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Lamborghini Gallardo é uma obra prima, mas não foi pensado para a reparação


Ainda bem que não temos este veículo em nossa rotina de manutenção, pois imagina ter que desmontar a traseira do veículo para trocar a embreagem? Mas ‘quem se importa’? É uma Lamborghini!

Por: Fernando Naccari e Paulo Handa - 10 de dezembro de 2013

 

A italiana Lamborghini tem uma das histórias mais curiosas do mundo automotivo. Ferruccio Lamborghini que até então era um bem sucedido empresário com sua fábrica de tratores, teve uma desavença com Enzo Ferrari. O motivo desta foi que Ferruccio tinha uma Ferrari 250GT que, após detectar um problema na embreagem do veículo, decidiu ir falar com Enzo. Sabendo do caso, Enzo Ferrari o mandou embora dizendo-lhe para ir conduzir tratores, pois não estava habilitado para conduzir uma Ferrari. Ferruccio ficou indignado com a postura de Enzo, e decidiu ele mesmo desmontar a embreagem e notou que esta era do mesmo fabricante que fornecia o item para seus tratores. Assim, conseguiu resolver o problemas com uma das peças que tinha. Foi então que decidiu mostrar para Enzo Ferrari que, além de ser habilitado para dirigir, faria um melhor que ele.

Assim, em 1963 criou o Lamborghini 350GTV com um motor V12 de 3.5L e 347cv, deixando-o capaz de atingir 280km/h e fazer de 0 a 100km/h em 6,7 segundos. (Foto 1)


O carro foi um sucesso! Logo em seguida a Lamborghini criou o 400GT (Foto 2) e, com os fundos arrecadados, pode se lançar na concepção de um grande superesportivo. Foi quando em 1966, surgiu o Lamborghini Miura (Foto 3), veículo que firmou a marca como uma das mais conceituadas no segmento até os dias de hoje.


SONHO NA OFICINA

E como se comporta um Lamborghini nas oficinas? Embora esteja muito distante da nossa realidade, encontramos uma Lamborghini Gallardo LP560-4 (Foto 4) na oficina Mandalá de São Paulo-SP, onde o reparador e proprietário Ricardo de Souza Mandalá, nos contou um pouco do seu vasto conhecimento com a manutenção destes modelos, sonhos de consumo em todo o mundo.

“Esta Gallardo possui um motor 5.2 V10 de 560cv dotado de injeção direta e taxa de compressão de 12,5:1 (Foto 5). Quando comparado a versão anterior, teve 20kg de redução de peso, sendo capaz de atingir de 0 a 100km/h em apenas 3,7 segundos, e ainda ganhou 18% de redução no consumo”, explicou Ricardo.

“A transmissão desta Lamborghini é do tipo sequencial de seis velocidades (Foto 6) e oferece trocas 40% mais rápidas na alavanca do console ou nas borboletas atrás do volante, quando comparada a sistemas convencionais. Para que isso ocorra, são seis módulos de funcionamento, tanto para o manual quanto para o automatizado”, acrescentou Ricardo.

Como sabemos, o Lamborghini não é um dos carros mais comuns em nosso país, muito menos em oficinas. Mas mesmo diante desse cenário, Ricardo comentou sobre quais os motivos que levam esse supercarro a sua oficina: “Os serviços que mais realizo aqui são trocas de óleo, fluídos e filtros”.

“Outro sistema em que trabalho com certa frequência são os freios (Foto 7). Este é um componente muito exigido pelo usuário, até para conseguir controlar o carro com maior segurança. Estes são constituídos de cerâmica nos discos, não sendo possível qualquer tipo de retífica. Assim, quando necessária a troca destes, o valor ultrapassa os R$3.000,00 com facilidade”, comentou Ricardo.



MOTIVO DA VISITA

Bom, mas por quê essa Gallardo estava na oficina? Não era para troca de óleo, filtros ou fluidos, o problema ali era outro: “Este carro chegou para efetuar a troca da embreagem (Foto 8). Este é outro componente muito exigido pelo condutor, que na sua grande maioria, não possui o conhecimento necessário para conduzir corretamente esta máquina”, disse Ricardo. 


Nem de perto essa substituição é uma etapa semelhante as que ocorrem em veículos convencionais. A mão de obra aqui é grande: “Para removermos esta embreagem é necessário desmontarmos a traseira completa do veículo (Foto 9). Assim, quando a retiramos, o câmbio já fica exposto, pois este vem primeiro que o motor, mas para ter acesso a ela, devemos abaixar o conjunto do powertrain completo ou então, retirar a tampa traseira, painel traseiro, escapamento, dentre outros. Quando optamos só por afastar o câmbio, este espaço se torna bem reduzido e a manutenção não fica fácil”.


“Trabalhar em um carro desses é muito legal, mas não é fácil. Para se começar a mexer nele, é necessário possuirmos um scanner específico. Como ocorre neste processo de troca de embreagem, é necessário reconfigurar o câmbio para que esta acople corretamente. Este processo somente o scanner original é capaz de fazer com a precisão necessária”, afirmou Ricardo.

“Na hora de montar também dá um certo trabalho. É necessária ferramenta específica para centraliza-la”, acrescentou Ricardo.

“Respeitar o torque certo nos parafusos é primordial em modelos de alta performance, pois a troca de calor é muito grande. Neste, atingem-se temperaturas elevadas e, em seguida, há queda brusca. Se não respeitarmos o torque, poderá inclusive ocorrer quebra do componente”, observou Ricardo.

APERFEIÇOAMENTO

“Reparar veículos deste segmento requer acesso a muita literatura técnica, treinamentos, dedicação e investimento constante, e tudo isso não se adquire de uma forma rápida e simples. Como exigido de nossa profissão, conhecimento é tudo, mas para adquiri-lo leva-se tempo e muito investimento”, orientou Ricardo.

“Com estas máquinas não tem jeitinho! Ou você sabe ou você não sabe e de forma nenhuma posso começar uma manutenção desta sem conhecimento. Saber o que estou fazendo evita prejuízos e faz com que o prazer que tenho pela profissão seja recompensado por oportunidades como essa”, finalizou Ricardo.