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Hyundai Creta Prestige 2.0 AT agrada reparadores e mostra força para buscar liderança entre SUVs


Produzida no interior de São Paulo, SUV se apresenta às oficinas e mostra suas principais virtudes: boa reparabilidade, torque e robustez. Reparadores acreditam que ela dará trabalho aos concorrentes

Por: Antônio Edson - 30 de agosto de 2017

Lançado em 1933 pela Chevrolet para atender as famílias dos subúrbios norte-americanos, o Suburban (foto 1) inaugurou um segmento do mercado automobilístico. Foi o primeiro SUV do mundo, sigla que a princípio se referia a Suburban Vehicle e só depois passou a definir um Sport Utility Vehicle: utilitário esportivo com vocação familiar para rodar tanto no campo como na cidade. Em resumo, um veículo versátil que logo seria tido como um “jeans sobre rodas”, pois cai bem em diferentes situações: lavou está novo. Claro que dos anos 1930 para cá os SUVs ganharam status. Nos Estados Unidos mesmo, em 2016, oito dos dez veículos mais vendidos se encaixam na categoria. E o Brasil, como sempre, mira-se no exemplo. Este ano, a venda dos SUVs aqui superou a dos veículos de entrada. A projeção para 2017 é que, no mínimo, 20% dos automóveis comercializados no País sejam utilitários esportivos, contra 16,8% em 2016 e 9,2% em 2013. O que lembra um velho slogan utilizado quando do lançamento dos carros a álcool: “Um dia você vai ter um”. Se é que já não tem.

Foto 1

Entre as montadoras, os lançamentos se sucedem. Renegade (Jeep), HR-V (Honda), Duster (Renault) e Kicks (Nissan) são alguns dos que chegaram ao Brasil nos últimos anos, sendo que, para 2017, ao menos 15 novidades estão previstas. Um exemplo de como os SUVs estão bombando no País é o Hyundai Creta que, apresentado no final de 2016, durante do Salão do Automóvel de São Paulo (SP), chegou a junho como o terceiro mais vendido da categoria – 17.325 unidades. Trata-se do primeiro SUV compacto global da Hyundai produzido na planta de Piracicaba (SP) – a mesma de onde sai o HB20 – sobre a plataforma do sedan médio Elantra e com motores 1.6 e 2.0. Com isso, a montadora coreana torna-se, na prática, especializada em SUVs, ao menos no Brasil, pois ela é uma das que mais oferecem aqui veículos que cabem Foto 2nesse conceito, como o Santa Fé (em duas carrocerias diferentes) e o Tucson (em três gerações, incluindo o ix35).

Dispostos a entender um pouco melhor esse fenômeno que fez dos SUVs uma preferência nacional – e global –, os repórteres do Jornal Oficina Brasil assumiram, no final de julho, o volante de um Hyundai Creta. Mais exatamente a sua versão Prestige 2.0 AT – sigla para Alta Tecnologia –, o modelo top de linha do veículo, avaliado em R$ 100.237 mil, com pouco mais de sete mil quilômetros rodados, e equipado com uma volumosa lista de itens de série com, entre outros recursos, controle de tração e estabilidade, central multimídia com tela de sete polegadas sensível ao toque, rodas de liga leve diamantadas aro 17 e acendimento automático dos faróis (sensor crepuscular). O objetivo foi conduzir o veículo a três oficinas da cidade de São Paulo previamente escolhidas entre as muitas que compõe                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             m o Guia de Oficinas Brasil. As escolhidas dessa rodada foram a Pneus Lopes, na Vila Nova Conceição, zona sul da cidade; o Centro Automotivo Barba, na Vila Independência, região do Ipiranga; e a Sadao Serviços Automotivos, também na zona sul. Nessas oficinas, nossa equipe foi recepcionada por...Foto 3

Júlio Cézar Alves (e), Jimmy Martinez (c) e Marcos Tadeu dos Santos Júnior (d), (foto 2). Há 3,5 anos na loja da Vila Nova Conceição da Pneus Lopes – que tem mais duas unidades, uma no bairro de Indianópolis e outra em São Caetano do Sul (SP) –, o gerente Jymmy Martinez, de 45 anos, acumula 22 anos de experiência em reparação automotiva. “O forte dessa loja é o comércio de pneus que responde por 60% do movimento, e os outros 40% se devem à prestação de serviços”, afirma. “Fazemos praticamente de tudo que diz respeito à mecânica leve, como alinhamento, balanceamento, freio, suspensão, direção hidráulica e injeção”, enumera o chefe de oficina Júlio Cézar Alves, 53 anos e há 28 atuando como reparador. “Como temos na vizinhança muitas lojas de carros importados acabamos prestando serviços a elas”, completa o vendedor Marcos Tadeu, 28 anos e que há 14 atua no ramo.

Ricardo Zanoner (e), Bianca Barba (c) e Kanan Barba (d), (foto 3). Fundada nos anos 1970 pelo reparador Vanderlei Barba, o Centro Automotivo Barba é administrado por seus filhosFoto 4 Bianca, 24 anos, e Kanan Barba, 26 anos, desde seu falecimento, no ano passado. Engenheiro mecânico graduado no Instituto Mauá de Tecnologia, de São Caetano do Sul (SP), e com vários cursos de especialização na área da reparação automotiva, Kanan já estagiava na oficina do pai desde os primeiros anos de faculdade e, ao assumi-la, convocou a irmã Bianca, formada em Direito na Universidade Mackenzie, para gerenciar a área administrativa. Com uma sólida formação acadêmica, os irmãos levam a sério o desafio de conduzir o negócio da família com o auxílio do reparador Ricardo Zanoner, 46 anos, e com 20 anos de experiência. Para tanto, disposição não falta. “Muita coisa mudou da época dos nossos pais até hoje. Por isso não podemos nos acomodar. Precisamos nos preparar para receber veículos cada vez mais dotados de recursos eletrônicos”, aponta Kanan. “Nossa estratégia está na organização, em agregar valor aos nossos serviços, justificando o valor de nossa mão de obra”, completa Bianca.

Robson dos Santos Ribeiro (foto 4). Com 23 anos, esse jovem baiano de Campo Alegre de Lourdes chegou na capital paulista aos 18 anos com uma ideia na cabeça: tornar-se reparador automotivo. “Desde os meus tempos de menino já admirava quem consertava carros e me interessei pela profissão”, lembra Robson. Em São Paulo, matriculou-se no Senai do Ipiranga onde fez alguns cursos de capacitação, como o de diagnóstico eletrônico básico e avançado. Não demorou a ser admitido na Sadao Serviços Automotivos onde hoje atua como chefe de oficina e encontrou o que queria: exercitar a sua prática. “O chão de oficina é uma das melhores escolas que existe para um reparador. Aqui encontrei um bom aprendizado, pois trabalhamos com diferentes tipos de frotas formadas tanto por veículos populares, de entrada, como por grandes picapes”, afirma. Projetando o futuro, Robson espera especializar-se cada vez mais em eletrônica embarcada. “É para onde os automóveis caminham”, aponta.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

O Hyundai Creta Prestige 2.0 AT é um carro de aparência discreta ao primeiro olhar. Segundo os reparadores, suas linhas, vistas de perfil, lembram remotamente às de um Kia Soul, principalmente ao se fazer um recorte sobre as portas dianteiras. Mas a semelhança fica por aí. Sem um design quadradão e os ângulos retos do hatchback de origem coreana, o Creta tem linhas mais suaves. Seu DNA, na verdade, é outro. Como não poderia deixar de ser, a dianteira (foto 5) lembra um pouco a de seu irmão mais velho, o Santa Fé, e a tampa do porta-malas, com as lanternas horizontais e a placa abaixo da linha da cintura, na base da tampa do porta-malas, (foto 6) dá ao observador a impressão – de resto, verdadeira – de já ter visto algo parecido ou igual no New Tucson. O porta-malas generoso (foto 7), com capacidade para levar 431 litros, também chamou a atenção dos reparadores. Igualmente mereceram destaque os itens de segurança, como os seis airbags (incluindo o lateral de tórax e o de cortina) e o sistema Isofix para cadeira de bebê (foto 8).

Internamente o SUV exibe sinais de uma identidade própria. “A novidade que vejo é esse acabamento bicolor preto e marrom no painel, bancos e revestimento das portas (foto 9). Ficou diferente, bonito. Porém, mais do que bonitos, os bancos de couro verdadeiro são anatômicos e envolvem bem o condutor e os passageiros. É um carro em que a gente se sente bem vestido e bem calçado”, compara Júlio Cézar Alvez, da Pneus Lopes. O engenheiro mecânico Kanan Barba destacou que o diferencial dos bancos não está só no tom bicolor, mas no fato de o banco do motorista, especialmente, ter o recurso da ventilação. “Esses furinhos do banco (foto10) têm a função de ventilar. Em alguns carros de luxo os bancos podem ser aquecidos ou resfriados, já a Hyundai inovou ao oferecer ventilação”, comenta. Outro destaque apontado por Kanan foi o painel de instrumentos permanentemente iluminado (foto 11). “Facilita a leitura.” Já o reparador Robson elogiou o bom encaixe do painel do Creta, sem rebarbas e saliências, mas enxergou aí um outro lado. “Vamos ter trabalho quando for necessário desmontar esse painel para realizar algum reparo, e mais trabalho ainda para recolocá-lo”, observa.

TEST DRIVE

A despeito do Hyundai Creta Prestige 2.0 AT apresentar diversos ajustes de altura do banco do motorista que permitem uma posição alta de dirigir e, assim, conferir ao condutor uma sensação de segurança um tema dominante entre os reparadores, logo que assumiram o volante, foi o sistema start-stop (foto 12) chamado de Stop & Go pela Hyundai, que equipa o SUV, um recurso de economia de combustível ainda pouco aplicado nos veFoto 12ículos nacionais. Impressão comum: ceticismo ou a suspeita de que ele não resistirá muito quando o veículo for submetido, por exemplo, a um dia chuvoso em São Paulo na hora do rush, em um trajeto entre as zonas sul e leste, enfrentando o anda-e-para de uma 23 de Maio, uma Marginal ou uma Radial Leste, para ficarmos em três das centenas de avenidas e ruas congestionadas da cidade.

“A iniciativa é interessante. Mas teremos que esperar um tempo para emitir um julgamento seguro se vai dar certo. Meu palpite? Pode ser bom em outro lugar, aqui há dúvidas”, projeta o chefe de oficina Júlio Cézar, da Pneus Lopes. “Se o condutor tiver aquela cultura do carburador, de que um motor ao apagar quando o trânsito para não vai religar, esse sistema dá um pouco de insegurança. Mas a iniciativa merece um crédito”, analisa Kanan Barba. Robson Ribeiro, da Sadao Serviços Automotivos, recomenta desligar o recurso – sim, há essa possibilidade (foto 13) através de uma tecla localizada ao lado direito da alavanca do câmbio – quando o condutor reparar que ele está sendo usado em demasia. “Uma medida prudente seria recorrer ao sistema com comedimento”, aconselha o reparador. Mas Foto 13aí fica a pergunta: de que serve um sistema start-stop se você o desliga quando ele precisa ser mais utilizado e se ele foi criado para desligar e religar o motor em repetidas situações de anda-e-para? “Talvez para oferecer uma opção a mais para o condutor”, arrisca Robson.

Fora isso, o test drive com os reparadores foi tranquilo. “O comportamento do carro demonstrou segurança, estabilidade e conforto no trânsito urbano. Daria nota 8 para a sua dirigibilidade e se deixo de dar um 10 é porque ele poderia ser um pouco mais macio principalmente em comparação aos importados. Mas, talvez, essa falta de maciez seja necessária para enfrentar o nosso piso esburacado”, avalia Júlio Cézar. “Por ter um motor aspirado e levando-se em conta o tamanho e o peso do carro, ele tem um comportamento bem esperto na cidade. Também achei a suspensão bem calibrada”, pontua o reparador Robson Ribeiro. “A suspensão se portou bem em ruas calçadas por paralelepípedos. Dou nota 10 para a dirigibilidade”, resume o engenheiro Kanan Barba.

MOTORIZAÇÃO

O motor 2.0 do Creta (foto 14), que recebeu da Hyundai o código de denominação Nu, é o mesmo que empurra o ix35 e gera 166 cv e 20,5 mkgf no etanol a 4700 rpm. Com duplo comando de válvula variável (Dual-CVVT) e corrente metálica, o propulsor tem tecnologia flex de combustível, bloco de alumínio e sistema de partida a frio e-start dispensando o tanquinho de gasolina. Segundo a montadora, o carro faz de 0 a 100 km/h em 9,7s e chega a uma velocidade máxima de 188 km/h.

“Apesar de ser um motor 2.0 e, em tese, grande, o que vemos é uma configuração compacta que não aparenta a potência que tem. Uma forma de tornar possível essa compactação é mexer nos pistões. O curso de subida dos pistões é diminuído e isso gera menos gasto e mais potência. A ficha técnica informa que esse curso é de 97 mm, sendo que em um motor com essa potência, antigamente, os pistões iam a 130 mm. O resultado é um motor bom de trabalhar, com bastante espaço para as mãos do reparador”, aponta o chefe de oficina Júlio Cézar, que ainda viu mais virtudes no cofre do Creta. “O sistema de corrente metálica é, para mim, mais seguro do que o de correia dentada banhada a óleo, pela durabilidade. Também aprovei o coxim (foto 15) hidráulico e blindado, bastante eficiente para diminuir a vibração do motor”.

A exemplo de Júlio, Kanan Barba destacou a boa reparabilidade do motor. “Temos acesso às diferentes partes do motor que é mesmo compacto para uma configuração 2.0 e de fácil reparação preventiva, com livre acesso às velas de ignição, bobinas (foto 16), bicos injetores e sensores de fase (foto 17)”, afirma o engenheiro, que também aprovou o sistema de corrente metálica. “É melhor por conta da menor manutenção e por exigir troca menos constante”. Mas isso não quer dizer que o Creta não pudesse ser mais moderno. “Ficou devendo um sistema de injeção direta. Também senti falta de um coletor de escape preso ao cabeçote”, completa.

“Tenho boas referências desse motor a julgar pelos carros da mesma montadora que passaram pela oficina. É uma configuração semelhante aos motores TSI da Volkswagen, com o mesmo formato da tampa de válvula a não ser pela ausência de um turbo”, explica o chefe de oficina Robson Ribeiro, que igualmente reparou na facilidade de trabalhar o motor e no bom espaço oferecido para as mãos. “Em alguns outros carros você vê mangueiras e chicotes que passam por cima do coxim e nesse aqui a aparência é mais limpa. Essa exposição, no entanto, não significa que as peças estejam desprotegidas. O módulo da injeção eletrônica (foto 18) mesmo está bem visível e guarnecido por uma capa de plástico”, indica o reparador.

TRANSMISSÃO

A transmissão automática convencional de seis velocidades, com tração dianteira, do Creta 2.0 apresentou um desempenho eficiente e discreto. E discreto, aqui, é um ponto positivo já que ele não apresentou trancos, delays, patinações nem solavancos nas passagens das marchas que acontecem no tempo certo segundo os reparadores. “O câmbio proporciona mudanças suaves, sem oscilações, e agilidade. No caso de o veículo necessitar fazer uma ultrapassagem, por exemplo, ele se mostrou inteligente o suficiente para fazer subir o giro rapidamente. O carro tem força nas retomadas. Só ficou faltando mesmo o modo esporte para o câmbio, a única opção é o comando manual”, descreve o chefe de oficina Júlio Cézar, da Pneus Lopes.

Para o engenheiro Kanan Barba, a transmissão do Creta mostrou precisão, mas faltou à montadora um pouco mais de capricho em alguns detalhes importantes. “A única coisa que talvez venha a ser um problema é a falta de uma vareta de medição do óleo da transmissão na caixa da transmissão (foto 19), que torna a operação da substituição desse fluido menos complicada”, explica. Já o reparador Robson Ribeiro, da Sadao Serviços Automotivos, chamou atenção para o protetor de cárter – de plástico – do veículo ter deixado uma janela para a visualização do coxim inferior (foto 20) do câmbio. “Facilita um pouco a vida do reparador”, afirma.

Um diferencial da transmissão do Creta é que ele oferece a tecla Shift lock release (foto 21) que permite ao condutor bloquear a alavanca do câmbio. Com esse recurso, ao estacionar o veículo, o condutor poderá mudar a alavanca para a opção de estacionamento (Parking) e bloqueá-la. Assim, ele não poderá ser movido até o desbloqueio do câmbio.

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO

O Hyundai Creta Prestige 2.0 AT é dotado de freios com discos ventilados (foto 22) à frente e tambor na traseira, suspensão independente tipo McPherson na dianteira e eixo de torção (foto 23) atrás, e direção de assistência elétrica com caixa mecânica (foto 24). Entre os reparadores a impressão comum foi que a suspensão cumpre o prometido e filtra bem as imperfeiçoes do nosso piso, transmitindo conforto ao condutor e passageiros. Enquanto isso a direção elétrica mostrou-se leve em manobras e mais pesada em velocidades maiores, atestando que sua resistência progressiva funciona. A decepção fica por conta dos freios a tambor nas rodas traseiras. “É ultrapassado e seria mais adequado ter freio a disco nas quatro rodas. Só posso entender um freio a tambor nas rodas traseiras como medida para melhorar o custo-benefício”, acredita o chefe de oficina Júlio Cézar. “Em um carro desse porte é um atraso de vida”, sintetiza Kanan Barba. “É uma pena. A suspensão traseira também merecia ser independente”, lamenta o reparador Robson Ribeiro.

Ao analisarem o Creta no elevador, a imagem comum dos reparadores foi a de um veículo com fácil reparabilidade, simples e robusto, com tendência a dar pouca oficina. Desde que alguns problemas de seus antecessores tenham sido corrigidos. Segundo Júlio Cézar um exemplo a não ser seguido pelo Creta é o do i30 que apresentava defeito em sua caixa de direção. “Eu mesmo já fiz esse reparo nas engrenagens diversas vezes”, conta. Já as Tucsons tinham uma fraqueza na suspensão, mais exatamente na barra axial que não demorava a apresentar folga. “No Creta, parece que a barra axial foi (foto 25) reforçada e promete não apresentar esse problema”, projeta Júlio Cézar. “O Creta é mais leve do que a Tucson e isso deve fazer a barra axial durar mais”, acredita o reparador Ricardo Zanoner, do Centro Automotivo Barba. “As Tucson ainda tinham um problema de quebrar o suporte de fixação da barra estabilizadora. No caso da barra estabilizadora (foto 26) do Creta parece que isso foi eliminado”, espera o reparador Robson Ribeiro.

Ainda que os problemas de seus antecessores, acredita-se, tenham sido resolvidos, a verdade é que o Creta também tem os seus que são, aparentemente, de fácil resolução. “A mangueira que leva o combustível até o tanque me pareceu exposta demais. Normalmente ela fica mais para a parte de cima. Assim como o flexível do freio traseiro (foto 27), estranhamente vulnerável demais”, aponta o reparador Ricardo Zanoner, no que foi apoiado pelo colega Robson Ribeiro. Júlio Cézar, entretanto, achou que a altura do Creta, que tem um vão livre do solo de 19 centímetros, não oferece perigo à mangueira do combustível. Mas concorda com a demasiada exposição do flexível de freio. “Faltou capricho”, sentencia.

De resto, as observações foram elogiosas. “O módulo da central do ABS (foto 28) foi instalado em um lugar bom de se trabalhar, com bastante espaço, para quando for necessário fazer a manutenção. Em muitos carros ele fica escondido”, observa Júlio Cézar. “O reservatório do fluido de freio (foto 29) é bem transparente. Isso é positivo pois é importante termos conhecimento do seu nível sem precisar abrir sua tampa. O fluido é higroscópico e não pode ser exposto porque absorve água do ar e perde sua função”, explica o engenheiro Kanan Barba. “Aparentemente, trabalhar com a suspensão do Creta não exige equipamentos e ferramentas complicadas”, completa Robson Ribeiro.

ELÉTRICA E ELETRÔNICA

Em função de seu sistema start-stop, a parte elétrica-eletrônica do Creta mereceu um olhar mais atento por parte dos reparadores, com os inevitáveis questionamentos sobre suas funcionalidade e durabilidade. “O motor de arranque (foto 30) precisará ser muito bom, na verdade perfeito, porque não conheço um que aguente muito tempo o nosso trânsito caótico, ao menos entre os que eu vi até hoje”, alerta o chefe de oficina Júlio Cézar, que, no entanto, evita um julgamento precipitado sobre o sistema. “Pode ser que os componentes internos do alternador (foto 31), como os rolamentos e principalmente as escovas, não sejam de carvão, mas de um outro material mais resistente e durável. Só desmontando para ter certeza. Já a bateria (foto 32) certamente trabalha com gel, o que a faz carregar e acumular energia automaticamente quando o carro está desligado”, projeta Júlio. “Se o alternador não estiver preparado acho que ele não suportará a exigência desse liga-e-religa”, antecipa o engenheiro Kanan Barba. “A bateria de 70 ampères é das mais fortes, resta saber se o motor de arranque, o alternador e o seu regulador de voltagem também serão”, espera o reparador Robson Ribeiro.

Mas nem só do sistema star-stop vive a parte elétrica-eletrônica do Creta, a julgar pelos demais comentários recolhidos. “Tanto as lâmpadas do farol (foto 33) quanto das lanternas traseiras (foto 34) são fáceis de trocar”, aponta Júlio Cézar. “Todos os chicotes estão bem à mostra, mas protegidos. A gente vê o caminho dos chicotes e fica fácil de visualizar os sensores”, indica o reparador Ricardo Zanoner. “A caixa de fusível conta com uma tampa (foto 35) com um diagrama com ícones que explicam bem a localização e a função de cada fusível e isso ajuda. Só não gostei muito da localização da bateria, próxima demais do motor e da radiação do seu calor. Ainda que fique melhor para o reparador proceder a uma análise de voltagem, prefiro o que fazem algumas outras montadoras que instalam a bateria em compartimentos mais distantes como sob um banco de passageiros ou mesmo no porta-malas. É mais seguro”, argumenta Kanan Barba.

 INFORMAÇÕES TÉCNICAS

De acordo com os reparadores, se algum dia houve certa dificuldade para a obtenção de informações técnicas para os veículos da Hyundai, quando a montadora ainda tinha pouco tempo de Brasil, hoje já não há tanta e alguns programas disponíveis no mercado cumprem a objetivo de fornecer essas informações. No caso do Centro Automotivo Barba, por exemplo, o engenheiro mecânico Kanan Barba avalia que a maioria dos programas de esquemas eletrônicos que ele até hoje necessitou conhecer mais a fundo para trabalhar em veículos da Hyundai, como os de injeção eletrônica, imobilizador, ABS e ar-condicionado, foram encontrados nos softwares da Napro, uma fornecedora de scanners. “Outra fonte que utilizamos, e mesmo assim apenas quando necessário, é a pesquisa na Internet muitas vezes em sites em inglês. Até hoje não tivemos a necessidade de buscar informações técnicas junto à Hyundai”, garante Kanan.

O chefe de oficina Júlio Cézar informa que a Pneus Lopes conta com uma biblioteca de programas e aplicativos que normalmente dão conta de atender à demanda das informações técnicas de muitos veículos. E espera que, em relação ao novo SUV da Hyundai produzido em Piracicaba, aconteça o mesmo. “Nosso equipamento consegue abranger uma boa gama de montadoras e veículos, inclusive os da Hyundai. Mas para não dizer que somos autossuficientes, ainda mais quando se trata de um veículo recentemente lançado, podemos recorrer a amigos que trabalham em concessionárias ou oficinas autorizadas quando surge alguma dúvida que não conseguimos resolver nem com a ajuda da Internet. É sempre importante trocar figurinhas com os colegas. E há, também, o nosso Sindirepa, com o qual sempre contamos”, enumera.

Já o reparador Robson Ribeiro prefere não deixar muito distante a possibilidade de recorrer a alguma concessionária da marca em um caso de necessidade. “Nos carros da Hyundai que estão há certo tempo no mercado não tive dificuldade em obter informações e o material que temos aqui dentro, como os programas da Bosch e da TKS, foram o suficiente. Mas pode acontecer que no caso de lançamentos recentes, como esse Creta, a montadora não libere de imediato a informação do seu módulo para os outros scanners entrarem e isso só possa ser feito através do equipamento deles. O que podemos fazer, em tais situações, é entrar em contato com uma concessionaria. De qualquer forma tem sido raro isso acontecer, até porque veículos que ainda estão na garantia procuram preferencialmente as concessionárias e só após o seu término, depois de alguns anos, eles chegam aos reparadores independentes”, explica.

PEÇAS DE REPOSIÇÃO

Quando se trata de um veículo lançado no País há pouco mais de sete meses e cuja garantia de fábrica chega a cinco anos, como é o caso do Hyundai Creta, questões envolvendo a reposição de peças entre os reparadores independentes ainda são tratadas como hipótese ou, no máximo, tendo por base veículos da mesma montadora que rodam há mais tempo por aqui. Em razão disso, o chefe de oficina Robson Ribeiro lembra que muitas peças do HB20 e da Tucson podem ser encontradas junto a distribuidores independentes e isso também pode vir a ocorrer em um futuro próximo com o Creta. “Por enquanto acho que isso não acontece a não ser que algumas peças de outros carros da Hyundai, como filtros de ar e de óleo, venham a servir no Creta, o que é possível pois o mesmo acontece com veículos diferentes de outras montadoras”, pondera Robson. Tal possibilidade é mais que viável lembrando-se que o Creta é, afinal, montado sobre a plataforma do Elantra.

Enfim, considerando essa momentânea falta de peças entre os independentes, Robson acredita que não menos de 90% das peças para o Creta precisem mesmo ser originais, obtidas junto as concessionárias, restando os outros 10% para os distribuidores independentes. Usando critérios semelhantes, e a sua experiência de chefe de oficina, Júlio Cézar igualmente dá preferência às peças genuínas Hyundai em 80% das vezes, principalmente quando se trata de bicos de injeção, comando de válvulas, corrente metálica e sensores. Os outros 20% que sobram podem ser obtidos junto aos distribuidores independentes, como pastilhas de freio, discos e molas de suspensão. Para Kanan Barba a proporção é ligeiramente menor: 70% para as genuínas e 30% para as demais. “Mas isso não é uma regra fixa. N&atil