou a atenção para um detalhe da suspensão dianteira. “A bandeja tubular dessa suspensão (foto 30), ao invés de uma folha dupla, mostra-se uma boa ideia para conferir mais resistência ao veículo. Alivia o peso do motor junto aos amortecedores”.

ELÉTRICA E ELETRÔNICA

Se por um lado a Amarok preza a tradição com freios a tambor e suspensão em feixe de mola nas rodas traseiras ela também traz modernidades tecnológicas surpreendentes que prometem situá-la entre as picapes mais conectadas e seguras do mercado. Uma dessas novidades é o “Post-Collision Braking” ou sistema de frenagem automática pós-colisão. Obviamente que não cometemos a crueldade de submeter nossos reparadores a um crash test e acreditamos nas palavras da montadora: segundo a Volkswagen, esse sistema aciona automaticamente os freios do veículo quando ele se envolve em uma colisão, para reduzir a energia cinética residual. O acionamento da frenagem se baseia na detecção da colisão inicial fornecida pelos sensores dos airbags. Essa novidade tem um sentido. Pesquisas na Alemanha indicaram que até 25% dos acidentes de trânsito envolvendo danos pessoais são colisões múltiplas – situação em que ocorre um segundo impacto após o primeiro. E se em um trânsito civilizado como o da Alemanha é assim é mais do que provável que no Brasil essa porcentagem seja, no mínimo, maior.

Outros recursos tecnológicos inéditos no segmento fornecido pela Amarok e que ajudam a manter a estabilidade do veículo e conferir mais segurança nas frenagens são o ABS off road, que melhora a ação do ABS em terrenos instáveis (pedriscos, pedregulhos, areia, lama etc), e o indicador de perda de pressão dos pneus, informação fornecida pelo computador de bordo. Esse sistema é composto de quatro sensores instalados nas válvulas de enchimento dos pneus e que mede diretamente a pressão de cada um deles. Se um deles apresentar uma pressão abaixo da calibragem recomendada é acionado um alerta no quadro de instrumentos. Esse recurso pode ser testado sem riscos pelos reparadores. Na Carbumac, por exemplo, o reparador Marcelo Sanches pôs à prova a novidade e viu que ela funciona. “Isso aumenta a segurança, a vida útil dos pneus e reduz o consumo de combustível”, observa.

Mais um recurso eletrônico impossível de não notar a bordo da Amarok é a conectividade de seu sistema multimídia (foto 31). Além de informar a distância dos veículos próximos e ter câmara de ré e GPS, ele carrega, segundo a montadora, os sistemas de infotainment (entretenimento informativo) “mais avançados do mercado”, capazes de espelhar o celular com as plataformas MirrorLink, Google Android Auto e Apple Carplay. Na versão Highline Extreme, por exemplo a tela colorida de alta resolução de 6,33”, sensível ao toque, proporciona a reprodução e operação da tela do telefone celular (smartphone) diretamente na tela do painel do veículo, como se fosse um espelho e sem comprometer a segurança na condução do veículo. Valdenir de Lima, da Brandini, não concordou muita com essa última informação da montadora. “É tanta informação e entretenimento que acaba sim distraindo o condutor. Acho melhor prestar atenção ao volante”, aconselha o reparador.

Foto 31

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Com a nova Amarok Highline Extreme 2017 introduzindo tantas novidades em recursos eletrônicos e mantendo algumas tradições mecânicas, como fica o reparador em relação às informações técnicas sobre o veículo, fornecidas pela Volkswagen? A resposta, previsível, é: por conta própria, já que ele precisa correr atrás e atender bem o cliente quando aparece uma picape dessas com problema na oficina, uma vez que se esperar pela boa vontade da montadora... ficará na mão. “Como acontece sempre, a montadora libera um carro no mercado e não disponibiliza informações técnicas a seu respeito. Toda informação fica restrita às concessionárias autorizadas. Em função disso, na falta de uma política de relacionamento mais formal com o reparador independente não dispomos de boletins técnicos oficiais. Ao invés de montadora e reparador independente caminharem juntos há uma assimetria na relação. Essa é a principal angustia dos reparadores independentes”, reclama Douglas Neves, da Carcel.

A saída? Segundo ele é cultivar um relacionamento informal dentro das concessionárias, com um chefe de oficina ou consultor técnico. “Outra alternativa é obter informações na internet, em fóruns especializados. Acontece, porém, que nem sempre o Google é um bom conselheiro. Nos fóruns há muita informação correta, mas também muita bobagem. É preciso ter critério e bom senso para saber filtrar essas informações”, aconselha o reparador. Marcelo Sanches, da Carbumac, segue o mesmo discurso, embora acredite na existência de muitos sites confiáveis na internet, entre os quais o do jornal Oficina Brasil. “É uma forma transparente de trocarmos informações com os profissionais do nosso meio, uma vez que a montadora não nos participa oficialmente de nada”, afirma.

De acordo com Ricardo Brandini há sempre meios de romper a barreira da falta de informação. “Um deles é se fazer cliente de uma mesma concessionária por muitos anos. Esse vínculo comercial acaba se transformando em um elo confiável onde nós não apenas somos consumidores de informações e peças, como também, às vezes, até nos tornamos fontes para resolver alguma dúvida dos colegas. Nós também temos muito conhecimento prático adquirido no dia a dia do chão da oficina a transmitir. E precisamos valorizar esse conhecimento”, reconhece Ricardo Brandini. Para o reparador, o network construído entre os reparadores é fundamental em um momento de dúvida. “É muito mais confiável uma informação colhida diretamente de um colega do que outra vista na internet. Isto porque, o primeiro critério para saber se uma informação técnica tem validade ou não é a sua procedência, a sua origem”, garante Ricardo.

PEÇAS DE REPOSIÇÃO

Um consenso entre os reparadores é que as peças e a manutenção das grandes picapes comercializadas no País não são baratas. E quem compra veículos cujos preços beiram a casa dos R$ 200 mil deve se conformar com essa realidade. Acontece, porém, que alguns proprietários, principalmente nesses tempos difíceis, insistem junto aos reparadores para que esses deem preferência a peças de origem duvidosa. “Nada de peças xing ling. É um erro que terá consequências muitas mais caras”, avisa o reparador Ricardo Brandini. “Principalmente se for coxim, bucha, sensor ou alguma peça do motor não tem jeito, tem que buscar peça na concessionária mesmo. Agora, quando é óleo, filtro, pastilha e amortecedores, se forem de boa marca, claro que pode ser de um fornecedor independente de confiança. Essa é a nossa política”, orienta. Em razão disso, seu mix de compra se concentra em 90% das vezes nas concessionárias da montadora e 10% em distribuidores e importadores independentes.

Entre os demais reparadores a receita não foge muito dessa composição. “Gostamos de trabalhar com esse carro pois sua manutenção não costuma ser problemática. Encontramos peças dele em distribuidores independentes e, claro, em concessionárias. Em 80% das vezes damos preferência às concessionárias, até porque só nela podemos avalizar a qualidade de certas peças, e em 20% vamos a distribuidores independentes”, afirma Márcio Sanches, da Carbumac. “Em carros como esse não há como escapar, na maioria das vezes, da reposição das peças genuínas. Em 80% das ocasiões precisamos recorrer a peças de concessionárias e em 20% das vezes recorremos a distribuidores independentes”, concorda Douglas Neves, da Carcel.

RECOMENDAÇÕES

A Amarok Highline Extreme 2017 causou boa impressão na maioria das oficinas visitadas a ponto de em algumas delas aumentar a expectativa em relação à chegada de sua versão com motor 3.0 de seis cilindros, que promete transformá-la na picape mais potente do País. Isto posto, que posição os reparadores poderiam adotar junto a seus clientes em relação a um veículo que, em breve, será superado? Certamente, a de que a atual Amarok tem qualidades próprias e que ela, espera-se, não será canibalizada por outro modelo da Volkswagen. E uma de suas qualidades é que, apesar de seu tamanho avantajado, ela apresenta dirigibilidade similar ao de um sedan. “Seu conforto está mais para carro de passeio, no entanto ela não deixa de ser uma picape que transmite robustez e segurança. É claro que eu a recomendaria a um cliente, com a ressalva de que há outras boas opções no mercado”, avalia Márcio Sanches, da Carbumac. “Tenho a Amarok em bom conceito até porque os clientes que o possuem e frequentam a nossa oficina só o fazem para manutenção simples, coisas do dia a dia, nada complicado”, emenda Valdenir de Lima, da Brandini Serviços Automotivos.

Douglas Neves, da Carcel, é mais explícito ao dizer que seus clientes devem dar atenção também às outras opções do mercado. “A Amarok melhorou em alguns aspectos, principalmente visuais, e talvez esteja guardando as maiores novidades para a sua versão V-6. Mas, por enquanto, no meu conceito, a Toyota Hilux segue como a primeira opção entre as picapes grandes, e todas as outras se equivalem em suas pequenas diferenças. Se fosse uma disputa Olímpica, diria que a Amarok, hoje, pega uma medalha de bronze. Amanhã, porém, a história poderá ser diferente.” Palavra de reparador.